História One more chance? - One

Katy teve vontade de jogar o despertador longe quando ele tocou naquela manhã fria de junho. A noite fora longa e o abraço da namorada estava bom demais para que Katy quisesse sair daquela cama, mas não podia chegar atrasada no trabalho. Não no primeiro dia da nova editora.

Katy Hudson era agora uma jornalista em ascensão. Trabalhava em uma importante revista de São Francisco e a capacidade de se conectar com seus entrevistados a tornava ideal para fazer perfis e entrevistas mais complexas.

Mas agora tudo estava por um fio. A revista estava sob nova direção e, com ela, veio uma nova editora. As fofocas de corredor contavam que ela era extremamente detalhista e rígida, principalmente com as mulheres da equipe.

Por isso, esse não era um bom dia para chegar atrasada à redação. Desvencilhou-se dos braços e pernas que a enlaçavam e sentou-se na beirada da cama, admirando a mulher loira que ainda dormia tranquilamente. Já namorava Margot há mais de dois anos, mas de vez em quando ainda se pegava admirando a beleza dela.

Inclinou-se e depositou um beijo rápido na pele alva, bem na curva entre o ombro e o pescoço. Com toda a força de vontade que possuía, se levantou e arrastou os pés até o banheiro. O banho rápido operou sua mágica e Katy já se sentia de novo no mundo dos vivos. Vestiu seu “uniforme” de trabalho – jeans e camiseta – e, como não havia tempo, saiu sem tomar café.

No elevador a caminho da redação encontrou Johnny, seu fotógrafo preferido e um grande amigo. Levantou os óculos escuros para cumprimentá-lo e recebeu um olhar enviesado em retorno.

– Nossa, você está péssima, Kitty!

– Obrigada, Johnny. Você realmente sabe fazer uma garota começar bem o dia.

– Desculpa, mas é que pela sua cara a noitada deve ter sido incrível.

– Você não faz ideia. Eu, um computador, um bule de café e uma pilha de anotações. Foi... selvagem!

– Alguém já disse que você trabalha demais?

– Sim. A Margot. Todos os dias.

– Eu sabia que gostava daquela menina por algum motivo. E ela está certa, Katy. Você precisa relaxar.

– Eu estou relaxada. Mas é que eu tinha uma coisinha chamada prazo de entrega. Não sei se você já foi apresentado...

– Já fui e não somos amigos. Além do mais, prazo é uma coisa inventada por quem não tem que cumpri-los.

– Definitivamente, não dá para conversar sério com você.

Saíram do elevador rindo e conversando e se encaminharam para a editora. O lugar era normalmente barulhento e aquela manhã não era exceção. Ainda na porta foram avisados de que a nova chefe tinha convocado uma reunião com toda a equipe, começando em dez minutos.

Katy agradeceu em silêncio por não ter enrolado nem mais um minutinho na cama. Agarrou o braço de Johnny e foram para a sala de reunião. Boa parte da equipe já se encontrava lá, assim como uma garrafa de café. Pelo menos ela ficaria acordada durante a reunião.

Tomou um gole da bebida quente e se lembrou de Shannon, a amiga da época de colégio. Já não se falavam há alguns meses, desde que a outra se mudou para Washington para trabalhar em uma das mais importantes firmas de advocacia do país. “Eu devia ligar para ela, saber como estão as coisas”, pensou.

Perdida em seus pensamentos, Katy demorou a notar a ruiva que acabava de fechar a porta da sala.

– Bom dia, senhores. Meu nome é Dianna Gray e eu sou a nova editora da Variety. Durante esses últimos dias eu analisei o que vocês fizeram até aqui e acho que o resultado é muito bom, mas pode ser excelente.

Katy tentava se concentrar no que a nova chefe estava falando, mas era difícil com aquele par de olhos azuis. Dianna não era exatamente uma mulher linda, mas algo nela exalava poder e confiança. Uma batida na porta trouxe a morena de volta para a terra. Era Hilary, uma repórter novata que estava atrasada para a reunião. O olhar que Dianna lançou para a garota deixou bem claro que ela não gostava nem um pouco de atrasos.

– Continuando, vamos deixar de falatório e começar a preparar a próxima edição. O que vocês têm até o momento?

Cada um dos presentes na reunião resumiu em que estava trabalhando e o status da tarefa. Dianna parecia gostar do que ouvia e um sorriso radiante começava a se formar em seu rosto. Era a vez de Katy apresentar a sua matéria, encerrando a rodada.

– Ótimo. Manda a matéria para o meu email ainda hoje que eu quero dar uma lida.

– Claro, assim que acabarmos a reunião.

– Então, pessoal, acho que a próxima edição está bem encaminhada, mas ainda precisamos de alguma matéria de peso, algo que segure uma capa. Sugestões?

– Rihanna está na cidade. Acho que um perfil com ela seria bem interessante. – A sugestão foi de Hilary, que normalmente cobria as pautas de moda, mas precisava se redimir do atraso daquela manhã.

– Excelente ideia. Katy, como você já terminou a matéria sobre o deputado, você fica com essa, ok?

– C-c-claro. Sem problemas!

Johnny olhou para a amiga sem entender porque ela gaguejou e ficou vermelha à simples menção do nome da cantora. Segurou Katy pelo pulso e esperou que todos saíssem da sala antes de começar o interrogatório.

– O que foi isso, mocinha?

– Isso o quê, Johnny?

– Isso. Você gaguejando, corada, sem graça só porque a chefe mandou que você entrevistasse a Rihanna. Não conheço essa versão de Katheryn Hudson!

– Acho que alguém anda assistindo muita TV...

– Não adianta querer bancar a espertinha comigo. Eu te conheço bem demais para saber quando alguma coisa mexe com você. E o nome dessa cantora fez um estrago.

– Tá bom, tá bom, Johnny. Você está certo. Ouvir falar na Rihanna mexeu comigo. Satisfeito?

– Claro que não! Disso eu já tinha certeza. O que eu realmente quero saber é: por quê?

– Depois a gente conversa sobre isso. Você ouviu a chefe, eu preciso enviar uma matéria para ela.

– Promete que não vai fugir do assunto?

– Prometo.