História On the road. - Desert Beach.

Ficamos em torno de 25 minutos no ônibus até ele parar no nosso destino. Camila puxou a corda, como aviso de que iriamos parar no próximo ponto. O transporte parou e descemos. Olhei a minha volta e não havia nada além de mato, muito mato e estávamos paradas no meio da pista. Estava começando a achar que Camila tinha parado no lugar errado até observar uma placa um pouco a frente: Praia Deserta. Não pude evitar a sensação de felicidade que senti. Camila olhou para mim e ficou admirando minha reação. 

-Vem. Vamos logo antes que você comece a chorar de novo! - Disse puxando minha mão para acompanhá-la.

Segurei sua mão e acompanhei seus passos. Paramos enfrente a placa e logo vi um caminho estreito no meio de tantas árvores. Camila foi na frente e sem soltar da minha mão me guiou durante o caminho. Era super complicado andar ali porque além de ser super estreito, havia milhares de pedras e a grama estava alta, indo até a minha canela, mas não me importei já que de onde estava dava para observar uma parte do mar. Andamos em torno de cinco minutos até pisarmos na areia. Tirei meu tênis no mesmo instante e Camila fez o mesmo com seu chinelo. E naquele momento pensei: estou no paraíso.

A praia era curta, mas não havia nada além de areia, pedras, mar e imensidão do céu. O azul do mar se juntava com o azul do céu fazendo tudo parecer imenso e infinito. As ondas eram altas e o som que elas faziam era o meu som favorito. Sem me lembrar de que alguém me acompanhava, me livrei de minhas roupas ficando apenas de lingerie e sai correndo para o mar. Não me preocupei se a água estava fria muito menos a profundidade e mergulhei, como se aquilo fosse lavar minha alma. Assim que voltei a superfície do mar me lembrei que Camila estava lá também. Passei a mão pela minha face para tirar a água que atrapalhava minha visão e procurei por ela. Logo a encontrei parada me observando, com a água chegando até sua canela, já estava de biquíni também.

-Vem pra cá! - Gritei, já que havia uma distância relativa entre nós. - Isso aqui está maravilhoso!

Sem esperar que eu pedisse de novo ela inclinou seu corpo para frente e mergulhou na mesma intensidade que eu fiz. Não demorou muito e ela apareceu um pouco atrás de mim. Voltou a superfície tossindo, completamente sem ar e passando a mão por sua face para poder me enxergar.

-Está tudo bem? - Procurei puxando seu braço para ficar mais próxima.

-Sim... - Respondeu tossindo ainda mais, mas aos poucos foi recuperando o ar.

-Como assim alguém que mora na praia consegue se afogar com uma profundidade dessa? - Perguntei rindo, mas ao mesmo tempo aquela dúvida me cercava.

-Como você é engraçada! - Respondeu debochando da minha cara. - Não foi pela profundidade, foi pelo tanto que eu nadei para chegar até aqui, srta palhaça. - Fez um concha com suas pequenas mãos, encheu de água e jogou na minha cara. Tossi com aquele ato, pois inspirei quando ela o fez.

-Nossa, como alguém aventureira como você conseguiu se afogar com esse pouco de água? - Imitou minha voz rindo de mim.

-Ah, srta Cabello... Você é das minhas. - Disse limpando meu rosto novamente. - Vem, vamos sentar um pouco. - Peguei sua mão e ela me acompanhou até sairmos completamente do mar. Nos jogamos na areia e senti um choque quando o gelado do meu corpo se chocou com aquela areia quente. Amava aquela sensação.

Ficamos um tempo observando aquele local até que Camila quebrou o silêncio entre nós.

-E aí... O que achou daqui? 

Virei meu rosto para encara-la e respondi. -Esse lugar é incrível. Jamais teria a oportunidade de conhecê-lo se não fosse por você. Muito obrigada, mais uma vez!

-Por nada. Esse é meu lugar preferido de toda cidade. Quando algo de ruim acontecia eu vinha correndo para cá. Desde meus 14 anos faço isso. 

-Fico feliz por conhecer algo que faz parte de você. Você mora em que parte da cidade, aliás? Tudo parece ser tão simples pra você.

-Sabe a praça em que fomos ontem? - Concordei. - Então, moro ali perto. E sim tudo é fácil, pois sempre morei aqui. Conheço tudo e todos. É tudo familiar.

-Posso imaginar. Até porque a cidade não é tão grande, certo? 

Ela concordou, ficamos em silêncio por mais alguns minutos.

-Então, quando você pretende partir? - Perguntou com um ar preocupado.

-Não sei ainda. Talvez fique mais umas semanas por aqui, trabalhe em algum lugar por um tempo já que preciso de mais grana guardada e depois decidirei para onde eu vou. Por quê?

-Nada não... É só que foi legal te conhecer e talvez eu embarque nessa aventura também. Se eu puder te acompanhar, claro. - Disse tímida voltando sua atenção para o mar.

-Está falando sério? Camila, eu iria amar você me acompanhando nessa loucura! - Respondi enquanto virava seu rosto para o meu. - É isso que você quer? Porque se for eu realmente vou amar!

-É sim, Lauren. Eu sempre tive essa vontade e finalmente, por um acaso encontrei alguém que está disposta a realmente viver longe de todo esse controle e anseio por algo vazio.

-Srta, Cabello... Será uma honra ter você ao meu lado! - Disse apertando sua mão que estava com areia grudada por toda parte, nada diferente da minha. Ela riu e eu pude perceber que ela realmente estava falando sério. 

Eu iria amar aquela garota me acompanhando nessa loucura. Ela parecia não ter medo de enfrentar coisas novas e no fundo eu sabia que precisava de alguém nisso tudo, pois felicidade só é real quando partilhada. Fiquei animada com a ideia dela me acompanhar e aquilo só foi um motivo para eu ficar ainda mais feliz e mais aliviada também, por pensar que haveria alguém comigo.

Passamos a tarde inteira naquele lugar maravilhoso. Não havia lugar nenhum para comer e não havíamos levado nada. Sugeri a Camila que voltássemos para a cidade já que o vento frio já estava nos incomodando, a mesma aceitou e fizemos o mesmo caminho para voltar ao ponto. Demorou um tempo relevante para o ônibus passar ali já que o local não era de fácil acesso.

Chegamos na cidade às 19h40 e fomos para um restaurante que segundo Camila, era o melhor daquela cidade. Nem pensei em questionar nada já que minha fome era maior que qualquer coisa naquele momento. E diferente do que eu imaginei o restaurante era sofisticado, mas aconchegante. Era todo de madeira do piso, às mesas. Havia um rapaz do lado direito fazendo um show ao vivo, dando um ar ainda melhor para o local. Nos sentamos e fizemos o nosso pedido.

-Não se esqueça de que a conta é sua! - Camila disse enquanto eu observava o local.

-Querida, eu sei quando eu prometo algo a alguém, ok? Será um prazer pagar sua refeição depois dessa dia incrível que você me proporcionou.

-Eu estava brincando, mas já que insiste... - Disse rindo. -Isso não foi nada. Podemos continuar amanhã se você quiser. Há outros lugares incríveis para você conhecer por aqui.

-Será ótimo... - Respondi concordando e me lembrando que se eu fosse sair novamente amanhã, precisaria de mais roupas. Fodeu. - Camila, você sabe se eu me comunicar com a agência do transporte que vim para cá eles mandam de volta minha mala que ficou no ônibus?

-Você está brincando que não pegou a mala quando saiu para comer? Até onde eu sei eles não devolvem, Lauren. Você está sem roupa?

-Sim. Estou sem roupa alguma além dessa que estou e a de ontem. - Respondi fazendo uma cara de piedade.

-Meu Deus! Agora está explicado porque você nadou de calcinha e sutiã. - Disse rindo.

-Exatamente! - Respondi naturalmente.

-Se você quiser a gente pode passar em algum shopping ou feirinha agora, ou você vai até a minha casa e eu te empresto alguma roupa minha. O que você acha?

-Eu acho uma ótima ideia a segunda opção, já que estou com dinheiro contado, mas, amanhã a gente vê isso, tudo bem? - Falei sem a menor vergonha na cara, mas não podia desperdiçar uma oportunidade maravilhosa dessa. 

Ela riu alto e negou com a cabeça. -Você é tão cara de pau e mesmo não querendo confessar: isso é incrível. 

Ri daquilo e não pude deixar de concordar, mas a situação que eu estava não podia discordar com uma proposta dessa. Nosso pedido chegou e comemos como se não houvéssemos comido há semanas. Terminamos em questão de minutos e olhamos satisfeitas uma para a outra. Camila pediu para irmos embora e concordei no mesmo instante já que estava morrendo de sono. Fui até o caixa pagar nossas refeições e dessa vez acompanhei Camila até sua casa, já que eu sabia o caminho para voltar para o hotel.

-É aqui. - Ela disse parando enfrente a uma casa simples e linda como as outras. De faixada creme com um lindo gramado a frente.

-Bom saber que você mora aqui. Já posso começar meus planos para assaltar sua família. - Disse puxando-a para dar um abraço. - Muito, muito, muito obrigada por tudo! - Apertava ainda mais seu corpo, girando de um lado para o outro. 

-Eu já disse que você me assusta, menina? - Ela respondeu com o rosto entre meu ombro e meu pescoço, mas me abraçando também.

-Desculpa! - Me afastei. - Sei que não é normal pessoas que se conhecem a pouco tempo se... Ah, que se foda! Eu queria te abraçar, qual o problema?

-Problema nenhum, mas quebrar meus pequenos ossos é um grande problema. - Disse massageando a costela da forma mais dramática possível. Ri daquela cena e me despedi. 

-Tchau, Camz. Espero você amanhã mesmo horário no hotel. Não esquece de levar uma troca de roupa para sua amiga aqui. - Disse apontando de forma divertida para mim mesma. - Boa noite!

-Camz? - Sorriu tímida. -Ok, eu vou deixar você me chamar assim. E não, não esquecerei de uma roupa para você. Boa noite! 

Me deixou e entrou na sua casa. Segui o caminho para o hotel que não levou mais de 10 minutos. Entrei no quarto, joguei a mochila no chão fui direto para o chuveiro tirar aquele cheiro de sal que havia em mim. Mais uma vez dormiria apenas de calcinha já que meu corpo estava ardendo por causa do sol que havia tomado durante o dia. Me joguei na cama e mais uma vez refleti sobre tudo que estava vivendo, mas dessa vez o pensamento foi cortado assim que fechei os olhos e adormeci. Sonhando com mar, areia e risadas.