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História One me two hearts - Um pouco instável


Escrita por: unkn0w

Notas do Autor


Não corrigi nada, amanhã releio
escutem X Ambassadors - unsteady

Capítulo 33 - Um pouco instável


Fanfic / Fanfiction One me two hearts - Um pouco instável

NICO

               Os humanos são cheios de sombras e de luz. Ninguém é inteiramente mal, ninguém é inteiramente bom, é assim que as coisas são e não há nada a se fazer para mudar isso. Alguém inteiramente incorruptível e de pensamentos incontestavelmente justos só existe nos delírios do romantismo.

               Além do mais, Nico odiaria alguém que fosse só luz.

Segure, segure, me agarre

               O que o diferia da maior parte das pessoas, era que o seu apreço pelo lado mal delas era um tanto... Exagerado. Isso o fascinava, essa ideia de que por melhor que alguém possa parecer na superfície, os pensamentos que escondem com certeza são terríveis, e assustadores.

               Will não fugia à regra, e Nico amava isso.

               Ódio. Raiva. Desespero. Esses são sentimentos lindos.

               E o melhor disso tudo são os limites. Até que ponto a consciência de alguém prende esses pensamentos apenas no campo imaginário? Até que ponto eles são demonstrados?

               A consciência de Will sempre aparentou ser de concreto. Mas chega um ponto em que não é mais possível. Principalmente se houver interferência sobrenatural.

               Will queria fazer aquilo, mas não queria querer fazer aquilo.

               Will tinha pensamentos obscuros, mas não era como se quisesse agir de acordo com eles.

Porque eu sou um pouco instável

               E ele sabia disso porque Bianca sabia disso.

               Nico entendia, mas ele mesmo estava muito confuso. Quer dizer, ele devia fazer alguma coisa?

               A dor de saber que, em algum ponto, Will quis machuca-lo, era grande demais para que ele a sentisse por completo.

Um pouco instável.

               Era noite e no dia seguinte seria a apresentação. Ele não queria que esse momento chegasse, ele não queria cantar em público. Não se importava com a plateia, o pior de tudo era a confirmação, por milhares de olhos e ouvidos, de que ele estava cantando, tocando, interagindo com música.

               Quando seus pensamentos se voltaram para a apresentação, a ansiedade fez seu estômago revirar. Jogou-se contra a parede, bem em cima do ombro, que doeu com o impacto. Lembrou então de Will pressionando os dedos em sua pele, deixando hematomas certinhos com marcas de dedos.

               Ele quis vomitar.

               Talvez tivesse perdido Will, então?

               Talvez ela tivesse roubado ele também. Assim como acontecera com sua mãe durante meses, ela foi se apagando, desaparecendo aos poucos.

               Aliás, fazia algum tempo que ela não aparecia.

Segure, segure, me agarre

               O jardim de inverno do hotel era banhado de uma luz pálida e melancólica, exatamente como ele. As plantas pareciam quietas demais; elas sabiam que seu lugar não eram presas dentro daquela estufa. Nico passou os dedos lentamente por um lírio branco, tão puro e intocado que o distraiu por alguns segundos.

               A dor latejou na sua cabeça, o lembrando: apresentação, Will, Bianca, morte, perda, medo, ansiedade, Hades, depressão, decepção, expectativa, Apolo, Jason, Tomás, perigo, ameaça.

               Sentiu uma mão tocar o seu ombro com a suavidade das asas de uma borboleta. Mal foi um toque, era mais uma sensação.

               Respirou fundo e murmurou para que a pessoa o deixasse sozinho, porque não estava num bom momento, e distraidamente virou a cabeça para olhar quem quer que estivesse atrás dele.

Porque eu sou um pouco instável. Um pouco instável.

               — Jesus — tomou um susto. — Mãe?

               De alguma forma, ela estava fina, quase que transparente. A aura brilhante que normalmente emanava estava praticamente apagada, seus olhos eram quase fechados, sua presença mal era física.

Mamãe, venha aqui.

               — O que aconteceu com você? — Nico sussurrou, segurando seu rosto entre as palmas das mãos.

               Maria limpou a garganta e tentou falar, mas nenhum som saiu. Como sempre.

Aproxime-se,

               Nico arregalou os olhos, porque ele estava com medo. E numa hora como aquela, ele conseguiu querer sorrir por olhar para baixo para falar com a mãe. Significava que tinha crescido um pouco desde a última vez.

               Maria sorriu um sorriso triste e tranquilizador.

               Ela não disse nada. Não tentou falar de novo. Naquela noite, não houve últimas palavras. Ela apenas levantou o indicador fino e longo e apontou para o próprio peito, depois para o de Nico. Segurou uma mecha de seu cabelo negro entre os dedos, quase como se a força de segurá-la fosse muita para a sua mão magra.

               Os olhos de Nico não conseguiam mais acompanhar a sua imagem, então ele os fechou.

Apareça

               Sentiu-a colocar o seu cabelo atrás da orelha e encostar os lábios frios na sua testa. Se ela pudesse falar, Nico tinha certeza de que sussurraria:

               — Te amo como se amam algumas coisas sombrias, Neeks — como sempre fazia antes de partir numa viagem de negócios. Fazia parte do protocolo a seguir depois do cabelo e do beijo.

               Ele soube que era uma despedida. Ela logo viajaria.

Papai, estou sozinho

               E o jardim, e a lua, e as estrelas, e a sorte, e a noite, de repente nada fez sentido, nada foi agradável, nada. Ele permaneceu de olhos fechados, saboreando os últimos resquícios da presença dela, até que tivesse certeza de que ela tinha ido, de que não restava mais nada dela ali.

               Decidiu voltar para o quarto.

Porque essa casa não me faz sentir como se fosse um lar.

               Pensamentos são coisas engraçadinhas. Quase como se fossem pessoas brincando no playground da sua mente. Os seus, naquele momento, não paravam de dançar entre Will Solace e sua apresentação no dia seguinte. Alguns iam em direção à Hazel, perguntavam-se se ela estava bem, se agora que Bianca estava por perto dele não a atormentava. Perguntavam-se se ela e Hades ainda estavam em Berlim ou se já tinham ido para Varsóvia?

               No saguão do hotel, tudo que se via era um porteiro e um segurança escondidos pela iluminação fraca, e uma máquina de refrigerante com uma silhueta escura a sua frente.

               — Nico? — disse a pessoa.

               Nico teve dificuldade em reconhecer sua voz baixa, mas acabou por se familiarizar com aquele som aveludado.

               — Tomás?

Segure, segure, me agarre

               — Bons garotos não deviam estar fora da cama a essa hora — brincou ele, caminhando até Nico com uma lata de Coca-Cola na mão.

               — Nunca disse que eu sou um bom garoto.

Porque eu sou um pouco instável

               Tomás deu uma risadinha e, mesmo no escuro, Nico pôde saber que ele tinha um daqueles seus sorrisinhos tortos.

               — Está sem sono? — perguntou a ele.

               — Tipo isso — o francês deu de ombros. — E você?

               — Eu nunca consigo dormir muito bem, então decidi dar uma olhada no jardim de inverno.

               — E o que achou dele?

               Nico fingiu refletir.

               — Plantas, borboletas... — fez um tom de voz e expressão dramáticos, como se realmente lamentasse. — Arcadista demais para mim.

               Tomás riu e deu mais alguns passos.

               — Estava indo sentar perto da piscina agora. Quer vir comigo? Só se você estiver sem sono, claro.

               — É, pode ser.

Um pouco instável

 

TOMÁS

               Problemático. Obscuro. Dramático.

               E irresistível.

               Deus, por que tão irresistível?

Se você me ama, não me deixe ir

               — Por que você não pegou um refrigerante no frigobar do nosso quarto? — Nico perguntou assim que se sentaram nas espreguiçadeiras.

               — Will tomou todos os refrigerantes — deu um gole.

               Nico franziu o cenho.

               — Will não toma refrigerante. Ele diz que é que nem veneno.

               — Então hoje ele estava tentando se matar.

               Tomás evitava olhar para o lado. Perto de Nico, era praticamente impossível fingir, esconder o rubor, continuar impassível. Ainda mais quando ele citava o nome de Will assim, com tanto carinho.

               Se ele olhasse para o lado, sabia, não conseguiria manter aquela mentira por muito mais tempo. Porque a lua o iluminava bem demais. Porque a água da piscina refletia e o deixava lindo. Porque sua boca era vermelha e seus cílios eram longos. Porque ele era um garoto estranho e peculiar. Porque Nico era Nico.

               — Aliás, que lente de contato é essa? — comentou di Angelo. Seu rosto estava próximo. — Ela é diferente de todas as outras.

               — Gostou da cor? — sua voz saiu baixa para disfarçar a sua vergonha.

               Se Tomás não fosse quem era, provavelmente estaria vermelho como um pimentão.

               — Hm-hum — murmurou Nico. — É linda.

               Ah, não. Isso é golpe baixo, porra.

               — São meus olhos. Estou sem lentes agora.

               — Essa cor é linda — Nico soltou num murmúrio. — Caramba! Isso é...

               — Shhh — Tomás colocou o indicador a frente dos lábios. — É um segredo nosso, ok? Você é a primeira pessoa que me vê sem lentes em... Muito tempo.

               Ele precisou de alguns minutos para se recompor. Ele até aguentava a proximidade física, pois estava acostumado com gestos ingênuos por parte de Nico, que não tinha ideia do que causava em Tomás toda vez que se aproximava. Mas não, ele falando da cor dos seus olhos era demais.

               Desde pequeno, seus amigos costumavam tirar sarro dele, dizer que aquela cor não era natural, era uma aberração. Ele andava de cabeça baixa nas ruas, sem olhar para ninguém, para não chamar atenção com aquelas íris de coloração estranha. Por isso, ao deixar a França, Tomás decidiu se reinventar: vou usar lentes de contato. Pronto! Fim dos meus problemas.

               E agora ele elogiava o Tomás original, a aparência de quem ele era. Os olhos daquele garotinho assustado e sonhador tocando violão nas ruas para ganhar dinheiro, para ter o que levar para casa.

               Nico vira o Tomás que ele deixou para trás. Mesmo que só uma pequena parte dele.

               Precisava parar de pensar nessas coisas.

Se você me ama, não me deixe ir

               — Está preparado para amanhã? — perguntou Tomás, desesperado para mudar o rumo dos seus pensamentos.

               — Eu... — quando deu essa pausa, Tomás soube que Nico colocaria os fios negros para trás, e não resistiu: teve de olhar. — Não. Nem um pouco.

               Ao levantar seu braço, sua expressão era de uma suave preocupação. Seus lábios estavam entreabertos e os olhos semicerrados. Mas nada disso prendeu sua atenção. O que capturou o seu olhar e o paralisou foi outra coisa: os hematomas com o formato de dedos ao redor de seu pulso direito.

               Tomás repousou a lata no chão e segurou a mão de Nico com delicadeza. O garoto ficou tenso de repente, mas não puxou o braço de volta.

               — O que foi isso? — indagou serenamente, passando a ponta dos dedos por cima da pele fina de Nico. — Quem te machucou?

               — Eu bati.

Mãe, eu sei

               — Oh, sem querer bateu seu pulso numa mão de concreto? Porque, se ainda não estou cego, essas são marcas de dedos.

               Nico respirou fundo.

               — Will e eu... Nós tivemos uma briga — respondeu com cautela e relutância.

               Raiva.

               — Foda. Quer falar sobre isso? Pode comentar qualquer coisa comigo, sou tão seu amigo quanto sou do Will.

               Nico deu um pequeno e delicado suspiro antes de falar:

               — Ás vezes ele consegue ser um idiota, sabe? Não enxerga a maior parte das coisas e age como se fosse ele no controle do universo.

               — Você já pensou em darem um tempo?

               — Eu não acho que conseguiria fazer isso agora.

               — Ah, por favor, Nico! Ele te agrediu! Você não vai deixar isso simplesmente assim, vai?

               — Eu não... Eu não sei, Tomás. Isso aconteceu hoje à tarde. Ainda nem tive tempo pra pensar.

               E o coração de Tomás pulsou com força. Ele se odiou por sentir aquilo. Odiou-se por pensar que ele poderia ser cem vezes melhor para Nico do que Will.

               Porque ele só queria vê-lo feliz, e sabia que talvez arruinaria as coisas se agisse de acordo com as suas vontades.

               Mas, se Will o estava prejudicando, talvez...

Você está cansada de estar sozinha.

               Sentiu finalmente o rubor atingir seu rosto; a pele fria pela qual ele tanto zelava ganhando um calor repentino. Ele não queria querer que essas palavras saíssem, mas elas acabaram sendo ditas, no final:

               — Eu não faria isso, você sabe — subiu o toque do pulso de Nico para o seu antebraço, seu bíceps e seu ombro. Tocá-lo era tão bom que quase parou de falar para apreciar aquele momento. — Eu não seria esse tipo de cara que... — arrastou a mão até o seu pescoço, seu maxilar. — Não dá valor pra alguém como você. Eu cuidaria de você, se você me desse uma chance.

 

APOLO

               Sua cabeça estava mergulhada numa privada, provavelmente era a pessoa menos sexy do mundo naquele instante.

               Hedge não aguentava mais ficar no mesmo quarto que ele, de tanto que tinha que levantar para vomitar pela noite.

               — Amanhã eu vou pedir outro quarto — resmungou o professor, levantando preguiçosamente da cama e pegando a bolsa de remédios de Apolo, a qual levou até o banheiro. — Isso é sangue?

               Apolo deu um sorrisinho maroto e ia comentar uma piada, mas o sangue lhe subiu pela garganta e ele teve de vomitar mais uma vez.

Pai, eu sei que você está tentando.

               — Will sabe que você está doente?

               Tossiu e cuspiu na privada para poder puxar descarga.

               — Não — respondeu sôfrego indo em direção à pia. — E você não vai falar nada.

               — E se você morrer?

               — Eu não vou — soltou uma risada sincera enquanto lavava a boca. — Isso não é nada, deve ser uma ulcerazinha de nada.

               — “Ulcerazinha”?! Apolo, você está vomitando sangue, não come nada desde ontem de noite, emagreceu uns bons cinco quilos na última semana e sua pele está amarelada. Você acha mesmo que isso não é nada?

               Apolo respirou fundo e secou o rosto com a toalha do hotel. Quando virou para Hedge, seu olhar estava penetrante, seu tom afiado e áspero:           

               — O que acontece com o meu corpo é problema meu. Não vou preocupar meu filho, que já tem os problemas dele que são um inferno, com essas besteiras da meia idade. E você não tem nada que se meter nisso, Hedge.

Tentando lutar quando você sente que está voando.

               O professor passou um momento com olhos arregalados, sem acreditar no que o Apolo amável de sempre havia se transformado em questão de segundos.

               — Ok. Apenas... Tenha cuidado.

               — Terei. Agora volte pra cama, consigo me virar.

               Hedge assentiu. Apolo fechou a porta do banheiro.

               Pegou na bolsa os comprimidos que o médico havia dito para tomar até o resultado dos exames sair. Engoliu as duas capsulas de uma vez, com a água da torneira. Coçou sua pele, que começava a ter algumas protuberâncias perturbadoras. Respirou fundo, sem ar.

               Encostou-se, então, à parede e foi escorregando devagar até o chão. Ele se sentia aos pedaços por dentro. Como se o seu organismo estivesse morrendo de dentro para fora. Não estava bem, nem um pouco. Ele mentiu para Hedge; sabia da gravidade de sua situação. Àquele ponto, não ficaria surpreso se o médico ligasse no meio da noite o avisando que teria mais alguns dias de vida.

               Deu uma risada sem humor. Tudo bem, talvez não fosse tão mal assim. Aquilo era drama seu.

Segure, segure, me agarre.

               E naquele momento, com as perguntas sobre o que era aquela doença misteriosa rondando a sua cabeça, ele só conseguia pensar que, se ele fosse morrer no dia seguinte, o seu único arrependimento seria não ter contado para Hades que o amava.

 

Segure, segure, me agarre

Porque eu sou um pouco instável

Um pouco instável.

X Ambassadors – Unsteady


Notas Finais


se eu to bem?
to não ó


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