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História One Night - Capítulo VIII


Escrita por: Vee_Sky

Notas do Autor


Eu imaginei essa história com apenas cinco capítulos.Era a minha intenção fazer uma história pequenina,para me dar aquele impulso,aquele help,para que eu conseguisse escrever as minhas próximas histórias.E deu certo kkk
One Night deu exatos 8 capítulos,quase 92.000 palavras(de acordo com o word),e foi o estopim para desacelerar minha mente criativa e me focar em uma história de cada vez.Eu tô muito feliz por estar postando o último capítulo(mesmo sendo péssima criando finais,acho que me dei bem nesse,fiz direitinho haha).Mesmo sem ter muita gente lendo e poucas visualizações,eu continuomuito feliz,porque agora vai,depois de anos tentando, vou conseguir bolar as minhas histórias direito.
Obrigada!
Tenham uma boa leitura e até qualquer história!!!!

Capítulo 8 - Capítulo VIII


Era boa.

Aquela sensação era boa.Havia finalmente, meio que se encontrado. Pela primeira vez sentia-se o Mike.

Mike que acreditava em alguma coisa,o Mike que sabia amar,que sabia viver e que era útil.

Estava realmente vivendo a sua vida.Aquela vida era sua,ele mandava nela,ele tinha o controle sobre ela.Sabia o que sentia,sabia o que faria.Sabia quem era de verdade.

 

- Toma - desviou o olhar de Esqueceram de mim 2 para Megg que sentava ao seu lado no sofá com duas xícaras de café em mãos - Não me canso desse filme - comentou encostando no estofado e pondo as pernas sobre as suas.

 

Mike tentava prestar atenção no filme,que por sinal já havia visto dezenas de vezes,mas sua cabeça estava em outro lugar.Era dia 23,véspera da véspera de Natal,e sua cabeça pulsava com esta última preocupação que lhe atormentava.

 

Ouviu as risadas de Megg e saiu de seus devaneios pondo a xícara sobre a mesinha de centro.

- Essa parte é muito engraçada - continuou tomando um gole do café.

 

O rapaz umedeceu os lábios,sabendo que deveria falar com ela sobre Cambridge.

- Megg...- a chamou percebendo seus risos cessarem ao encarar sua expressão.

 

- O que foi? - juntou as sobrancelhas tomando mais um pouco do seu café.

 

Seus olhos vagaram pelo coque despenteado de Megg, seus olhos verdes e brilhantes,e pela sua blusa que cobria seu corpo. Ela estava sendo seu porto seguro durante essas semanas.
Todos as suas dúvidas era ela que lhe ajudava e era ela que solucionava os seus problemas,e agora ele estava ali, mais uma vez precisando da sua ajuda.

 

- Aonde você vai passar o Natal? - perguntou por curiosidade.

 

- Eu? - retrucou desfazendo a ruga entre suas sobrancelhas - Eu vou passar com você - completou pausadamente.

 

- Comigo? - repetiu.

 

- Uhum, com você - confirmou se aproximando.

 

- Seus pais sabem?

 

- Sabem - afirmou pondo a xícara sobre a mesinha - E o meu pai só que te conhecer, porque você...- passou os dedos pelos seus cabelos sem conter o sorriso - Foi capaz de pela primeira vez,me fazer desistir de ir para Irlanda - completou rindo.

 

- Irlanda - repetiu.

 

- Meus tios moram lá,todo Natal passamos com eles - explicou.

 

- Entendi - afirmou rindo fraco.

 

- Mas por que? - bagunçou seus cabelos, contendo um sorriso.

 

- Nada...- desviou o olhar para o filme que continuava a passar na TV, se sentindo um verdadeiro estúpido - A verdade é que eu não te contei uma coisa - disse - É só que...- pegou a xícara de cima da mesinha tomando um gole do café.

 

Suspirou voltando a lhe encarar.

- A minha mãe ligou para mim, pedindo que eu fosse a Cambridge nesse Natal - contou de uma vez.

 

- Cambridge - repetiu - Qual é o problema? - quis saber ao perceber a confusão no seu olhar.

 

-  O problema...- riu fraco criando coragem para conversar sobre aquilo mais uma vez - É o Sr.Handler - a encarou - Eu e ele não... - negou com a cabeça vendo todas as memórias voltarem a sua mente depois de tantos anos - Na verdade,eu não era muito responsável no colegial - riu - E isso fez com que o meu relacionamento com ele se tornasse insuportável...- murmurou a última parte,percebendo o quanto todas aquelas brigas foram sem sentido.

 

- Sr.Handler seria...

 

- Meu pai - afirmou completando seu raciocínio - Depois que eu sai do colégio,eu fui embora de Cambridge por não aguentar mais aquilo e vim para Londres - terminou de contar.

 

- E nunca mais voltou - Megg disse baixinho compreendendo toda a história.

 

- É - concordou com a cabeça, tomando um pouco do café.

 

- Eu vou com você - a morena anunciou de imediato.

 

Mike sustentou a xícara em sua mão, observando a menina.

- O que!? - retrucou baixinho.

 

- A sua mãe não quer ter ver? - questionou - Então...- respondeu a si própria o encarando - Ela irá te ver - concluiu com um sorriso.

 

- Megg...

 

- A gente pode estar juntos por pouco tempo, mas eu te conheço Mike - confessou - Da pra perceber pelos seus olhos, pelo jeito como você mexe as sobrancelhas quando está preocupado ou triste...- riu - E como você fala - completou - Por mais que você sorria ao meu lado e no lado do pessoal,da pra ver Mike,você não está aqui em Londres,você está em Cambridge - disse o que ela já reparava a algum tempo.

 

- Eu não quero que esse Natal se torne um desastre como todos os outros

 

- Não vai - falou convicta.

 

- Não? - pôs o copo de volta na mesinha a olhando.

 

- Não - afirmou com os lábios próximos aos seus - Porque eu estarei lá com você - passou a mão pelo seu ombro, descendo pelo seu braço até chegar a sua mão, onde entrelaçou seus dedos.

 

- Eu não quero tornar o seu Natal horrível - admitiu se sentindo culpado por acabar envolvendo-a naquela sua confusão familiar.

 

- Não será - confirmou - Eu não deixarei - aproximou seus lábios dos dele,querendo encerrar aquele assunto e se concentrar em outros,bem mais importantes.

 

Mike quis dizer que ela era incrível e que só por ela havia conseguido fazer todas aquelas loucuras. Que ela era o seu porto seguro e a coragem que já havia lhe deixado à muito tempo,mas não fez isso,pelo contrário fez algo muito melhor do falar,ele fez.

Passou a mãos pelas suas costas, até a borda da camisa que ela usara.Levantou o tecido lentamente até ele ser jogado ao chão, junto com a sua.

Seus lábios se afastaram e beijos foram sendo deixados pelo seu queixo, seu pescoço, seus ombros.Arrepios, respiração ofegante, coração acelerado,aquelas eram apenas algumas das dezenas de sensações que passavam pelo corpo de ambos sempre que estavam tão próximos daquela maneira.

 

Mesmo com o peito a mil e com as mãos um tanto trêmulas,Mike interrompeu aquelas carícias e se permitiu observar Megg.Mesmo depois de semanas continuava a se perguntar como aquilo era possível.

 

- Você é a melhor coisa que já me aconteceu - confessou tirando uma mecha do seu cabelo do olho.

 

- Eu te amo - a morena admitiu mais uma vez, sem conseguir desfazer o sorriso de seus lábios.

 

Mike juntou seus corpos, passando a mãos pelas suas costas,sentindo o calor da pele dela o envolver.Mesmo sem saber jogar,aquele havia sido o seu xeque-mate  depois de tantos erros.

19:30 pm

O dia havia passado mais rápido do que qualquer outro.Provavelmente por conta da ansiedade imensa que Mike sentia.
Foram horas tentando comprar as passagens de trem para Cambridge e só conseguira para o dia seguinte às dez horas da manhã.

 

No meio da tarde,Derek e companhia resolveram dar uma passada em Westbourne Park,e todos riram,conversaram e beberam no The Metropolitan.Por mais que o rapaz estivesse completamente pilhado só em imaginar como seria no dia seguinte, tentou de todas as formas curtir aquele momento, afinal só os veriam depois da virada de fim de ano,então permitiu se divertir e beber,até mesmo para enfrentar o que viria algumas horinhas depois.

 

Depois daquela tarde divertida, Mike finalmente conheceu seus sogros.Peter e Marta, pais de Megg,pegariam um vôo de quase seis horas até à Irlanda do Norte,e é lógico que eles,principalmente o Sr.Johnson,não perderiam a oportunidade de conhecer Mike.

 

- Então rapaz,quais são as suas intenções com a minha filha? - perguntou conforme passavam pelas portas do aeroporto.

 

- Minhas intenções? - repetiu olhando para trás e observando Megg conversar com sua mãe alguns metros atrás deles.

 

- Sim - parou o encarando - Você sabia que eu e a Marta nos casamos após dois meses juntos? - contou - E eu continuou apaixonado por ela depois de quarenta anos - observou a esposa, que sorria de algo que a filha contava.

 

O rapaz olhou na mesma direção,reparando na morena de sorriso largo.

Intenções.

A única coisa que Mike queria, era tê-la ao seu lado hoje, amanhã e todos os dias. Mas em nenhum momento parou para pensar em casamento, na verdade nunca havia passado em sua mente, em nenhum momento da sua vida, imaginou-se casado.

 

- Então...- desviou o olhar para Peter que o observava.

 

- Do que falavam? - Sra.Johnson se apoiou no ombro do marido,olhando dele para Mike.

 

- Nada demais - o senhor respondeu selando seus lábios rapidamente.

 

Mike sentiu a quentura em sua mão, olhando do seus dedos entrelaçados nos de Megg,que se empoleirava em seu ombro. Desviou seus olhos deles para os pais dela.Megg era a junção perfeita dos dois.Os lindos olhos esverdeados haviam sido herança dePeter,e os belos cabelos castanhos eram de Marta,que os mantinham soltos até um pouco abaixo dos ombros,assim como o sorriso que era metade do pai e metade da mãe.

 

- Nós vamos fazer o check in e despachar as malas - disse indicando as bagagens sobre os carrinhos.

 

- A gente vai dar uma volta- Megg disse e cada um foi para um lado.

 

O aeroporto da Cidade de Londres era amplo,bem iluminado e se encontrava bastante movimentado.Megg e Mike caminharam pelo saguão até uma pequena lanchonete próxima ao terminal de embarque.

- Viajar é tão bom - Megg comentou observando os aviões parados,através dos vidros.

 

- É - o rapaz murmurou ao seu lado,lembrando-se da única vez que viajara. Havia sido para Califórnia,tinha sete anos e ele,e seus pais haviam ido visitar uma tia que com certeza hoje em dia,nem o reconheceria mais.

 

Entraram na fila e se mantiveram em silêncio durante todos os minutos que permaneceram ali parados, até o momento em que sentaram em dois banquinhos, esperando pelos pedidos.

 

Megg umedeceu os lábios,reparando em Mike que observava todo o vai e vem de pessoas e bagagens.

- E então? - perguntou baixinho,ansiosa para saber o que seu pai conversava com ele.

 

- O que? - a encarou um pouco perdido.

 

- Meu pai te ameaçou? - brincou sorridente.

 

- Não - retrucou de imediato, se arrependendo por ter dado bandeira.


Peter não havia lhe ameaçado,pelo contrário ele havia colocado um grande incômodo no meio do seu cérebro,chamado casamento.Olhando para Megg ali na sua frente,passou pela sua cabeça, no que ela pensaria sobre aquilo,afinal diferente dele,Megg era uma menina romântica e com pais que estão casados a tanto tempo,provavelmente ela teria algum sonho de relacionamento.

 

- Tem certeza? - insistiu.

 

- Tenho - riu fraco tentando se livrar daquela tensão.

 

- Então tá - disse por fim tentando procurar pelos pais no meio de tantas pessoas.

 

O moreno apoiou os cotovelos na mesinha e passou a mão pelo rosto antes de admitir a ela o principal assunto entre ele e o SrJohnson

 - Ele me contou sobre ter se casado com sua mãe após dois meses de namoro - falou pausadamente.

 

Megg desviou os olhos do saguão, o encarando.

- Sério!? - exclamou baixinho um tanto surpresa - Aí meu Deus...

 

- Você queria isso? - perguntou de uma vez o que pensava.

 

- Eu? - retrucou - O que?

 

- É...- Mike abriu e fechou a boca sem coragem para dizer a palavra.

Amava Megg, mas não estava pronto para ser casar e não sabia o que fazer se ela confirmasse aquilo.

 

- Me casar? - continuou e foi impossível não começar a rir.

 

O rapaz a encarou franzindo o cenho, sem saber se aquilo seria bom ou ruim.

- Não - respondeu negando com a cabeça - Meus país eram loucos e se conheceram numa festa de uma amiga da minha mãe ou algo assim - revirou os olhos - Se apaixonaram e num piscar de olhos lá estavam eles subindo ao altar para se separarem por seis meses - contou reparando rapidamente no rapaz que colocava os copos de suco sobre a mesa - Não é o que eu quero - afirmou fitando seus olhos cinzentos - Eu quero conhecer,amar, amar e amar - riu - Aí talvez...- aproximou sua mão da dele - Se os dois toparem,quem sabe não ocorra um casamento daqui à um tempo - lhe deu uma piscadela contendo um sorriso no canto dos lábios.

 

- Então...- começou entrelaçando seus dedos - Você só quer amar - alegou.

 

- Uhum - afirmou com a cabeça - Só você - concluiu e os dois começaram a rir automaticamente.

 

- Estamos atrapalhando algo? - os dois se afastaram desviando o olhar para Marta e Peter que os observavam.

 

- Não - Megg afirmou tomando um gole do seu suco de laranja.

 

- Então tá bom - Marta sorriu olhando do marido para o casal - Vou pedir um café antes de embarcar - anunciou - Você vai querer alguma coisa? - perguntou para Peter que apenas negou com cabeça - Tudo bem,já volto - disse passando por eles e seguindo para o balcão.

 

- Vocês demoraram - a morena comentou tentando não deixar seu pai chegar em qualquer outro assunto.

 

- A fila do check in estava imensa - respondeu sentando na cadeira vazia - Nosso vôo sai daqui a meia hora - disse observando Mike - Então, do que falavam?

 

Megg e Mike se entreolharam,o encarando.

- Da viagem de amanhã - mentiu entrando em outro assunto.

 

- Por mim você passaria o Natal conosco,na casa dos seus tios - alegou - Mas como você já é dona de si e o Mike...- apoiou a mão no ombro do rapaz o observando - Parece ser um bom rapaz, não há nada que eu possa fazer para lhe impedir - completou tirando a mão do rapaz e observando a filha - Poderia nos encontrar na Irlanda para o ano novo - sugeriu.

 

- Papai - revirou os olhos - O Natal não será tão ruim sem mim,na verdade poderá ser para os meus primos que não terão ninguém para perturbar - comentou - E eu finalmente vou conhecer Cambridge - completou baixinho olhando de Peter para o namorado e de volta para o pai - Nos vemos daqui à algumas semanas - afirmou.

 

Peter abriu um sorriso percebendo o quanto a sua menininha havia crescido.

- Ok - concordou.

 

- Desisto - os três desviaram o olhar para Marta que ajeitava o cachecol de lã, se apoiando na mesa.

 

- O que foi mãe?

 

- É bem capaz do meu vôo partir e eu não ter conseguido tomar uma xícara de café, a fila está imensa - respondeu.

 

- É véspera da véspera de Natal,querida - Peter retrucou.

 

- Eu sei - afirmou - Mas queria apenas uma xícara de café, já que não consigo, deixo para tomar no avião mesmo - continuou decepcionada.

 

Mike terminou de tomar o seu suco,conforme os minutos foram passando.O clima tenso logo se tornou mais leve.Os assuntos foram dos tipos de comida favorita até o time de futebol para qual torcia,e encerrou-se no assunto que ele menos gostaria de entrar.

- Então Mike, como são seus pais?

 

Mike olhou de Megg para Marta sentada na cadeira à sua frente. Os quatro haviam saído da cafeteria e encontrado lugares na área de embarque.

- Eles são legais - riu fraco tentando esconder seu nervosismo.

 

- Você visita eles com frequência? - o rapaz engoliu em seco, não querendo mentir para o pai da sua namorada, mas ao mesmo tempo não querendo dizer a ele todas aquela confusão entre ele e seus pais.

 

- Na verdade...- começou, mas acabou sendo interrompido pela voz eletrônica que anunciava a partida do vôo direto para à Irlanda do Norte.

 

- Parece que teremos que ter essa conversa em um outro momento - o senhor se levantou com um sorriso.

 

- É - concordou com um sorriso nervoso cumprimentando o sogro.

 

- Sentirei sua falta querida - Marta admitiu baixinho próximo ao ouvido de Megg.

 

- Eu também mãe - concordou se afastando.

 

- Tchau Mike - a senhora se despediu do rapaz conforme Peter abraçava a filha.

 

- Cuide bem dela rapaz - apoiou a mão em Mike, o encarando.

 

- Com certeza eu vou cuidar - observou a namorada de soslaio.

 

- Ligo para você quando chegarmos lá - Megg concordou com a cabeça, acenando conforme os pais seguiam para o portão de embarque.

 

 - Parece que agora somos só nós - disse desviando o olhar para Mike, que ainda observava o casal passar pelo portão - Ei - chamou fitando seus olhos cinzentos - Foi tão ruim assim?

 

- Seus pais são legais - afirmou.

 

- Até mesmo o meu pai? - insistiu.

 

- É...- balançou a cabeça meio incerto.

 

- Depois de um tempo ele fica legal - disse passando a mão pela sua cintura enquanto andava em direção à saída do aeroporto.

 

- Quando tempo? - brincou.

 

- Uns dois meses sabe - retrucou rindo.

 

- Ou...

 

- Dormi comigo lá em casa hoje - parou no meio do caminho o encarando - A casa estará vazia,só para a gente - continuou tentando convencê-lo a aceitar sua proposta.

 

Mike a observou ali,com braços ao redor do seu corpo e seu rosto próximo ao seu,parecia um sonho.

- Posso pensar? - perguntou baixinho.

 

Megg juntou os lábios,negando com a cabeça.

- Não?

 

- Não tem tempo para pensar - afirmou.

 

O moreno passou a mão pelos seus cabelos,a envolvendo com seus braços.

- Então eu acho que deixarei minha casa,sozinha - brincou.

 

- Mas em compensação - tocou a ponta do seu nariz - Você dormirá comigo - completou baixinho.

 

Mike abriu um sorriso ao ouvir suas palavras e retirou as mãos de suas costas,sustentando seu rosto sobre seus dedos e selando seus lábios.

09:00 am

Queria dizer que havia dormido bem,que havia passado uma noite maravilhosa, afinal havia dormido com a garota que tornara sua vida mais leve. Porém não foi uma noite como todas as outras que tiveram,mas a culpa não era dela e nem da sua casa,o problema era com Mike,pela milionésima vez,ele tornou um momento simples e maravilhoso,complexo e repleto das suas próprias incertezas.

 

Seus olhos vagavam pelo quarto,com as paredes salmão,fixou seu olhar no quadro pendurado na parede,repleto de fotos.

- E então, o que você acha? - desviou o olhar para a garota que segurava um suéter xadrez e um lilás em suas mãos.

 

- São lindos - comentou sem a menor cabeça para lhe dar com aquilo.

 

- Não é isso - retrucou - Qual que eu levo? - perguntou.

 

- Você fica linda com os dois - disse permitindo-se abrir um sorriso.

 

- Engraçadinho - riu fraco guardando os dois dentro da mala aberta em cima da cama.

 

Mike ficou a observando, percebendo que por mais que ela lhe amasse,Megg não merecia se envolver naquela bagunça,ainda mais em uma data tão especial como aquela.

 

- Megg - a chamou fitando o par de íris esverdeadas e deixando de lado tudo o que iria falar - Eu te amo - murmurou vendo a linha do sorriso em seus lábios.

 

- Eu também te amo muito - confessou fechando a mala e a pondo no chão.

 

- Eu não quero que esse Natal seja o pior que você já teve - admitiu.

- Eu já disse Mike - se aproximou - Esse Natal é maravilhoso só por eu passar ele ao seu lado - concluiu lhe dando um rápido selinho - Tenho uma surpresa para você - murmurou se afastando dele e seguindo para o móvel ao lado da cama.

 

Abriu as três gavetas,até achar a caixinha embrulhada em papel colorido. Virou de volta para ele,se aproximando.

- Pra você - estendeu a caixinha sem conseguir conter o sorriso.

 

O rapaz olhou do embrulho para a menina e logo depois para o embrulho novamente. Sentiu-se um estúpido por não ter pensado em comprar algo para ela.Estava tão focado no pedido da sua mãe, que realmente esqueceu uma das coisas que ocorriam no Natal.

 

- Nem faz essa cara,não precisa de nada,agora toma que é seu - disse de uma vez,segurando a mão no rapaz  e pondo o presente sobre ela.

 

Mike abriu e fechou a boca umedecendo os lábios, antes de suspirar e finalmente desembrulhar a caixinha.Sentou na cama abrindo a tampinha e se deparando com o chaveiro com um pingente de vinil onde de um lado cada linha era uma cor diferente,e em uma dessas cores o nome WT’s Discos estava impresso.

 

- Gostou? - Megg perguntou empolgada.

 

- Se eu gostei? - retrucou baixinho sem conseguir parar de observar aquele chaveiro - É incrível - afirmou - Você é incrível - deixou o presente de lado e se levantou juntando seus corpos e lhe beijando cheio de desejo.

 

- Ei - se afastou um pouquinho - A gente vai ser atrasar - o lembrou.

 

- A gente tem alguns minutinhos - disse voltando a lhe beijar.

 

- Mike...- o chamou no meio do beijo o encarando.

 

- Desculpa não ter lembrado, eu prometo lhe dar...

 

- Shiu... - o interrompeu - O presente que você vai me dar, é ir até Cambridge e se resolver com seus pais, tudo o que eu preciso, tudo o que eu quero, já está aqui - afirmou baixinho dando um beijo no canto de seus lábios - Não precisa ser preocupar - concluiu - Agora vamos - passou por ele ajeitando suas coisas antes de saírem da sua casa.

(...)

Foi metade do seu guarda roupa. Duas malas e duas mochilas ao todo. Sua bagagem e a de Megg.

Era nove e meia,e os dois tinham apenas trinta minutos para chegarem a estação de King's Cross.A cada rua que passavam, a cada esquina que viravam,a cada sinal que paravam,sua cabeça pulsava, mostrando que ele estava à apenas algumas horas de ficar frente à frente com o Sr.Handler.

 

Observou a Harrow Road, perguntando a si mesmo o que diria quando visse seu pai o encarando, talvez surpreso ou irritado por não saber que ele estaria indo para lá,afinal disse para sua mãe que iria,mas desde de aquele dia,não havia ligado para confirmar nada.

Pôs a mão no bolso do casaco,retirando de lá a chave onde o chaveiro que ganhara,estava preso.Observou aquela chave,percebendo que não poderia simplesmente chegar de mãos vazias.Foram cinco anos longe de casa e finalmente estava voltando com a intenção de fazer as pazes.Lembrou-se rapidamente da última vez que entrou no porão e viu o disco do qual seu pai tanto gostou quebrado, consequência de um acidente.

 

Precisava fazer isso.

 

- Está tudo bem? - Megg perguntou afastando a cabeça de seu ombro.

 

- Está - confirmou - Mas preciso fazer algo antes,moço, tem como o senhor entrar na Berwick? - pediu vendo o motorista do táxi concordar com a cabeça.

 

- Mike,o que você está fazendo?

 

- Eu preciso levar uma coisa para ele - respondeu com as ideias fervilhando.

O táxi logo mudou a sua rota,e em alguns minutos eles já estavam na frente da loja.O rapaz respirou fundo antes de abrir a porta do carro e caminhar até a porta, destravou a maçaneta e entrou.

 

Todas vez que entrava ali,era como se o tempo não tivesse passado,mesmo com toda aquela mudança,as lembranças sempre viriam.

Se aproximou da prateleira,procurando no meio de tantos discos, aquele do qual seu pai sempre gostou. Segurou o objeto em suas mãos, passando os olhos pelo local.Nunca imaginou que algum dia teria um lugar como aquele.

 

Sua vida estava mudando e finalmente era para melhor.Olhou para o disco em mãos,percebendo que o último do seus problemas iriam acabar de uma só vez.

 (...)

Durante todo o caminho até a estação, nenhuma palavra foi dita, e por mais que Megg tentasse entender o que ele iria fazer, preferiu manter-se em silêncio.
Estava feliz demais por Mike, só por vê-lo com aquelas malas,à alguns minutos de pegar um trem de volta para sua cidade natal.

 

- Simple Minds - murmurou baixinho observando o disco sobre as pernas do rapaz.

 

- O Sr.Handler gosta dessa banda, eu acho - passou a não pelos cabelos, olhando para Megg que mantinha a cabeça apoiada em seu ombro.

 

- Oferta de paz? - deduziu.

 

- Pode ser - deu de ombros sorrindo.

 

A morena passou a mão pelo seu rosto, suspirando.

- Tenho certeza de que ele vai gostar - afirmou baixinho, ouvindo logo em seguida a aproximação do trem.

 

Haviam muitas pessoas na plataforma nove, e diferente de todas elas que se despediam de seus familiares e amigos, decididas a entrarem naquele trem, Megg e Mike permaneceram sentados, observando cada uma delas.

As mãos do rapaz suavam e o coração palpitava fora do normal. Estava voltando para casa da mesma estação que lhe deu as boas vindas em Londres.

 

- É estranho - umedeceu os lábios sem certeza do que estava fazendo.

 

- Devia ligar para sua mãe - sugeriu apertando sua mão.

 

O rapaz negou com a cabeça,não querendo criar expectativas na mãe.

- É melhor irmos logo - murmurou levantando do banco e ajeitando a mochila no ombro.

 

- Ei,calma - segurou seu braço fitando seus olhos - Ele é seu pai - afirmou - Não precisa ficar assim - passou a mão pelos seus ombros tentando deixá-lo mais calmo.

 

Mike fechou os olhos respirando fundo.Viu por um instante todas as lembranças boas que guardara do Sr.Handler,e percebeu que ela estava certa,ele era seu pai.

- Tá melhor? - o rapaz abriu os olhos a encarando.

 

- Tô - bufou a observando.Levou uma das suas mãos até seu rosto,acariciando sua bochecha com o polegar - Você é um sonho, sabia? - murmurou.

A morena sorriu envergonhada, aproximando seus rostos, seus narizes, suas mãos se encontraram com os seus cabelos, antes dos seus lábios se aproximarem, suas línguas dançavam enquanto os pêlos do seu corpo se arrepiaram com o toque da mão dele em sua cintura.

 

O trem apitou, chamando a atenção dos dois,interrompendo aquele momento.

- A gente tem que ir - apoiou o queixo em seu pescoço, observando algumas pessoas que continuavam a entrar no veículo.

- Uhum - murmurou depositando vários selinhos próximo a sua orelha.

 

- Ei - se afastou o encarando - Você precisa entregar esse disco para alguém – comentou pegando  a mochila de cima do banco e passando a alça pelo ombro.

 

As mãos deles se entrelaçaram,e ambos caminharam juntos na direção do trem.

***********

Londres sempre seria a cidade que ele se sentiu livre,perdido e onde acabou esbarrando com pessoas incríveis. Seria a sua segunda casa,seria seu refúgio,mas nunca seria igual a Cambridge.Aquela cidade era a sua casa,conhecia cada rua,cada avenida,cada esquina,cada lugar.Foi em Cambridge que passou os seus melhores e piores momentos.

A paisagem mais do que urbana de Londres,foi totalmente substituída pelos parques e prédios universitários de Cambridge.

 

- Nossa - foi a única coisa que conseguiu dizer ao por seus pés na calçada da estação de Cambridge.

 

O tempo poderia ter passado para ele mas não para a cidade.

Voltar para lá era como reviver o passado.

 

- E então, para onde vamos agora? - Megg ajeitou a mochila nos ombro,o encarando conforme suas mãos envolviam a alça da mala junto ao seu corpo.

 

- Agora... - suspirou observando os enfeites de Natal pendurados na maioria dos prédios próximos.

 

Começou a rir e abaixou a cabeça ainda sem acreditar que finalmente estava ali.

- O que foi? - perguntou rindo.

 

- Não acredito ainda que estou aqui - confessou.

 

- Estava com saudades,né...

 

- Não imaginava que fosse tanta - a observou - Para onde você quer ir? - perguntou.

 

- Bom...- deu de ombros - A cidade é sua - retrucou.

 

Mike concordou com a cabeça observando a rua.

- Então vamos andar - respondeu envolvendo seu braço no dela - Assim você conhece um pedacinho da cidade até a minha casa - completou.

 

- Parece ser uma boa ideia - ajeitou a mala e começou a puxá-la pela rua.

 

Seguiram a oeste da rua,cortando caminho pela Hills Rd,caminhando por prédios,lojas,cafeterias, restaurantes,lojas,tudo enfeitado com o típico Papai Noel,com guirlandas e laços vermelhos,e verdes.Pisca piscas iluminavam o interior de diversas lojas.
A cada passo que Mike dava, se via andando por ali à anos atrás, repleto de sonhos que naquele momento nem ele mesmo lembrava mais quais eram.

 

Estava de volta a sua velha cidade,mas ele não era mais o velho Mike. Ele estava diferente e nunca pensou que gostaria tanto de estar daquele jeito.

- Esse lugar é incrível – a morena comentou passando os olhos pela rua repleta de casas de pedras dos dois lados da calçada.

 

O rapaz se perguntou onde estariam todas as pessoas que estudaram com ele, se estariam estudando em uma das várias universidades da cidade,ou se estivessem feito como ele e abandonado Cambridge.

- Eu gosto daqui - admitiu virando na Mill Road,se encontrando a apenas alguns metros da sua rua.

 

- Tenho certeza disso - afirmou avistando uma cafeteria próxima - Já estamos chegando? - o encarou de soslaio.

 

- Mais ou menos - murmurou olhando de um lado para o outro.

Imaginou se por algum acaso acabaria encontrando com sua mãe por ali.

 

- Vou comprar um cappuccino,você espera um minutinho? - parou no meio da calçada o observando.

 

- Tá - respondeu de imediato,observando Megg adentrar o estabelecimento.

Respirou fundo encostando a mala dela na parede e pondo a sua sobre a dela.Observava o fluxo de pessoas,tentando de algum modo não pensar tanto no que lhe esperava logo ali,no início da Kingston Street.

 

- Aí meu Deus - levantou o olhar,se deparando com a menina repleta de bolsas.
Não havia reconhecido ela,afinal os cabelos estavam curtos e negros, os óculos não faziam mais parte dos seus acessórios e o casaco pesado não colaborava muito.

 

- Mike!? - o observou surpresa - Minha nossa - se aproximou lhe abraçando.

 

O rapaz ficou parado completamente sem reação. Não havia realmente reconhecido ela.

- Não vai dizer que esqueceu de mim? - se afastou rindo - Sério!? - revirou os olhos suspirando,e foi com aqueles gestos que ele soube quem estava na sua frente.

 

- Grace...- murmurou reconhecendo a garota que estudou com ele durante todo o ensino médio.

 

- Eu mesma - afirmou - Nossa,quanto tempo - comentou.

 

- É, eu...- passou a mão pelos cabelos suspirando - Fui pra Londres - disse.

 

- Eu fiquei sabendo – disse – Londres é uma bela cidade - comentou.

 

- É sim...- murmurou desviando o olhar para Megg que se aproximava sorrateiramente dos dois.

 

- Grace,essa é a Megg,minha namorada - apresentou as duas que se cumprimentaram com um sorriso.

 

- Muito prazer - Grace afirmou,desviando sua atenção para o rapaz novamente - Foi bom te rever,Mike - afirmou.

 

- Foi bom te rever também, Grace

 

- Eu tenho que ir,mas você poderia passar lá no Rony,ele é dono do bar agora – informou.

 

- Que legal! - exclamou - Eu posso ir lá, claro - gesticulou, aliviado por ver um rosto conhecido depois de anos longe.

 

- Beleza - confirmou - Tchau Megg,e Feliz Natal - se despediu.

 

- Feliz Natal - a morena acenou enquanto Grace lhes dava as costas continuando seu caminho pela Mill Road.

 

- Parece que agora você realmente chegou a Cambridge - murmurou baixo, o observando.

 

- Parece que sim - desviou os olhos de Grace para Megg.

 

- A Grace é bem simpática - comentou tomando um gole do cappuccino.

 

- É sim - afirmou ajeitando o casaco em seu corpo - Nós estudamos juntos no colegial - continuou - Éramos amigos - explicou.

 

- Hum - umedeceu os lábios suspirando - Mas, aonde fica sua casa? – perguntou mudando de assunto.

 

Mike a encarou, percebendo que não tinha mais como fugir daquilo, nem ficar dando voltas pelas aproximações.

- É ali na frente,na Kingston Street - apontou com o queixo na direção oeste da Mill Road - Está na hora enfrentar isso - riu fraco segurando a alça da mala dela na outra mão.

Começou a caminhar na direção da rua,sendo seguido pela morena,que conseguia sentir todo nervosismo que emanava dele.

 

A Kingston Street, era uma rua repleta de casinhas grudadas uma nas outras. Todas tinham o mesmo modelo, dois andares e cores que variavam entre o branco e o marrom.

Megg pegou a mala dele de sua mão, a pondo em seu braço, conforme seus dedos se entrelaçavam. Os olhos de Mike avistaram a casa que naquela estação,não estava decorada pelas flores amarelas que davam na pequena árvore próxima a janela.

 

A casa continuava da mesma forma,apesar das decorações natalinas,estava do mesmo jeitinho.

- É aquela? - a morena perguntou conforme a casa ficava cada vez mais próxima,logo no início da rua.

 

- É - o rapaz afirmou baixinho apertando sua mão.

 

Reconheceu a casa dos seus vizinhos,recebendo um encontro atormentador de lembranças. Todas as vezes que imaginou-se voltando para aquela cidade,para aquele bairro e principalmente para aquela rua,em nenhum momento pensou que seria daquela maneira.

Seu coração batia freneticamente e mesmo com camadas de casacos cobrindo seu corpo,continuava a tremer.Parou de andar ao chegar na frente da casa.Reparou em cada parte.A caçamba de lixo verde do lado de fora,a pequena árvore sem folhas e flores,o piso vermelho da entrada, a porta branca.Nada havia mudado,a estrutura da sua casa continuava a mesma e desejava muito que os moradores dali estivessem os mesmos, porém isso era impossível.

 

Mike não fez uma daquelas viagens de férias que você volta em algumas semanas.Não. Ele fez uma viagem só de ida para outra cidade,e voltar agora,era assustador.

 

Engoliu em seco sentindo a mão de Megg em seu ombro.

- Está tudo bem - afirmou com um sorriso,lhe passando coragem para se afastar dela e ir até a porta.

 

Juntou os lábios respirando fundo e erguendo uma das suas mãos, pronto para bater na porta.Mas parou ao reconhecer as vozes que se elevavam, e abaixou a mão quando a porta foi aberta e ele fixou seus olhos nas íris cinzentas que lhe deram a genética.

 

- Mike! - a voz estridente e emocionada, não fez nenhum dos dois desviar o olhar.

 

Pai e filho continuaram a se encarar. Ambos sem saber o que fazer. Mike apenas queria que aquilo se resolvesse de uma vez e aquele peso que ele carregava durante tanto tempo,fosse embora.

 

- Meu filho! - Sra.Handler exclamou passando pelo marido e se aproximando do rapaz que se mantinha parado na porta - Meu querido... - passou os braços pelo seu pescoço, sem conseguir conter as lágrimas que já rolavam pelos seus olhos.

 

Sr.Handler abaixou a cabeça, sem saber o que fazer.

- Eu tenho que ir - passou por eles,pisando na calçada.

 

- Robert - Sra.Handler o chamou, sem obter muito sucesso.

 

Mike virou de costas,observando o pai se distanciar mais e mais. Pensou em gritar,em ir atrás dele e conversar,mas permaneceu ali,junto com sua mãe.

- Ele já vai voltar - murmurou passando as mãos pelo rosto do filho.

 

O rapaz a observou percebendo que a maioria dos fios castanhos que cobriam sua cabeça haviam ficado brancos, os olhos escuros continuavam vivos e as linhas da idade se mostravam mais fortes.

 

- Eu pensei que você não viria - admitiu - Senti tanto a sua falta - o apertou junto ao seu corpo,querendo ter a certeza de que aquilo era real.

 

- Eu também senti muito a sua falta,mãe - envolveu seu corpo mais baixo e um pouco mais magro,sentindo-se  péssimo por ter demorado tanto para voltar.

 

- Você está tão lindo - elogiou sem conseguir conter o sorriso, conforme sua mão bagunçava seus cabelos.

 

Mike sorriu,olhando para Megg que observava toda aquela cena.

- Mãe,essa é a Megg,minha namorada - apresentou a morena para a senhora que se aproximou envolvendo seus braços ao redor do seu corpo.

 

- Muito prazer conhecê-la - se afastou passou a mão pelos fios dos seus cabelos que ficaram fora da touca - Venham,vamos entrar - pegou a mala do seu braço, acompanhando todos para dentro.

 

A sala e a cozinha mantinham a pouca decoração e as paredes claras.

- Deixem as malas aqui - pôs a bolsa que segurava junto ao sofá, ajeitando as mochilas sobre o estofado.

 

- Vocês estão com fome,querem comer alguma coisa? - perguntou tentando contendo a sua euforia.

 

- Não estou com fome,mas mesmo assim obrigada Sra.Handler - Megg respondeu pondo o copo de cappuccino enquanto se livrava do casaco.

 

- A senhora está no céu...- riu - Pode me chamar de Catarina - afirmou.

 

- Ok - concordou sem graça.

 

- Bom...- suspirou olhando para Mike que observava os retratos ao lado da televisão - Vou acomodar vocês antes do almoço - disse - Mike...

 

O rapaz a encarou,desviando o olhar da foto em sua mão.

- Seu quarto continua do mesmo jeitinho - a mulher informou com um sorriso enorme nos lábios.

 

- Que bom - concordou voltando a olhar para foto onde ele,Robert e Catarina eram os protagonistas.

 

Os três estavam em algum parque que nem ele mesmo lembrava qual era.Na verdade mal se lembrava daquele dia,deveria ter uns quatro anos ou menos.Era incrível como as coisas mudam quando crescemos. Ele era tão inocente e pequeno que não se parecia nada com aquele ele de agora,assim como o jovem casal que o abraçava.

- Vamos subir? - desviou o olhar do retrato para a morena ao seu lado.

 

Megg apontou com a cabeça para Catarina que continuava parada apreciando o rapaz e esperando por uma ação dele.

- Claro - concordou pondo o objeto de volta na estante.

 

Se aproximou do sofá junto com Megg e ambos recolheram suas bolsas, começando a seguir a senhora para a escada.Catarina continuava a dizer que não acreditava que ele estava ali e que estava muito feliz por conhecer sua nora,porém Mike não prestava atenção em nada, sentia-se anestesiado depois de tantos choque de realidade que havia tido.

 

Mike olhou na direção da cozinha,se deparando com a porta que dava para o porão.Interrompeu o seu caminho,chamando a atenção das duas.

- Filho...

 

- Vão subindo - pediu estendendo a mala para Megg.

 

- Mike...

 

- Eu já vou - afirmou olhando dela para a mãe.

 

- Venha Megg, vou ter mostrar umas fotos de quando o Mike era bebê - riu chamando a menina.

 

- Eu era bem fofo - brincou fazendo um sorriso se abriu nos lábios da morena - Vai lá - murmurou.

 

Megg aproximou seus rostos, juntando suas testas.

- Promete pra mim que vai ficar bem? - perguntou baixinho, acariciando seu rosto.

 

O rapaz apoiou suas mãos em seus ombros, levantando seus lábios até sua testa, depositando ali um beijo.

- Eu vou ficar bem - afirmou para ela e para si mesmo.

 

- Tenho certeza de que você era fofo - murmurou lhe dando um selinho - Eu adoraria Sra...- parou voltando para a senhora de pé na escada - Catarina - sorriu.

 

- Venha, venha - lhe estendeu a mão, a ajudando com as malas.

 

Mike suspirou, observando as duas subirem, mas logo seguiu para a porta a alguns metros dele. Ajeitou a mochila nas costas e abriu a porta,se deparando com os degraus que levavam até o porão.

Desceu a escada calmamente,ligando a luz assim que chegou ao cômodo.O local estava repleto de caixas, malas antigas, CDs,DVDs,vinis,livros,revistas,papéis,cadeiras,ferramentas,móveis e principalmente uma vitrola esquecida sobre uma mesa no canto.

 

Riu fraco pondo a mochila no chão e sentando no último degrau da escada.Puxou o zíper da bolsa,retirando o disco dali.Caminhou até a vitrola, tirando o vinil da capa.Levantou a agulha do aparelho,encaixando o disco no local.

Em apenas alguns segundos,aquele espaço, foi preenchido pelas notas da banda favorita do seu pai. Sentou na cadeira próxima a mesa,desejando que ele estivesse ali,ouvindo junto com ele.Olhou para a capa em sua mão, observando as letras e os nomes das músicas no verso, mas logo a sua atenção foi mudada para outra coisa, ou melhor, para a figura parada no pé da escada o encarando.

 

Mike levantou o olhar para Robert que continuava parado, talvez pensando em algo para lhe dizer. Engoliu em seco, pondo a capa de volta no lugar.

- Aonde você achou isso? - foi a primeira coisa que ele perguntou ao reconhecer a música que invadia os seus ouvidos.

 

- Eu...- suspirou - Meio que achei - passou a mão pelos cabelos, dirigindo-se ao seu pai pela primeira vez após anos.

 

Sr. Handler afirmou com a cabeça, se aproximando da vitrola. Pegou a capa, imitando o que o filho fazia a alguns segundos.

- Não se acha Live in the City Light tão fácil - o encarou interrompendo a música.

 

- Verdade - se levantou - Eu ganhei de uma pessoa, junto com uma loja - explicou.

 

O senhor interrompeu a música o encarando.

- O que faz aqui? – perguntou ignorando suas palavras.

 

- É Natal...- deu de ombros - Eu voltei para casa - completou.

 

- Casa... - riu sarcasticamente - Quando você foi embora, não ligou muito para isso - retrucou.

 

- Eu fui embora por sua causa - rebateu.

 

- Bom, você já tinha dezoito anos e fez a sua escolha,ninguém te obrigou a ir embora - Mike respirou fundo, tentando conter sua raiva perante as palavras do homem- Você deu as costas pra sua mãe, sem nem ao menos se preocupar...

 

- Diz isso como se eu fosse o único culpado nessa história - elevou a voz - Se você...- apontou para ele - Não tivesse feito tanta pressão para eu entrar numa faculdade naquela época, talvez eu não tivesse ido embora.

 

Sr. Handler negou com a cabeça, observando o filho dos pés a cabeça.
- Olha pra você.. - murmurou - Continua o mesmo mer...

 

- Você não sabe nada sobre mim - o interrompeu cansado de ouvir aquelas coisas.

 

- Não? - cruzou os braços - Pois para mim você não mudou nada.

 

Mike bufou passando os olhos pelo porão, estava revivendo tudo de novo, mesmo depois de anos, seu pai estava da mesma maneira.

- Por mais que eu tente ter raiva e manter essas lembranças vivas, não são elas que ficam - admitiu o encarando - Eu não sou mais o garoto de dezoito anos que foi embora - afirmou.

 

Robert riu sem acreditar em suas palavras.

- Por que é tão difícil acreditar nisso? - quis saber esgotado de tentar ser outra pessoa só para agradar seu pai.

 

- Porque eu conheço você - respondeu.

 

- Você não me conhece - retrucou calmamente - Posso não ser o filho que você sempre desejou,posso não ter concluído a tão desejada faculdade de direito, mas esse sou eu...- conteve as lágrimas em seus olhos, tentando por tudo o que lhe atormentava para fora – Eu tenho uma loja,eu tenho novos amigos, eu tenho um trabalho que eu gosto e...- suspirou - Sinceramente eu tenho que te agradecer, porque se você não tivesse discutindo tanto comigo, tentando me mudar, eu nunca teria ido para Londres e conhecido a garota por quem eu estou completamente apaixonado - concluiu passando a mão pelos olhos, se livrando das lágrimas.

 

Robert respirou fundo sentando na cadeira enquanto discernia as palavras do filho.

- Me dá uma chance de mostrar que eu mudei - suplicou.

 

O homem passou a mão pelo rosto se arrependendo,pela primeira vez de todas as brigas que tivera com Mike.

- Por que é tão difícil acreditar em mim?

 

- Eu estava com medo – confessou baixinho - Você só sabia sair e voltar todo dia de madrugada, ficar bêbado e faltar às aulas - começou a dizer - Eu me sentia falhando comigo,falhando como pai - murmurou - Eu...- se conteve abaixando a cabeça.

 

- Olha pra mim - pediu - Pai...- o chamou,saboreando aquela palavra em sua boca - Aquele tempo passou e pode ter a certeza de que mesmo sem ter feito a faculdade que você queria, eu mudei e você vai sentir orgulho de mim - admitiu.

 

Robert se levantou, encarando o rapaz.

- Eu sinto muito - murmurou.

 

Era uma sensação inexplicável que se remexia dentro dele. Mike pela primeira vez via todos os anos de rancor e raiva se diluírem bem na sua frente.Se aproximou do pai, o abraçando fortemente. Ambos sentindo-se aliviados. Mesmo que não expressassem tudo o que sentiram, Mike e Robert, pai e filho,tinham a certeza de que estava mais do que na hora deles recomeçarem.Estava na hora deles pelo menos começarem a andar nesse caminho.

 

O senhor depositou alguns tapinhas em seu ombro,se afastando.Os olhos dos dois se encontraram, fazendo um sorriso se abrir nos lábios de ambos, deixando-os ouvir a risada um do outro.

 

Mike respirou fundo, desviando o olhar para a mesa atrás deles. Pegou a capa em suas mãos, levantando o olhar para o pai.

- Isso é seu...- estendeu o objeto na sua direção - Feliz Natal! - exclamou pensando que nunca mais faria aquilo.

 

Robert sorriu emocionado pela atitude dele.

- Feliz Natal! - murmurou o abraçando novamente, antes de estender a mão até a vitrola, reacendendo o cômodo, com o som de Simples Minds.

 

Os olhos do rapaz se desviaram do pai para a entrada do porão,onde Megg se encontrava empoleirada no batente da porta.

- Quem é? - o senhor perguntou ao lado do filho.

 

- A mulher da minha vida - murmurou baixinho.

 

- Sua mãe sentiu sua falta - Robert confirmou o observando de relance – E eu também – confessou chamando a sua atenção.

 

Mike observou o pai,com os olhos repletos de lágrimas e entendeu o que ele quis discutindo com ele daquela maneira.As vezes os pais tem meios estranhos de demonstrar amor,de demonstrar que se importam,de demonstrar que querem o seu bem.E Robert era pai e nem um pouco diferente dos outros,talvez mais durão que alguns,mas se importava.

 

- Não via a hora de voltar – retrucou o abraçando novamente.

 

- Robert...

Os dois se afastaram,desviando o olhar para Catarina parada na metade da escada que dava para o cômodo.Nenhum deles precisou dizer algo,a senhora havia entendido tudo no meio das lágrimas e sorrisos.

 

- Vou colocar a mesa – sorriu lhes dando as costas- Você me ajuda Megg? – perguntou para a morena que apenas concordou a seguindo para a cozinha.

 

Robert observou o filho,percebendo que ele realmente estava diferente. Mike sempre foi um rapaz cabeça quente e olhando para ele,percebeu que realmente não era mais aquele garoto de dezoito anos que havia ido embora.

 

- Venha,sua mãe vai gostar de ver a mesa cheia - o homem estava prestes a sair do porão, mas parou ao ouvir a voz do rapaz.

 

- O que houve entre você e a mamãe? - perguntou, lembrando-se de como ela estava diferente na última ligação.

 

O senhor suspirou, sentando novamente na cadeira.

- Quando você foi embora...- começou a contar, se recordando de todas as consequências que aquilo acarretou entre ele e Catarina - Foi difícil...- o encarou - Para sua mãe - completou tentando não demonstrar o quanto foi complicado para ele também - E durante todos esses anos, não somos mais os mesmos, Mike, o relacionamento entre eu e sua mãe, tornou-se diferente, todos os dias nós discutimos e ultimamente ficou um pouco pior - confessou.

 

Mike se encostou na mesa,percebendo que não era apenas ele que esteve sofrendo nesses anos.

- Mas agora, você está aqui... - murmurou - Eu não deveria ter feito aquilo - se levantou interrompendo a música.

 

- Não pensa mais nisso agora - pediu baixo - Eu voltei e tem um almoço esperando a gente - riu fraco.

 

Robert juntou os lábios, afirmando com a cabeça.

- Então vamos - passou por ele, saindo do cômodo.

 

O rapaz observou suas costas, tirando o disco do aparelho e guardando de volta na capa. Passou os olhos pelo cômodo, pegando sua mochila do chão e desligando a luz antes de sair dali.

Subiu os degraus, chegando a cozinha e se deparando com a mesa posta e seus pais conversando animadamente com Megg.

- Querido, eu pus todas as malas no seu quarto - Sra.Handler anunciou, pondo a salada sobre o tampo.

 

- Valeu - pôs a mochila no canto, se aproximando de Megg sentada em uma das cadeiras ao redor da mesa.

 

- Vocês são tão lindos juntos - Catarina comentou, sem conter a alegria que sentia - Não é Robert? - voltou-se para o marido que observava os dois à sua frente.

 

Mike depositou um beijo no topo da cabeça da morena, vendo a garrafa de champagne sobre o balcão.

- Vamos brindar - pôs a garrafa na mesa, procurando pelas taças no armário.

 

- Agora, Mike? - sua mãe retrucou.

 

- Agora - Robert afirmou chamando a atenção do filho.

Mike pôs as taças sobre a mesa, enquanto seu pai abria a garrafa. Logo o líquido encheu as quatro taças,e todos estavam de pé.

 

Megg lançou o olhar para o namorado, reparando no alívio no meio do mar cinzento de seus olhos. Ele estava mais leve como nunca esteve.

- A nós - o rapaz sorriu, olhando da mãe para Megg e por fim para seu pai.


            Seu pai.

Todos os quatro ergueram suas taças e encostaram umas nas outras,sem desfazer o sorriso nos lábios.

- Vamos almoçar? - Catarina murmurou sentando na cadeira.

 

- Meu estômago está roncando - Robert comentou, voltando ao seu lugar e começando a se servir.

 

- E então...- Megg se aproximou do rapaz, querendo ter certeza de que as suas suposições estavam certas.

Mike apenas afirmou com a cabeça, vendo o sorriso em seus lábios dar-lhe a certeza de que as coisas finalmente iriam ficar bem.E que aquela era o primeira de muitos outros almoços e jantares ao redor daquela mesa.

(...)

- Megg,querida,você poderia me ajudar a guarda as louças? – os risos na sala cessaram e Mike e a morena trocaram olhares.

 

- Claro – murmurou sem conter o sorriso,sopor imaginar o que Catarina queria com aquele pedido.

 

- Acha que ela vai enchê-la de perguntas? – Mike desviou o olhar das costas da morena,para seu pai que estava sentado na poltrona a alguns metros dele.

 

- Não – afirmou tomando um gole da cerveja.

 

O dia havia decorrido da melhor maneira possível.Filmes natalinos passavam na televisão,músicas tocavam no rádio,o pisca pisca da arvore coloria o canto da sala e uma vez ou outra um vizinho tocava a campainha para desejar um “Feliz Natal” e dizer o quanto Mike estava sumido de Cambridge e o quanto que esta mais bonito.Entretanto,não era isso que fazia aquele momento especial,e sim o fato de Sr.Handler e seu filho Mike estarem rindo e batendo um papo como pais e filhos fazem.Sem discussões ou qualquer coisa do tipo.Era até difícil de acreditar,talvez tenha sido a saudade que fizera aqueles anos tornarem-se simples nada perto daquele reencontro.

 

- Então,você agora tem uma loja? – Robert encarou o filho que apenas conocrdou com a cabeça.

 

- Pois é – riu fraco levando a garrafa aos lábios.

 

- Como isso aconteceu? – retrucou contendo a imensa curiosidade que se agitava dentro dele.

 

- É uma longa história – afirmou encarando os olhos idênticos aos seus e recordando-se da conversa com Beatrice naquela noite,sobre seu pai amá-lo.

 

Ela não estava errada.Dava pra ver no meio da imensidão cinza dos olhos de Robert,que ele amava Mike,afinal eram pai e filho,ambos orgulhosos demais para pedir desculpas,porém com uma saudade tão grande que diluía aquele orgulhoso.

 

- É bom voltar pra casa – confessou baixinho desviando o olhar para a cozinha,encontrando com o conjunto de íris esverdeadas de Megg,que ria com sua mãe.

 

- É bom ver a família junta de novo – Mike voltou o olhar para o pai que continha um sorriso no canto dos lábios.

 

Concordou com a cabeça,encostando a sua garrafa na dele.Aquela sensação era realmente maravilhosa.Tudo que o corroia acabou.Não havia mais nada.

Apenas um grande amor,sua família de novo,uma nova vida profissional,mas além de tudo isso,tinha algo maior.Lembranças,todas incríveis,da menina que colaborou para tudo isso acontecer.”Tudo acontece por algum motivo...” ela disse,”seja ele bom ou ruim.”

 

Era verdade.tudo ocorreu por algum motivo,exatamente do jeito que deveria ser.Uma noite,pra vida inteira.



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