História One More Chance - Combinado.

Point of view América Singer

- Ótimo ensaio, meninas! Hora de irmos, peguem suas coisinhas e...

Elas saíram da posição e vieram correndo me abraçar como sempre fazem quando eu as líbero. Aquele era o ápice dos meus dias, receber o carinho das minhas pequenas alunas era mais do que o suficiente. E era por causa de todo aquele carinho que eu ainda não tinha pedido demissão daquela merda de academia onde eu trabalhava. 

Quando eu estava com as meninas, eu sentia todo o amor maternal que eu perdi a oportunidade de sentir.

- Cuidado com as coleguinhas! - disse sufocada eentre braços.

Elas me soltaram e foram vestir as saias e pegar as mochilas. Brice continuou ali parada olhando para mim. Esperei que ela falasse alguma coisa e então ela abriu um lindo sorriso.

- Tia Ami, eu fiz pra você - ela esticou um envelope cor de rosa pra mim - Abre quando você tive na sua casa. 

- Ah, obrigada! - me abauxei pegando o envelope e dando um abraço nela.

De todas as minhas alunas a que eu mais tinha carinho era por ela, Brice Schreave. Não que eu não tratasse as outras muito bem também, afinal amo todas elas, mas a Brice além de ser quem é, me faz sentir uma certa simpatia por ela e por seu jeito sapeca, me lembra tanto da minha infância...

As meninas fizeram uma fila e já com suas mochilas nas costas eu as levei para o lado de fora da academia, onde elas se sentaram nos bancos para esperar os seus pais. 

Em vinte e cinco minutos a maioria já tinha ido. Restavam apenas três. Mais cinco minutos e então duas tinham ido. E então sobrou uma: Brice. Ela olhava de um lado e depois do outro, mas nada do motorista ou da babá dela aparecerem.

Olhei para o meu relógio fininho no pulso, eu precisaria correr se não quisesse chegar atrasada no salão.

Me sentei ao lado dela que estava desanimada vendo sua última coleguinha ir embora. Vi naquela garotinha de cinco anos o meu passado. Era tudo muito igual. 

Eu sentada, após a aula de balé, esperando que alguém fosse me buscar, sempre a última a ser pega, a esquecida. 

- Posso deitar no seu colo? Acho que vai demorar... - perguntou com sua voz fininha.

- Claro. 

Ela deitou com a cabeça no meu colo e eu respirei fundo. Brice tinha grandes olhos azuis, cercados por longos cílios e seu cabelo levemente cacheado era da cor de chocolate. Ela era simplesmente linda.

Os minutos passaram e nada.

Hoje eu tinha duas maquiagens para fazer, tinha que chegar logo no salão e eu ia andando para o outro lado da cidade. Merda. 

Gente ia e vinha, entrava e saia, mas nada do motorista ou da babá da Brice aparecerem para pegá-la. 

Vinte e sete minutos. 

Brice já estava dormindo no meu colo e eu estava pensando em todos os xingamentos possíveis do mundo, não só porque eu estava atrasada mas também porque eu sabia muito bem o que era ser esquecida e odiava vê-la passar por isso 

- Ah meu Deus, desculpa eu perdi a hora! 

Olhei para a frente e vi o cara loiro musculoso da noite passada.

Quando ele percebeu quem eu era, ficou pasmo por uns instantes e então abriu um sorriso charmoso, me olhando todinha. 

Ele se aproximou. 

- Vim buscar minha bebê, eu tinha esquecido porque o dia foi corrido mas ai me lembrei e vim correndo. A autorização está na bolsa dela - ele seguiu para pegar Brice nos meus braços - Oi, princesa... - Ele disse todo bobo quando ela começou a se mexer e então abriu um sorriso enorme.

Me levantei. 

Não sei se eu estava com mais raiva por ele ter esquecido a filha ou por ele ter uma filha.

- Qual é o seu problema, seu ... seu moço? - perguntei furiosa com ele.

- Uau, eu nem disse boa tarde.

- Você não tem pena da sua filha? Estamos te esperando a quase uma hora e meia e eu tenho meus comprimissos e eu tenho que ir à pé...

- Pera, pera. Vamos com calma, ruiva - Ele abriu aquele sorriso - Brice é a minha irmã mais nova, nada de filha. E fica tranquila, eu te levo no meu carro - Ele deu uma piscadinha. 

Respirei fundo fitando ele.

- Acho bom mesmo - falei apertando minha bolsa no ombro. 

Ele me olhou de cima a baixo e fez uma cara de nossa. Eu estava sem meia-calça, minhas pernas brancas estavam de fora, muito bem malhadas graças aos meu infinitos anos como bailarina. 

Estava vestida com meu coton preto de manga e com minha saia de amarrar também preta. Tentei esconder o meu decote com o meu cabelo laranjado e não deu muito certo. 

Segui ele até uma camionete grande e preta, o brilho dela incomodava a olho nu, parecia ter acabado de sair da loja. Era realmente fabulosa.

Ele passou na minha frente e tentou abrir a porta pra mim com a menina no colo.

- Deixa que eu abro, ruiva. 

- Eu tenho mão - Ele riu - E não me faça te xingar na frente de uma criança. 

- Xingar? - perguntou Brice enquanto ele a colocava na cadeirinha. 

- É uma coisa que só pessoas feias e mal educadas fazem. Você é feia e mal educada, Bri?

- Não!

- Então não xingue - Ele deu um beijinho no nariz dela. 

Maxon deu a volta e entrou do lado do motorista. 

- Para onde vamos? 

Peguei o GPS e coloquei o endereço do salão.

- Nossa - Ele falou como se estivesse ofendido - Você poderia ter se comunicado comigo tipo: Eu vou pro salão que tem em frente ao seu condomínio.

- Claro, eu com certeza sabia onde você morava. 

- Mas você poderia...

- Que tal colocar uma música e calar a boca? 

Sugeri.

- Mal educada.

- Babaca.

- Ignorante.

- Irresponsável. 

- Max... - Brice chamou - Ela é a sua namorada? 

- Não. 

- Ainda não, Bri. Ela já pediu um monte de vezes mas eu disse que não. Sabe como é né? Não gosto de ruivas. 

E então ele me olhou e deu um sorriso. 

Suspirei, quase perdendo o controle e batendo nele. 

- Sorte a minha - comentei. 

Ele ficou conversando com a irmã de um jeito muito fofo. Eu meio que sobrei ali durante o trajeto. Mas agradeci por ele não ter ficado no meu pé.

Me lembrei dos meus irmãos. Metade deles me odiava, mesmo eu não tendo culpa e a outra metada eu não conseguia engolir. 

Ou seja, senti inveja de Brice por ela ter alguém como Maxon de irmão porque pelo menos com ela ele não era um completo babaca. 

- Chegamos! À que horas eu te pego? - perguntou animado. 

- Como é? 

- À. Que. Horas. Eu. Te. Pego. Para. A. Gente. Sair. E...

- Hora nenhuma. Da licença que eu preciso ir  - bati a porta do carro.

- Cuidado! - ele avisou - Muito cuidado com a Lindsey!

- Deixa eu adivinhar: é o amor da sua vida? - revirei os olhos.

- O amor da minha vida vai ser uma mulher com o meu sobrenome.

Me senti tocada e até dei um sorrisinho.

- Você é totalmente ridículo.

- Okay, já que você não escolheu uma eu escolho... hummmm.... Te pego aqui ás seis e meia, daqui à duas horas.

- Onde nós vamos!? - Perguntou Brice animada abrindo o vidro de trás. 

- Você vai escolher pra gente, Bri - Ele disse e então deu um piscadinha antes de arrancar com o carro e sair até a entrada do condomínio que ficava do outro lado das pistas. 

Fiquei parada ali ainda processando o que havia acontecido. 

Senti vontade de gritar e de xingar, mas eu nem estava tão furiosa assim. 

- América? - olhei para trás e vi Bariel - Temos duas clientes esperando...

- Sim, já vou. Desculpe a demora é que...

- Tudo bem. Está perdoada. 

Entrei no salão que não estava cheio. Espalhei as maquiagens pelo balcão onde ficava a minha parte e chamei a primeira, Elise. 

Ela se sentou na cadeira e então eu comecei a fazer a maquiagem de acordo com a foto que ela achara na internet. 

- Eu vi quem veio te deixar ai - Disse Celeste se aproximando de mim  - Eu já disse que você fica linda vestida de professora de balé? Ele com certeza ficou ainda mais doidinho pra ficar com você. 

- Vai se foder. 

Ela saiu rindo. 

Em vinte e cinco minutos certinhos eu terminei a maquiagem dela. Logo depois veio a próxima e depois de meia hora já estava se namorando no espelho, apaixonada pela maquiagem. 

- Eu com certeza vou te indicar para todas as minhas amigas! Amei!

Dei de ombros sorrindo. 

Fiquei mais um tempinho sentada, com a esperança de que mais alguém aparecesse mas nada de gente querendo fazer reboco. 

- Mais alguém pra hoje, Bariel? 

- Não, não. Você já pode ir - Ela disse enquanto cortava o cabelo de alguém - Foram duas hoje, certo? Pegue os 60 dólares com a Liza no caixa. 

- Okay 

Liza me entregou os 60 dólares, enrolei no sutiã e fui até Celeste que estava fazendo uma trança fenomenal em um cabelo bulosamente preto. 

- Ja vou - disse - A gente se vê em casa. 

- Tem certeza de que não quer esperar? Tenho so mais três clientes.

- Absoluta. A gente mora à duas quadras daqui. 

- Vaca.

Arrumei minhas coisas e sai do salão. Fui caminhando lentamente pelas calçadas. Parei no mercado e comprei algumas coisas para fazer comida pra gente e depois fui para casa. 

Guardei as coisas na cozinha e fui tomar um banho. Lavei meu cabelo e deixei ele secar naturalmente, vesti uma camiseta grande do ex-namorado da Celeste que ela detestava e por isso me deixou ficar com a blusa e calcei a pantufa de gato que eu ganhei em um jogo de bingo a umas quatro semana atrás. 

Comecei a colocar as coisas no lugar e depois fui para a cozinha. O relógio estava marcando 18:36 e eu dei um leve sorriso ao lembrar do convite inusitado daquele babaca. 

Será mesmo que ele acha que tem esse poder todo sobre mim? 

Toc toc. 

Ouvi batidas na porta. 

- Esqueceu a chave? - gritei indo abrir para Celeste e então tive uma surpresa. 

Maxon estava parado com um sorriso no rosto, do seu lado estava Brice toda feliz. 

Na mesma hora meu sorriso desmanchou e eu guardei no fundo da minha mente todos os xingamentos que eu poderia usar naquele momento para ofender aquele completo idiota.