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História Ondas em Rebentação - OAdT livro 2 - Interlúdio 02


Escrita por: rbmutty

Capítulo 16 - Interlúdio 02


Fanfic / Fanfiction Ondas em Rebentação - OAdT livro 2 - Interlúdio 02

"Gabe!" Nós corremos um ao outro no jardim da frente e nos abraçamos apertado. "Que saudades!"

Gabe apertou as mãos nas minhas costas, tentando contar coisas enquanto dava risada. Ele mudou pouco naquele último ano. Continuava um poço de energia, embora a proximidade do abraço revelasse dois fios brancos na linha do cabelo.

"O que é este atrevimento?" Dylan meteu os braços entre nós e nos afastou. Antes que eu o cumprimentasse ele já apontava um dedo na minha cara. "Como se atreve a abraçar o meu..."

Eu abracei o Dylan, tão apertado que ele paralisou no lugar. Acho que quebrei o cérebro dele, porque ele gaguejou alguma coisa e abraçou meus ombros, completamente perplexo.

"Também senti sua falta, peixe-boi." Falei, dando tapinhas em suas costas despidas antes de me afastar. Dylan não envelhecia nunca. Ele parecia mais maduro, claro, mas poucos caras ficariam bem de sunguinha após os trinta, e Dylan raramente vestia outra coisa.

Dylan se afastou de mim, me estudando com total confusão no olhar.

"Fique onde eu possa te ver, maculador." Ele laçou seus dedos nos do Gabe, possessivo. "Nenhuma gracinha e nenhum truque com o meu predestinado, ou eu vou..."

Passinhos rápidos se aproximaram de mim, me salvando de outro discurso demente do Dylan. Eu me surpreendi quando vi as meninas correndo até mim. Penélope e Rebecca eram bebezinhos de colo da última vez que as vi. Apesar de todas as fotos que o Gabe mandou, vê-las pessoalmente era incrível. As duas pareciam princesinhas com seus vestidos de praia e tranças elaboradas.

Eu me agachei para abraçá-las, mas assim que me viram as duas se abraçaram nas pernas do Dylan, indignadas.

"Maculador." Dise uma delas.

Dylan estourou dando risada e afagou o a cabeça da pequena. Gabe também torcia-se para não rir.

"Ha, ha. Muito engraçado, peixe-boi. Ensinou isso para a outra também?"

"Só ensino o que é importante." Ele pegou suas filhas em cada braço, com um sorriso vitorioso.

Eu avistei o fusca do Alisson no lado oposto do jardim, o que causou revolta no meu estômago. Uma revolta que decidi afogar com uma taça de vinho, elegantemente oferecida a mim por um dos mordomos.

Ah, era bom viajar sem perder as mordomias que eu estava acostumado. Para um cara tão simples, Gabe se adaptou bem à vida dos grandes luxos. Eu me perguntava que parte daquele exagero vinha dele, e que parte era loucura do Dylan.

Não havia do que reclamar. Para alguém que só comia peixes, Dylan tinha um gosto fantástico para vinhos. Aquele chardonnay francês  era simplesmente delicioso.

Eu acompanhei Dylan até a praia particular, e logo notei que fui o único a seguí-lo. Quando virei para trás e avistei Alisson o meu coração travou um batimento, mas ele parecia ocupado, discutindo algo sério com o Gabe. Nem sinal dos dois meninos.

Dylan desceu as meninas na areia e começou a esvaziar as diversas sacolas plásticas, que ocupavam boa parte da mesa do churrasco. Ele distribuiu as salsichas e carne moída sobre algumas travessas e virou carvão embaixo do grill.

Dificilmente eu sentia inveja, mas aquela praia particular era meu ponto fraco. Parecia um pequeno paraíso de areia branca e ondas azuis, cercada por rochedos. Geralmente havia menos mobília na parte externa da casa, mas para os grandes churrascos eles montavam uma longa mesa, churrasqueira americana, redes, pufes gigantes, e tantas outras regalias. Um luxo.

"Você aprendeu a comer carne?" Eu puxei uma das cadeiras plásticas e sentei ao lado do Dylan, assistindo-o jogar álcool no carvão.

"Meu predestinado enjoa de peixe, às vezes." Respondeu Dylan, estranhamente pouco agressivo. "Vou acompanhar com camarões."

"Precisa de ajuda?"

Dylan acendeu o fogo e olhou pra mim como se eu fosse uma raposa num galinheiro.

"Acha que não consigo alimentar meu predestinado sozinho? Você não vai conseguir o que quer, está me entendendo? O Gabe me pertence."

Eu revirei os olhos. O mundo retornava à normalidade.

Dylan cutucou as brasas até cobrir o ar num aroma gostoso de carvalho. Ele sempre preparava o churrasco e já havia se tornado perfeito nisso. Em um universo paralelo talvez eu também fosse um mestre churrasqueiro, e preparasse coisas deliciosas para a família que eu nunca consegui ter.

"Ei, peixe boi..." Falei, descansando a taça na mesa.

"O quê?" Dylan nem ergueu o rosto, concentrado em misturar a carne moída com os temperos.

Eu olhei pra trás, me certificando que haviam apenas nós dois e as meninas, que faziam um castelinho.

"É possível que um humano se torne um tritão?" Perguntei.

"Não." Ele respondeu simplesmente, socando bolas de carne no formato de hambúrgueres.

Eu massageei a cicatriz no meu pescoço, um tracejado cor-de-rosa que nunca desapareceu por completo.

"Nem com uma mordida? Deve haver algum jeito."

Dylan enfim ergueu o rosto para mim, mas continuava com aquela cara de quem olhava para um idiota.

"Não somos a versão peixe de um lobisomem, maculador. Você nasce um tritão, ou você não nasce um tritão."

Eu olhei para a brincadeira das meninas, sentindo embolar a garganta. Não havia muitas esperanças, mas precisava ter perguntado.

Para a minha surpresa, a atenção do Dylan continuou em mim.

"Apenas o predestinado pode plantar ou receber a semente. Mesmo que você fosse um tritão, não conseguiria gerar bebês com o Alisson."

Eu queimei como as brasas do carvão, agitando as mãos no ar enquanto minha respiração dava pulos.

"C-c-c-como você sabe? Não... não era isso o que eu..." Gaguejei, querendo me enterrar na areia.

"Alisson não é o seu predestinado. Humanos não têm predestinação entre si."

Dessa vez meus olhos que esquentaram. Minha visão nublou e meu orgulho não impediu que as lágrimas descessem.

"Por que você me odeia tanto, Dylan?" Minha mágoa redobrou quando Dylan retornou aos seus malditos hambúrgueres. "Você nunca vai confiar em mim, não é?"

Dylan olhou pra mim de novo, arqueando a testa. Ele pareceu confuso ao ver minhas lágrimas, o que não era muito consolo.

"Eu te deixei costurar minhas bolas, e eu não confio em você?" Ele agitou o garfo no ar, perplexo. "Humanos não possuem predestinação, e portanto você tem chances com qualquer pessoa. Incluindo com o irmão do Gabe."

Meus olhos cintilaram sob o brilho do sol. Eu tentei engolir minhas lágrimas, morto de vergonha, mas várias desceram pelo meu rosto.  Dylan me viu chorar mas não tentou rir, apenas continuou preparando o almoço.

"Obrigado, peixe-boi." Falei.

Um barulho vindo da casa me fez secar as lágrimas rápido. Gabe apareceu com um sorrisão enérgico nos lábios e uma travessa de salada nas mãos. Alisson o seguia logo atrás, nem um pouco empolgado.

Gabe deixou a salada sobre a mesa e correu até mim, me abraçando por trás.

"Michel! Desculpa te abandonar, as coisas estão meio loucas."

"Loucas?" Perguntei, ignorando a rosnada do Dylan.

Gabe soltou nosso abraço e recuou dois passos, para a minha própria segurança.

"Os meninos sumiram." Ele deu um longo suspiro, mas quem parecia aborrecido mesmo era o Alisson, que abriu uma cerveja e sentou na ponta oposta da mesa para beber sozinho. "Maikon não atende, e o Hian respondeu minhas mensagens com um Vamos demorar, temos uma surpresa."

"Então eles devem estar bem." Eu dei uma risadinha.

"Maikon prometeu que viria ao almoço. Desculpe."  Alisson virou a cadeira de frente para o mar, e de costas para mim.

Eu quase perdi a postura. A voz do Alisson era tão doce, nunca deixou de ser. Era estranho vê-lo preocupado com a minha opinião sobre qualquer coisa.

Me perdi observando suas costas, tão largas, musculosas e douradas de sol. Alisson trajava apenas uma bermuda de praia, como todos ali exceto eu, que apareci de camiseta e calças e já me arrependia amargamente, castigado pelo calor.

Nada mais natural que expor o corpo num churrasco à beira mar, mas, por algum motivo, tive medo de vestir outra coisa.

"Não tem problema." Gaguejei, ciente do espaço enorme entre a frase dele e a minha resposta. "Passarei o mês em Waikiki, sobrará tempo para ver os meninos."

Alisson torceu o corpo e me olhou nos olhos, lambendo seu bigodinho de espuma branca. Ele bebeu outro gole da cerveja, e o sobe e desce em seu pescoço fritou meus poucos nervos ainda inteiros.

Era nessa hora que Leilani apareceria com docinhos, ou qualquer outra porcaria, e eu voltaria à realidade. Alisson casado. Alisson fora do meu alcance. Alisson feliz com outra pessoa. Mas os dois se divorciaram, não havia mais Leilani. A única âncora da minha sensatez havia desaparecido.

"...hein, Michel?" Ele me perguntou, em tom de insistência.

Eu balancei meus cachos loiros, percebendo que não ouvi nada do que ele dizia. Minha respiração se alterou sem que eu notasse, e para piorar Gabe me olhava desconfiado, segurando o riso.

"São adolescentes, Alisson. Eles somem, eles voltam, e com certeza Hian manterá Maikon longe de problemas sérios." Respondi, com um sorriso nervoso.

Alisson arqueou uma sobrancelha.

"Eu só perguntei se você queria uma cerveja." Ele disse, mostrando a própria latinha.

Gabe estourou dando risada. Aquele safado não me ajudava, e eu não podia contar com o Dylan. Ele parecia muito concentrado em montar espetinhos de carne e de peixe. Não que Dylan fosse de muita ajuda, geralmente.

Tentando não me embaraçar ainda mais, eu peguei uma cerveja no isopor e puxei minha cadeira, sentando ao lado do Alisson. Precisei de toda a minha coragem pra isso, mas lá estava eu, pertinho daquela escultura em forma de homem, que tão casualmente comia os amendoins de aperitivo. Ele parecia disposto a conversar comigo, então porque não? Fazia tanto tempo desde que... desde que...

"Tio Alis, tio Alis! A Rebbie pegou meu batom!" Penélope chegou correndo e se agarrou nas pernas do Alisson. Logo depois apareceu Rebecca, com o rosto rabiscado de batom vermelho. Onde e quando elas encontraram maquiagem?

Eu ri. Não daquela menina toda pintada, mas da minha situação ridícula. Alisson simplesmente me deixou sozinho e sentou-se com elas para limpar a Rebecca e ajudar no castelinho.

Incrível como eu ainda conseguia ser trouxa. Sozinho com a minha cerveja, assisti Alisson rir e brincar de maquiagem e castelinho de areia, tão gentil, tão sorridente e tão carismático. O crescimento do Maikon feriu Alisson mais do que ele deixava transparecer. Brincando com as gêmeas ele parecia um jovem papai novamente.

E um dia ele casaria de novo e teria mais crianças para brincar. Suas próprias crianças, com sua nova esposa.

Meus olhos marejaram na pior hora possível. Eu não queria me deprimir naquele dia de festa, precisava me distrair.

Um puxão na minha manga me assustou. Eu dei um gritinho e quando notei, minha camiseta foi arrancada por cima do corpo.

Morto de vergonha, eu abracei meu próprio peito e olhei para o lado. Gabe girava minha camiseta no ar com um sorriso sem-vergonha nos lábios.

"Está muito calor para ficar de roupa, não concorda, Dylan?" Perguntou ele, enquanto eu levantava da mesa e tentava alcançar minha roupa, sem sucesso. Gabe podia ser baixo, mas era rápido.

Dylan ergueu um espeto de churrasco e apontou pra mim, com o olhar de quem avistava o anticristo.

"Você será morto por isso."

Eu franzi a testa, me perguntando onde estava minha culpa naquele abuso.

A última coisa que eu precisava era do olhar do Alisson no meu corpo. Alisson gostava do Michel adolescente, alguém que deixou de existir há mais de vinte anos. Um Michel que podia oferecer coisas que o Michel de agora não podia mais.

"Nossa, alguém continua malhando." Gabe desceu os olhos pelo meu peito saliente, analisando cada gominho da minha barriga como se Dylan não estivesse bem atrás, quebrando palitos de churrasco enquanto olhava para o meu pescoço. "Natural, ou academia? O que acha, Alis? "

A última parte fez meu sangue despencar aos pés.

Alisson tirou Rebecca de seu colo e ergueu o rosto para mim, me estudando com as orbes negras que eram o seu olhar. Ele abriu a boca de um jeito embasbacado por meio segundo, e voltou a cavar a areia com as meninas.

"Homens malham, Gabriel." Rosnou ele, avermelhando. "Nem todos são você, com seu sangue mágico de tritão, ou sei lá."

"Desculpa se depois de cada parto eu fico mais gostoso." Gabe deu um tapinha na própria barriga, um tanquinho perfeito de oito gomos pouco salientes, mas bonitos e sólidos. "Mais alguns bebês, e posarei para todas as revistas."

Eu deveria comentar sobre o mau gosto daquela brincadeira, mas algo no Alisson parava meu coração. Ele parecia... encabulado?

"Gabe, posso me trocar no seu banheiro?" Pedi.

"Claro, as bermudas extras estão na gaveta de sempre. Vamos para o mar mais tarde, né, Alisson?" Gabe sorriu, adorando explodir meus nervos.

Alisson fingiu não ouvir, então apenas fui me trocar, com o coração disparando no peito.

Diante do espelho do banheiro, já despido, eu tentei fazer algo que não fazia há décadas: eu tentei gostar do que eu via.

Cachos loiros, óculos fino, peito depilado, coxas fortes e bíceps salientes, apesar dos meus ombros estreitos. Gabe dizia que meus olhos eram como uma nuvem de tempestade, mas eu só via um cinza tão comum, tão... insuficiente.

O breve embaraço do Alisson talvez fosse ilusão, aliás, certamente era. Mas o que me restava àquela altura, além de acreditar no impossível?

Eu vesti minha bermuda e passei o protetor solar. Por um breve instante, no espelho exagerado daquele banheiro igualmente exagerado, eu vi um lindo médico loiro, com quarenta e poucos anos e corpão de trinta. Então eu olhei diretamente ao reflexo e voltei a ver um adolescente sozinho e desesperado, batendo nas paredes daquele corpo adulto que era a sua prisão.

Eu apertei os olhos e contei até dez, e mais uma vez consegui me acalmar. Era apenas uma festa de praia com alguns amigos, e um ex-ficante de muito tempo atrás. Eu era forte. Eu podia fazer isso.

Conseguindo finalmente sorrir, eu deixei o banheiro e fui aproveitar a festa, já seduzido por um delicioso aroma de hambúrgueres e espetinhos.


Notas Finais


Oi amores~

Quem ficou com fome lendo esse capítulo? Porque morri de fome escrevendo kkk

Será que o coração do Michel aguenta tudo o que o espera? As férias mais loucas de sua vida está apenas começando.

No próximo capítulo Hian finalmente aparece, e ele não surge desacompanhado.

Beijão, e obrigada por lerem <3

R. B. Mutty


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