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História One me two hearts - Cante com esperança


Escrita por: unkn0w

Notas do Autor


ATUALIZADO - 26.01.19

Capítulo 16 - Cante com esperança


Fanfic / Fanfiction One me two hearts - Cante com esperança

NICO

Nico aprendera, apesar de ter sido havia muito tempo, que existia uma técnica contra a dor e o lamentar idiota daqueles que se queixavam dela. Algo chamado “Coração de Pedra”, lera isso num livro muito sábio e de personagens fortes.

Era como mergulhar na água escura, ou como se enfiar debaixo do cobertor numa noite assustadora. Era estranho explicar como se submergia naquele truque, mas ele simplesmente mergulhava em si mesmo e virava-se do avesso, firme, corajoso, destemido.

Ele de repente virava algo muito concreto.

Mais concreto que o coração dum homem cujos olhos já viram todas as coisas. Mais concreto que as mãos assassinas de um mercenário. Mais concreto até mesmo que o desespero.

Como ele aguentava?

Porque Nico era apenas um menino tentando não sucumbir à tragédia. E nisso, não me entenda mal, não há nenhum demérito.

— Você quer conversar? — perguntou Will em sua voz mais doce.

Mas Nico não tinha nada para ser comovido, naquele instante.

— Depende — respondeu com seu tom mais zombeteiro. — Não tenho visto muita televisão.

— É sério.

— Jornal? Também não me apetece.

— Nicolas. Pare.

Nico estacou. Sem olhar para trás, disse numa severidade fria:

— Se me fizer parar, eu vou ter que pensar. Me peça tudo menos isso, Solace.

Will suspirou.

— Por que estou aqui, Nico?

— Ora, não é lógico?

Nico olhou de soslaio para trás antes de continuar andando. A verdade era simples: ele queria Will por perto. Se sentia mais forte ao seu lado, como se o mundo pudesse desabar e ele ainda tivesse algo de precioso pelo qual lutar.

Só isso, mais nada. Ele sabia que não era lógico, mas não falaria seu motivo em voz alta. Will também não perguntou mais, ele parecia entender.

Seguiram andando pelo corredor. Passaram por umas quatro pessoas que tomavam algum medicamento na veia numa sala sem portas e com grandes poltronas verdes. Passaram pelo lugar onde os medicamentos eram manipulados, por umas três ou quatro salas para atendimento, por uma maca e duas cadeiras de rodas, por uma sala onde se reuniam várias macas verdes e, por fim, quatro quartos individuais. Apenas para aqueles que necessitassem de isolamento.

O quarto em que ela estava era o 106. Apenas por ritual, Nico deu duas batidinhas na porta antes de entrar. Will hesitou, mas Nico gesticulou para que entrasse também.

A luz do quarto estava apagada, mas o rosto da menina, de olhos abertos, estava virado na janela, completamente acordada.

A noite era sem estrelas e sem lua, nada para se observar, nem mesmo o movimento das plantas com o vendo do lado de fora, já que tudo que havia para ver era barro e concreto.

Com o tempo, Nico aprendera a temer as noites sem lua, e, se não fosse pelo Coração de Pedra, teria sucumbido ao instinto de se encolher para longe da janela.

Hazel tinha os cachos soltos. Quando se virou para Nico, eles se movimentaram com uma graça que não cabia ali.

— Posso acender a luz? — perguntou Will.

Mas a sua própria presença já parecia com luz.

— Pode — respondeu Hazel.

Nico se aproximou e sentou na cadeira ao lado da maca. Contou com cautela:

— Sua mãe me ligou.

— Interessante ela ligar até mesmo pra você, mas nunca pra mim.

— Também acho — Nico retrucou desafiador. — Como deve imaginar, a Sra. Levesque estava bem alarmada.

— Sei.

Nico levantou-se e, como um gato na defensiva, sentou na maca da irmã, encarando-a com aqueles olhos.

Os olhos de túneis negros que ele sabia muito bem usar.

— Por que fez isso?

— Às vezes dá vontade.

— Não minta pra mim.

— Porque sou baixa demais, tenho cabelo escuro demais, porque tenho dedos demais, olhos castanhos demais! Estava na esperança de assim crescer cinco centímetros e arranjar um par decente de olhos.

Nico continuou encarando-a.

— Tudo bem, — retomou ela — olhe, eu não... Eu não estava pensando com muita clareza. Eu me deixei levar por tudo que ela vem semeando e... Eu não queria trazer mais dor, não queria... Decepcionar.

— Se eu não tivesse te parado, você teria morrido.

— E que grande favor você me fez, não é mesmo? — Hazel riu ironicamente. Por um instante, não parecia ela ali.

Pareceu muito com Bianca.

— Não brinque com isso! — Nico explodiu, pela primeira vez saindo daquele seu tom contínuo e entorpecente. — A morte é o fim, você não entende?! Não há nada depois dela, não há história pra viver, você acaba, sua existência é apagada, simplesmente isso! 

Hazel era uma bacia calma que, quando sacudida desse jeito, transbordava. Ela arregalou os olhos e de repente estava chorando. Enterrou o rosto na palma das mãos, soluçando baixinho. “Desculpe” gemeu com a voz rouca.

Will ficou de pé e colocou uma mão nas suas costas. Apesar de não serem amigos íntimos, aqueles dois tinham uma afinidade inegável, e, assim como Nico, ela se acalmava na presença dele.

Então Nico respirou fundo.

Achou que parecia uma boa hora para cantar.

"Chairs so close, the room so small.

You and I have nothing at all.

Meagre this space, but serves us so well.

Our comrades have stories to tell."

[Cadeiras muito perto, a sala tão pequena. Eu e você não temos nada, afinal. O espaço é pequeno, mas nos serve tão bem. Nossos camaradas têm histórias para contar]

A canção soava como uma música que deve ser tocada durante o entardecer acolhedor diante de uma lareira.

Existem colares que as mulheres usam para se enfeitar, se exibir, e existem colares que as pessoas usam por história, por significado, porque eles já fazem parte de suas almas. Aquela era uma dessas coisas que fazem parte da alma, a entonação dela era o abraço morno de uma mãe.

Hazel transbordou ainda mais em lágrimas.

"And it’s always like that in the evening time:

we drink and we sing when the fighting is gone.

And it’s always, so we live under burnt clouds.

Ease our burden, long is the night.

Just as no stars can be seen: 

we are stars and we'll beam on our town. 

We must all gather as one.

Sing with hope and the fear will be gone."

[E é sempre assim de tarde, nós bebemos e cantamos quando o combate tiver ido. E é sempre, então nós vivemos sob nuvens queimadas. Alivia nossa carga, a noite é longa. Apenas sem estrelas dá pra ver: nós somos estrelas e seremos feixes em nossa cidade. Nós devemos todos nos reunir com um só. Cante com esperança e o medo terá ido].

Aquela era uma canção que fora compondo aos poucos durante os anos, só pensava nela nas horas difíceis, o que era quase toda hora. Só tinha esse trecho, mas ele era o suficiente para deixar Will, que nem era tão envolvido assim naquela história, à beira das lágrimas.

Quando a voz de Nico sessou, o silêncio era diferente. Ele era leve, como se de repente a doença de todo o hospital tivesse sido carregada e levada embora pela voz dele.

Hazel respirou com dificuldade, ainda soluçando um pouco.

— Eu não aguentaria perder mais ninguém — disse Nico num sopro. Era sutil, mas Will percebera: ele estava quase esgotado. — Nem Hades. Sim, muito menos ele. Por isso, fique a salvo, está bem? — beijou o topo de sua cabeça. — Vamos pra casa daqui a pouco.

— Tudo menos voltar pra casa, Nico. Por favor.

Ele olhou rapidamente para Will, que indicou para conversarem lá fora.

— Espere só um pouco. Assim que resolver isso, venho aqui.

Ele sorriu como se tivesse feito uma piada, mas não fizera, então ninguém riu.

Nico saiu primeiro, em seguida veio Will. Eles caminharam um pouco até Nico ter certeza de que Hazel não ouviria sua conversa, mesmo que grudasse a orelha na porta, ou colocasse entre as duas coisas um copo.

Ele esfregou os olhos, tão cansado quanto deveria aparentar.

— O que faço, Will? — a pergunta pareceu retórica. — Por Deus, o que eu faço?

Will deu um sorriso sincero. Nico parecia estar precisando de um.

— Eu posso falar com meu pai pra ela ficar lá em casa. Não chega nem aos pés de uma mansão, mas...

— Sério? — os olhos de Nico brilharam. — Se você puder fazer isso por mim, então eu...

Nico se interrompeu bruscamente. Abaixou a cabeça, fitando os próprios pés.

— Desculpe por hoje — disse um pouco mais baixo e, Will arriscaria dizer, um pouco mais frágil também. — Digo, quando falei pra você “não encher”. Você tem se mostrado uma das pessoas mais gentis que jamais que conheci e eu... — a voz dele de repente embargou.

Era demais, até mesmo para alguém como ele.

Nico balbuciou mais algumas palavras, mas um barulho estridente o cortou. Demorou um pouco para perceber que havia desabado num choro infantil e descompassado.

Olhou para cima e sentiu-se envergonhado por mostrar aquela visão patética de si mesmo para Will. O loiro, porém, o olhou de uma forma que imaginou nunca ter visto ninguém o olhar, e o envolveu num abraço tão terno quanto imaginou ser possível.

— Desculpe — ouviu Will murmurar. — Eu queria conseguir te dar mais espaço, mas não consigo.

Apesar de não dizer nada, Will parecia saber o que Nico estava pensando.

É disso que eu preciso agora. Eu preciso de você.

Então Will o acolheu com ainda mais ternura.

Separou-se um pouco para deixar um beijo demorado em sua testa, e foi Nico que tomou a iniciativa de segurar o queixo de Will e puxa-lo para um beijo.

Não era bem um beijo, era mais uma súplica.

Era mais um agradecimento.

Era mais um pedido de desculpas.

 

WILL

— Então imaginei se... Se Hazel não poderia ficar lá em casa por um tempo, pelo menos até ela se recuperar totalmente.

A sentença “ela nunca vai se recuperar totalmente” pairou no ar, e todos a perceberam, e a leram, mas a ignoraram.

Hades foi o primeiro a se pronunciar:

— Eu jamais poderia pedir isso de vocês. Posso pagar algum lugar para ela ficar, de jeito nenhum vou lhes incomodar.

— Pagar um lugar, Hades? — Apolo indagou, quase incrédulo. — Ela tem o que, treze, quatorze anos?

— Eu poderia ir para lá com ela...

— Se for assim, melhor levar Nico e os empregados junto. E vender a mansão também.

Hades suspirou, deu um gole no seu cappuccino antes de dizer:

— Já que insiste, vou aceitar o favor. Seria descortês de minha parte, não é? — deu um meio sorriso.

— Isso mesmo — Apolo empinou o nariz e depois explodiu em risadinhas.

Hades lançou um olhar a ele que deixou Will constrangido só de perceber. Ele enrubesceu ferozmente enquanto desviava sua atenção para Nico.

Aquele era o olhar de um homem com desejo.



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