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História One me two hearts - O cara mais gostoso da terra


Escrita por: unkn0w

Notas do Autor


Aviso: esse capítulo contém cena de assassinato e insinuação de violência sexual. Se isso for gatilho para você, por favor não leia.

Capítulo 5 - O cara mais gostoso da terra


Fanfic / Fanfiction One me two hearts - O cara mais gostoso da terra

WILL

 

Nico era esquizofrênico. Will tinha certeza.

Durante o almoço todo, ele não parou quieto. Olhava para os lados, encarava quem quer que passasse. Era impossível manter uma conversa flúida com ele.

Ele mal comeu.

Pegou batata só frita, disse que não queria carne naquele dia. Não tocou na  salada e nem no refrigerante. Arrumou seu prato e seus talheres metodicamente e mais de uma vez.

Garfo ali, faca aqui. Prato gira duas vezes. Copo na esquerda, esquerda sempre. Gardanapo em triângulo. Repete. Repete. Repete.

E depois do almoço, no carro, foi como se acabasse a sua bateria. Ele relaxou no banco e se encolheu dentro de si. Will já tinha desistido de puxar assunto.

Ao chegar em casa, pulou do carro e tropeçou na calçada. Suas calças jeans ficaram sujas de terra nos joelhos, mas mãos avermelhadíssimas.

Will saiu imediatamente do carro.

— Ei, você tá bem?

Nico fez que sim.

— Ótimo. A gente vai indo, então. Se cuida, viu?

Will deu às costas sem esperar resposta.

Mas a resposta veio.

— Solace!

Que surpresa. O garoto morto decidiu falar?

— Eu sinto muito. Digo, por tudo. Eu sei que parece que eu não quero estar com vocês, mas eu até que me diverti. Eu só... Eu sou esquisito. Perdão.

Will sorriu largo.

— Só vou te perdoar se você fizer algo por mim.

— Não seja abusado, Solace.

— Me empresta seu celular.

— Eu não.

— Se não me emprestar vou te dar um abraço.

— Cruzes.

— Eu falo sério.

— Por Deus, toma.

Nico entregou o aparelho desbloqueado enquanto revirava os olhos.

Will fez o que tinha que fazer e o devolveu para Nico, sempre com um sorriso. Despediu-se em poucas e bem humoradas palavras, voltando para o carro.

Apolo gritou um "mante um abraço para Hades" antes de acelerar e deixar um Nico desconcertado para trás.

Dentro do carro em movimento, Will lançou um olhar malicioso para o seu pai, que só percebeu após alguns segundos.

— O que foi, William Solace? — simulou um tom severo.

— “Mande um abraço para Hades” — o garoto debochou. — Por que vocês não se comem logo?

— A pergunta é: por que aquele homem não me come logo??

— Ele nem sabe que tem essa possibilidade, pai!

— Ok, e você e o Nico? Que sorrisinhos foram esses? Por que vocês não se comem logo?

— Eu não gosto de garotos, Apolo Solace — Will riu alto e deu um peteleco na orelha do pai.

— Mente pra outro, William.

— Eu tenho namorada!

— Até quando?

— Até você chegar no tal do Hades e mandar ele te jogar na parede.

Apolo negou, rindo. Depois, tomou uma expressão séria e, ainda encarando a estrada, disse:

— Will, acho que chegou uma idade muito importante na sua vida. Essa é a fase onde eu tenho que te passar uma lição de vida milenar, que os Solace passam de geração para geração. Meu avô disse isso para o meu pai, meu pai disse isso para mim e agora eu direi isso para você: se o crush não coopera, é aquele lema, vamo fazer o quê?

 

NICO

Dessa vez, ele trouxera a chave consigo. 

Destrancou a porta e entrou, logo avistando duas pessoas — ou espectros que já foram pessoas — sentadas no sofá do hall de entrada.

— Oi, mamãe — cumprimentou baixinho, quase sem voz. Não queria que ninguém na casa confirmasse que era louco.

Não se importou em falar com Bianca.

As duas sorriram com a boca fechada enquanto ele passava por elas para subir as escadas. Ao contrário de Bianca, sua mãe raramente falava. Talvez só tenha dito algo uma vez, depois de morta: quando Nico foi convidado para a Olympus Academy, e nem foi uma frase grande. Apenas um “boa sorte” sussurrado, quase sem som. Nico suspeitava de que aquilo tinha algo a ver com a sua morte.

Assim que pisou no primeiro degrau, viu Hazel descendo as escadas.

Hazel era sua irmã por parte de pai, que era filha de um caso de Hades. Antes de Maria morrer, Hades era uma pessoa completamente desviada dos caminhos da igreja. Agora, bem, ele era pastor.

— Nico! Parece que não te vejo há séculos!

Nico sorriu e fechou os olhos antes de abraça-la com força.

— Oi, Hazel.

Antes que ela pudesse falar mais alguma coisa, Nico sentiu um toque frio na sua mão. Pelo formigamento, ele logo soube o que era.

— Bia, por favor — olhou para trás, a figura da irmã com olhos intolerantes encarando Hazel. — Você não costumava ser assim.

Quando voltou-se para frente, sua meia-irmã o encarava com pena, como se visse um bichinho de estimação definhando e não pudesse fazer nada. Nico negou.

— Não me encare assim.

Qualquer pessoa menos você.

— Você prometeu que tomaria os remédios.

Algo no olhar dela, um brilho estranho, fez o garoto duvidar do que estava ouvindo.

— Você também? — passou por ela esbarrando em seu ombro — Corta essa. Eu te conheço.

— Você não pode chegar em casa vendo sua irmã e sua mãe mortas e esperar que ninguém te pergunte do tratamento.

Nico estacou.

— Como você sabe Bianca também está aqui?

Hazel riu com compaixão.

— Como assim? Você acabou de falar com ela.

Nico se aproximou e a menina subiu, de costas, dois degraus. Ela parecia assustada, e Nico estava mais feroz do que nunca.

— E como você tem tanta certeza de que era ela?

Hazel parecia a ponto de chorar. Seus cachos castanhos cheios de personalidade e rebeldia não combinavam com os olhos amedrontados da garota de 13 anos. Ela olhou para os lados e foi para trás, arrastando seu irmão junto. Jogou-o dentro de seu quarto.

Assim que girou a chave na fechadura, Hazel se jogou nos braços de Nico e começou a chorar para valer.

Ela soluçava como se estivesse convulcionando, as palavras saiam entrecortadas. Desculpe, sinto muito, eu não queria. Desculpe. Perdão. Nunca mais vou falar algo assim. Eu prometo, eu prometo. As coisas já são difíceis demais pra você.

Nico a abraçou e deixou que extravasasse, porque ela estava em pânico. Sua pele quente e morena em contraste com a de Nico, pálida, fria como gelo.

Nico ficou ali parado, estático, como se fosse uma estátua de mármore.

Hazel sacudiu e se espavonou, como se transbordasse vida.

Quando o dilúvio parou, seus olhos estavam borrados de rímel e suas lágrimas eram riscos opacos de maquiagem. Nico a sentou na cama, acariciando seus cabelos levemente.

— Quer conversar, Hazz?

— Eu só quero que você me perdoe. Eu sei o quanto é difícil viver com um pé nesse mundo e o outro naquele.

— Você também vê, não é?

— Sim — ela sussurrou. — Todos eles. Sempre. Assim como você.

— Pra mim, não estar sozinho já é incrível. Mas nunca mais me trate como louco. Nunca mais.

— Eu não queria ter te tratado assim! — a menina agarrou suas mãos. — Eu juro, eu só... Preciso fingir que concordo com o papai. Você entende, não é?

Nico não soube como se sentir.

Ela não podia ser como ele, a desgraça de Hades. 

Estava absurdamente decepcionado por Hazel não ter dito antes.

Nico quase acreditou que era louco.

Ele sabia que se Hades soubesse dessa união dos dois, ele os mandaria para um sanatório e entraria em desgosto eterno.

Por Deus, era como se estivessem na idade média.

— Sim, eu entendo você.

Era uma vergonha ser como Nico.

Hazel sorriu e secou o rosto com o dorso da mão.

— Aliás, você também vê aquelas duas crianças esquisitinhas que andam pelo rio?

— Andrew e Fairy?

— São gemeos.

— Então são eles.

— O que aconteceu com aqueles dois?

Nico sorriu um sorriso macabro.

— Quer ouvir uma história de terror?

 

ANDREW E FAIRY

As pessoas daquela cidade pequena falavam sobre eles, e ninguém ousava chegar perto demais do rio.

Andrew e Fairy haviam nascido em 1932. As histórias diziam que o pai era violento e abusivo, e que a mãe os abandonara assim que nasceram. A menina era cega, o garoto agia como seus olhos o tempo todo. O repugnante pai morava na dependência de empregados da mansão, mas as histórias diziam que era algum parente distante da família de Maria. Seus filhos tinham permissão de morar com ele, e aquilo era o verdadeiro inferno.

Eam crianças peculiares, inteligentes demais, sempre fazendo observando calmamente.

Os vizinhos diziam que atraiam calamidades, era cruel. Como pode? A mãe os abandona e o pai é esse estorvo... essas crianças só podem ser amaldiçoadas. Ainda por cima a menina é cega, é muita tragédia, muita, muita.

Um dia, eles fugiram. O pai era muito rígido, ninguém os ajudava. Então eles apenas correram para o bosque, pensaram que talvez tivesse uma casinha de madeira esperando por eles. Andrew segurando na mão da pequena Fairy, os dois correndo e tropeçando nos galhos.

E é claro que seu pai bêbado não se contentaria com isso. Aquelas crianças eram pedaços da maldita da sua esposa, então elas tinham que sofrer. Ele faria de tudo, de tudo.

 Quando os alcançou, já perto do rio, havia algo de estranho. De mãos dadas, os irmãos o encaravam.

"Vou falar só uma vez: voltem pra casa."

Fairy sorriu discretramente.

"Venha nos pegar."

Era uma armadilha. A menima tinha dopado com uma corda velha que costumava amarrar um balanço na árvore. Ela então usou para amarrar nos troncos e fazer um esquema para o seu pai tropeçar.

Ela não sabia bem em que momento a ideia tinha surgido, mas agora era claro em sua mente: nós nunca mais vamos sofrer abuso. Meu irmão não vai mais apanhar. Eu não vou ser violada. 

E assim aconteceu. O homem caiu e Andrew bateu em seu crânio com um pedaço de tronco pontudo. E bateu. E bateu. E bateu.

De repente, ele estava morto. Seu corpo foi parar descendo o rio, e Nico nunca tinha visto seu espírito por aí. Talvez estivesse no inferno?

Andrew e Fairy viveram na casa por mais alguns anos,sendo cuidados pelos criados e pelos antecessores de Maria, até que desapareceram. Não sabem ao certo como morreram, nem como ou onde foram enterrados. O fato era que estavam mortos. E que agora assombravam os irmãos di Angelo.

 

 

— Eles só querem brincar — Nico suspirou e riu. — Não conversamos faz tempo.

— Eles são esquisitos, me dão medo.

Nico sorriu meigamente e enxugou um resto de lágrima na face da irmã. Queria acalmá-la, então cantarolou. Mas parece que teve o efeito contrário. Ela voltou a chorar e a abraça-lo, e parecia sentir tanta dor que ele Nico quis abraça-la de volta.

Música era ruim. Só trazia sofrimento.

— Por que você não faz música na Olympus? Sua voz é simplesmente perfeita.

— É uma história de antes de você vir morar com a gente, Hazz.

— Tem a ver com a morte da sua mãe, então?

            Nico sorriu.

            — Vai querer ficar no meu quarto? Preciso revisar o roteiro que a Anna me mandou, então...

Hazel assentiu e levantou-se para sair do quarto. Ela parecia triste, mas não era por si mesma. Ela se preocupava mais com Nico do que com a sua própria loucura.

Ele conseguia ser uma criança bem solitária, não?

 


Eram quase onze horas. Hades havia saído para um plantão de jejum e oração na igreja. Nico estava em seu quarto, Hazel deitada ao seu lado, e os dois assistiam a Shingeki no Kyojin.

Hazel tinha insistido até conseguir voltar para o quarto do irmão com um balde de pipoca e uma garrafa de refrigerante. “Papai saiu” dissera ela “a sala fica vazia”.

Os dois concordaram que shippavam muito Ereri e que precisavam assistir à segunda temporada juntos.

Nico agora conversava no celular, por mensagem, com Catharina. Ele estava um pouco melancólico. Ela estava chateada com Will.

Cath: ele tá estranho

Nico: talvez o tempo de vocês só tenha acabado

Cath: pode ser

Cath: não sei se ainda gosto tanto dele quanto no começo

Nico: talvez ele sinta o mesmo. Vocês não deveriam conversar?

Cath: é tão difícil, ele está muito distante

Nico: você sabe que eu não sou bom com gente, não sabe?

Nico: assim, eu chegaria nele "escuta aqui amor, o problema nessa porra n sou eu n, é tu"

Nico: e dai você podia jogar o cabelo na cara dele e sair desfilando como a rainha que você é

Cath: na verdade, essa ideia nem é ruim???

Cath: se a situação pedir, vou fazer exatamente isso

Nico: FAZ NABO

Nico: não*

Nico: NABO FJSKFKSKDLDL

Nico: é sério, melhor não. Vocês precisam se entender, não brigar

Assim que terminou de escrever, uma notificação nova chegou.

Will Solace enviou uma mensagem

Nico franziu o cenho e lembrou a cena de depois do almoço, quando Will se enviara uma mensagem pelo seu celular. Ele nem havia parado para ler o que era.

Nico: você é o cara mais gostoso da terra ♡

Will: obrigado cara, significa muito pra mim :)

Will: eu sou o seu tipo, então?

— Ah, filho duma puta — Nico praguejou baixinho.

— Como é, Nico? — Hazel perguntou e se virou para ele. — Você tá ignorando completamente o nosso anime favorito???

Parecia que ele não estava ouvindo.

— Um cara do colégio se enviou uma mensagem pelo meu celular e tá fingindo que fui eu que disse isso.

— Ah, filho duma puta.

— Pois é.

Nico se distraiu conversando com a praga do Will Solace, e mal percebeu, pelos próximos minutos, a menina o encarando enquanto mordia o lábio para não rir.

— Ele é bonito? — ela acabou soltando.

— O quê? Não! Quer dizer, é, mas eu não acho que isso seja relevante.

Hazel sorriu ainda mais.

— Você está afim dele?

— Claro que não ele e a Cath namoram ele é hétero odeio héteros eu sou muito gay não sou uma garota e ele namora a minha fucking melhor amiga. Mas por que pergunta isso?

Nico estava vermelho.

— Porque você está sorrindo e corando esse tempo todo.

Nico levantou da cama, parecendo nem ter escutado o que a menina disse.

— Will vai me ligar, já volto.

— Você vai mesmo ignorar Shingeki no Kyojin?

Ele deu um meio sorriso lindo.

— Perdão.

Nico saiu, se sentindo suavemente culpado, e caminhou até o fim do corredor, onde tinha uma Janela.

Atendeu:

— O que é tão importante assim que você não quer me falar por mensagem, Will?

— Você já está desesperado? Meu pai disse que sim.

A voz dele era melódica do outro lado da linha. A entonação dela fez com que a noite não parecesse tão sombria quanto era naquela mansão. Os fantasmas, mais uma vez, estavam calados e nenhum toque frio pairava sobre seu corpo.

— Talvez.

— Posso tentar te mostrar algo incrível?

— Talvez.

— Não vou te deixar em paz até dizer sim.

Nico suspirou. Apesar do termostato, perto da janela estava frio, e ela sequer estava aberta. Ele divagou um pouco pelo outono e por Will Solace, se perdendo e se achando diversas vezes.

— Nico?

— Certo, me mostre algo incrível.

— Amanhã, duas horas da tarde vou te buscar.

Nico sorriu abertamente, algo que ele geralmente só fazia sozinho ou com Hazel.

— Ok.

E avisou que desligaria.



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