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História One me two hearts - Não enche


Escrita por: unkn0w

Notas do Autor


Aviso de gatilho: esse capítulo contem cena de tentativa de suicídio.
Quero que fique claro que a intenção não é romantizar essa situação. Se você estiver passando por problemas, por favor, procure ajuda. A sua vida importa.

Capítulo 14 - Não enche


Fanfic / Fanfiction One me two hearts - Não enche

NICO

As pessoas chamam umas às outras de gênios, como se pudessem classificar, como se soubessem o que é genialidade. Todo mundo é bom em algo, e todo mundo tem uma coisa única para mostrar ao mundo. Isso não é ser genial, é só ser alguém.

Ele não era um prodígio, não nascera pra se destacar. Uma fama que não agregasse em nada à humanidade não o interessava.

Então por quê? Por que continuavam insistindo tanto para que ele voltasse?

— Eu sei que ele cometeu um erro, pai — ouviu a voz baixa de Will um pouco abafada pela cortina que os separavam. — Mas Nico não está bem, e eu não acho certo pressionarmos ele agora.

Nico abriu os olhos e sentou na maca, olhando em volta. A luz amarelada indicava fim de tarde, e a sombra de Will e Apolo Solace na cortina esverdeada o fez querer pular pela janela.

— A médica disse que ele apenas não está dormindo direito. Por favor, o que há de demais nisso?

— Você sabe os motivos dele, por acaso? Você sabe o que ele sente sobre música?

— Deve estar tendo muito trabalho no colégio, ou ele apenas é ansioso demais. Hades disse que ele deveria tomar remédios, podemos ter uma noção só por isso. William, Nico não é criança, não o proteja como se fosse.

— Eu estou tratando ele como criança?! Quem que está o forçando a fazer o que você quer, só por que ele tem talento pra música?

Nico levantou, calçando os sapatos.

— Não vou discutir com você sobre ele.  Você tá misturando as coisas porque você está apaixonado.

Apolo disse isso exatamente quando Nico abriu a cortina e saiu andando, sem nem parar para olhá-los. Como se não se importasse. Como se ele fosse maior do que aquilo.

Nico esperou gritos dos dois o dizendo para voltar. Ele não pararia, pensou.

— Neeks — Will chamou carinhosamente, desestabilizando Nico por completo. Não houve grito. — Você literalmente desmaiou de cansaço. Não saia andando como se pudesse ignorar isso.

Ele parou de costas para os dois e de frente para a porta. Olhou para cima como se procurasse no teto de cimento alguma resposta, alguma força. Alguma esperança.

Nico sabia que o convívio consigo mesmo era destrutivo, sabia que algo ruim estava para acontecer. Ele estava ciente da perda, e também, do fio delicado ao qual toda sua vida se agarrava para não cair pelo precipício.

Ele tinha que abandonar Will. Tinha que cortar sua relação com ele antes de causar algum mal, e antes de se apegar tanto a ele que pudesse o proteger com a sua vida.

Ele tinha que voltar pra escuridão, deixar que a luz fosse embora sobreviver sozinha.

— Não enche.

Não foram as palavras, não, longe disso.

Primeiro, foi o tom. Depois, foi a postura. Sua voz saiu como se praguejasse, como se o inquirisse a deixa-lo em paz pelo resto de suas vidas. Era frio, e preenchido de raiva. Sua postura, sem um mínimo de cautela, era o que chamam de “indiferente”.

Ele não pedia ajuda por ela, não dava nenhuma evidência de que suas palavras não eram verídicas.

Aquilo era ele pedindo paea ser deixado sozinho.

Sozinho.

Sozinho.

 

WILL

— E então? — Tomás perguntou assim que Will entrou em seu quarto.

— Isso é tão exaustivo. Lidar com ele é exaustivo! Por que ele não pode ser apenas uma pessoa resolvida? Ele muda de atitude toda santa hora, assim eu nunca vou conseguir me aproximar de verdade!

— Se ele fosse uma pessoa fácil de lidar, você não gostaria tanto dele.

Frustrado por não poder contrariar o amigo, Will se jogou na cama, dando um suspiro pesado.

— O que vai fazer? — Tomás retomou com um ar entediado. Na realidade, ele mal aparentava prestar atenção, já que estava vidrado na tela do computador. — Desistir? Ou será que você já se apegou a ele? Ou talvez tenha se apegado, mas não o suficiente para se esforçar demais?

— Eu nunca desisto. De nada. E você sabe disso.

— Catharina que o diga.

Will levantou-se de sopetão, tirando os sapatos e cruzando as pernas em cima do colchão.

— O que Cath tem a ver com isso?

— Você não desistiu, mesmo quando começava a se tornar insuportável. Não ela, é claro. O fingimento era insuportável, porque você não sabe mentir.

Will suspirou apoiando os antebraços nas coxas. Passaram um tempo em silêncio, só o clique do mouse quebrando o zunido irritante do silêncio. Finalmente, Will disse:

— Como ela está?

Tomás, num gesto lerdo, se virou para ele, mas ainda assim privando-o de contato visual. Fechou os olhos e relaxou na cadeira.

— Por que não pergunta você mesmo?

— Ah, claro que é simples assim — Will riu sem humor. — Ela não deixaria eu me aproximar.

— Talvez isso seja tudo que ela mais quer.

— Eu não sei se...

— Você é um covarde, não é?

— O quê?

— Sua postura é de alguém corajoso, e suas palavras são as de uma pessoa forte, forte o bastante para enfrentar tudo de frente. Mas você está fugindo. Esse é você, Will?

Will riu. Gargalhou, na verdade.

Tomás abriu os olhos com tédio.

— Claro, claro — levantou, calçando os sapatos que não precisavam ser amarrados. Começou a caminhar em direção à porta. — Tenho que voltar para casa, então até amanhã.

— Até.

Will andou pelos corredores do dormitório masculino e voltou ao campus, onde encontraria seu pai.

E no campus, como se Deus fosse muito irônico, ele deu de cara com Catharina, que no mesmo instante em que o viu, olhou para o lado e tentou passar despercebida.

Mas Will sorriu com delicadeza.

— Boa tarde pra você também — disse ele, cutucando a cintura dela com o indicador.

— Ah, Will...

— Posso falar com você?

— Agora eu preciso fazer uma coisa.

— Não foge, Cath. Só me escuta.

Ela suspirou e tentou sorrir. Sempre vencida pela curiosidade, não é?

— Pode falar.

— Estou cansado, triste e preciso da sua ajuda. E sinto a sua falta. E quando eu penso no que a gente foi, eu tenho vontade de chorar, pedir pela minha amiga de volta. Lembra quando você tocava ukulele pra mim no gramado perto da sua sala de dança? Eu amava aqueles momentos. Ou eu te trazia o seu almoço vegetariano e você amava cada pedaço. Ou quando a gente estava despedaçado e se apoiava um no outro. Era uma amizade tão linda. Como a gente conseguiu destruir tudo assim?

Will soltou tudo de uma vez, conseguindo conter a vontade de chorar. Ele estava tão frágil que qualquer sopro poderia derruba-lo naquele momento.

Catharina abaixou o olhar e disfarçou uma lágrima e meia.

— Nossa amizade era linda mesmo.

Will abriu os braços e a encarou, esperando. Ela acabou aceitando o abraço, e as coisas ficaram melhores. Não bem, muito menos perfeitas, mas melhores.

— Você me magoou muito, Will Solace.

— Eu sei.

— Tem noção do quão difícil foi perder um melhor amigo e um namorado ao mesmo tempo? Doeu pra caralho.

— Eu sei.

— Mas mesmo assim eu não consegui sentir raiva de vocês. Porque vocés estavam tão felizes... Tão apaixonados...

Will meneou com a cabeça.

— Boa escolha de conjulgação verbal.

— O quê? Não tá dando certo mais?

Will sorriu meio triste.

— As coisas andam complicadas. Ele é complicado. Num dia, nós fazemos amor a madrugada inteira e, no outro, ele simplesmente me diz pra "não encher" — suspirou. A cabeça doía. — Eu não sei como vencer esses muros todos que ele coloca entre nós.

E simplesmente assim, parecia que tudo era como antes, bem la no começo, antes do namoro e do romance e de todos os erros.

— Sinceramente, Will... Eu não posso te dar uma fórmula mágica pra ter um relacionamento maravilhoso com Nico. Eu também não entendo ele. Mas você quer uma opinião?

— Claro.

— Quando você encontrar um coração raso, faça chover antes de mergulhar.

— Isso doeu — Will riu, Cath também.

— Eu sei, mas... Olha: acho que não tem melhor pessoa para o Nico do que você. Vocês se acrescentam tanto. Tá na cara que ele te faz transbordar. Mas tiraram tanto de Nico que talvez ele ainda não tenha nada pra te dar. 

Will entendeu, naquele momento. Entendeu de verdade. E entender Nico o deixou triste, muito triste mesmo. Tão triste que ele não conseguiu fazer nada além de sorrir.

 

NICO

Bianca não estava em fresta nenhuma, em escuro nenhum. Ela não o atormentava o que significa que atormentava alguma outra pessoa.

Hazel e Hades estavam no topo da lista.

Ainda bem que ele havia feito Will ir embora, senão estaria em perigo também.

Ele tinha que ir pra casa.

Assim que deixou a enfermaria, Nico correu para o dormitório. Ligou para a secretaria, perguntando se estaria tudo bem se faltasse no dia seguinte, já que havia passado mal, mentiu, dizendo que veria um médico. Assim que recebeu o consentimento deles, ligou para Hades avisando que iria para casa, o qual enviou imediatamente o motorista para busca-lo.

Nico temia por Hazel.

Tão nova, tão corruptível.

E, por algum motivo, ele continuava temendo por Will Solace. Porque Nico tinha a frieza de conseguir descarta-lo para o seu próprio bem, mas Will não tinha muito medo do perigo.

“Neecks”

Merda, por que ele tinha que ser tão doce e amável e corajoso?

No meio da viagem para casa, começou a sentir calafrios, suava frio. Pediu para o motorista acelerar, mas parecia que quanto mais depressa andavam, mais demorava para chegar. Ele tinha essa sensação estranha de que se não chegasse logo, o mundo poderia acabar.

Estava delirando, delirando. Parecia que estava com febre e o mundo estava girando, girando.

Nem é preciso notar que, quando chegou, a casa estava quieta, e obscura, e fantasmagórica, e calma, e debochada. O sol já tinha se posto havia muito tempo.

— Hazel? Ha-azz? 

Chamou-a, cantarolando e olhando em volta, procurando no amontoado de cobertores e travesseiros no sofá. Mas ela não estava entre eles.

Procurou em seu próprio quarto e não encontrou nada além da arrumação milimétrica que insistia em manter. E então foi para o quarto dela.

O quarto de Hazel, sua irmã mais nova, a quem deveria amar e proteger. Aquele perto da suíte principal, o que tem a porta branca com uma cerejeira bem grande. Ele mesmo havia pintado aquela árvore tantos anos antes.

Uma cerejeira delicada e linda e maravilhosa, como a sua irmã.

Abriu a porta devagarinho.

Sentiu vontade de vomitar.

O sangue no chão.

O tapete encharcado.

O sorriso. Aquele sorriso. Maldito sorriso demoníaco.

E o rosto horrível de sua irmãzinha enquanto começava a forçar o canivete verticalmente no seu antebraço.

Hazel queria morrer.

Hazel queria morrer.

Hazel queria morrer.

 

“Em tudo há uma rachadura. É assim que tudo quebra.”


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