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História One me two hearts - Sentiu minha falta?


Escrita por: unkn0w

Notas do Autor


escutem I found - amber run

Capítulo 30 - Sentiu minha falta?


Fanfic / Fanfiction One me two hearts - Sentiu minha falta?

WILL

            Existem várias formas de se ouvir o silêncio, assim como existem vários tipos de silêncio.

            O dele eram notas. A nota mais confortável de ouvir: o dó. Cada uma durando uma semibreve, quatro tempos.

            Dó.

            (Um. Dois. Três. Quatro).

            Isso ressoava para ele como um eco distante enquanto andava pelos corredores do hotel. Sozinho, deixando a ponta de seus dedos se arrastarem pelas paredes, como que num rastro de calor e humanidade por onde passava. Contornava os batentes e os interruptores com o devido interesse tedioso, sem nem olhar para o lado.

            Todo o resto era sutil, algo ainda mais distante que um eco. As vozes, os talheres batendo nos pratos, a água da piscina batendo nos azulejos. Como um coro numa igreja, uma música ambiente. O silêncio era absurdamente mais alto.

            Dó.

            Ele não sabia que horas eram, não sabia porque estava sozinho. Sabia e não sabia onde estava. O suéter bege de lã era largo nele, o que fazia com que uma corrente de ar fria entrasse em suas roupas e esfriasse o seu tronco. Parou de sentir as coisas com os dedos e cruzou os braços, num abraço confortável em si mesmo.

            Por um momento, mal se lembrou de quem era.

            E, de repente, quando entrou no elevador, a nota do silêncio mudou. Foi de dó, confortável e familiar, para ré. Tenso. O tempo mudou para uma mínima, dois tempos, dois segundos.

            Ré. (Um. Dois).

            Ré. (Um. Dois).

            Ré. (Um. Dois).

            O espelho mostrou um garoto desnorteado, olhando para os lados, para cima, para baixo, os olhos cristalinos, os cabelos loiros desgrenhados. Seu cordão de prata balançando no pescoço. O metal tem outra nota. Mas o sustenido não cai bem aos seus ouvidos, e ele logo para.

            A porta do elevador abriu.

            — Will!

            Despertando-o, uma voz grave. Franziu o cenho, porque o silêncio continuava mais alto. Dessa vez, um mi em semínima que durou pouquíssimo, logo vem um fá em colcheia. Esse é o ápice do silêncio, quando ele finalmente acorda.

            — Will Solace! Estou falando com você — esbravejou Hedge.

            Will olhou para baixo.

            — Ahn, desculpa, professor.

            — Posso saber o motivo de você estar atrasado? Temos um horário a cumprir.

            — Sei disso, senhor, mas...

            — Eu estava quase indo lá no seu quarto. Que isso não se repita, Solace. Você pode ser filho do coordenador, mas não pode atrasar o horário de todo mundo.

            Will assentiu, distraído, e deu uma olhada em volta, no restaurante barulhento com o grupo grande de adolescentes e alguns outros hóspedes desconfortáveis. E então, ele o viu.

            Era o sorriso mais lindo do mundo. Pelo menos naquele momento, naquele mundo. Um sorriso que fez Will chamar Hedge de senhor novamente e se desculpar vinte vezes antes de sair andando sem nem olhar para trás.

            O silêncio não era mais silêncio, lapidado por notas solitárias, mas era melodia. A melodia de um acorde, o dó, mi e o sol, ou talvez só duas notas que combinem o suficiente para parecerem várias e, ao mesmo tempo, uma só. E essa era a gargalhada de Nico.

            Ao se aproximar, o transe acabou por se dissolver quando a mesa o olhou. Nico, Tomás, Jason e Catharina. Não havia lugar sobrando.

            — Bom dia — Cath levantou e o abraçou. — Por que você não veio com todo mundo?

            Will retribuiu o abraço e olhou confuso para os outros três garotos.

            — Ninguém me acordou — respondeu reticente.

            Catharina se separou dele e eles passaram por aquele momento desafinado onde todos esperam que alguém faça ou fale alguma coisa. Como Will encarava intensamente Tomás, que estava sentado ao lado de Nico — que, por sua vez, evitava olhar para cima o máximo possível — Jason e Cath acabaram o encarando também.

            — Ah, perdão, acho que me esqueci de te acordar, já que fui o último a sair do quarto.

            Will negou com a cabeça.

            — Tudo bem. Eu... Posso pegar uma cadeira e me sentar com vocês?

            Cath abriu a boca para responder, mas Nico levantou num ato brusco antes de mais nada. Sua expressão não emitia raiva alguma, mas algo com sua atmosfera dizia a Will que ele não estava exatamente feliz.

            Mau humor matinal, talvez?

            — Não, não. Tudo bem, eu já terminei de comer. Pode sentar, Will.

            Nico pegou seu copo na mesa, porque o prato continuava limpo, e se pôs a andar.

            — Você não vai comer nada? — perguntou Jason.

            Nico virou um momento para trás e lançou um olhar de “fala sério, não banque minha mãe.” E foi nesse instante que ele passou por Will.

            — O que aconteceu, Neeks? — sussurrou Will, segurando seu braço.

            — Nada — A bochecha de Nico se contraiu por um segundo, e Will levou algum tempo para perceber que aquilo era pra ser um meio sorriso. — Está tudo bem.

            Nico tentou andar, mas o aperto em seu braço ganhou mais força. A gentileza no olhar de Nico desapareceu.

            — Solte-me, Will.

            — Nico...

            Nico respirou fundo.

            — Você não tem que ficar o tempo todo colado comigo, sabia? — e puxou seu braço, continuando a andar.

            Will o acompanhou com o olhar até deixar o copo na bancada da cozinha e sair pela porta que dava para o saguão. Só então sentou a mesa, ocupando a cadeira com graça e leveza. Todos estavam sérios.

            Menos Tomás. Ele gargalhava.

            O francês colocou um pedaço de pão na boca e ironizou:

            — Que belo casal vocês formam, não?

 

NICO

            Eram dez horas e estava congelando quando chegaram ao cruzamento entre a West 50th Street e a 6th Avenue.

            — Radio City? — Nico perguntou para Jason, uma sobrancelha levantada. — É sério isso, cara?

            — Você não sabia?

            — Saber eu sabia, vocês vivem falando disso, mas eu nem sabia o que era, então...

            — Como você não conhecia o lugar incrível que é Radio City Music Hall?!

            — Não estava familiarizado com o nome, mas agora que estamos aqui... — Nico revirou os olhos e jogou a cabeça para trás. — Tem como isso ser mais clichê?

            — É sempre bom contar com a sua boa vontade logo pela manhã, Nico — Apolo passou um braço pelos seus ombros. — Não veja isso como a merda de um clichê barato num dos lugares mais ridiculamente esperados do mundo para se estar.

            — Como eu devo ver isso, então?

            — Como uma oportunidade de fazer seu nome aos 15 anos se apresentando num dos maiores centros históricos e requintados teatros do mundo, com uma plateia de milhares de pessoas que estão pagando milhares de dólares só para ver a sua apresentação.

            Nico riu, eles continuaram andando.

            — Eles não estão indo por mim ou por qualquer um de nós. A estrela é a Adele.

            — Mas se você fizer o que tem de fazer, talvez daqui alguns anos a estrela seja você.

            — Sempre tão sonhador, caro Apolo.

            — Talvez devesse experimentar me chamar de Sr. Solace, Sr. Di Angelo.

            — D-desculpe, eu...

            Apolo o encarou no fundo dos olhos e se afastou com seriedade, andando para trás. Um segundo antes de se virar para frente, fez uma careta e começou a gargalhar.

            — Eu não mereço ele — Nico grunhiu, fechando a expressão como uma criança emburrada.

            — Ah, vamos, Sr. Solace é gente boa — Jason empurrou o ombro dele de leve. — Eu queria ter um sogro assim.

            Nico revirou os olhos, ignorando a palavra “sogro”. O deixava meio desconfortável, sentia como se ele e Will estivessem casados ou algo assim. Deus que me livre.

            — O pai da Piper é estranho?

            — No mínimo — Jason olhou para o horizonte com ar dramático. — Nunca vou esquecer o dia que eu entrei no banheiro e ele estava ensaiando pra uma daquelas comédias românticas cheias de piadas idiotas e indecentes... Ah, Nico, você não sabe o que é o inferno até ver um homem de quarenta anos contracenando com um espelho a cena de um beijo cheio de tesão....

            — Que nojo, Jason! — Nico gargalhou, se curvando.

            De repente, todos os outros a volta deles pararam, foi quando Nico notou que estavam na recepção. Por isso e pela lufada de ar quente repentina. Um jovem com um crachá, usando roupas formais, os recebeu com um sorriso tímido. Ele deve ter desejado boas vindas ou algo assim, devia estar falando a costumeira palestra sobre balelas da história e essas coisas. Mas isso Nico poderia apenas supor, porque sua atenção foi completamente capturada assim que ele sentiu que o estavam observando. E essa sensação não se manifestou em pensamento, mas no impulso involuntário de olhar para trás, e foi o que ele fez.

            Os olhos de Will Solace estavam vidrados nele. Não apenas o vendo, mas tentando enxerga-lo.

            — Isso deve cair em alguma prova, você deveria prestar atenção — sussurrou Will.

            — Então por que você não presta atenção? — sussurrou de volta.

            — Quem disse que não estou prestando?

            As pálpebras de Nico estremeceram e ele olhou para baixo com um peso nos olhos. Lembrou-se da noite anterior, da sua declaração não correspondida, e sentiu seu coração se contrair.

            Enrubesceu e virou para frente, tentando esquecer esse pensamento. Mas esse é o problema de tentar esquecer algo; quanto mais você não quer lembrar, mais isso vai te atormentar.

            Então ele começou a se perguntar se talvez... Talvez Will pudesse ser como Percy. Ou, quem sabe, algo pior, um manipulador que o estivesse usando para o que quer que seja. Provar algo a si mesmo? Provar algo a alguém? Conquista pessoal?

            Mas parecia meio ridículo que depois de tudo, Will, a pessoa que ele aprendera a amar, estivesse sendo um babaca desses. Então Nico acabou não vendo nenhum outro motivo que não a ausência disso, desse tipo de afeto. Will gostava dele, não o amava. Talvez Nico fosse o tipo de pessoa que não se pode amar.

            Ele estava tão inseguro. Não sabia que seria ético tocar no assunto, não queria parecer desesperado. Tentava evitar a droga da voz dentro da sua cabeça, sussurrando, dizendo coisas que ele não estava preparado para escutar.

            Você não esperava isso, não é? Não esperava que ele o amasse. Por favor, Nico, olhe para você. Você é errado, a sua existência é errada.

            — Pare — sussurrou Nico.

            Se nem mamãe te amava — você sabe, se amasse, não teria se matado — o que você espera desse garoto? Sinceramente, achei que você fosse mais inteligente que isso.

            — PARE!

            Nico tampou os ouvidos com as mãos. Demorou meio segundo para perceber.

            Olhou para cima e viu o jovem, que havia se apresentado como Alexander, calado. De repente o ruído ambiente que era o seu discurso foi interrompido.

            — Algum problema, di Angelo? — Hedge perguntou.

            Nico olhou em volta, desamparado.

            — Eu estava fazendo cócegas nele, senhor — respondeu Will com o ar lúgubre demais para alguém que estivera brincando segundos antes. — Desculpe.

            — Depois precisamos ter uma conversa séria, Solace. Pode prosseguir, por gentileza, Alexander?

            — Como eu estava dizendo, o teatro foi fundado por...

            Procurou. Por entre os rostos dos alunos, atrás do balcão da recepção, pelo saguão grande, atrás das plantas. Até que seu olhar pousou numa porta aberta. Através dela só havia escuridão. E ela estava lá.

            Não era uma coisa que via, ele apenas sabia. E com essa sensação, uma suspeita veio.

            Will, então, não a afastava mais.

            Ela estava mais forte?

            Não, não parecia ser isso.

            — Ei, anjo, você tá bem? — Will sussurrou em sua orelha.

            Nico desvirou os olhos dela por um segundo, o que se mostrou estranhamente difícil.

            — Sim, estou.

            E ele sentiu Bianca sorrir antes de se virar e entrar no teatro com o seu vestido branco esvoaçando às suas costas. A presença que ficou foi a do sorriso. Um mostrar de dentes cruel, que trazia uma mensagem terrivelmente nítida.

            Voltei, irmãozinho. Sentiu minha falta?


Notas Finais


Primeiramente, eu gostaria de pedir desculpas. Não gostei muito dos capítulos anteriores e esse estava indo pelo mesmo caminho. Sinto muito por vocês terem tido que ler aquele troço chato. Acabei percebendo, com uma pequena ajuda (esto olhando para você, laila), que eu mesma estava desanimada. Vocês não merecem isso.
Sinto muito por não ter respondido alguns comentários ainda. Eles são meu estímulo pra continuar postando, mas não tenho dado a devida atenção para eles. Então obrigada pra quem ainda vem me estimular <3 aushaush
O que acharam da volta da Bianca? HEHEHEHEH o que será que aconteceu? Gostaria de ouvir as teses de vocês...


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