1. Spirit Fanfics >
  2. Operação Capuleto >
  3. Capítulo único: A vingança de Julieta

História Operação Capuleto - Capítulo único: A vingança de Julieta


Escrita por: snct e isuhocream

Notas do Autor


Oi, pessoal, olha eu!

Bom, pra começar, queria dizer que o Projeto SNCT tem me deixado uma pessoa bem felizinha desde o início.
Fazer parte dele foi o que me trouxe de volta ao mundo das fanfics e impediu que eu desse um final definitivo à minha história como ficwriter. Portanto, quero muito agradecer às meninas lindas que fizeram isso possível e, em especial, à Nat, que me convidou
e colocou fé em mim apesar de conhecer o lixo de escritora que sou. Saranghae, snct! <3

Tentei com muito suor e lágrimas desenvolver esse plot maravilhoso da @chanlie de uma forma que chegasse aos
pés do que foi proposto, e eu espero, de coração, ter tido um bom resultado. Foi muito gostosinho escrever esse enredo, e ter encaixado esse couple lindo que é TaeTen me deixou ainda mais empolgada.

Bem, é isso aí, rs. Boa leitura, espero que gostem!

Capítulo 1 - Capítulo único: A vingança de Julieta


 

 

Operação Capuleto

 

 

Vestido da forma mais alinhada e bonitinha possível em sua fantasia de Peter Pan, uma criança chorava copiosamente. Seus braços pequenos estavam cruzados em frente ao rosto, pois sentia-se envergonhado de mostrar aos outros as lágrimas que corriam incessantes por sua face. Ele estava amuado em um canto, sendo consolado por sua mãe, e nem parecia o garoto que há pouco brilhava na peça da escolinha e recebia os mais diversos elogios ao sair do palco.

Era um garotinho pequeno, carismático e talentoso. Embora a língua coreana não estivesse por total dominada, visto que o garoto possuía identidade tailandesa, executou com maestria suas falas; e se algum coleguinha tinha dificuldades, fosse pela vergonha ou por ser novinho o suficiente para não se atentar ao que deveria ser feito, essa criança se apressava em ajudá-lo e, assim, a peça fluía.  

Mas se ele era tudo isso, por que chorava de forma tão triste?

A resposta estava em sua frente, a alguns metros de distância.

TRAIÇÃO, é assim que chamamos na Tailândia quando o seu pai simplesmente o troca por seu amigo! 

Aquela criança bonitinha e talentosa estava aos prantos simplesmente porque, na mesa que deveria ser reservada à sua família, recebendo as felicitações que deveriam ser suas, estava outro garoto. Não era dele a atenção do próprio pai, mas de um menino que interpretara o maldito crocodilo tic-tac, um papel lixo, sem coisa alguma de interessante! 

E então, amigos, o menino chorava porque, pela primeira vez, soube dos perigos que Lee Taeyong representava. Ele chorava porque, de alguma forma, seu subconsciente sabia que daquele momento em diante seria aquele menino catarrento quem se tornaria o prodígio de seu pai e estragaria, eternamente, a sua vidinha. 

Aquela criança bonitinha e talentosa era eu e ela terá sua vingança. 

Vou tirar de Taeyong tudo o que ele me roubou. Isso é uma promessa.

 

PRIMEIRO ATO

 

Eu estava andando de um lado para o outro, prestes a roer os meus dedos de tanto nervosismo. Johnny estava atrasado, ele deveria ter me encontrado ali há vinte minutos! Ah, estou certo que ele deu com a língua nos dentes, aquele cara não sabe mentir, não sabe nem mesmo ocultar uma coisinha simples, se ele a julgar ser imoral! 

Na minha mente, as coisas mais terríveis circulavam. Aquilo que eu estava prestes a fazer não era certo e se Johnny tivesse corrido para contar ao meu pai antes que eu colocasse meu plano em ação, minha morte seria precoce e não me restariam chances de vingar o meu orgulho! 

Ah, aquele americano maldito, péssima hora em que fui confiar num cara que me trocaria por um lanche do Mc Donalds! 

Eu estava bufando, neurótico, quase me agarrando àquela coxia do teatro ao meu lado e pedindo por misericórdia quando o rapaz alto apareceu, agindo de forma tão suspeita que quem nos observasse com certeza pensaria que estávamos traficando drogas. 

– E aí, e aí? Tudo pronto? – perguntei, mal contendo a animação. 

Johnny, por outro lado, não estava tão empolgado. A expressão em seu rosto mais indicava que ele estava prestes a cometer um crime e entregar a vida à polícia, o que não era exatamente o que faríamos. 

– Ei, fica frio, ok? Ninguém vai saber que me ajudou, não se preocupe. 

– Como não? Eu subornei a Seulgi! E se ela contar a alguém?... Aliás, você está me devendo 100,000 won.* 

Bufei. Francamente... Por que Johnny tinha que ser meu melhor amigo, a pessoa mais confiável que conheço e, ao mesmo tempo, o cara da cenografia? Um combo tão perfeito para uma pessoa tão péssima em assuntos ilícitos! 

– Olha, a única pessoa que pode se ferrar com essa história é Taeyong, certo? Não será eu, não será você, não será Seulgi. Será o Taeyong. 

– Você tem certeza disso, Chitta? Sabe, deixa ele pra lá, se concentra em conseguir o papel, você treinou por isso o ano todo! Tenho certeza que ficará perfeito. 

Acabei dando um sorrisinho amarelo para o meu amigo. Eu queria poder seguir seu conselho, realmente queria; mas, infelizmente, meus poucos vinte anos de vida me mostraram que nem sempre o que queremos é o que podemos ter. Não havia espaço para mim na relação de meu pai e Taeyong. O Lee era seu prodígio protegido desde a primeira vez que botou os olhos nele, interpretando um papel tão banal enquanto eu era a verdadeira estrela em cena. Se dessa forma o coreano captou a atenção do maior produtor do ramo teatral – que vez ou outra tenho a chance de chamar de “pai”–, quem seria eu para conquistá-lo? 

Tsc, eu seria o cara mais foda de toda a galáxia, porque isso aconteceria hoje! Bora elevar esse otimismo! 

Deixei um beijinho na bochecha de Johnny, pois, em segundos, eu estava tão obstinado e decidido quanto antes do nosso encontro. O mais alto franziu o cenho diante a minha atitude, mas não evitou rir como uma resposta. Ele sabia que eu estava confiante e que faria acontecer, então só restava me dar espaço e assistir de camarote toda a magia que programamos. 

Aquele era o dia das audições para a peça de primavera, o evento mais esperado do ano para os interessados em teatro da minha universidade. Os papéis disponíveis eram para o, quem sabe, maior clássico da literatura conhecido: Romeu e Julieta. E com a expectativa de todos sobre nós, eu e Taeyong duelaríamos sobre aquele palco pelo papel principal. Embora, obviamente, esteja claro que eu serei o melhor Romeu que o mundo já viu! 

Mesmo que eu tenha vivido todo esse tempo dedicado ao meu treinamento e talento nato, recusando diversas oportunidades valiosas porque queria chegar ao pódio com meu mérito e esforço próprios, hoje seria o dia em que eu arriscaria tudo só para ver Taeyong cair de um precipício, enquanto lhe dava um tchauzinho, bem no estilo Scar e Mufasa. Não, hoje aconteceria algo diferente, pois eu estava cansado de abaixar minha cabeça para aquele mongolóide que não sabe interpretar uma árvore e ainda se acha no direito de me provocar! 

E por falar no diabo… 

Dei um pulo quando senti um dedo me cutucar com força na costela. Ele chegou de fininho apenas para continuar o que faz de melhor: atazanar a minha vida. 

– Bom dia, princesa, preparado para ser desclassificado? 

Quase senti um chakra crescer dentro de mim, tamanho foi o ódio que me consumiu em segundos. Acho que aos olhos alheios eu mais parecia um cão raivoso.

– Bom dia, Taeyong. – rosnei. 

Não estava sendo cortês, por favor. Apenas amaldiçoando aquele imbecil nas entrelinhas. Ele deu um de seus sorrisinhos debochados, daquele jeito que conquista outras pessoas, menos eu, e senti que poderia partir para cima do seu corpo no mesmo instante.

Mas alguma mão invisível parou sobre minha cabecinha, dando-me uma amostra da sabedoria. Ora, ora, tá estressado por quê, Chittaphon? A vingança é plena e está no quintal jogando frisbee com sua alma caridosa, não tem razão para deixar que Taeyong o desconcerte, pois logo, logo ele terá o que merece. Então calma, Tenten.

Notando meu silêncio e a forma que minha expressão suavizou para dar lugar a um sorrisinho amável e fingido, o Lee franziu o cenho e deu um passinho para trás, desconfiado.

– Epa, epa, qual é a do sorrisinho?

– Boa sorte, querido. Espero que se saia bem hoje, será um prazer disputar com alguém do seu nível. 

Taeyong arregalou os olhos como se tivesse visto um fantasma, mas em segundos estava gargalhando do seu jeito babaca, otário, burro, lixo, estrumeeee!

Apenas ignorei e o deixei lá sozinho, rindo com as paredes.

Isso, você deve rir. Engasgue e morra de tanto rir!

Mas faça isso enquanto pode, pois esse será seu último momento de felicidade, Lee Taeyong. Mua-ha-ha!


 

SEGUNDO ATO

 

Minha caracterização de Romeu estava pronta. No camarim, eu e Taeyong trocamos mais algumas farpas antes que eu fosse convocado. Embora se tratasse somente de uma audição, o cenário e os figurinos foram exigidos pelo produtor, que com toda a sua pinta de exigente queria tudo perfeito a todo momento. 

A primeira apresentação seria a minha, e sobre ela eu não demonstrava um pingo de nervosismo. Aquela era minha peça predileta e durante o meu crescimento fora a que usei como treinamento para minhas habilidades. Dizer que eu conhecia palavra por palavra, qualquer ação e fala de todos os personagens, seria a mais pura verdade. Eu poderia recitar Romeu e Julieta de trás para frente, se quisesse assim. 

Em outras palavras: fui perfeito – como sempre.

A onda de aplausos foi imediata, logo que finalizei a última fala. A cena escolhida era o trágico momento da morte do casal, que, provavelmente, qualquer pessoa conhece, e eu a realizei com tanto cuidado junto à minha parceira que interpretava Julieta, que seria absolutamente impossível me rejeitarem para o papel, mesmo que os acontecimentos seguintes do dia não dessem muito certo.

O problema era que, apesar de todos deixarem evidente em seus rostos o quão bem eu havia me saído e o quão confiantes estavam sobre minha escolha para o papel, a carranca de meu pai tornava qualquer felicidade em mim um projeto de lixo orgânico para ser descartado sem a possível utilização correta. Não havia uma só ruguinha em seu semblante que pudesse mostrar qualquer opinião sobre a minha atuação. Quis chorar de tamanha frustração, mas pude me conter ao lembrar que desmancharia a expectativa dele sobre seu prodígio.  

Tive que sair do palco às pressas, pois os concorrentes para a vaga de Romeu eram poucos e ficaram desestabilizados com a minha performance, o suficiente para estragar completamente as suas. Por minha sorte, e alguma obra de Johnny, Taeyong seria o último a se apresentar e isso me daria tempo para fazer os últimos retoques na Operação. 

Retornei à coxia “secreta” que eu e Johnny nos encontramos mais cedo e lá estava o meu amigo à minha espera, carregando em suas mãos um enorme saco preto, parecendo uma versão emo-gótica do papai Noel.

– Tudo aqui? – perguntei, enquanto olhava furtivamente para os lados, certificando-me de que ninguém observava e ameaçava chamar a polícia para o que parecia ser algum tipo de dois-jovens-ocultando-um-cadáver. 

– Sim. O camarim masculino está vazio, mas eu tenho a chave, você pode usar – ele me entregou o objeto pequenino e dei um sorrisinho de satisfação.

– Obrigado. 

Estava saindo para enfim iniciar o projeto de dominação mundial quando fui impedido por uma mão que segurava um de meus braços.

– Você tem certeza que não vai dar errado pra você? – ele questionou com aquela expressão bonitinha de cachorro sem dono, e não contive soltar um “awn” manhoso por sua preocupação.

– Não se preocupe, eu sei o que estou fazendo.

 

 

Bem, acabei descobrindo que não sabia tanto assim quando coloquei a primeira peça de roupa e ela me pareceu estranha demais para ser usável. Será que Johnny havia pegado as fantasias certas? Ah... Eu juro que mato aquele imbecil!

Mas não naquele instante, porque eu já estava chegando ao prazo final. Teria que ser daquele jeito, não havia outra opção. Coloquei o restante da roupa e me admirei por alguns segundinhos no espelho. Bem, talvez o fato de ter meus peitinhos expostos naquele decote esquisito ajudaria um pouco no constrangimento público de Taeyong.

Era pra isso que eu precisava torcer.

 

 

Ajeitei a peruca cacheada em minha cabeça enquanto fitava ao palco. Estava respirando fundo para não pirar e todos aqueles olhares e cochichos dedicados a mim não ajudavam muito na hora de guardar meu nervosismo numa caixinha mental. Eu tinha que me concentrar apenas no meu ódio por Taeyong e em seu rosto choroso quando ele fosse humilhado em cima daquele palco!

Ouvindo minha deixa na fala de Taeyong, me esgueirei ao meu posto atrás da lápide fajuta de Julieta, crente que ninguém ali me reconhecia. Olhei para cima, procurando nas estruturas superiores o local que Johnny havia me dito estar e o achei posicionado com o balde que preparei em mãos. Havia tinta dentro dele, uma mistura espessa e pegajosa de tinta verde, para combinar com a meleca que aquele garoto Lee era na minha vida. 

Ao meu sinal, Johnny deixaria o balde tombar e toda aquela porcaria cairia como pluma nos cabelinhos descoloridos de meu arqui-inimigo, transformando o aclamado prodígio da nação em um Hulk magrelo e sem graça alguma!

Quero dizer, muito engraçado, na verdade. 

Respirei fundo e me preparei. Taeyong seguia corretamente ao roteiro, então, em questão de segundos, eu poderia dar as caras e iniciar minha destruição. Assim que ele caiu no chão, na famosa cena de suicídio de Romeu, surgi como uma borboleta pós-metamorfose, alternando o roteiro por completo ao saltar tão majestosamente sobre o palco.

– Ó, Romeu! Estás mortinho!

Juntei as mãos próximo de meu rosto e caprichei na expressão mais tristonha que pude sem deixar o riso escapar. Como um clique, todos os presentes se sobressaltaram com minha aparição e os burburinhos começaram. Para a surpresa da pequena plateia, apenas acenei a todos e dei continuidade.

Taeyong permanecia caído ao chão, apesar de agora ter um de seus olhinhos semi-abertos para espiar o que todos alertavam. Eu sabia muito bem que ele prosseguiria com sua parte, porque quando estava sobre o palco, o garoto não permitia que sua atuação fosse motivo de decepção para meu pai. Seria uma atitude louvável, caso ele fosse bom naquilo e não fosse Lee Taeyong.

– O que você tá fazendo, Ten?! – o Lee cochichou zangado, tomando cuidado para que seus lábios mexessem o menos possível.

Dei um chutezinho em sua barriga e ele grunhiu, mas permaneceu imóvel. Virei-me para a platéia, sempre me atentando aos movimentos exagerados e que não condiziam com a peça.

– Vamos improvisar – alertei a todos e me voltei ao Lee. Àquela altura, ele nem mesmo estava ciente de que seus olhinhos arregalados me encaravam num misto de desafio e tensão.

O seu corpinho magricela fora facilmente erguido em meus braços. O carreguei como se socorresse a um amante desacordado, ou como uma mamãe leva seu bebê adormecido até a cama. O diferencial é que nenhum carinho existia entre mim e Taeyong, e eu fiz questão de deixar isso claro ao soltá-lo sem aviso prévio. Não posso descrever minha satisfação ao ouví-lo grunhir de dor por conta da queda.

– Meu amor, por que deixas esse mundo sem mim? – caí ao seu lado sobre os joelhos. – Eu não posso… Eu não posso suportar a dor de vê-lo partir!

Taeyong estava rosnando ao meu lado. A expressão raivosa em seu rosto poderia se transformar em uma pessoa e sair me atacando a qualquer momento. Por um instante, os pelinhos de minha nuca se eriçaram quando nossos olhares se prenderam. “Eu vou matar você”, ele sussurrou e engoli em seco. Era tarde demais para arrependimentos, eu precisava utilizar do tempo que dispunha.

Na platéia, o diretor responsável se levantou, prestes a dizer algo que interrompesse de vez o meu momento e libertasse Taeyong de minhas garras. Mas, para minha surpresa – e certamente a do Lee –, meu pai conteve o impulso de seu colega ao simplesmente erguer uma de suas mãos. Ele tinha uma expressão de curiosidade no rosto e pela primeira vez senti que tinha sua atenção naquele palco.

Respirei fundo, eu precisava prosseguir.




 

Eu e Taeyong estávamos sentados de braços cruzados, um ao lado do outro, nas poltronas do teatro. O local estava quase vazio, povoado apenas de nós dois, meu pai e alguns responsáveis pelo desmanche da cenografia – incluindo Johnny que, vez ou outra, me encarava num misto de pena e medo.

Confesso que eu estava tremendo nas bases, com o cu trancado, sentindo que o meu fim era aquele e que eu não passava da criatura mais ESTÚPIDA do mundo por ter jogado a toalha e permitido que, me vingando de Taeyong, o imundo arruinasse de vez todas as minhas chances de crescer e ser reconhecido artisticamente. Para aumentar meu desespero, o Lee ao meu lado exalava uma aura tão maligna de seu fino corpo que eu poderia jurar que estava prestes a descartar o bom jeito e estrangular meu pescoço ali mesmo; e piorando minha situação, considerando a forma desgostosa que meu pai me fitava, eu estava certo que se juntaria ao seu prodígio para me exterminar

Tudo estava dentro dos conformes da normalidade. Chittaphon ferrado graças a Lee Taeyong, nada de novo sob o Sol. 

Suspirei para demonstrar arrependimento. Talvez ter colocado Taeyong sentado em uma cadeira na frente do público profissional e tirado sarro de si antes de jogar um balde de mistura pegajosa sobre ele não tenha sido lá uma boa ideia. Ora, eu passei a minha juventude com um complexo de abandono e inferioridade, isso deve ter afetado o meu lado racional!

Bem, o importante é que eu estava prestes a me render e aceitar a humilhação quando, novamente salvando a minha pele, o produtor-pai interveio.

– Eu não esperava esse tipo de atitude de você, Chittaphon. Estou surpreso.

Abaixei minha cabeça, envergonhado. Aquela frase era a minha sentença e eu deveria carregá-la até os meus últimos dias. O que eu esperava? É óbvio que acabo de eliminar qualquer admiração que pudesse receber do velhote, céus! Quase pedi que ele parasse de falar para que eu me atirasse no chão e chorasse ao som de alguma música bem triste e ofensiva.

Mas ele prosseguiu. 

– No entanto, foi interessante. 

–  HEIN?

Taeyong berrou, levantando de seu assento exasperado e reagindo exatamente como eu gostaria de ter feito, mas não pude graças ao choque.  

Taporra, caralho! O homem é maluco?!

– Por que o espanto? Vocês elaboraram isso juntos, certo? Achei incrível a inversão de papéis, a revolta de Julieta para com seu amado egoísta, a desconstrução do tradicional em prol de algo espontâneo e carregado de mensagens singelas e implícitas…! 

Taeyong me encarou, eu encarei Taeyong, mas visivelmente nós dois estávamos mais confusos que cego em tiroteio num dia de chuva. O produtor-pai falava com tanta emoção, animação, que chegava a balançar as mãos a cada palavra. Quando terminou aquela frase, havia um sorriso incomum em seu rosto e eu estou certo que seu ato de levar as mãos ao rosto fora para limpar algumas lágrimas nos cantinhos dos olhos. 

Nunca, em toda a minha vidinha de familiar daquele homem, eu havia o visto demonstrar aquele seu lado. Tudo bem que ele tinha toda uma aura empolgada perto de Taeyong e de seu talento-lixo-que-não-existe, mas aquilo era novo. E era tão novo que até o Lee se espantou.

– De quem foi a maravilhosa ideia?

Meu pai perguntou batendo palminhas, mas a resposta não viera. Estávamos de boca aberta, mudos e estáticos, absolutamente perdidos demais para empurrar o raciocínio até o holofote. Os olhos do homem grisalho brilhavam em expectativa, a boca parecia querer salivar. E quando eu estava prestes a assumir minha culpa e, quem sabe, vê-la transformada em elogio, um MALDITO CAPETA DO INFERNO INTERROMPEU.

–  MINHA!

Lee Taeyong, aquele maldito, lixo, fedido, feio, desgraçado, horrível roubou a minha cena! Na hora, o meu sangue ferveu como se minhas veias se tornassem passagem de lava para um vulcão em erupção, arrancando do meu âmago mais profundo existente toda a raiva que por anos acumulei por aquele… Aquele… 

– Você disse… “Sua”? – sussurrei entredentes, sentindo meu rosto se comprimir na carranca mais monstruosa possível. Minhas mãos fecharam em punho, meu corpo tremia.

– S-Sim. Você nem queria participar, disse que era ridículo.

A postura dele mudou, tornando-se aquela coisa detestável repleta de achismos. Arqueei minha sobrancelha, dando uma última estudada em seu rosto petulante enquanto caprichava na expressão mais dissimulada que involuntariamente consegui. Eu estava quase me borrando nas calças por imaginar meu fim e agora que tenho  a chance ele rouba minha oportunidade! 

Ah, meus amigos… Na hora não me aguentei. Parti para cima dele.

E foi assim que tive o prazer de dar meu primeiro soco em Taeyong, ver meu papel de Romeu tirado de meus braços por um Produtor furioso ao ver seu prodígio ser agredido e, de brinde, ser rebaixado ao extremo da humilhação ao ter meu nome na lista de substituto para representar Julieta.


 

TERCEIRO ATO

 

Já havia se passado um mês desde o ocorrido das audições. As pessoas ainda me encaravam com certa arrogância no olhar, descrentes que eu havia descido tão baixo para ultrajar o queridinho da nação. A rotina de estudos me esgotava e a cada ensaio que eu era obrigado a apenas assistir a felicidade de todos das coxias escuras, mais deprimido eu me tornava.

Há uma semana estávamos ensaiando para valer alguns trechos da peça, aqueles que necessitavam de algum efeito de palco ou ação, como lutinhas com espadas. De um cantinho isolado, varrendo o teatro como o digno Cinderelo oprimido que julgava ser, nenhum detalhezinho eu deixava escapar. Estava nos meus planos empurrar Taeyong da escada e “ser obrigado” a assumir seu lugar, mas fazendo jus ao título de maldita, a vida deu-me outra opção.

– AAAAH! 

Um grito agudo seguido de um baque assustou todos os presentes. Por algum deslize ou falta de atenção, Julieta estava estatelada no chão perto da escada que utilizava em sua cena. Ela grunhia de dor, agarrando ao tornozelo e, sem conseguir pronunciar algo compreensível, sinalizando que estava ferido.

– Levem ela para o hospital! – o diretor bradou e aí foi uma confusão de socorros e vozes unidas em preocupação e apoio.

Na hora a minha primeira reação foi ajudar a garota e saber se ela estava bem, apesar de não ter sido necessário o meu auxílio, visto que ela já estava cercada de pessoas. No meio dessas pessoas, estava Taeyong e foi automático quando nossos olhares se cruzaram e ficaram presos ao outro. Estávamos com aquela expressão embasbacada no rosto, a mesma que tínhamos alguns dias antes quando fomos surpreendidos pelo produtor.

Afinal de contas, Julieta acabara de se machucar e isso significava que alguém a substituiria.

Mais especificamente, eu.




 

Eu estava sentado, solitário, numa mesinha da loja de conveniência próxima do teatro, refletindo sobre os acontecimentos recentes e o quanto haviam influenciado minha futura carreira como ator. Estava nítido para mim que eu havia errado ao permitir que as implicâncias de Taeyong me tirassem do eixo, mas ainda mais óbvio era o efeito que o garoto tinha nos meus nervos. Todos eles trazidos a tona quando o magrelo alto se aproximou e puxou uma das cadeiras para sentar-se comigo.

– Acho que agora eu tenho um motivo pra te chamar de princesa, não é? 

– A Julieta não era uma princesa, seu imbecil. Como alguém pode te colocar como protagonista se nem sabe de uma coisinha dessas? Francamente…

– Não preciso saber de tudo pra  fazer bem. 

– Como se fizesse bem.

Bufei. Sério que ele precisava aparecer àquela hora da noite para finalizar o meu dia ruim com mais desgraça? Não fiz menção de levantar, como gostaria, pois a ideia de me apresentar na frente de centenas de pessoas para a peça de primavera, trajando as roupas de Julieta, estava embrulhando meu estômago. Apenas deitei meu rosto na mesinha metálica e resmunguei.

O Lee fez silêncio e por alguns instante julguei que tivesse ido embora. Para minha infelicidade, ele estava ali, me encarando com aquele sorrisinho de troça muito bem estampado.

– O que foi?

– Estou tentando imaginar quanto tempo suporto sua presença na minha casa.

– E por que diabos você imaginaria um absurdo desses?

– Porque é pra lá que você vai amanhã. 

Ergui meu corpo de supetão, encarando-o com uma mistura de incredulidade e ofensa. Tsc, alguém me diz em qual mundo obscuro eu aceitaria aquele convite? Porque, sinceramente, eu não sei.

Estava com a resposta na pontinha da minha língua quando ele interveio.

– Não recuse. O Produtor te deu essa última chance. Quero isso tanto quanto você, então só vamos acabar logo com tudo – Taeyong levantou-se, mas antes de sair deu um peteleco doído em minha testa. – Te mando uma mensagem com hora e endereço.

E saiu, me deixando arrasado a refletir sobre os rumos que minha vida estava tomando e com uma sede incontrolável por vingança. Se eu matá-lo no dia seguinte e fingir que foi acidente doméstico as pessoas acreditarão?



 

QUARTO ATO


 

Péssimo dia para estar sentado no sofá de Lee Taeyong sem seus pais em casa. 

Era uma sensação horrível estar no covil de sua cobra-inimiga, sabendo da vulnerabilidade da situação. Aquele era o ambiente perfeito para ser sequestrado e torturado em seu porão, eu deveria ter pensado nisso antes! Quase me aproveitei dos segundos que o animal gastava na cozinha para ligar para Johnny e pedir ajuda. 

Quando Taeyong brotou com dois copos de bebida em mãos, logo deduzi que ali estava o veneno que me deixaria inconsciente para que ele pudesse se vingar. Droga! Ele pensou direitinho, não tem como inventar uma ótima desculpa pra isso! “Oi, querido, tudo bom? Então, tenho alergia a água, não vai dar”??

Talvez pela forma assustada como eu encarava aquele copo, agora já sobre a mesinha de centro da sala alheia, Lee achou melhor me estapear.

– Acha mesmo que eu gastaria dinheiro envenenando você, seu idiota? – resmungou impaciente e para provar-me suas palavras, bebericou em meu copo.

– Agora tá cheio de germes seus, que nojo!

– Se eu fosse você não teria tanto nojo, afinal temos uma cena de beijo para atuar.

E aí meu mundo caiu. Encarei Taeyong com uma enorme interrogação estampada em fonte Impact negrito, na testa. Quase cuspi em sua cara de tanto rir!

– O que? Acha que te chamei pra cá por gostar da sua companhia? Imagina a vergonha que eu passaria se me vissem beijando você… – ele resmungou, mas sorria de um jeito estranho e isso me deu calafrios.

Meu riso foi morrendo quando percebi que ele falava sério. Nós realmente tínhamos uma cena de beijo, mas é claro que nesse momento eu tiraria um punhal do meu decote e me mataria em público para não ter que passar por tamanha humilhação! O que diabos esse anormal está sugerindo?

– Tendo uma cena de beijo ou não, você sabe que não precisamos ensaiar isso, certo?

– Claro que sei.

– E sabe que nem na peça iremos nos beijar realmente, né?

Ele riu.

– Sei.

– Então... ?

E ao invés de me responder, ele simplesmente deu início aos ensaios. Seriam longas semanas.


 

E de fato foram longas e estranhas. Todos os dias, passávamos quase 24 horas completas ao lado do outro. Algumas vezes ficávamos até tarde da noite relendo a mesma cena, assistindo as mais diversas versões cinematográficas daquele clássico, tudo para que a nossa atuação se saísse perfeita no grande dia.

Era desconfortável ficar ao lado do Lee por tanto tempo, pois aquela era a primeira vez que suportávamos tanto um do outro sem que acabasse em homicídio ou coisa semelhante. Eu até mesmo poderia estar enlouquecendo, pois a seriedade de Taeyong enquanto ensaiava estava me deixando fascinado, e, por vezes, eu era pego encarando seu semblante fechado, o cenho franzido ou a mão máscula sempre posicionada perto dos lábios quando fazia alguma leitura.

Honestamente, preciso de tratamento psiquiatra.

Estavam se tornando recorrentes nossas brincadeiras e risadas mútuas, e cada vez menores eram as brigas. Obviamente, Taeyong continuava a me implicar da forma mais insuportável que alguém seria capaz, e eu mantinha intacta a minha sede de vingança e meu ódio eterno.

Bem, era o que eu julgava até alcançarmos um pontinho crucial do roteiro.

Estavamos sentados no mesmo sofá, na sala pouco iluminada de Taeyong. O Lee tinha as costas apoiadas no móvel e um de seus braços repousava no encosto do sofá, atrás de minha cabeça. Eu não estava ligando para aquela aproximação toda, pois com os dias havíamos chegado ao consenso de não-agressão, mas um detalhezinho captado entre as palavras do enredo deixou-me de súbito muito desconfortável.

– Por que parou? – Taeyong questionou ao perceber que meu silêncio não era recurso teatral.

– A-Ahn… Ué…

– Não foi você quem  disse  que não nos beijaríamos? Por que o nervosismo então?

– Não estou nervoso! É só… Esquisito.

– Por quê?

– Porque sim, ora!

– Por que você nunca beijou? – ele provocou, levando seu rosto para perto do meu e deixando as palavras soarem maliciosas. Empurrei seu peito e o afastei um pouco, deixando-o a uma distância “saudável”.

Por motivos inexplicáveis, senti uma quentura incômoda no meu rosto. Quis tomar as dores de Romeu e seguir seu rumo, fincando bem mortíssimo.

– Claro que já beijei, seu animal! Você acha que sou o quê? Criança?

– Achei que fosse inocente, talvez – ele riu e aquilo me deixou com raiva. Estapeei o babaca com o roteiro que tinha em mãos e dei continuidade.

Mas Taeyong, aquele babaca lixo miserável, ao invés de contribuir, mostrar-se útil, deu as graças de seu silêncio. Poderia ter certeza que ele fazia aquilo com o propósito de me provocar, então tirei os olhinhos da folha para encará-lo e gritar consigo. No entanto, desarmando minha possível explosão, o Lee fitava-me com um olhar diferente, ao tempo que uma pontinha de curiosidade parecia gravada no seu semblante.

– O- O que foi?... – perguntei com estranheza, vendo ruir minha postura diante o mistério no sorriso alheio. Não era aquela provocação escrota de sempre, muito menos a troça que tira minha sanidade. Era como se Lee tivesse uma ótima ideia em mente, e no fundo de seu coração fosse sincero e sério ao dizer o que queria dizer.

– E se a gente se beijasse de verdade?

Ele ditou baixinho, e eu o encarei por mais segundos do que havia planejado. Não sei dizer a confusão que me veio naquele momento, mas eu claramente não mais tinha ciência do que acontecia. E isso ficou claro quando vi Taeyong se aproximando devagarinho, como se me desse tempo para empurrá-lo, mas nada fiz.

Seus olhos estavam levemente cerrados, encarando aos meus e isso me desestruturou. Em pouco tempo as orbes desceram para os meus lábios, e os carnudos avermelhados dele se abriram  minimamente, como se ele ansiasse muito pelo contato e de longe pudesse senti-lo. Não tive qualquer reação voluntária ao ocorrido, o meu corpo parecia ter sido guiado pelos trejeitos dele, e seduzido prontamente.

Taeyong primeiro colou nossas bocas num selar sutil, os lábios apenas roçando ao outro como se quisessem trocar mais carinho do que deveriam. Logo uma de suas mãos estava subindo por minha nuca para que seus dedos fossem enroscados em meus fios; e a forma como ele fechou aquele aperto e puxou subitamente meus cabelos, forçando minha cabeça para trás, resultou num arfar indevido.

A boquinha macia dele tratou de beijar meu maxilar, aproveitando da exposição de meu pescoço para que os toques castos descessem devagarinho até aquela área. Não posso negar, eu estava adorando as sensações. Fechei meus olhos, suspirando quando a boca fininha dele fez cócegas em minha pele. Taeyong roçava seus carnudos com sutileza, no mesmo carinho que antes demonstrava no nosso selar e para mim aquilo era novo.

Quando eu imaginaria que teria a boca de Taeyong sobre mim e, pior – ou melhor, no caso –, que gostaria tanto?

O mais novo refez o caminho de beijos até a linha de meu queixo, demorando um pouco mais naquela região, pois queria que a rota o levasse até um de meus ouvidos. Próximo o suficiente dali e com a voz rouca soando baixinho e arrastada, Taeyong apenas proferiu um “Posso?” e isso foi todo o necessário para que eu abandonasse qualquer menção de sanidade dentro de mim.

Tasquei o maior beijo da galáxia em Lee Taeyong.

Agarrávamos os cabelos do outro numa silenciosa provocação, colando as bocas que já maltratavam a outra pela intensidade do ósculo. Nossas línguas tinham sede pela alheia e contornavam a outra com a sintonia que eu e aquele rapaz jamais tivemos em palco.

Não posso dizer quanto tempo passamos entre beijos e amassos, mas aviso que não parou num beijinho só e meus lábios inchados e machucados são a prova viva disso. Saí da casa de Taeyong desnorteado, deixando para trás um garoto tão confuso quanto eu.

Eu havia acabado de passar uma tarde com a boca colada à de meu arqui-inimigo e gostado disso.



 

QUINTO ATO

 

No dia seguinte, toda a minha confusão e falta de sono foi substituída pelo mais puro ódio raivoso monstruoso nervoso do mundo. O motivo? Taeyong, apenas Taeyong.

Era nosso dia de ensaio no teatro, para ajustar alguns detalhes necessários da peça. Eu até cogitei em não ir, pois estava tão nervoso por encarar o Lee, depois de quase tirarmos as roupas no dia anterior, que meu estômago amanheceu doendo. Cheguei lá no maior embaraçamento possível, com esse rosto bonito que tenho corado de forma incomum e muito bravo por sinal... Para me deparar com um Lee Taeyong implicante, idiota, titica de passarinho, chato, chato, chatoooo!

Francamente! Eu não queria que ele me recebesse com beijos e declarações, longe disso. Só imaginei que, depois da forma como nos atracamos no dia anterior, algo devesse estar mudado. Ora, não que isso valha pra mim, porque afinal ainda o odeio, mas se você propõe beijar uma pessoa e passa toda uma tarde com ela aos amassos, é natural que quando se encontrem, você a trate com o mínimo de decência possível! Ou será que eu sou o único humano honroso desse mundo?

Notando a forma como eu estava alheio às minhas falas por fitar ao Lee como um cão raivoso, Johnny se aproximou de mim numa das pausas e me arrastou para um cantinho. Eu me sentia como se estivesse sendo puxado pela coleira enquanto queria brigar e dilacerar outro cachorro.

– Ei, ei, o que há com você hoje?

– O que há comigo?! – perguntei com a voz levemente alterada. – O que há comigo que aquele tripa seca fica me provocando!

– Ele sempre faz isso, você não costuma se importar tanto.

– Mas eu me importo, ok? Você se importaria muito se estivesse no meu lugar!

– O que ele fez contigo, afinal?

– Ele simplesmente me b-

E então eu me lembrei que ainda possuía um cadiquinho de consciência e parei no mesmo instante. Congelei como eu estava e Johnny ficou me encarando em expectativa.

– Te…?

– Ai, nada, esquece.

– Eu, hein… Isso deve ser amor enrustido.

Nessa hora meu sangue ferveu. Encarei Johnny com sangue nos olhos enquanto em minha mente criava algum tipo de destruição global e apocalipse iminente. O meu amigo imediatamente ergueu suas mãozinhas de caluniador para o alto, com uma expressão surpresa no rosto.

– Brincadeira, brincadeira! Você tá estranho, credo.

E, com isso, ele foi embora e eu fiquei com mais raiva ainda, porque além de estar me tirando do sério, Taeyong conseguiu fazer um climão entre mim e Johnny. Eu posso dizer com certeza que todas as desgraças do mundo são culpa dele.

Retornei para meu posto sobre aquele palco, ciente que os acontecimentos do dia anterior não haviam passado de brincadeirinha do outro. Não satisfeito em tirar o meu pai de mim as minhas chances de atuação e até mesmo minha própria vingança, Taeyong, sedento por mais, foi se meter com minha boquinha e minha fraqueza com beijos no pescoço! Tenho certeza que naquele momento ele ria internamente, achando que eu estava na lama, caidinho por ele.

Enganou-se.

– A princesa precisou de um tempinho? Já está sem fôlego?

Ele questionou com seu jeito malicioso e eu quis quebrar algo em sua cabeça! É claro que ele se referia ao nosso segredo, porque foi difícil respirar ontem… Grr!

– Estava apenas bolando a minha próxima vingança.

– Tem certeza que não foi uma pausa para descanso? Sabe, desde que chegou você parece muito nervoso… Até poderia dizer que aconteceu algo muito bom contigo recentemente.

Ele arqueou uma das sobrancelhas e foi se aproximando. Minha garganta ficou seca no mesmo momento.

– Algo péssimo, você quer dizer? – minha voz soou vacilante e quis me estapear por isso.

– Não sei se bochechas ficam coradas por coisas ruins.

Ele sussurrou e nesse momento estava perto demais para considerá-lo seguro. Respirei fundo quando o maligno passou lentamente a língua por seu lábio inferior e posso jurar que todos os pelinhos de meu braço se arrepiaram.

– Vem comigo – sua voz era quase nula, mas pelos movimentos dos lábios, o compreendi e, quando notei, estava assentindo como um bobo.

Taeyong olhou ao redor, segurou minha mão e eu permiti que me guiasse, enquanto a cada passinho que dava, um misto de raiva e expectativa crescia dentro de mim. Aos poucos, essas sensações minguaram para puro nervosismo e quando dei por mim, estava entregue demais para simplesmente encostar-me num canto e iniciar por conta própria um beijo calmo.

Era diferente da malícia e do afobamento de antes. Estavamos abraçados em um cantinho escuro, Taeyong com as mãos em minha cintura e eu a contornar seu pescoço com meus braços. E contrariando, em medidas drásticas, a cólera do dragão que eu acumulava minutos antes, nossos lábios se tocavam com calma, meticulosamente sentindo ao outro, explorando cada centímetro capaz.

Queria dizer que depois disso fomos cada um para um canto e retomamos com sabedoria o eterno ódio pelo outro, mas a história que se seguiu foi diferente. Aos olhos alheios, eu era para Taeyong o que ele era para mim: um inimigo; mas a cada cantinho escondido, a cada encontro na casa do outro ou nas pausas para o almoço, estávamos juntos com as mãos dadas, os olhos atentos no olhar do outro, os lábios unidos, carinho pra cá e pra lá.

A peça de primavera foi um sucesso e eu realizei o que tanto quis: ser notado um pouquinho pelo Produtor que mais respeitava: meu pai. As circunstâncias foram engraçadas, logo que todos estavam de cabelo em pé pela sintonia com que eu e Taeyong atuamos, e mais ainda quando, no momento certo e sem hesitar, deixamos todos de queixo caído ao realizar o beijo mais beijado da história teatral!

Ninguém sabia do que acontecia entre mim e o Lee quando as nossas cortinas eram fechadas. Por que o Romeu havia beijado tão carinhosamente a Julieta se, por trás das máscaras, se tratava de dois caras marrentos que se odiavam. Ninguém poderia medir a estranheza dos acontecimentos quando ficou nítido que a implicância de nós dois, apesar de existente, minguava aos pouquinhos.

Acima de tudo, ninguém poderia dizer que Capuleto e Montecchio estavam apaixonados, mas foi o que aconteceu.


 

(Saem.)*



 


Notas Finais


*100,000won: equivalente
a 100 dólares
*(Saem.): última
rubrica, ação, da peça Romeu e Julieta; como termina.

Então é isso aí, meus queridos! Eu tô pulando de ansiedade pra ler suas opiniões, @deusmeajuda, então não poupem os dedinhos, por favor! riri
Espero que tenham gostado! Nos vemos no próximo tema! (torçam por mim, agradeço bastante)

Um beijo no coração pulsante e ensanguentado de vocês! Amém NCT!


Twitter: @isuhocream


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...