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História One me two hearts - É por isso que homens invocam demônios


Escrita por: unkn0w

Notas do Autor


ATUALIZADO - 04.01.19

Capítulo 15 - É por isso que homens invocam demônios


Fanfic / Fanfiction One me two hearts - É por isso que homens invocam demônios

HADES

Ele estava numa reunião com um casal que arrumava problema com a secretaria da igreja. 

"Eles são muito mal esducados mimimimi são muito desrespeitosos mimimi"

Era um saco.

— Pastor Hades, o senhor não está entendendo!

— Não, estou sim. Entendi o que vocês quiseram dizer, mas não cabe a mim fazer nada. Eles são voluntários, então...

Hades só queria manda-los para a puta que pariu.

Quando estava prestes a dispensar o casal de forma mais ríspida, seu telefone tocou.

Deus é bom e bom é Deus.

— É o meu filho — explicou. — Preciso atender.

Não que eu queira dispensá-los, imagina.

Afastou-se em passos sonoros no piso de granito do salão. Ouviu as queixas dos dois atrás de si e apontou para um dos auxiliares ir falar com eles. Respirou fundo antes de atender, forçando-se a manter a calma. Tentava se esquecer do fato de que Nico nunca ligava.

— Nico?

— A Hazel... — ele começou com a voz fraca, mas então, de repente, ganhou uma força, calma e confiança que Hades nunca havia escutado. — Preciso que vá para o hospital. Hazel se machucou, então eu chamei a ambulância. Estamos a caminho agora.

— Hazel se machucou?! — ele fez aquele tom de preocupação séria que só os pais sabem fazer. — Como? Com o quê? Se machucou muito? E você, está bem?

— Ela... — suspirou. Prosseguiu da forma mais gentil que pôde — Hazel tentou se matar, papai.

Hades sentiu-se perder o chão.

Que merda está acontecendo?

— Já estou no carro — disse pra Nico, a voz instável. — Te vejo daqui a pouco.

— Ok.

— E Nico?

— Sim?

— Fique bem. Por favor.

Nico não respondeu.

Ele ficaria. Sabia que sim. Nico sempre foi a pessoa mais forte da família.

Hades foi tão rápido no trânsito que, mais tarde, perguntou-se como não sofreu um acidente. Mas esse pensamento não coube em sua mente na hora, porque estava acontecendo de novo.

Ele ia perder. De novo. Mais um amor. Ia morrer.

Em cada morte ele morreu junto. Depois de duas, não aguentaria a terceira, principalmente ao saber que se tratava de suicídio.

Porque qualdo alguém se mata, significa muitas coisas. Inclusive que, como pai ou marido, ele não foi suficiente. E isso o matava por dentro também.

Por que tão trágica a família de Hades? Por que tão cercada pela morte?

Quando chegou no hospital, foi para a sala de espera da emergência e viu o filho lá.

Antes de se aproximar, achou que o veria acabado, com o olhar cansado, talvez com medo. Ele era forte, mas mesmo depois de tanta morte, nada prepara uma criança para mais uma. Por isso nada nunca o arrepiou tanto quanto o olhar afiado, concentradíssimo, de Nico encarando o nada a sua frente.

Seus olhos estavam no infinito, mas eram cortantemente focados. Eles observavam algo que Hades não podia ver.

Nico era forte.

Antes de enfrentar aquela força, o pastor decidiu procurar saber o estado de Hazel por algum funcionário. Viu uma mocinha preenchendo algo numa prancheta a poucos passos dali e foi até ela.

— Com licença.

A enfermeira levantou o olhar da prancheta e, enrubescida, sorriu.

— Como posso ajudar?

— Minha filha, Hazel, acabou de ser levada pra emergência. Como ela está?

O olhar dela transparecia: ah sim. A suicida.

— Agora ela está sendo atendida por um psicólogo, que provavelmente vai querer falar com o senhor também. Apesar dos cortes, a saúde física dela está intacta.

Com sua expressão mais severa, Hades assentiu. Virou-se para voltar à sala de espera, mas ela continuou abruptamente antes que pudesse se afastar:

— Hazel... Ela poderia ter morrido se o seu filho não tivesse ligado a tempo. O senhor tem sorte de ter um filho tão maduro e responsável.

Hades sorriu.

— Nico é brilhante.

E deu às costas.

Parece que a resposta foi como uma faca. Cortou o que quer que estivesse na mente da enfermeira. Aquela frase... Soava tão pesarosa, apesar de ser um elogio. Como se ele ser brilhante fosse cruel.

Quando voltou, Nico não tinha mais a mesma expressão de antes, no entanto, continuava assustadoramente intenso. Sentou-se em silêncio ao seu lado sem saber muito o que dizer. Fechou os olhos e respirou fundo.

— O que está acontecendo? — pensou em voz alta.

— Pai, tem algo que eu quero falar com você — Nico soou discreto.

— Então fale.

O menino olhou em volta, percorrendo o olhar pelas outras cinco pessoas na sala de espera.

Nico respirou fundo, tinha um leve ar de desistência.

— Não aqui.

A conversa continuou no corredor vazio à esquerda da sala de espera. Logo que Nico parou, Hades indagou:

— Você está me preocupando.

— É bom que eu te preocupe. Pai, eu... Eu quero que você tome cuidado.

— Eu? Por quê?

— Ela não vai parar até levar todos nós. Isso com a Hazel foi uma tentativa, porque ela parece ser a mais fraca. Seu pescoço também está na guilhotina, pai.

— Está sugerindo mais uma vez aquela história de fantasma?

Nico revirou os olhos e negou com a cabeça.

— Sim, sim, eu sou a porra de um esquizofrênico que não merece ser escutado — o garoto começou a se retirar — desculpe por incomoda-lo com minha doença.

Jogou as mãos para o alto e deu passos debochados para trás.

— Não, Nicolas, não seja assim...

Mas o menino já tinha saído. Hades então correu e segurou seu pulso.

— Estou escutando, filho.

— Seria cruel te dar detalhes, então vou dizer apenas isso: tem algo muito errado com a nossa família. Algo mal e antigo, cheio de ódio para transbordar. — Hades engoliu em seco — mas você já percebeu, não é? Já escutou algo estranho de noite ou se arrepiou inteiro exatamente às três da manhã. Já olhou no espelho e viu alguma coisa atrás de si.

— Eu... Eu não entendo.

— Quando eu digo que Deus não está com a gente, não estou exagerando. Quem mora debaixo do seu teto não tem asas brancas e boas intenções.

— O que eu posso fazer sobre isso?

— Não se matar.

— E quanto a você?

— Eu? — Nico deu um sorriso sem sentimento algum. — É muito fácil se proteger de um mal que você conhece.

— Apesar de tudo, caminhe com Deus. Ele ajuda àqueles que o aceitam. Se apoie nele, Nicolas, e não precisará ter medo de nada.

Nico teve de rir.

Ele estava lutando contra algo que apenas os céus poderiam lutar. Mas ele sabia que os céus não iriam ajuda-lo, é por isso que homens invocam demônios e não anjos, não é? Esse é o preço que os humanos pagam pela intervenção sobrenatural, e se não pagarem, terão de superar o que perderam.

A melodia inquietante de O Fortuna começou a tocar baixinho, e, gradativamente, aumentou até Hades perceber que era o toque do seu celular. Olhou o contato na tela e atendeu:

— Apolo? O que aconteceu?

— Não, nada aconteceu, se acalme.

— É que é raro você me ligar assim, de repente.

— Eu queria pedir desculpas pro Nico. Ele está por aí?

— Sim, mas...

— Oh, vocês estão no hospital?

— Como adivinhou?

— Nico desmaiou no colégio, então imaginei que você iria leva-lo pra um médico ou coisa assim, não?

— Ele desmaiou?! — Hades lançou um olhar fulminante para Nico, que coçou a nuca e saiu de fininho, indo em direção à sala de espera. — Não pense que vou me esquecer de conversar com você depois, Nicolas! — Quando Nico ficou fora de vista, suspirou. — Eles crescem mas é o mesmo que nada. Continua um menino teimoso.

Apolo riu. Parecia um violino sorrindo.

— Nico não contou?

— Não, ele só me disse que iria pra casa hoje, não falou o motivo.

— Então... — Apolo tossiu — Se me permite perguntar, por que vocês estão no hospital? Algo aconteceu?

Hades fez uma pequena pausa.

            Ponderou a situação. Se Maria estivesse viva, seria basicamente o seu pilar naquele momento. Ele não sabia como lidaria com a sua filha quando tivesse de vê-la, e nem sabia o que dizer para Nico. Hades não era bom com palavras, nem em se expressar. Apolo... Apolo lembrava Maria, brevemente. Apesar de ser muito diferente, claro. Mas o jeito dele parecia ser calmo e recomposto, o tipo de gente que saberia exatamente como lidar com aquilo. E Hades meio que o considerava seu amigo.

            Ele pensou que talvez não fosse tão ruim se apoiar um pouco em alguém, principalmente esse alguém sendo... Apolo.

— Hazel tentou cometer suicídio.

 

WILL

O telefone estava no viva voz, repousado na bancada da cozinha, enquanto Apolo cozinhava o jantar e Will lavava a louça. Ambos pararam o que estavam fazendo — Will deixou um prato escorregar e cair na pia — e encararam o aparelho.

Pela primeira vez, Will teve a impressão de que o tom de Hades fora frágil. Aquele homem de inteiro inabalável, quase como um general, estava demonstrando fraqueza.

Esse não era o pior. Hazel havia tentado se matar, o que significava... Que Nico estava destruído.

Com a mão molhada, Will puxou a camisa do pai e, numa expressão alarmada, sussurrou: “Nico”.

“Eu sei” Apolo sussurrou de volta. E o tom dele era forte.

— Vocês estão naquele hospital na cidadezinha perto da mansão? — perguntou para Hades.

— Sim.

— Eu e Will estamos indo para aí imediatamente.

— Apolo, não...

— Fique calmo. Vocês não têm parentes por perto, e ninguém deve passar por isso sozinho. Tenho certeza de que você... Você e Nico vão ficar melhor com a gente.

— Como Nico está? — Will não se segurou e teve de perguntar. Apolo o repreendeu com o olhar.

— Nico... — Hades murmurou, pensativo. — Você se surpreenderia.

***

 

Em pouco mais de uma hora, eles chegaram ao hospital. Will perguntou na recepção, mas antes que o atendente pudesse lhe dar alguma informação, a figura esguia e baixa de Nico se fez ver vindo pelo corredor.

Ele trazia um copo de café, seus olhos eram agitados. Havia algo de diferente, Will notou. Uma espécie de chama dançando no negro dos seus olhos, algo com o modo como ele contraía os cantos da boca e os músculos faciais.

Era macabro. Desconfortável.

— Obrigado por virem — Nico cumprimentou mantendo os olhos intensos como os de um tubarão, um sorriso mecânico. — Hades está na cafeteria, dobre ali à direita, é só seguir reto até o final.

— Você não vai pra lá? — Apolo perguntou já dando alguns passos naquela direção.

— Eu tenho que passar no quarto de Hazel antes.

— Ah, sim. Então, Will...

— Se der — Nico foi intenso. — Will pode vir comigo?

Você se surpreenderia” dissera Hades, não é?

Sim, ele estava surpreso.

No fim dos dias, as pessoas são realmente decepcionantes, não?



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