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História Ondas em Rebentação - OAdT livro 2 - Interlúdio 05


Escrita por: rbmutty

Capítulo 19 - Interlúdio 05


Fanfic / Fanfiction Ondas em Rebentação - OAdT livro 2 - Interlúdio 05

Eu mal conseguia mastigar meu jantar. Por que Alisson estava ali? E tão deliciosamente bem vestido?

"Você está bonito." Sussurrei, percebendo tarde demais o motivo. "Esquece, eu sou um idiota. Claro que você está bem vestido, pensou que seria um encontro com a Kandi."

"Como assim, um encontro com a Kandi?" Alisson arqueou uma sobrancelha, e pareceu entender minha frustração. "Ah, não é nada disso. E pelo menos não tentei casar com ela!"

"Boa resposta." Falei, guardando a maldita rosa no meu colo. "Me desculpa. Não esperava que a Kandi armasse pra cima de nós."

"Eu sei. Eu mesmo pedi que ela fizesse isso."

Eu ergui meus olhos para ele, mas Alisson fingia concentração em cortar sua carne.

"Você... você quis estar aqui? Comigo?"

Alisson engasgou na própria comida, e ajudou a descer com largos goles de vinho.

"Eu... ahm.... n-não confunda tudo, me vesti assim porque esse é o lugar mais caro de Waikiki. E vou adivinhar que aquela louca pediu o prato mais caro, também."

"Desculpa. Eu pretendo pagar pra nós dois." Eu corei, ao mesmo tempo esquentando e tremendo, como se a brisa marítima se tornasse um sopro de gelo.

Alisson. Meu Alisson. Presença em todos os meus sonhos e pensamentos, desde a adolescência. Eu não podia alimentar ilusões, mas como faria isso naquele momento? Minhas férias se tornavam uma espiral de loucura cada vez maior.

"Michel, você merece alguém melhor que eu." Ele disse, rápido e brusco como um golpe de martelo.

Eu cutuquei as patinhas de caranguejo com o garfo, confuso sobre absolutamente tudo. Kandi me rejeitou, e agora Alisson estava ali, todo vermelho e hesitante, também me rejeitando mas não exatamente? Mas o que raios?

"Eu não posso consertar o que eu fiz, então abri caminho para que alguém decente aparecesse na sua vida. Eu queria que você fosse feliz, Michel." Disse ele.

Aquele monte de bobagem me surpreendeu tanto que eu paralizei, e deixei meu garfo cair no prato. Após circular a frase na minha cabeça vinte vezes, eu comecei a rir.

"Quis me fazer feliz fugindo de mim?" Eu o encarei, totalmente perplexo. Dessa vez Alisson foi homem o bastante para manter o olhar no meu. "Você não sabe o que me faz feliz, Alis. Não é você quem decide isso."

"Eu preciso te lembrar o que eu fiz com você?" Ele baixou o tom de voz, inclinando-se na mesa para que eu ouvisse. "Eu sou o último homem que você deveria querer, mas aqui estamos nós, quase trinta anos depois, e você ainda se hipnotiza com o meu corpo."

Meus olhos marejaram, e eu precisei desviar o rosto antes que uma lágrima descesse.

"Você diz que abriu caminho para outras pessoas e aqui está você, sabotando a única chance que eu já tive de ter uma família. Você mesmo ligou pra Kandi, não foi? O que disse a ela?"

Alisson logo abriu a boca pra responder, mas engasgou nas palavras. Ele secou a última taça de vinho.

"Eu disse que eu... eu.... Não importa. Eu senti que você faria algo estúpido, mas uma rosa de veludo com uma aliança? Isso é tão brega."

Meus lábios curvaram num sorriso de puro nervosismo. Eu já nem sabia o que sentia, mas o calor dentro de mim era como uma panela de pressão, e Alisson parecia aquecê-la de propósito.

"E daí se é brega? Talvez eu goste de brega. Talvez eu goste de receber rosas vermelhas, e beijos apaixonados na chuva, e assistir filmes bobos deitado de conchinha, até o sol nascer. Mas não tenho como ter certeza, não é?"

Por um segundo, senti que Alisson não engoliria minha estupidez e iria embora, para nunca mais me ver. Mas ele sorriu com sinceridade e... um certo alívio?

"Anos me perseguindo, e é a primeira vez que você me conta o que você gosta."

Eu avermelhei até meu rosto pegar fogo.

"Não é verdade." Gaguejei, tentando lembrar alguma vez em que falei de mim mesmo, sem que Alisson me perguntasse antes. Só me vinham minhas declarações estúpidas de amor, e meu desejo infinito ao Alisson, ao corpo dele, e a tudo o que ele era.

Como nunca percebi um erro tão colossal? Eu sabia cada detalhezinho sobre o Alisson, e ao mesmo tempo ele nem me conhecia. Não era à toa que ele me desprezava, eu era um ninguém.

"Eu gosto de rosas. E de carros luxuosos. E prefiro ovo frito com a gema mole. E gosto de malhar de manhã cedo, e prefiro trabalhar os braços que as pernas. E já assisti Casamento Grego doze vezes. E adoro as balas azuis dos pacotes de jujuba." Falei, apenas me calando quando Alisson deixou uma risada escapar.

"Você é rico, inteligente e bonito, Michel. Pode ter qualquer homem que quiser."

"Eu sei. E é por isso que eu quero o melhor deles." Falei, surtado demais para lembrar do meu amor próprio.

O olhar do Alisson mudou, afinando como agulhas pretas. Acho que travei a cabeça dele porque Alisson demorou muito a responder.

"Engraçado você dizer isso, depois de pedir a Kandi em casamento." Rosnou ele, aborrecido.

Algo adormecido despertou dentro de mim. Uma sensação gostosa e quente, que há muito eu havia sepultado. A minha esperança.

"Você ficou com ciúmes." Eu sorri, mas logo a indignação atropelou minha alegria como um trem desgovernado e eu bati as mãos na mesa. "Minha primeira chance de ter esposa e filho, e você me sabota por ciúmes? Qual é seu plano, Alisson? Me assistir morrer sozinho, enquanto você casa com alguma outra biscate?"

Passei totalmente dos limites. Notei isso no olhar de pura mágoa diante de mim. Antes que eu pedisse desculpas Alisson abriu a carteira, jogou algumas notas de cem na mesa e foi embora.

Merda, como eu era estúpido.

"Alis, desculpa!" Eu corri atrás dele, o alcançando na calçada à beira-mar. "Desculpa, eu não devia ter dito aquilo."

"Quando vai parar de se desculpar?" Ele virou de frente pra mim, e seu olhar me assustou. Raras vezes Alisson chorou na minha frente. "Você nunca teve culpa de nada. Foi tudo eu. Eu fui um monstro."

"Sim, você foi. Mas eu te amo, Alis. Você não vai me machucar de novo."

"Como pode ter certeza?" Alisson apertou os punhos. Ele tremia. "Você me esperou por décadas, como eu poderia não te decepcionar?"

Meu coração tornou-se um zunido no meu peito, e minhas pernas ameaçavam derreter.

"Você poderia começar... me beijando?"

Alisson endireitou os ombros, me encarando como se eu fosse louco. A dor em seu rosto refletia no meu coração, e a espera me enlouquecia. Arrisquei dar um passo à frente, me inebriando em seu aroma perfeito de colônia cítrica.

"Michel, nós não..."

Eu toquei o rosto do Alisson, e me inclinei até seus lábios.

"Me beija, Alis." Sussurrei contra sua boca quente.

E então ele me beijou, e o tempo deixou de existir. Havia apenas Alisson, e sua língua quente contra a minha, e as lágrimas de emoção que não paravam de molhar meu rosto.

 

****

 

Mais um despertar solitário, na luxuosa suíte do Maylot. Mas dessa vez tudo parecia mais colorido, como se o sol nas frestas da janela fosse um prisma de mil cores quentes, e os pássaros cantassem especialmente para mim. Acordei sorrindo, e não conseguia deixar de cantarolar.

Na noite anterior eu consegui beijar o Grande Alisson.

Uma pontada de medo estremeceu meus ossos, mas eu a empurrei para o fundo do meu coração e levantei da cama. Naquele dia eu não pensaria em consequências, e no drama que Alisson certamente faria, isso se ele quisesse me ver de novo. Eu iria aproveitar o momento como uma bolsa de ar no fundo do oceano.

Eu me arrastei ao banheiro, sonolento e cheio de lembranças gostosas. Alisson me beijou por tanto tempo, e ainda me prensou na parede e beijou de novo, no caminho do hotel. Ele pareceu tão sedento por mim, que eu me perguntava qual seria a desculpa dele para aquele momento de fraqueza. Precisaria ser algo bom para ele sumir do mapa e fingir que eu não existia.

Droga, a ideia era ficar feliz, só por aquele dia. Eu merecia essa migalha. Ainda assim, quando olhei no espelho, eu quase vomitei pelo nervosismo. Foram beijos deliciosos, mas eu não queria perder o Alisson.

Ânimo, Michel. Em poucos dias você reencontrou seus amigos, ganhou um filho e ainda deu uns pegas no Alisson. O céu poderia desabar e ainda assim você estaria em saldo positivo.

Eu lavei o rosto, tentando esfriar os pensamentos. E então a campainha tocou.

Aborrecido e desiludido, eu atendi a porta de pijamas, mesmo. E quase tive um ataque cardíaco.

Alisson, meu amado grande Alisson. Só podia ser uma miragem, mas era ele mesmo, vestindo sua bermuda de praia e regata, do jeito que eu mais gostava. Ele olhava baixo, com o rosto vermelho e os ombros encolhidos para trás.

Nem tentei falar nada, pois com certeza não conseguiria. Meu olhar já havia descido para o que Alisson escondia atrás do corpo.

Alisson entrou no quarto, e assim que fechei a porta ele me entregou o que escondia: um enorme buquê de rosas, tão vermelhas quanto o tom em seu rosto.

"Você disse que talvez gostasse, então..." Ele murmurou, com o olhar nos próprios pés.

Eu abracei o buque macio e perfumado, e lavei as rosas na minha choradeira desenfreada.

"Eu tenho certeza, agora." Eu ergui o queixo do Alisson e o beijei, sem encontrar resistência alguma. "Rosas vermelhas são as minhas flores favoritas."

"Não sei se nós... isso talvez nem dê certo." Alisson tentava falar entre meus beijos cada vez mais ferozes.

"Você tem um filho, e agora eu também. Só precisamos de mais quatro." Brinquei, deixando o buquê na mesinha e arrancando a camisa do meu pijama.

O olhar do Alisson desceu pelo meu peito, e após muita hesitação ele tocou os músculos salientes do meu quadril, deslizando a mão firme até o alto das minhas costelas. A sensação continuava a mesma, após tantos anos. Era como uma luta de trovões dentro do meu corpo, eu lutava para não me jogar na cama e gritar por ele, deixando que Alisson me descobrisse - aliás, se descobrisse - em seu próprio rítmo.

Alisson se fez de resistente em um ato bem fingido. Logo ele beijava meu ouvido, e a curva do meu pescoço, enquanto eu recuava até perto da cama. Só podia ser um sonho. O melhor sonho do mundo.

"Eu te amo, Alis." Sussurrei contra a sua boca, relaxando em seus braços e me entregando.

Não importava se Alisson queria me beijar, ou transar, ou estudar meus músculos como um cego enxergando pela primeira vez. Se ele quisesse algo de mim ele teria, mesmo que fosse errado, mesmo que doesse.

E então, naquela manhã fresca e ensolarada na suíte presidencial do Maylot, aquele adolescente pobre e assustado despediu-se das minhas memórias, dando lugar a um médico bonito e cheio de desejos, que enfim realizaria todos os seus sonhos.


Notas Finais


Oi lindos~

Espero que tenham gostado do capítulo <3 a história do Michel termina por aqui, mas quem sabe mereça um spin-off? No próximo capítulo voltamos com mais Hian <3

Hoje tenho duas notícias, uma boa e outra ruim:

Primeiro a notícia boa: Atendendo a muitos pedidos, teremos uma maratona de capítulos. Será postado um capítulo por dia, todos os dias até domingo. Espero que gostem da surpresa <3

A notícia ruim é: vou viajar na semana que vem, então após o capítulo do dia 20 (domingo) haverá uma breve pausa na publicação dos capítulos. Ondas em Rebentação retornará dia 02 de setembro <3

É isso, espero que se divirtam com esta maratona, e que não tenham esquecido de mim quando eu voltar :P

Beijos e abraços

R. B. Mutty


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