História Onde Está O Amor - Dia de Trote

 Quando conto a situação – que eu vinha guardando por todo o tempo em que acontece – para Amanda e Camila, elas ficam chocadas.

- A sua mãe? – zomba Camila. – Ela não parece dessas mulheres que ficam saindo escondidas para encontrar um namorado, ainda mais depois que seu pai morreu... Não parece combinar com ela.

- Não parece mesmo, mas as fotos de meu pai? Sumindo aos poucos. Tenho até medo do que pode estar acontecendo com elas.

Sei que minha mãe não as está doando ou jogando fora, ela pode ter achado um namorado, mas não esqueceria meu pai assim, sem mais nem menos. Porque juro que o amor deles era de verdade, puro, honesto e gentil, porém, infelizmente, a morte os separou.

- Deveria jogar as cartas na mesa. – avisa Amanda. – No jeito “Mãe, já sei de tudo, então ou você me conta ou vou descobrir sozinha quem é o homem”. – e ainda bufa o final, na melhor imitação de minha voz irritante.

Sou eu quem bufo agora, exasperada.

Nesse momento, o namorado de Camila (Mason), chega e a abraça por trás. Ele está fantasiado de Luigi e acompanhado de Logan, que está de Mario. A cena é tão hilária que eu e Amanda não conseguimos nos controlar e começamos a rir.

Logan está com toda a fantasia certa e é até um pouco mais baixo que Mason, mas o que mais me deixa com um sorriso estampado no rosto é o bigode que ele deixou crescer, muito parecido com o do personagem do jogo.

Como não percebi essas diferenças nele? Devia estar tão ocupada cuidando da vida da minha mãe que esqueci da minha própria vida e de meus próprios interesses. O que eu não daria para poder estar ao lado de Logan hoje.

Eles se sentam com a gente. E percebo que devo ter muito cuidado com o que desejo porque quem se senta do meu lado é ele e me pergunto se tem a mínima opção de ele ler pensamentos e eu, assim, passar vergonha.

- De onde tiraram essa ideia?

- Mason é meu melhor amigo, então queríamos fazer alguma coisa que combinasse, quando vimos essa fantasia na loja não conseguimos pensar em mais nada.

Mason coloca o braço em volta de Camila e ela cora. É tão fofo ver minha amiga apaixonada. O namoro só tem uma semana porque eles quiseram se conhecer bem primeiro, mas todo mundo sabe que ele estuda tanto e é tão dedicado que até o pai dela já apoiava o relacionamento.

Amanda começa a conversar com o casal, então Logan fala comigo.

- O que achou da minha fantasia? – me pergunta.

Eu começo a rir quando o encaro novamente.

- Gostei do bigode, foi a melhor parte. – ele assente, concordando comigo.

- Você estuda aqui desde o ano passado, né? – Logan me pergunta novamente.

- Sim.

Assim ele me conta que se lembra de mim da outra escola em que estudava, a mesma que a minha. Que ele estava no sétimo ano quando eu entrei na escola no sexto, me pergunta se lembro dele, mas tenho de assumir que não.

Como posso não me lembrar de Logan?

- Você sempre se sentava sozinha. – ele parece estar se lembrando.

Me sentava sozinha mesmo. Todos os dias. Eu rezava e implorava em minha mente para que alguém viesse se sentar comigo, observava as garotas indo na cantina, e sorria quando elas passavam, mas nunca se sentavam comigo.

- Eu tinha vontade de ir lá e sentar com você, mas tinha medo de que me expulsasse. Eu achava que você queria sentar sozinha, que talvez não gostasse da escola.

Eu nego com a cabeça e lhe lanço um sorriso bobo, tentando esconder a dor de quatro anos soterrados no peito. Nunca achei que teria de me lembrar deles assim, nunca achei que seria com Logan. Que ele estivesse lá, que ele me observasse.

- Era horrível. – assumo, encarando minhas unhas. – Queria que tivesse ido falar comigo.

- Antes tarde do que nunca, né? – Logan aperta minha mãe, um gesto de conforto, rápido, mas que me deixa sem ar.

- Eu nunca nem fui na cantina daquela escola, sabia? – coço a garganta, mudando o assunto para ele não perceber minha vergonha. – E nem nessa. Eu simplesmente sou apavorada com isso hoje em dia. – solto uma risada sem graça e baixa.

- Não acredito nisso. – ele parece realmente pasmo. – Quer dizer que nunca provou o pão de queijo daqui? – nego com a cabeça. – Ah, vem comigo agora.

Logan agarra meu braço e me puxa até a cantina, sei que algumas garotas estão olhando para isso. Principalmente Carla, que era sua amiga de infância e nunca desgruda dele. Bem, para tudo tem sua primeira vez, até para mim ir na cantina.

- Aqui. – ele me solta e me entrega o dinheiro. – Pede um pão de queijo e a gente divide.

Dividir um pão de queijo, tem coisa mais romântica que isso?

Minha mão treme.

- Não tem como você pedir por mim?

Ele nega e me lança um sorriso confiante, incentivando-me a seguir em frente. Quando a pessoa na fila vai embora, eu ergo meu rosto e peço toda envergonhada um pão de queijo.

A moça da cantina sorri para mim e me entrega a ficha com meu dinheiro, vamos para onde se pega o lanche e recebo um pão de queijo quentinho e cheiroso no qual Logan já vai logo dando a primeira mordida.

- Bom, experimenta.

E eu experimento. É realmente o melhor pão de queijo que já comi. Enquanto comemos não voltamos para a mesa com nossos amigos, ele me leva para onde eu sentava antes em que Camila não namorava. A parte escondida em que eu espiava Logan, mas agora ele está comigo.

Terminamos o lanche em dois minutos, conversando um pouco sobre nossos professores preferidos.

Peço para que ele me conte também sobre como ele era.

- Quando estudava na outra escola, você era diferente?

- Muito, eu era mais mimado e gostava de comandar tudo. Acho que ainda gosto de comandar as pessoas, mas não gosto de ser eu mesmo com quem não conheço bem.

Será que ele é ele mesmo comigo? Será que só vejo uma parte dele? A parte boa? Imagino que sim.

- Também sou meio fechado, mas é fácil me abrir com você. – ele ri e meu coração acelera. – Foi difícil quando perdi minha mãe, eu estava no oitavo ano. Sinto muito, eu sei que ano passado você perdeu seu pai também, queria poder ter dito algumas coisas, mas...

- Tudo bem. – dou tapinhas em seu ombro, querendo provar que já não é mais tão difícil para mim. – Sinto muito pela sua mãe.

Logan dá de ombros.

- Acredito que ela esteja melhor agora. Ela sofria muito lá em casa, queria ter o tempo do meu pai, mas ele o dá inteiro para sua empresa.

- Você não se sente sozinho? – antes que eu me contenha, pergunto. Uma parte minha morre só de imaginá-lo sofrendo.

- Quando eu era menor? Sim. Eu me sentia muito sozinho, era terrível só ter a presença dos empregados que me tratavam como se eu fosse algum robô. Mas agora? Creio que estou melhor sozinho.

Me pergunto se o pai dele é tão monstro assim, que não se importa em deixar o filho sozinho a ponto de achar que está melhor sem ele. Mas não pergunto isso, sei muito bem que algumas informações queremos guardar para nós mesmos.

Eu espero que algum dia Logan se mostre de verdade para mim e que, assim, eu possa conhecê-lo.