História On the road. - Confused mind

 Acordei e raios solares invadiam as frestas da janela do meu quarto. Outro dia. Outro melancólico dia para ser obrigada a viver. Me sentei na cama e percebi que o vazio que havia dentro de mim era mais profundo que o silêncio que estava em minha casa. O ensino médio tinha acabado há apenas um mês, então meus dias eram solitários. Meus pais trabalhavam o dia inteiro e com minha irmã não era diferente. Não achava isso algo ruim. Pelo contrário. Tinha algo na solidão que me fazia adorá-la cada vez mais. É como se fossem as únicas horas do dia em que eu podia ser eu mesma: sem julgamentos. Eu podia ficar o dia inteiro, sem fazer absolutamente nada e não tinha ninguém para me dizer que aquilo só acabaria mais comigo. E esse tipo de liberdade é algo que me fascina. 

Me levantei, tomei coragem e me encarei no espelho comprido que havia entre as camas daquele cômodo. Quando foi que eu me permiti a chegar nesse ponto? Quando foi que eu me perdi em mim mesma dessa forma? Reparei meus olhos vazios e preenchido pelo nada. A bolsa escura que meus olhos carregavam por baixo deles era presente. Estava mais magra que o normal. Não vestia nada além de roupas íntimas. Isso era normal para mim, não suportava sentir malditos tecidos grudando em meu corpo. Parecia ser um peso a mais. 

Desci a escada de casa, que por algum motivo, cada vez parecia ser mais longa. Fui até a cozinha e comi algo rápido já que nem forças para cozinhas eu encontrava mais. Essa era minha rotina. Voltei para o quarto e deitei em minha cama, fechei os olhos e adormeci novamente. Sem pensar nada. Sem sentir nada. 

-Isso não pode estar acontecendo novamente... -Ouvi uma voz longe, abri os olhos e me deparei com minha mãe na porta do meu quarto. Me olhando com desespero. 

-O que? - Perguntei, fingindo que estava tudo normal. 

-Você nesse estado, Lauren. Eu estou cansada de te ver assim. 

-Está tudo bem, mãe. - Sorri de canto, tentando finalizar com aquela conversa o mais rápido possível. 

-Não, não está. Você pode tentar mentir pra si mesmo, mas para mim você nunca vai conseguir! -Disse me deixando sozinha. 

Estava tão na cara assim? Me questionei. Eu não queria preocupar minha mãe, ela já tinha problemas demais para lidar. Eu me forçava ao máximo para deixar pra lá tudo que estava acontecendo comigo, mas às vezes eu não conseguia, e desmoronava. Estava cansada de me sentir vazia e também estava consciente de que deveria dar um jeito e começar a construir uma vida. Mas o que era vida? Estudar, casar e ter filhos? Não. Não era isso o que eu desejava. Queria algo mais. Queria ser mais. Não suportava a ideia de uma vida padronizada. Soa clichê mas sonhava em viver como mochileira. Apenas com cadernos, canetas e câmeras em uma pequena bagagem. Sonhava em viver para viajar e escrever sobre. Como um hippie. Mas essa era uma realidade distante do padrão social criado até agora. Mas de qualquer forma, era o que fazia meu coração vibrar. 

Desci as escadas e fui falar com minha mãe. 

-Está tudo bem, mãe. É só uma confusão. - Disse entrando na cozinha, vendo-a cozinhando. 

-Eu sei o que você quer fazer de vida, Lauren. Não é um sonho de agora. Você terminou a escola. Nada te impede de seguir seu coração. - Ela disse, mesmo não querendo. Ela falava da história de eu sumir, viajar, escrever. Não. Não era uma vontade de agora. Há anos que eu comentava sobre isso. 

-E se não der certo, mãe? 

-Você tem uma casa. Você tem uma família. Você pode voltar, quando quiser. Apenas faça algo que a faça sentir viva, nem que seja por uma vez. 

Senti uma lágrima escorregando lentamente pelo meu rosto e concordei. Senti uma ponta de luz invadir meu peito. Era isso que eu iria fazer.