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História One me two hearts - Ainda respirando


Escrita por: unkn0w

Notas do Autor


Nop, alarme falso, nem é o último capitulo

Capítulo 43 - Ainda respirando


Fanfic / Fanfiction One me two hearts - Ainda respirando

A bela dama pálida na noite exala um fedor podre. Seu vestido é úmido e asqueroso, como carniça escurecida, e suas mãos estão banhadas em algum líquido ralo e amarronzado.

— Sua presença aqui só pode significar uma coisa — Nico anuncia o óbvio. — Você vai levar Apolo, não vai?

Quando sorri, Nico vê seus dentes pretos, sente seu hálito fétido. E a maldade dela o arrepia.

— Você sabe muito bem que não tenho o direito de tocar nos Solace.

— Então por que...?

— Mas nada me impede de vir recolher um pedacinho do papai. Talvez até desse seu namorado, o Will.

Nico sente que cresce em cinco metros de altura e três de largura. Sente que seus músculos dilatam e que suas roupas se rasgam. Está enorme, é um monstro imenso e raivoso e seu nome é ódio. É a fúria que se dilata dentro dele, que revira suas entranhas e o faz rosnar. Ele se curva sobre Bianca.

No chão, sua sombra esguia continua a mesma.

— Você não vai ousar — rosna entredentes. — Não vai sequer tentar.

Ela solta uma risada alta. Há um fundo  de desespero em seu riso.

— E o que te faz pensar assim?

No lugar de se utilizar do corpo de seu monstro, Nico dá um meio sorriso macabro. Há fogo em seus olhos. O sangue em suas veias ferve.

O fantasma teme.

Ele teme como se o próprio cão o estivesse ameaçando.

— Só existe um jeito de acabar com coisas como você, demônio. E eu sei exatamente qual é.

A pele de Bianca di Angelo está pregada no rosto da coisa feito uma máscara. Mas as bordas estão gastas e apodrecidas, o interior de sua boca já parece mais com a de um espírito maligno que com o de um humano morto. Suas orbes são inteiramente brancas. Seu interior está putrefato.

Como Nico sabe disso?

Ele sente o cheiro.

Cheira a decomposição e medo.

A horrenda dama pálida da noite dá um sorriso trêmulo e defeituoso.

— Você não poderia. Sou sua irmã querida.

É a vez de Nico gargalhar.

 

*

Will já não sente a sola de seus pés de tanto andar de um lado para o outro. A verdade é que a verdade ainda não o atingiu. Suas unhas estão roídas e seus cabelos arrancados, mas ele não a sente. Tem algum tipo de anestésico na sua mente, porque a aguardara dor não veio.

Ou quem sabe ele seja um monstro insensível?

Descarta a ideia com um riso sem humor.

Hades di Angelo sai do quarto de seu pai. Ele trás consigo uma postura dura e uma expressão frágil. Will o encara com expectativa, mas Hades acena negativamente com a cabeça.

Ele quer apenas entender o que estão fazendo em casa e não no maldito hospital.

No instante, se é que isso existe, em que se prepara para vociferar uma pergunta rude, a porta da casa é aberta. E com essa aspereza, esse movimento brusco, a agitação das chaves inquietas na fechadura, só pode ser Nico.

— Trouxe as malas, mas não consigo carregar mais que isso.

Pálpebras avermelhadas. Pele mais pálida que o de costume. Palmas suadas, vermelhas. Canto da boca sangrando. Olhos intensos.

— O motorista está esperando, ele ainda tem que buscar Hazel — murmura impaciente, apesar de não querer ser indelicado.

Hades assente:

— Pode deixar comigo. Ah, e antes que me mate, William, eu levei sim seu pai no hospital. Ele estava semiconsciente lá e pediu para vir pra casa. O médico me disse para fazer o que ele quisesse.

O peso das últimas palavras foi de toneladas. Todos sabem o que significa, mas ninguém quer dizer em voz alta.

Sem mais palavras, Hades se retira e fecha a porta atrás de si.

Nico respira fundo e leva suas coisas até o quarto de Will. Leva a sacola de mantimentos que trouxe do marcado até a cozinha e mantem-se guardando-os. De soslaio, vê Will sentado na mesinha perto na parede oposta, a de azulejos bonitos.

Termina com a comida e guarda o saco plástico. Vira-se com brusquidão e o encara.

— Fale — inquire com a voz dócil.

Will o encarw de volta, os olhos finalmente marejando, as mãos finalmente tremendo.

— Ele... Ele... — sua voz embarga e, num meio segundo, assim que Nico o alcança e o abraça contra a barriga, explode num choro. — Por todos esses meses! Por todo esse tempo! Ele... Ele esteve... Quase morto!

Will continuou berrando e chorando, até suas palavras se misturarem com os soluços. Depois do que parecem horas, mas foram apenas cinco minutos, Will se cala e se deixa ser ninado pelo namorado, que afaga seus cabelos e o aperta forte. Sente as palmas geladas no seu rosto, os lábios rachados nos seus.

— Ele não está morto.

Essas são as únicas palavras de Nico, mas dizem mais do que mil poderiam dizer. Ele dá um sorriso singelo. Se afasta e estende a mão para Will: é um convite. Você viria comigo? Pode ser feio e extremamente doloroso, mas pelo menos eu vou estar com você.

E ele aceita sua mão. Vão até o quarto de Apolo, os olhos inchados e velhos de Will, o olhar agitado de Nico. Os dois juntos.

É iluminado pela amarelada luz da luminária, o ar é abafado, a janela está fechada naquele dia quente de verão. O homem comprido deita na cama feito príncipe. O nariz arrebitado  aponta diretamente para o teto, feito um cadáver. Apesar de doente, sua imagem é límpida. E apesar de triste, a cena parece linda.

— Oi, Apolo — Nico sorri e solta a mão de Will para se abaixar ao seu lado, o outro imita o gesto. Nota o soro que entra em sua veia, apesar de não estar internado.

“Eles ainda tentam?” sussurra Angie bem no seu ouvido.

Mas Nico não se assusta.

— Acha que não deveriam?

Will fica confuso: — Como é?

— Estou falando com sua mãe, bebê.

— A-ah! Oi, mamãe.

Angie acena e sorri. Bagunça levemente os cachos do filho, o que faz com que lágrimas silenciosas inundem seus olhos e escorram sem que precisem de piscadas.

Nico beija-lhe a face, secando as gotinhas com seus lábios ásperos.

“Pobre criança.”

Demora um pouco para Nico formar a imagem dela na mente. Vê primeiro suas mãos, apoiadas na cama fazendo um pequeno relevo. Depois, os braços sobem flexionados, o rosto bem perto do seu.

Ah, sim. Ela flutua.

Em seguida, Angie da uma risadinha e coloca os pés no chão, do outro lado da cama de Apolo. Ela senta ao lado do travesseiro. Seu cabelo cheira a terra molhada, Nico sente. Sua imagem é espectral, quase brilhante. O cabelo castanho claro voa como se ela estivesse na água.

— Aliás, — Nico prossegue ignorando o comentário — se ele está inconsciente, onde está a alma de Apolo?

Will o olha em dúvida.

— Mamãe?

Nico confirma com um sorrisinho. Angie respira fundo e brinca com os fios loiros de Apolo ao falar com sua voz de bocejo:

“Ele não passou pro outro lado por completo, querido. Sua alma oscila. Ele quer descansar, precisa disso, mas tem muita coisa que o prende aqui. Ele ama demais esse mundo, a vida, seus alunos, sua família. Ele ama seu pai, Nico. Tanto quanto me amou, e de uma forma diferente. Ele ama Will acima de todas as coisas, mais até do que ama a Deus. E ele te ama. Sabe que todo o peso vai ficar em cima de você, e que não é o que você merece.”

Nico respira fundo, trêmulo, e sente seu estômago embrulhar. Aquele homem excêntrico é realmente um gênio, não é?

“Ele quer ir à formatura de Will” continua a fantasma, impiedosa diante da morte. “Quer ver sua carreira decolar. Quer assistir a todos os filmes que seus alunos vão fazer. Quer ver o mundo pintado com os talentos que ele cultivou. É claro que ele poderia fazer tudo como eu, de longe, mas Apolo é carnal demais pra acreditar com todo o seu coração que existe um além.”

— Nico? O que ela está falando?

“Pra ele, a morte é o fim legítimo” a alma ri como se tivesse contado uma piada. “De certa forma, é. Mas não do jeito que ele espera...”

Nico se volta para Will, sussurrando com delicadeza.

— Ela disse que tem muito aqui que o prende. Ele quer paz, mas se importa demais. Por isso ainda não se foi por completo.

Will assente e deita o queixo nos braços. Estende uma mão, cruzando-a com a de seu pai.

— Mas isso não depende só da vontade, não é? — o loiro resmunga. — O corpo dele está doente, o que não tem muito a ver com alma e essas coisas.

O moreno olha pra fantasma, buscando alguma resposta, mas ela não o olha de volta. Parece congelada, olhando para o seu marido viúvo.

Olhos azuis encaram os negros com urgência.

— Neeks, ele vai ficar bem?

Um frio sobe pela espinha de Nico.

— Não tenho como te afirmar algo assim, Will.

A voz soa na sua cabeça: você sabe o que tem de fazer para obter respostas. Você sabe como sentir a doença dele. Sabe como dizer se ele vai viver.

Sim, eu sei.

Mas você tem medo.

Sim, eu tenho.

Will está assustado, Angelina não vai ajudar. Apolo está deitado a sua frente, e tudo que ele precisa fazer é sentir se ele vai morrer ou não.

Mas Nico está tremendo de tanto medo. Ele não sabe se suporta sentir a verdade.

“Sentir medo significa que você está prestes a fazer algo muito, muito corajoso” Angie resmunga distraída.

Nico olha hesitante para o namorado.

— Na verdade, eu tenho como saber.

— Sério?!

— Sim, mas eu tenho medo de não ser o que a gente quer ouvir.

E então, estende a mão para o desacordado Apolo. Vai, e então desiste. Depois volta e tenta de novo. Precisa de muito para direcionar seu toque até o rosto dele. Quando começa a senti-lo, para. Está errado, ele não deveria fazer isso.

No meio de seu conflito, a porta é aberta e entra Hazel feito um furacão.

“Eu gosto dela” Angie comenta afável. “Mas ela está com raiva por ser a última a saber”.

Hazel acusa o irmão com o olhar, mas segue calada até Apolo. Acena para Angie, que retribui o aceno, surpresa. A menina deixa um beijo em sua testa e sussurra alguma coisa, e em seguida dá um pequeno salto.

— Mas que coisa horrível, pai!

— O quê? — a voz de Hades soa da cozinha.

Ela sorri largo e sai apressada pelo quarto. Abre as cortinas e escancara a janela; o ar fresco da noite toma deliciosamente o quarto. Nico respira fundo e sorri, e quase tem a impressão de que Apolo também. O furacão acende as outras luminárias, deixando o quarto mais vivo. Vai até a sala e retorna rapidamente, colocando um aromatizante de varetas no criado mudo. Cheira a maçã com canela.

Por fim, Hazel vai até o toca disco perto da janela e coloca Mozart para tocar.

— Mais feliz assim? — pergunta ela para o homem inconsciente. E sorri. — Sabia que sim.

— Espere, está falando com ele? — Nico indaga, procurando o espectro de Apolo em volta.

— Você não?

Nico sorri de leve e nem perde seu tempo sentindo Apolo. Ele sabe que aquele homem não vai lhe revelar nada.

 

*

Espera que Will apague todas as luzes e que Hades venha dar boa noite. Espera seu namorado vestir o pijama e deitar na cama. Espera ser envolvido e logo então que Will ligue o ar condicionado, porque está realmente quente. E então ser envolvido de novo.

Para finalmente começar:

— Bianca estava na mansão hoje.

O loiro contraiu o maxilar.

— Presumo que isso seja ruim.

— Horrível.

— Uma calamidade.

— Tenho que concordar.

Nico se força a não rir. Coloca-se de lado na cama, a cabeça apoiada na mão, o outro braço na cintura de Will, que está apenas deitado encarando o teto.

— Ela não está aqui por Apolo, não é como se sua presença fosse leva-lo — continua rápido. — Mas parece que quer quebrar alguém. Hazel, papai... Você. — suspira.

— Apenas o casual — Solace vibra quando ri debochado.

Os dois não sabem muito bem como preencher o silêncio, mas isso deixou de ser uma necessidade há muito tempo. A conversa orbita, mais tarde, pela possibilidade de um câncer terminal, e isso trouxe um clima muito pesado. Will indagou-se o que diabos significa o fato de Hades não querer lhes contar nada. Falam pensamentos sobre o relacionamento dos dois pais, e como seria engraçado se eles e Angie se encontrassem Do Outro Lado.

Riram sobre o comportamento engraçado de Hazel e ponderaram sobre como ela anda na escola. Falando em escola, você vai fazer o curso de férias do teatro? Will achava que ia, mas agora com o estado de seu pai, não tem tanta certeza. É engraçado porque nossas férias eram pra já ter passado, mas deram mais duas semanas uma vez que fizemos tanta coisa nos nossos dias livres. Pois é. E música? Pretende fazer as tarefas da clássica? Não, Nico não pretende, ele não precisa. E entre uma brincadeira e outra, uma frase e uma referência, Will está virado para Nico e com a mão acariciando seu rosto. Os dois sorriem um para o outro, palavras morrem.

E no meio da desgraça, dois jovens se amam.

Eu tinha um bilhete só de ida para o lugar onde todos os demônios vão
Onde o vento não muda
E na terra nada nunca cresce
Sem esperança, apenas mentiras
E você é ensinado a chorar em seu travesseiro
Mas eu sobrevivi

Eu ainda estou respirando
Eu ainda estou respirando
Eu ainda estou respirando
Eu ainda estou respirando
Eu estou vivo
Eu estou vivo
Eu estou vivo
Eu estou vivo

- Sia (Alive)


Notas Finais


Gente, quero me desculpar pela demora. Apesar de ter escrito esse cap rapidinho, em dois dias, é muito difícil achar esse tempo. Gostaria de dizer que logo vai passar, que vou passar de primeira, mas não vou, e é daqui pra pior.
Mas vai dar certo.
Quero muuuito me comunicar com vocês nos comentários, viu?


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