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História One me two hearts - No sétimo dia, Deus descansou


Escrita por: unkn0w

Notas do Autor


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Capítulo 42 - No sétimo dia, Deus descansou


Fanfic / Fanfiction One me two hearts - No sétimo dia, Deus descansou

APOLO

Pôde entender o que Deus tinha sentido no sétimo dia.

Apolo dera toda a sua energia, até o último resquício, por cada um daqueles que agora estavam a sua frente, estudando, dançando, cantando, pintando, atuando, vivendo, conseguindo. Sua turma de primeiristas agora entrara no terceiro ano do Ensino Médio, e ele sentia que sua criação estava completa.

Lembrava-se de cada viagem para cada lugar do mundo. Quando fora para o Brasil, explorar a vida além do famoso Rio de Janeiro, e achara uma joia numa apresentação de ballet. Uma bailarina que não era altíssima nem esbelta feito um palito, mas que dançava como se o mundo estivesse caindo ao seu redor e aquilo fosse a única coisa que lhe restasse. Foi assim que convidou Catharina para a Olympus.

E depois, quando subiu um pouco para o México, não foi difícil achar Leo Valdez. Na realidade, o garoto crescera no Texas, mas suas origens e seu coração estavam na cultura latina. Por onde passava, deixava uma trilha de sorrisos e de vida – talvez um pouco de destruição também  – que Apolo seguiu. E ali estava: no meio da rua, cercado de gente, Leo executava seu ato mirabolante com fogo e um motor velho. Era como um mágico que contava piadas, atuava e manipulava uma peça  complexa como se tudo fosse brincadeira.

A viagem de Apolo subiu para a Europa. Andou pelos subúrbios, pelos metrôs – que eram as grandes minas de diamantes brutos do mundo. Achou talentos novos, que ainda precisavam amadurecer para serem descobertos, então guardou contatos. Achou olhos inteiramente brancos, espertos e sofridos demais para serem bons, e esses olhos guardavam a alma de um poeta e talentoso músico. Era Tomás Dousseau, que entrou para os escolhidos.

Apolo andou pela África, mas lá não o receberam muito bem. Virou andarilho por todos os continentes, mas nunca parecia que era o suficiente. Tinha tanta gente no mundo, tanta gente que precisava ser achada! Mas, na sua jornada de pouco mais de um ano, acabou se esquecendo de quem mais precisava ser achado por ele, de quem mais precisava dele.

Seu amado filho, órfão de mãe, quase abandonado pelo pai.

Quando estava hospedado numa pousada em algum canto de Catar, recebeu uma ligação de Ártemis.  Will estava adoecendo, e não era uma questão de saúde física. Por mais que negasse, sua criança precisava dele. Então decidiu voltar para casa.

Mas, no meio da viagem, algo súbito lhe ocorreu; e os Estados Unidos? Por que se esquecera de o explorar?

Ainda faltavam três meses para o começo das aulas da turma que vinha reunindo, ele tinha tempo. Pouco, mas tinha. Foi assim que o louco e devoto Apolo voou para Nova York, onde Will estava com Ártemis, abraçou seu filho, fez as malas dele, comprou uma van e começou a segunda parte de sua corrida. E todos os dias, quando tudo parecia sem esperança, quando era difícil continuar dirigindo com seu filho adolescente, relembrando os dias que dirigia com sua amada, bebendo até doer, tendo que ser cuidado por uma criança, sentindo o frio e a incerteza de não saber onde dormiria no dia seguinte e o que comeria, ele olhava para o céu. Olhava para o céu e agradecia por estar com a pessoa que mais amava no mundo, por estar juntando pessoas que poderiam crescer como ninguém. Dizia para si mesmo que depois de se por, o sol voltaria e ele tentaria de novo.

Faria tudo mais uma vez, até conseguir o que mais queria na vida.

Assim foi; a viagem lhe rendeu muitos frutos. Jason Grace e seu ballet impecável, Piper McLean e seu talento encantador para atuar, a escritora genial Annabeth Chase, a voz de ouro Líquido de Calipso. Foi por uma exposição de telas que achou Percy Jackson, que se mostrou incrível em várias outras áreas. E foi de Percy Jackson que ouviu as seguintes palavras:

“Você me acha incrível? Conheço um cara infinitamente melhor. Ele é um gênio, Da Vinci da nossa geração. Espere só para vê-lo.”

“Certo, certo. Me diga seu nome.”

E aquele soou como o nome do próprio Diabo:

“Nicholas di Angelo.”

O garoto morava numa mansão na cidade ao lado, não foi difícil de achar.

[Memória]

— Tem certeza de que é aqui, pai?  — a voz de Will tinha um leve tremor.

— Percy disse que era uma mansão na cidade ao lado. Você vê mais alguma por aqui?

— Não, mas esse lugar...

— Eu sei, bebê, sinto isso também. Mas me espere no carro, sim? Vou primeiro ver se é realmente aqui que ele mora.

Apolo bateu na porta com a aldrava. Passou alguns segundos plantado ali, observando a magnificência daquela morada mais ou menos cuidada. As plantas eram bonitas, mas começavam a avançar e dominar aquele lugar. A construção era elegante, mas começava a ganhar idade na pintura, nas dobradiças, no som.

— Boa tarde, residência dos di Angelo. Como posso ajudar?

A voz do mordomo era grave. Ele poderia cantar, se quisesse.

— Hm, oi, eu sou Apolo Solace e estou procurando os pais de Nicholas di Angelo.

— E do que se trata?

— Sou de uma escola de artes.

O mordomo levantou uma sobrancelha, como que duvidando, e fez um gesto de desculpas com a cabeça.

— A família não está passando por um bom momento para isso, mas talvez possam recebe-lo depois... E com aviso prévio. O senhor gostaria de deixar seu contato?

— Chapa, é o seguinte — apoiou-se no batente e abaixou o ângulo da cabeça. Deixou sua voz mais grave e séria, demonstrando a impaciência. — Eu passei os últimos dezoito meses numa viagem exaustiva atrás de talentos do mundo inteiro e tudo que mais quero no momento é tomar um banho quente na minha casa e passar a noite assistindo filmes com meu filho. Então me faça o favor de facilitar minha vida e chame a merda do...

— Salon, quem está aí?

A voz vinha de dentro, ela era rouca e entediada. Mas forte. Maior do que se mostrava. Devia ser o dono da casa, pois o mordomo fez uma reverência e deu um passo para trás, respondendo educadamente:

— É um representante duma escola de Artes, senhor. Ele vem por Nico.

— Deixe-o entrar.

A porta rangeu e o senhor da casa foi coberto pela luz da tarde. 

Intensidade. Insanidade. Intensidade.

Olhos negros, magnéticos, poderosos. Era tenebroso como se mil almas gritassem dentro deles. A pele chocolate, a barba rala, os lábios carnudos. Apolo sentiu seu coração cair na brasa e seu estômago se afogar em água congelante. Ele era insanamente lindo.

— Não vai entrar?

— Ah, claro. Eu, hm... — Apolo entrou e foi se recompondo, falando. — Me chamo Apolo Solace. Um garoto chamado Percy Jackson foi convidado para nossa escola e me indicou Nicholas di Angelo. É seu fiho?

O homem sorriu um sorriso afiado e confiante.

— Sim, é meu filho. Pode se sentar. Do que precisa?

— Gostaria de entrevistar a criança e de ver uma demonstração.

— Demonstração?

— É, do talento dele.

E aquelas palavras ressoaram pela casa mórbida e vazia. Foi a última coisa dita antes do homem assentir se virar para subir as escadas. Salon trouxe bebidas quentes e um olhar cínico. Minutos depois, o famigerado desceu as escadas com nada em mãos além de uma pequena chave. Apolo se levantou e abriu um enorme sorriso.

— Nicholas di Angelo — anunciou. — Obrigado por aceitar me ver. Meu nome é...

— Apolo Solace, eu sei. Olympus Academy, certo?

A voz dele era fria e sem sabor. Seu olhar era negro como o do pai, mas havia algo de mais solitário nele, mais obscuro. Mais vazio.

Apolo se arrepiou.

— Como...?

— Já sonhei em estudar lá.

— Que notícia maravilhosa. Seu amigo, Percy Jackson, me disse muito sobre você. Te chamou de da Vinci da sua geração.

Apolo riu, mas ele foi o único. Prosseguiu, limpando a garganta:

— Aqueles instrumentos no canto da sala são seus, certo? Se toca todos, com certeza é um musicista muito talen...

— São do meu pai — Nico cortou afiado. Seu punho se fechou. — Não gosto de música. Quer ver o que faço ou não?

Apolo preferiu se calar e assentir. Seguiu Nicholas até uma porta perto dos instrumentos, que despertaram uma curiosidade medrosa. Dentro da porta havia uma biblioteca pessoal enorme, com escadaria e livros em prateleiras que iam até o teto. Olhou impressionado, mas, no segundo seguinte, outra coisa chamou sua atenção.

Existiam quadros belíssimos nas paredes. A pintura era naturalista, as formas humanas perfeitas à luz da ciência, as formas, as proporções, a crueldade. Havia um quê sombrio em todas, que retratavam cenas comicamente recentes. No entanto, o traço era de um pintor do século XIX.

Quando Nicholas e o Sr. Di Angelo ficaram parados, Apolo não soube o que fazer.

— E então? — perguntou cruzando os braços.

Nico deu um meio sorriso macabro e apontou para cima.

— As telas são minhas.

O diretor precisou de alguns segundos para levantar o queixo.

— Suas, tipo, você as comprou?

— Eu fiz. Se duvida tanto assim, me siga.

Em alguns passos mais, chegaram numa porta de madeira escura abaixo da escadaria. Nico a abriu com a chave e deu passagem para Apolo. Temeroso, entrou na pequena sala. Os quadros inacabados, a tinta espalhada, a assinatura de Nico di Angelo naqueles que estavam prontos e colocados de lado... Era toda prova que precisava.

A prova de que estava conversando com Leonardo da Vinci da nova geração.

Apolo havia conhecido um prodígio verdadeiro, um gênio.

Apolo havia cruzado seu caminho com aquela família estranha.

Apolo havia se apaixonado.

[E agora]

E agora Apolo estava satisfeito, queria descansar, como Deus no sétimo dia. Seus lindos prodígios estavam no terceiro ano, tinham construído uma história, e uma vida ridiculamente cheia de conquistas os esperava. Ele tinha cumprido seu papel, estava satisfeito, tudo bem, ele já podia descansar.

Tinha vivido tanto, viajado tanto, visto tanto. Achou dor, felicidade, vitória, perda e amor. Agora já está bom, teve o bastante de tudo isso. E não tinha com o que se preocupar, ainda que o deixasse, Will ia conseguir, tinha gente que o amava, e não precisava do peso que era o seu pai insano.

Por isso ele sorriu para a sua escola, seus alunos. Passou por eles no corredor e os olhou por uma última vez. Tirou o boné do Jeff, cutucou Piper que beijava Morana. Piscou para Tomás que segurava a mão de Isabella, a inglesa. Gritou uma brincadeira para o grupo do primeiro ano sentado no chão, gargalhou de Catharina dançando tango com Yago. Viu o mundo lindo como ele é, lento em volta de si, ficando pra trás porque ele precisava ir e descansar.

Passou pela sala de música e lá, sentado no piano, tocando a música mais bela que jamais escutara, estava Nico di Angelo, o prodígio, o gênio. O amando com o olhar estava Will Solace, sua criança, seu filho. Apolo entrou na sala, e a dormência começava a dominar a ponta de seus dedos, a dor começava a revirar seu baixo ventre.

Engoliu o sangue e sorriu com os dentes sujos. Will deve ter perguntado se estava tudo bem, mas Apolo passou direto por ele. Cometeu o maior dos pecados: fez Nico parar de tocar. Pegou sua mão calejada de músico e o abraçou. O adolescente fez que ia falar alguma coisa, mas foi só olhar para Apolo que entendeu, aquela parte obscura dele viu a doença dentro do diretor e soube do que se tratava. Soube que ia ficar tudo bem, que ele tinha que acreditar no sol do dia seguinte.

Deixou um cafuné no topo da cabeça do seu genro. Voltou-se para Will. Beijou sua testa e o abraçou, disse que estava indo resolver problemas pendentes, desejou boa prova, disse que o amava.

Saiu da sala e seguiu pelo corredor, até o final, até a luz brilhante da tarde. Hades o esperava encostado no seu carro mais discreto. Os alunos olhavam para aquele homem poderoso e bonito vestido com um terno escuro feito a noite. Todos sabiam que era o pai de Nico, o namorado do diretor, o pai da filha morta, o marido da esposa falecida.

Apolo caminhou até ele, segurou seu rosto entre as mãos e pensou em quanto o amava, o quanto amava aquele mundo e o seu filho. O quanto amava sua história e amava comer sopa nas noites de sexta.  Olhou para cima e agradeceu por tudo, se despediu da companhia do sol e abaixou sua atenção para o homem a sua frente.

Não teve pudor ao beijar Hades, mas foi quando sentiu que tinha esgotado tudo. Sentiu que o último grão da ampulheta tinha caído. E cedeu.

Hades o sustentou nos braços.

Apolo Solace sentiu que o toque daquele homem era como o da morte deveria ser.

 

​"No sétimo dia, Deus acabou de fazer todas as coisas e descansou de todo o trabalho que havia feito."

Gênesis 2.2
 


Notas Finais


Queria avisar que, por "n" motivos, a fanfic vai acabar em um ou dois capítulos


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