História One Summer - Dia 25 de Junho de 2016

25 de Junho de 2016

-Clary... – Escutei batidas na porta do meu quarto. – Já se passou um dia. Me deixa entrar, irmãzinha.

-O que foi, Sebastian? – Perguntei, levantando silenciosamente da cama e indo em direção à porta.

-Me deixa entrar. Ele não ta aqui.

Virei a chave na fechadura e abri a porta, ficando encostada no batente, olhando para meu irmão. Ele estava com uma cara péssima, talvez até pior que a minha. Usava um moletom vinho e uma calça jeans bem escura, seus cabelos estavam meio espetados/bagunçados e, como sempre, estava descalço.

-Agora você me conta o que aconteceu e porque Jace tentou falar com você o dia inteiro  e foi ignorado. – Ele disse, empurrando um pouco mais a porta.

-Ah, Sebastian. – Falei me jogando nos seus braços.

Por um momento, ele ficou sem reação, mas se recuperou e me segurou pela cintura, me apertando contra si. Uma de suas mãos subiu para apertar levemente minha nuca, como ele sempre fez quando precisava me consolar. Nós ficamos lá abraçados na porta, enquanto algumas lágrimas chatas insistiam em cair dos meus olhos, molhando o ombro do moletom de Sebastian.

-O que foi, Clary? – Ele sussurrou no meu ouvido.

Meu irmão me soltou e me empurrou para dentro do quarto, fechando e trancando a porta atrás de si. Em seguida, ele me direcionou para a cama, me fazendo sentar na beirada e fazendo o mesmo ao meu lado. Ele se virou para mim, cruzou os pés encima da cama e segurou minha mão.

-Eu não sei se devo te contar. – Falei desviando o olhar dele e encarando a parede do lado oposto.

-Porque não? Olha pra mim. – Ele apertou minha mão e eu virei para ele. – Pode contar comigo, eu não vou te julgar. Seja lá o que tenha acontecido.

-Promete pelo menos me deixar terminar? – Falei, receosa.

-Claro. – Ele disse dando os ombros.

-Quando... quando você viajou com papai, mesmo depois de tudo que você me disse... eu acabei beijando Jace. – Sebastian arregalou os olhos para mim e ameaçou levantar, mas eu apertei um pouco mais sua mão. – Ele não me obrigou. EU quis.

-E o que você quer dizer com isso é que...? – Meu irmão disse ficando vermelho e entendi sua sugestão.

-Não, Sebastian. Nós não envolvemos do jeito que você está sugerindo. – Fechei meus olhos, respirando fundo, atrás de paciência.

-Então me explica. Você beijou ele, certo. – Ele falou mais calmo.

-Nesses... ahn... 11 ou 12 dias, nós continuamos “ficando”, Sebs. Até mesmo depois que você voltou. Sempre que você saia e ficávamos sozinhos. Eu... eu sinto muito por ter te escondido isso. – Desviei meu olhar para ele e tomei folego para continuar. – Ontem, na festa, logo depois que chegamos, eu fiquei com Jace e em seguida ele precisou “conversar com o pai” e me deixou com Izzy e seja lá mais quem. Mais tarde Alec me disse que Jonathan precisava falar comigo e eu fui atrás dele, porém é né. Nada é tão perfeito e ele me traiu. Assumo que ninguém nunca disse que aquilo era um relacionamento, mas ele me traiu. Só isso.

-Ele... te traíu?! – Eu apenas meneei com a cabeça. – Aquele filho da puta.

Meu irmão largou minha mão com tudo e levantou da cama, jogando a cabeça para trás e colocando as mãos nos olhos. Ele começou a andar em círculos na minha frente, parecia ao ponto de estourar a cara de alguém.

-Sebastian... – Falei, ficando em pé.

-Não Clary. Eu vou matar aquele babaca. Vou arregaçar a cara dele até ficar irreconhecível. – Ele foi andando com as mãos no pescoço até a porta, encarou ela e antes que eu pudesse levantar, ele meteu o pé na porta, fazendo um estrondo ecoar pela casa.

-SEBASTIAN! – Gritei, indo na direção dele. – Para com isso.

-Eu deveria ter te levado junto comigo aquela semana. Me desculpa. – Ele disse, me abraçando com força.

-É por isso que eu não queria te contar, Sebs. – Eu me afastei dele. – Não precisa socar ninguém por conta disso. Mantenha a calma, maninho.

-Você ficou um dia inteiro trancada nesse quarto, Clary. Já é sábado e você está sem comer desde quinta á noite. – Ele falou olhando no fundo dos meus olhos. – Isso não é estar bem, Clarissa.

-Eu... – Escutei um ganido vindo do corredor e unhas arranhando a porta. Sorri.

Escapei de Sebastian e abri a porta para Bella entrar. Ela entrou no quarto correndo e pulou na cama, sentando e olhando pra mim, só de olhar para aquela carinha de dó, meu coração amoleceu e meu dia ficou um pouco mais feliz. Me aproximei dela e fiz carinho em suas orelhas, fazendo sua cabeça tombar para o lado.

-Continue. – Sebastian incentivou.

-Eu saí do quarto durante a noite, Sebs. – Dei os ombros. – Me alimentei.

-Isso não é saudável.- Ele disse, revirando os olhos.

-Eu nunca fui mesmo.

Escutei passos vindo do primeiro andar mas não dei muita bola, deveria ser apenas Josie preparando alguma coisa na cozinha. Dei as costas para Sebastian e sentei na minha cama, ao lado de Bella, que parecia prestes a sair correndo de perto de nós. Afaguei sua barriga e ela se acalmou um pouco. Ela estava estranha. Os passos estavam mais perto agora e meu irmão virou na direção do corredor, eu fiquei apenas encarando a porta.

-Clary? – Os passos ficaram mais rápidos e a voz era urgente. A porta foi escancarada e a pessoa que eu mais queria longe de mim me encarou, com os olhos cansados.

Jonathan estava com os cabelos bagunçados, parecia não dormir a dias e seus olhos, meu Deus, pareciam tão perdidos que meu coração se apertou. Fiquei com a respiração entalada na garganta enquanto ele me olhava, estático, da porta. Direcionei meu olhar para meu irmão, que parecia respirar com dificuldade enquanto se segurava para não avançar nele.

-O que aconteceu, Clary? Por que foi embora? – Ele falou, com a voz sofrida, meu coração se apertou um pouco mais.

-Não pense que eu não vi, Jonathan. – Falei o mais grossa que consegui.

-Clary... Meu Deus, não é o que você pensa. – Ele deu um passo para dentro, mas meu irmão foi mais rápido.

Ele andou à passos fortes até Jonathan e o segurou pelo colarinho, o empurrando com as costas no batente da porta, fazendo um estrondo. O loiro arregalou os olhos  com o impacto, o que pareceu apenas incentivar meu irmão com seu ódio. Ele se aproximou de Jonathan até sobrar apenas um centímetro de distância entre eles e respirou fundo. Isso me fez ficar um tanto mais atenta.

-Eu só não te mato pelo que fez com a minha irmã nesse exato segundo porque não preciso manchar o carpete com seu sangue imundo. – Meu irmão disse, a raiva emanava de sua voz. – Eu sabia que não deveria ter deixado vocês se aproximarem. Sabia que ia dar nisso, porra!

-Mas eu... – Jonathan tentou falar, mas Sebastian o empurrou um pouco mais contra a parede.

-Cale a boca, infeliz. – Rosnou. – Você não viu o que fez à ela? Não tem consciência dos seus atos, Jonathan? Cale a porra da boca.

-Clary... – Jace murmura, olhando para mim.

-Quieto! – Sebastian grita antes de desferir um soco no maxilar de Jonathan, o fazendo cair no chão com um baque. Esse barulho todo fez Bella levantar com tudo da cama e sair correndo, ficando parada em posição de alerta um pouco atrás de Sebastian.

Ele agachou ao lado de Jace e segurou sua blusa.

-SEBASTIAN! – Gritei, levantando da cama quando ele ameaçou bater novamente.

-A não ser que ela chegue perto de você, fique longe dela. – Meu irmão levantou com tudo e desviou de Jonathan enquanto saia do quarto. Momento depois, pude ouvir a sua porta sendo socada no corredor e, logo em seguida, batida com tudo para fechar.

-Você está bem? – Perguntei para Jace, chegando perto dele enquanto ele se sentava, passando a mão pelo rosto vermelho que começava a ficar roxo.

-Preciso admitir que Sebastian tem um ótimo gancho de direita. – Ele disse, olhando para o chão. – Você vai me perdoar?

-Hoje não. – Balancei a cabeça, tentando evitar a lágrima que caía. – Eu preciso de um tempo, Jace. Preciso pensar no que eu vi. Preciso arrumar tudo isso na minha cabeça antes de tomar qualquer decisão.

-Me deixe falar, por favor. Clary... – A dor na sua voz quase me fez voltar atrás na minha decisão. – Eu preciso de você, Clary! Olha como eu estou! Eu fiquei um dia longe de você e olha meu estado, Clarissa! Eu não vou aguentar ficar sem você, por favor.

Respirei fundo, olhando para ele. Jace realmente parecia horrível. Ele me olhava com um olhar de súplica enquanto eu mordia meu lábio inferior. Fechei meu olhos por um momento e coloquei meus dedos nos lábios, lembrando de cada beijo que ele me deu. Cada beijo que aquele homem que eu tanto gostava me deu, para logo em seguida beijar outra. Mais lágrimas escaparam dos meus olhos e eu ri, me sentindo instantaneamente boba. Passei os dedos embaixo dos meus olhos antes de olhar para ele novamente.

-Você precisa por gelo nesse hematoma. – Falei, estendendo a mão para ele ficar em pé.

-Você vai me perdoar? – Ele disse, quando estávamos descendo as escadas.

-Não vai ser como antes, Jonathan. – Falei baixinho, com a voz embargada por conta do choro. Ele apenas suspirou ao meu lado.

-É melhor do que ficar longe de você.