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História One Love - Contagem


Escrita por: imaginelieber

Capítulo 12 - Contagem


Fanfic / Fanfiction One Love - Contagem

Maya já estava leve, abrindo a segunda caixa de cerveja que trouxera. A batata frita fornecida por Rafael não estava em quantidade suficiente para forrar seu estômago e lhe livrar da alta receptividade do organismo à influência do álcool. Sentada em minha mesa com as pernas cruzadas cobertas por uma saia justa e pequena, e inclinada na direção de Rafael — seus seios quase pulando do decote —, falava sobre todo o tipo de coisa, menos do que me interessava. Cruzei minhas mãos em cima do colo, respirando fundo mentalmente para adquirir mais um pouco de paciência. Rafael me lançava alguns olhares furtivos, transmitindo alguma mensagem que não consegui captar.

— E é claro que prefiro um bom banho de banheira do que uma chuveirada. A banheira nos dá certas liberdades — ela disse com malicia, dando uma risadinha quase infantil, aparentemente concluindo sua lista de preferências aleatórias.

Eu sorri com incentivo, arqueando a sobrancelha como se soubesse do que ela estava falando. O cenho de Rafael se franziu imperceptivelmente. Não precisava ser muito esperto para ver que Maya não estava se saindo muito bem no jogo da sedução com ele. Estava na hora de uma interferência para melhorar o seu lado e o meu.

— Conte-nos como você é uma pessoa de sucesso em seu emprego. Quer dizer, ainda não conquistei tanta confiança de Hazel como esperava a essa altura, preciso de algumas lições. Maya é muito responsável — acrescentei para Rafael, ele parecia apreciar essas coisas.

Sua expressão se clareou minimamente, uma pequena faísca de esperança de um assunto interessante. 

— É mesmo? O que você faz?

Ela colocou a mão na boca, tentando esconder o sorriso pervertido. Enrijeci.

— Bom, você tem que estar disposta a correr alguns riscos. Afinal, toda relação humana que se preze envolve um pouco de sacrifício — discursou com seriedade, a postura muito bem calculada.

Relaxei na cadeira. Não fora uma resposta tão ruim quanto pensei, mas evasiva na medida certa.

— Ela é assistente pessoal de um empresário de sucesso — contei, preferindo eu mesma acrescentar detalhes rasos.

— Eu conheço a empresa? — Rafael perguntou, me pegando de surpresa.

Maya simplesmente deu de ombros, virando a latinha na boca.

— Provavelmente não. Eles são canadenses.

A informação me deixou em alerta. Ela estaria mentindo para enganar Rafael? Eu me lembrava de ter lido esta nacionalidade na certidão de Justin. E se fossem, por que estavam aqui? Ou seu negócio era internacionalmente amplo? A suposição me deu náuseas.

— É altamente estressante, sabe? É tanta responsabilidade — ela expirou, relaxando os ombros e balançando as pernas. Se não tomasse cuidado com a altura e distancia delas, poderia deixar a vista sua calcinha. Não que eu achasse que se importava com aquilo.

Seu iPhone vibrou na mesa bem à minha frente. Devido aos seus reflexos lentos, ela demorou a pegá-lo e consegui ler a mensagem.

“059 para Annelise. ”

As palavras vinham de um número desconhecido, mas o nome contido nelas me arrepiou a espinha. Maya leu o recado esforçando um pouco os olhos, então bufou trepidando os lábios e jogou a cabeça para trás teatralmente.

— Eu bem disse. Faith, pegue o iPad na minha bolsa pra mim.

Tirei sua bolsa preta debaixo da mesa e abri o zíper, resgatando o iPad preto de dentro dela, o único objeto diferente que ali constava desde a última vez que eu fuçara. Eu estava tensa. Se ela sabia quem era Annelise, deveria saber que aquela desalmada estava atrás de mim. E o que significavam os números 059?

— Tecnicamente, hoje estamos todos de plantão — ela revirou os olhos, digitando a senha no aparelho devagar demais, memorizei meus chutes na cabeça, eu estava certa pelo menos de dois deles, começava com 1 e terminava com 3.

A observei digitar uma senha — a qual eu consegui ver perfeitamente — para abrir uma pasta de nome curioso contendo várias miniaturas do Word. Ela foi na barra de pesquisa e digitou o nome de Annelise, então clicou duas vezes sobre e o documento se abriu. O aparelho estava em seu colo enquanto digitava um número que tirava dali. Entendi então do que se tratava, sua ficha, como a que eu vira com Justin, dele próprio, de seu pai e de seus irmãos. Por ser a sede eles possuíam mais tecnologia ou... por ter que guardar informação de muitas pessoas? Muitas pessoas do tipo, todas as que trabalhavam na Companhia? Ou que deviam trabalhar?

Ela terminou e me entregou o iPad bloqueado para que eu colocasse de volta na bolsa. A ideia surgiu enquanto eu me abaixava para o fazer, vendo a minha bolsa um pouco menor do que a sua, mas da mesma cor, ao lado da mesma. Maya já se distraía de novo, falando sobre alguma besteira qualquer. Com a visão periférica, eu percebia os olhos de Rafael julgadores nela, então não prestaria atenção em mim. De qualquer forma, valia a pena correr o risco. Coloquei seu aparelho dentro da minha bolsa rapidamente. Eu não poderia ficar com ele por muito tempo, tinha quase certeza de que possuía um rastreador, e assim que o farejassem até mim, eu estaria em sérios problemas.

Portanto, pedi licença para ir ao banheiro e levei minha bolsa comigo, segurando o riso do olhar de piedade que Rafael me lançou. Adentrei a galeria que possuía um escritório para Hazel, uma sala de depósito e um banheiro para nós duas — o de clientes ficava lá na frente —. Tranquei-me nele e sentei na privada depois de abaixar a tampa, pegando o iPad e iniciando a sequência de números que eu supunha. Eu sabia não ter muitas chances até que ele bloqueasse, mas consegui esse feito infeliz e tive que esperar mais um minuto para tentar novamente. Descontei toda minha ansiedade em minhas unhas, roendo-as, já planejando o que eu diria à Maya caso ela desse falta do aparelho antes que eu retornasse. Podia receber outra mensagem e precisar dele de novo, e assim saberia que eu o havia pegado e estava fuçando nele dentro do banheiro.

Na 20º vez que tentava o código, o aparelho desbloqueou. Eu sequei o suor na testa, seguindo os mesmos passos que ela seguira. Digitei a senha na pasta denominada “Hawaii trip” e tentei a sorte, digitando Bieber na barra de pesquisa. Todas as pessoas nos quadros que eu vira na Companhia possuíam uma ficha ali, inclusive Justin. Eu me corroía para abri-la, mas notei a de Jazmyn e Jaxon e estabeleci as prioridades. Não poderia conter o status “Transferidos para a sede” se já estávamos na sede, certo? Só queria me certificar de que eles estavam mesmo por ali.

Abri primeiro a de Jaxon, deixando meu queixo cair de perplexidade. Esta ficha continha desde seus genitores a seu tipo sanguíneo, mas não era o que me espantava, fora sua localização. Boston, Massachussets. Eu fechei os olhos, mordendo a boca. Eles podiam ter uma ala infantil em Boston, mesmo sem Justin saber, e nós a destruímos com os explosivos, quando seus irmãos estavam lá dentro.

O desespero fechou minha garganta, mas não me dei por satisfeita, voltando para clicar no documento de Justin. Ali constava a data de sua morte logo após a do nascimento, 20/11/2016. A mão invisível apertou meu coração, mas ao mesmo tempo, consegui voltar a respirar. Se não constava a data de falecimento de Jaxon, ele não estava na filial naquele dia. O documento de Jazmyn continha as mesmas informações. E por um infortúnio, não estava anexada nenhuma foto dos dois.

Se eles estavam em Boston, onde poderiam estar? Presumi que a ficha estivesse atualizada, contando com o fato de que portava o dia do falecimento de Justin. Alguém da Companhia teria sobrevivido e cuidava dos dois em segredo para George? Cuidava não, treinava.

O pesar afundou meus ombros. Eu tinha que voltar para Boston. Apoiei a cabeça nas mãos e passei todo o cabelo para trás, respirando. Haviam várias questões envolvidas nessa decisão. Se Annelise não estava blefando sobre o meu contrato, iria atrás de mim para minha terra natal, e eu não queria colocar todo mundo em risco de novo. Uma voz inconveniente no fundo da minha cabeça alertou que já estavam em risco. Me afastar deles não era exatamente um benefício no quesito segurança, uma vez que minha família toda estava na mira. Só fui escolhida para ser a primeira por ser “o bem mais precioso de Bryan”. Mas se assim fosse, eu apenas faria Bryan ceder às demandas dadas e aquele pesadelo acabaria. Eu estava vivendo sem toda a mordomia que aquele dinheiro nos fornecia, e exclusivamente nesse ponto, não podia reclamar da minha vida, eles também podiam sobreviver. 

A ideia de Eleanor se desfazer de todas as suas joias me fez pensar que preferiria a morte.

 

 

O barulho constante e chiado me fez revirar na cama. Conforme a consciência me retornava, o relacionei com uma lixa. Esperei que parasse seja lá de onde e como viesse, mas o tempo passava e nada acontecia. Resmunguei, eu não dormira há muito, o começo todo da noite passei me retorcendo com os pensamentos interligando minhas novas teorias. Abri os olhos e procurei a origem daquele som, cogitando a ideia de ter deixado a janela aberta e algum animal intrometido estava ali roendo minhas coisas.

Demorei para acostumar meus olhos, mas assim que o fiz, meu coração surrado subiu para a garganta e meu corpo se retraiu para o canto da parede. A sombra em meu guarda roupa soltou uma risada feminina enjoativa.

— Assustei você? — até mesmo o seu tom de voz me indicava que essa era sua intenção.

Identificando minha visitante, soltei o ar, a fuzilando com os olhos e me sentando na cama.

— O que faz aqui? — perguntei com toda a autoridade que possuía. Ela interrompera minha noite de sono lixando suas unhas no meu quarto.

— Estava me sentindo meio sozinha, precisava conversar — não me deixei enganar pela sua inocência fajuta.

Vasculhei a minha volta, procurando alguma coisa que servisse como arma se Annelise resolvesse me atacar. No momento, o travesseiro era minha melhor opção. Usei aqueles segundos para me organizar, eu sabia que entrar não deveria ter sido exatamente um problema para ela e suas habilidades idiotas, mas me perguntava o que ela queria dessa vez. Talvez concretizaria todas as suas ameaças implícitas. Um pensamento paralisante me fez temer que eles finalmente conseguiram acesso às câmeras, me viram com Ryan fugindo da garagem, 059 significava morte imediata.

Parei de me preocupar com isso quando me lembrei que Caitlin dormia no quarto ao lado.

Ela percebeu minha inquietação e deu um sorriso afiado de canto. Seu intuito era me levar ao medo para que pudesse fazer sua caçada idiota.

— Você queria reafirmar pra mim sua estratégia? Pois bem, já entendi. Agora pode sair do meu quarto?

Annelise levou a mão ao peito, demonstrando estar ofendida. A seguir, caminhou até minha cama enquanto eu recuava, se sentando na beirada.

— Achei que podíamos compartilhar segredos hoje, uma festa do pijama — seus olhos pareceram mais loucos com a empolgação — Quem começa?

Cruzei os braços, lhe encarando com desprezo.

— Posso te segredar que no domingo conheci uma nova espécie de vaca. Ela tem cabelo loiro e olho azul.

Annelise jogou a cabeça para trás ao rir exageradamente. Então abanou a mão.

— Essa foi boa. Mas eu estava pensando em coisas mais intimas — apresentou-me seu sorriso sugestivo — Como por exemplo... compartilharmos nossas experiências.

 Mesmo sabendo que me arrependeria daquilo, perguntei impaciente:

— Que experiências?

Ela deu dois tapinhas no colchão, arqueando as sobrancelhas.

— Justin era maravilhoso nisso, não? Muito criativo. Acho que nunca encontrei alguém como ele ainda.

Eu raciocinei devagar, depois preferi não ter entendido, sentindo vontade de vomitar. Direto na sua cara, para ser mais específica. Meus tendões enrijeceram de ciúmes.

Preferi não falar nada — o que eu diria também? — e ela me analisou.

— É claro que vocês chegaram a esse ponto. Ele não perdia tempo — afirmou, embora desconfiada, jogando a isca para que eu mordesse.

Não aguentei encará-la por muito tempo, tendo uma imagem bem real pintada em minha mente das mãos dele tocando cada parte do corpo dela, despindo-a com beijos, o suor dos dois impregnando em um lençol qualquer. As náuseas fizeram festas em minha barriga.

— Ah meu Deus! — Annelise quase gritou com uma perplexidade empolgante — Você não chegou a dormir com ele!

— Claro que dormi com ele! — defendi-me no mesmo instante.

Mas ela já estava rindo.

— Não da forma mais interessante. Isso é mesmo chocante, é mais do que claro porque ele se entediou com você! Depois de dinheiro, essa era a coisa mais importante pra ele no mundo!

Não gostei nada de sua forma de falar de Justin com tanta propriedade, como se o conhecesse de cabo a rabo. Acrescentando isso ao fato de que tentava me ofender e estava ali para para me matar. Pois ela deveria saber que só olhar para seu rosto enjoativamente perfeitinho demais era uma ofensa pra mim.

— Acabou? Eu realmente preferia estar dormindo agora.

Eu preferia que me matasse de uma vez do que continuar tendo aquela conversa com ela.

Annelise levantou as mãos pedindo um tempo, tentando interromper sua gargalhada. Dissimulada!

— Tenho que te contar, eu pensei mesmo em te manter em cativeiro porque assim Justin apareceria para te resgatar, mas claramente estou superestimando seu valor pra ele. É bobagem. Talvez ele tenha explodido o lugar apenas como uma vingança...

Expirei, exausta de toda aquela teoria.

— Pensei que os Biebers só contratassem gente competente, mas é visível que no lugar do seu cérebro só tem as fezes que você mesma produz. Justin morreu, aceite e siga em frente, direcione suas forças para outro lugar — disse com frieza. Eu não admitiria que ela incentivasse os resquícios de esperança insanos dentro da minha cabeça. Já havia loucura o suficiente para um cérebro só.

— Você não é visionária, não me surpreende.

Eu ri com deboche e o som saiu do meu nariz. Annelise tinha a autoestima alta demais para o bem da sociedade, exaltando a si mesma como se fosse melhor que todo mundo, se achando muito mais esperta do que eu em um assunto totalmente meu por direito. Eu podia não conhecer tudo sobre Justin, mas eu o sentia, e isso é muito mais útil do que ter um monte de informação sem saber o que fazer com elas.

— Realmente. E isso é uma doença contagiosa. Te aconselho a se afastar imediatamente.

Ela me deu um sorrisinho paciente como resposta, passando a varrer meu quarto com os olhos, memorizando cada parte, hipoteticamente, detalhes cruciais para ela. Não quis admitir para mim mesma que aquilo me deixava nervosa, mas não dava para negar a lógica. Seus pensamentos totalmente cruéis estavam enraizados na cabeça. De fato, ela me parecia combinar muito mais com Guilherme do que Justin.

— Justin que me ensinou a invadir, tenho que confessar — e então direcionou toda a sua atenção para o meu rosto, o seu humor agressivo de segundos mais cedo cedeu lugar a uma curiosidade nociva — Quem é aquela boneca de porcelana dormindo no quarto ao lado?

Ela não sabia quem era Caitlin? Finalmente eu estava um passo a frente. Certifiquei-me de dotar a voz de firmeza antes que abrisse a boca:

— Colega de apartamento.

Annelise franziu o cenho, duvidando de mim. Seu corpo se arqueou na minha direção, os olhos fixos nos meus me impediam de olhar para outro lugar, me pressionando. Levantei todas as minhas barreiras defensivas, prevendo seu próximo ataque.

— O que você está fazendo em Minneapolis, Faith?

Um pingo de suor desceu pelas minhas costas. Eu havia melhorado minha capacidade de mentir, só não estava certa de ser o suficiente para passar pelo interrogatório dos olhos azuis mais perturbadores que eu já vira na vida.

— Me afastar dos meus pais — não era completamente mentira, então me pareceu uma afirmação completamente segura.

Ela se aproximou mais.

— E por que Minnesota?

Deixei todo o meu corpo paralisado, controlando qualquer tipo de exteriorização ansiosa enquanto formulava uma resposta no único segundo que tive.

— Não é segredo que Minnesota é o maior centro financeiro da região. Várias oportunidades de ascender numa vida começando do zero.

— E Minneapolis?

— É o núcleo da região metropolitana, mais empregos. Mesma resposta.

Agradeci fervorosamente à minha professora de Geografia do ensino médio, Sra. Grey, por me fazer decorar o nome dos cinquenta estados dos Estados Unidos da América. Utilizei todos os métodos para memorizá-los, desde composição de músicas à uma lista colada em cada canto do meu quarto para que sempre desse uma olhada. Não satisfeita, ela nos fez escolher dez estados para apresenta-los à classe. Minnesota estava entre as minhas escolhas, e nunca agradeci tanto por uma decisão minha do passado.

— Que infortúnio seu parar na cidade sede da Companhia Bieber, huh?

Sua expressão fácil não me disse muito, entretanto, eu sabia que não acreditava na minha história.

— Levante-se — me pediu, pulando para fora da cama.

Mantive-me no lugar, tentando adivinhar o que ela queria. Uma luta corporal, talvez?

Irritada com minha ausência de resposta, me puxou pelo braço. Eu quase caí de cara no chão, sua força era maior do que eu imaginava. Me estabilizei e puxei meu braço de volta com brutalidade, já dando o aviso para meus músculos se prepararem. Ela me deu um sorriso angelical antes de levantar a perna esquerda ligeiramente e enganchar a parte de trás da canela na minha nuca. Ainda sobressaltada pelo movimento totalmente inesperado, deixei o impacto me levar para a frente, colocando as mãos na frente do corpo para que não batesse o rosto no piso gelado. Assim que que caí e premeditava um rolamento, o peso de um saco de cimento foi jogado no fim das minhas costas. Eu arfei, parando de me apoiar nas mãos para que não as esmagasse. Annelise puxou meus braços para trás, entrelaçando-os como se fosse me prender.

— Ficou louca?! — eu gritei, começando a me espernear embaixo dela. Seus objetivos não se limitariam a uma simples brincadeira.

— Se você gritar e sua amiga vir para cá, não vou poder ser totalmente responsabilizada pelos resultados — me avisou com uma doçura diabética.

— O que você... — comecei a dizer, mas fui interrompida pela pontada alarmante que senti no meu antebraço direito, me provocando um gemido de dor. A sensação desceu em uma linha reta profunda rapidamente e o sangue começou a latejar naquela região, a ardência e as gotas melosas que saiam dela me avisaram ser um corte. O desespero deixou minha visão turva ao imaginá-la me cortando pedaço por pedaço, e mais uma vez me debati feito um peixe fora d’água.

VI-me livrei do seu peso, e imediatamente me voltei para enxergá-la, sentando e indo para longe dela. Annelise já estava de pé, com um pano preto na mão limpava o meu sangue do canivete, tão tranquila como Fleur enxugava as louças de minha mãe. Tateei a minha volta, buscando alguma coisa para me defender.

Ela me olhou de cima com uma expressão adorável para quem acabara de enfiar uma lâmina em meu corpo.

— É uma marca minha, a contagem. Justin adorava a ideia — explicou-me, prepotente — Procure não sentir saudades.

Não tirei os olhos dela enquanto saía do meu quarto e fechava a porta atrás de si com um aceno amigável. Eu poderia ficar ali, agradecendo por me livrar dela naquele momento, mas não me esquecera de Caitlin também estava no apartamento. Levantei-me depressa e saí para o corredor, não havia mais sinal de sua presença. Da mesma forma, abri a porta do quarto de Caitlin, procurando. Acendi a luz.

Caitlin fez uma careta, colocando a mão na frente do rosto. Os segundos em que ela levou para me identificar usei para procurar Annelise nas sombras. Nenhum sinal dela.

— O que é isso?

Respirei fundo com alívio, relaxando a tensão nos meus ombros. Examinei o corte no meu braço em seguida, relacionando a linha reta com um palito. Era assim que eu marcava os pontos quando Caleb e eu estávamos jogando com Wren qualquer coisa no vídeo game, uma sequência de palitinhos intermináveis. Caleb me achava burra por não fazer um quadrado e cortá-lo ao meio quando chegasse os 5 pontos.

Se Annelise dissera que aquela era sua contagem, eu não queria nem pensar em quantos chegaríamos ao limite — talvez quando não houvesse mais espaço em meu corpo para seus cortezinhos — e ao que isso levaria.

 

 

— Eu achei que isso estivesse servindo para alguma coisa — Caitlin me disse baixo, enquanto olhávamos no tatame vermelho da sala branca a próxima rodada de colegas repetindo a sequência de ataques que o professor passara.

Não haviam palavras para expressar o quanto eu estava decepcionada comigo mesma, Caitlin não precisava ser um lembrete disso. Annelise era forte e muito ágil, eu mal pisquei e ela já estava em cima de mim. Três meses de Krav Maga nas manhãs de terça e quinta não foram páreos para sua habilidade de anos na Companhia. Estava certo, eu tinha algumas faltas, mas não tantas assim para continuar tão inútil quanto entrei.

Sequei minha testa molhada e vermelha com a toalha branca, mantendo minha boca fechada. A faixa enrolada em meu antebraço servia como representação da minha humilhação. O corte não estava tão profundo para tanto, mas eu não sairia por aí exibindo a contagem ridícula de Annelise.

— Você sabe que já fiz vários tipos de luta, mas artes marciais sempre foram minhas preferidas. Eu queria que ela tentasse me encarar para ver se conseguiria se sair por cima, vagabunda — Caitlin rosnou.

Tivemos sorte que seus pais houvessem ido embora às oito horas da noite de segunda. Eu não conseguiria me perdoar se também os colocasse em risco.

Meu celular tocou na bolsa de treino preta e eu o peguei antes que pudesse receber um olhar feio do Mestre Kobi, um dos melhores professores do mundo, o qual detestava sermos interrompidos por um aparelho que deveria estar desligado. Atendi me escondendo atrás de Caitlin.

— Quais são as boas, Caleb? — perguntei aos sussurros.

Na noite anterior, eu havia lhe pedido um favor, ele não sabia minhas motivações, e do mesmo jeito concordara, como o bom irmão mais velho que sempre fora. Eu precisava cercar todas as possibilidades. Jazmyn e Jaxon estavam em Boston, e não era em uma filial da Companhia. Então eu pensei, qual entidade cuida de crianças? Mesmo na minha cabeça, fazia zero sentido George deixar as crianças em um orfanato. Elas precisavam de treinamento, o qual eu tinha certeza não estar disponível em um orfanato comum. Por outro lado, eu não tinha nada a perder. A primeira coisa que se passava em minha cabeça com “crianças órfãs” era orfanato.

Não tenho exatamente boas notícias — ele respondeu nervoso, eu quase podia vê-lo mordendo a boca e massageando o queixo.

— Vai me dizer que não conseguiu enganar Melissa para ter acesso ao computador?

Caleb respirou fundo.

— Não é isso. Não tem nenhum registro de Jazmyn e Jaxon lá, mas essa não é a questão.

Quase me deixe escorregar no banco de desânimo, conscientemente eu sabia que eles não estariam no orfanato de Boston. Minhas esperanças, porém, não. Estava tão consumida por frustração que cheguei perto de me esquecer que Caleb estava ansioso para me dar notícias não tão boas.

— E qual é a questão? — o incentivei, já maldizendo o mundo por sempre me trazer uma notícia ruim em cima de outra.

— Maxon e Yasmin estão desaparecidos.


Notas Finais


GEEEEEEEEEEEEENTE
estamos chegando
Oi tudo bom?
Eu adorei o giff hahahahah o que a faith pensa da Annelise e vice versa
Gente eu queria colocar mais coisa nesse capítulo, mas não deu
As coisas agora não vão parar de caminhar, não direi mais nada hahah
Enfim, eu usei ontem todo e hoje todo pra esse cap., minha casa ta uma zona, vou correndo arrumar
Obrigada pela presença de vocês novamente aqui comigo, as amo de coração
Deus cuide de todas! Espero conseguir postar sexta e LA VAI EU CORRER PRA MAMAI NAO ME BATER


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