História Operation Crush: Fail - Date 17: Talk

 

 

 

-Taeyeon-

 

- “Será que… Podemos ter aquela conversa de novo?” - Abri a boca em choque, tentando entender como uma transformação tão drástica foi acontecer tão rápido.

 

Num segundo eu estava beijando a Tiffany e o dia era um dos melhores da minha vida inteira, no outro, meu sogro apareceu na mesa como se tivesse brotado e eu pensei que morreria jovem. Não demorei para entender o que havia acontecido quando Michelle apareceu ali também. Ela deveria estar cuidando para que o senhor Hwang não descobrisse ao acaso sobre meu encontro com Tiffany e ao invés disso, minha cunhada o trouxe direto para nós. Pelo bem ou pelo mal, aqui estávamos nós, sendo surpreendidos novamente por um pedido de conversa do pai da Tiffany, sem ter ideia de onde esta confusão toda vai dar.

 

Encarei Tiffany sentada em minha frente e só de olhar, eu já sabia que ela estava tão chocada, confusa e insegura quanto eu. - “C-Como… Como disse?” - Questionou incrédula. Michelle veio se sentar ao meu lado, de frente para o pai, e parecia tão confusa e surpresa quanto a gente. Tanto que precisou se sentar para aguentar o tranco das coisas que estavam saindo da boca dele.

 

Meu sogro coçou a cabeça, parecia sem graça, mas ainda assim, falou: - “Podemos tentar começar de novo?”

 

Minha namorada o encarou de queixo caído. Apesar do choque, consegui me recuperar um pouco mais rápido, e sutilmente apertei a mão de Tiffany na minha. Nós não havíamos soltado as mãos nem por um minuto e mesmo percebendo o fato, o senhor Hwang permitiu que continuássemos de mãos dadas, diferentemente da última vez. A ruiva se recompôs do susto assim que sentiu meu aperto leve.

 

- “Ahn, okay, claro… É… Acho que podemos tentar” - Respondeu, de um modo atrapalhado que eu achava bastante fofo. Só posso ser louca por estar apreciando a fofura de minha namorada num momento desses, pelo amor de f(x), foco, Kim Taeyeon, foco!

 

Passamos segundos inteiros e demasiadamente longos sem dizer nada. Acho que nenhum de nós sabia como continuar aquela conversa. O pai de Tiffany pigarreou de repente, e eu notei seu olhar se erguer em minha direção apenas por alguns segundos, antes dele voltar a fitar a filha mais nova.

 

- “Eu suponho… Que vocês nunca tenham terminado, mesmo depois das minhas ordens… Continuam namoradas” - Ele comentou. De longe dava para perceber que não era um assunto agradável para ele, mas eu já podia agradecer aos céus por ele não estar gritando e me ofendendo como fizera antes.

 

- “Eu disse, pai… Eu realmente amo a Taeyeon e sou muito feliz ao lado dela, não posso desistir de algo assim tão facilmente e-”

 

- “Okay, okay, eu já ouvi” - Falou, de modo impaciente, enquanto gesticulava com as duas mãos. Ele suspirou pesadamente antes de continuar. - “E vi também” - Completou baixinho. - “Eu só tenho medo, Tiffany, de você estar tomando uma atitude precipitada ao querer… Ser… Lésbica” - Soltou e eu o encarei, sem saber se ria daquilo ou se me sentia ofendida. Honestamente, era uma fala tão ignorante, que não dava nem para levar a sério. Vale a pena dizer que eu também não o culpo pela ignorância, afinal, o senhor Hwang nunca deve ter conhecido um homossexual, ou mesmo um bi, para que pudesse entender de verdade como as coisas são para a gente. Digamos que eu não poderia esperar nada diferente dele.

 

Tiffany o encarava nos olhos, com a mesma expressão que eu provavelmente tinha em meu rosto. - “Pai… As coisas não funcionam assim” - Ela começou, um pouco perdida e sem graça. Olhou para mim de modo suplicante, e eu tive que me forçar a falar alguma coisa, mesmo morrendo de medo do homem se enfezar para o meu lado.

 

- “Senhor” - Chamei e ele me encarou, um pouco confuso pela minha intromissão, mas mesmo assim, não disse nada. - “Nenhum homossexual de fato escolhe a homossexualidade. Ninguém escolhe sofrer preconceito, ser rejeitado pelas pessoas, pela família. Não é uma escolha e nem um querer. É apenas como as coisas são.” - Tentei explicar. Pela primeira vez desde que eu conheço esse homem, ele olhou nos meus olhos como se eu fosse gente.

 

- “Eu e Taeyeon nunca falamos sobre rótulos” - Tiffany completou, chamando a atenção do pai para si. - “Ela é a primeira garota e provavelmente a única no mundo todo que eu poderia amar. Eu nunca vou ver outras garotas da mesma forma que a vejo. Rótulos como gay, lésbica, bi, não fazem sentido para mim no momento, porque eu apenas amo a Taeyeon.”

 

O homem suspirou, parecia confuso com a ideia, mas se teve alguma dúvida, achou melhor não perguntar. - “E ela…” - Falou para Tiffany e de repente se lembrou que eu estava ali também. - “Você, também é assim?”

 

Neguei devagar. - “Não, eu… Eu me assumi, alguns anos atrás, senhor…”

 

- “Seus pais… Sabem?” - Perguntou inesperadamente, e confesso ter arregalado os olhos para ele.

 

- “S-Sim, eles sabem de tudo. Até sobre Tiffany” - Contei, e ele continuou me encarando, de modo curioso. Abaixei a cabeça, sem condições de sustentar seu olhar analítico.

 

- “Foi você que começou com essa maluquice, não foi?” - Perguntou num rompante e eu o encarei alarmada.

 

- “Pai, a Tae-”

 

- “Talvez sim” - Falei depressa e ele me encarou com uma sobrancelha erguida. Tiffany parecia horrorizada. Mordi o lábio. - “É verdade que eu insisti um pouco… Ou talvez muito” - Confessei. - “Mas eu nunca forcei nada a acontecer, senhor” - Respondi com sinceridade.

 

- “Quais são suas intenções com a minha filha?” - Aparentemente, eu havia me enfiado num interrogatório sem perceber.

 

- “Fazer bem pra ela.” - Respondi de imediato, e os dois me encararam de cenho franzido. Eu estava nervosa, as palavras saíam sem que eu explicasse meu raciocínio direito. Ajeitei-me na cadeira rapidamente. - “A Tiffany… É pessoa mais bonita que eu já conheci, senhor, por dentro e por fora. E nesse tempo com ela, mesmo quando nada estava acontecendo entre a gente, ela era capaz de me fazer uma pessoa melhor. Eu mudei muito por Tiffany, e eu melhoro a cada dia ao lado dela.” - Comecei. - “Então… Eu quero ser alguém que possa fazer bem para ela assim como ela faz bem para mim, eu quero ser alguém a altura dela, para que ela possa ser feliz comigo.” - Respondi, quase que num fôlego só. Assim que as palavras deixaram minha boca, eu notei o tamanho da confissão que havia feito e abaixei a cabeça em vergonha. Era verdade que eu geralmente não tinha problemas em admitir isso para a maioria das pessoas, mas o pai da minha namorada não se enquadra em “maioria das pessoas”. Tiffany apertou minhas mãos de leve e assim que olhei para cima, me deparei com seu eyesmile sincero e comovido, quase em lágrimas. Abaixei a cabeça de novo. - “Eu a amo muito, senhor. Eu quero o melhor para ela, quero fazê-la feliz… Enquanto ela me quiser.” - O silêncio deu mais ênfase a minha frase do que eu gostaria, uma pausa dramática tomou conta da gente por alguns instantes.

 

- “Pai. Eu amo muito a Taeyeon e sou feliz ao lado dela. Por favor, pare de tentar separar a gente” - Tiffany pediu, da maneira mais intensa que conseguiu.

 

O senhor Hwang suspirou. - “Eu só… Tenho medo de que você vá se arrepender dessa escolha mais tarde, Tiffany” - Ele disse. Basicamente, seu pensamento não havia mudado desde a última conversa, mas pelo menos ele estava sendo educado. O que já era um bom começo, se me perguntar. - “Não quero ver você tomando nenhuma decisão precipitada e depois se arrependendo…”

 

- “Não é uma decisão precipitada, pai.” - Ela disse com firmeza. - “Nada aconteceu do dia para a noite. Eu demorei muito tempo para entender os meus sentimentos por Taeyeon e aceitá-los como verdade, como parte de mim” - Eu que o diga. - “Eu pensei muito, e tive muitas dúvidas. Felizmente tive pessoas do meu lado para me ajudar, e finalmente pude chegar numa conclusão. A conclusão de que eu a amo de verdade e é com ela que eu quero estar. Por favor, o senhor precisa entender.” - Seu tom de voz era quase suplicante.

 

O pai abaixou o olhar. Ficando em silêncio por alguns instantes de ansiedade. - “Honestamente, minha filha, eu não consigo entender, e não consigo ficar feliz com isso… Mas eu consigo enxergar. E eu vejo que estou perdendo minha esposa, meus filhos… Estou perdendo você. Sua atitude de ver sua namorada escondido de mim, só me faz ver o quanto estou perdendo você, porque me tornei alguém em quem você não confia mais.” - Falou com certa ternura. - “Eu percebi agora que não vou conseguir mudar nada entre vocês, não importa o que eu faça. Estou perdendo a minha família para conseguir nada, porque nada do que eu faço adianta.” - Ele falou, parecia muito abalado por ter que admitir tudo isso. O pai de Tiffany deve ser um cara muito orgulhoso, de modo que conseguir essas palavras dele é até uma surpresa. - “Eu ainda acho que você vai se arrepender, porém, não há mais nada que eu possa fazer além de aceitar esse relacionamento”. - Eu, Tiffany e Michelle prendemos a respiração com a permissão inesperada. Quer dizer que esse tormento sem fim estava finalmente terminando? É sério?

 

- “Pai! Eu nem sei o que dizer-” - Tiffany tentou falar, num tom animado, mas os gestos de seu pai para que ela o esperasse terminar de falar a interromperam.

 

- “Não vou pedir desculpas por tudo o que fiz” - Ele disse, e minha namorada fez careta. - “Porque eu fiz tudo aquilo pensando no seu bem. Mas não vou ser estúpido de continuar batendo na mesma tecla” - Finalizou. - “Então, sim, eu permito o namoro de vocês.” - Sorri largo no mesmo instante. Tiffany me acompanhou num eyesmile emocionado, enquanto limpava algumas lágrimas que teimavam em cair. Sua mão apertou a minha com força. - “Mas, quero que preste muita atenção nisso, Kim Taeyeon” - Ele disse de repente e eu engoli em seco. Virei o rosto para encarar seu semblante sério. - “Eu acho bom você nunca machucar a minha filha, porque eu não vou deixar barato” - Sorri com certo alívio e apenas assenti. Meus planos estavam longe de machucar a Tiffany. - “E aliás… Eu agradeceria se você parasse de fazer ciúmes na minha filha com aquela tal de Juninha” - Ele disse, muito sério. Tremi dos pés a cabeça. Ele estava espionando a gente desde lá da escola? Ai, socorro.

 

- “Pai! Não encare assim, está assustando ela!” - Tiffany repreendeu. - “E não é Juninha, é Juniel” - Corrigiu.

 

- “Tanto faz” - O pai rebateu, fazendo a filha rolar os olhos. - “Só não faça mais isso” - Senti um arrepio percorrer minhas espinha.

 

- “E-Eu... Eu, mas eu… É que… Eu… Senhor, eu…”

 

- “Para com isso, pai, eu já disse que Taeyeon não vai trocar a Tiffany por qualquer uma.” - Michelle me defendeu, falando pela primeira vez, enquanto eu ainda continuava sem palavras.

 

- “Eu espero que não” - Ele disse, ao estreitar os olhos para mim.

 

- “Pode acreditar, não vou, não senhor, longe de mim!” - Declarei. Tiffany riu de leve e o pai dela me encarou desconfiado, mas não disse nada.

 

- “Agora que acertamos isso, está na hora de ir, Tiffany” - O pai disse, e a ruiva assentiu devagar, mas sorrindo de leve.

 

Estávamos a meio caminho da porta quando o semblante de Tiffany se iluminou. - “Seria forçar a barra pedir pra dar uma carona pra Tae?” - Soltou, me fazendo arregalar os olhos. Ela olhou para trás, na minha direção (já que não pudemos sair lado a lado), e eu gesticulei loucamente para que ela parasse de cutucar a onça com palitos de dente. Tiffany apenas riu da minha cara. - “Já está tarde, e é meio perigoso andar sozinha por aí nessas horas.”

 

O senhor Hwang olhou para filha e depois para mim, me analisando profundamente. Engoli em seco. - “Tá, vamos logo. Onde você mora, Kim?” - Perguntou e eu abri a boca em choque.

 

Ele teve que repetir a pergunta até eu me desbugar e finalmente responder. Quando chegamos no carro, Tiffany chutou Michelle para o banco da frente, com o pai, para que assim pudesse ficar comigo no banco de trás. Ai, Tiffany! Para de forçar a barra ou a gente vai morrer!

 

Passamos o caminho todo em silêncio, mas de mão dadas. Ela me olhava com carinho e parecia bastante feliz com o rumo que as coisas tinham tomado, claro, eu também estava. Não era o melhor cenário, as atitudes do senhor Hwang demonstravam que ele não tinha aceitado muito bem, mas pelo menos ele havia permitido que a gente namorasse e isso já era uma vantagem muito grande. Não ter mais que se esconder pela cidade me dava um alívio enorme.

 

Quando finalmente chegamos em casa, soltei a mão de Tiffany devagar, e me despedi. - “Obrigada pela carona, senhor. Tchau Michelle” - Falei. O homem deu de ombros e murmurou umas despedidas, enquanto a irmã mais velha acenou pra mim parecendo bastante feliz. Encarei Tiffany, e antes que eu pudesse decidir se faria algo ou não, ela se aproximou e me deu um beijo na bochecha. Sorri antes de retribuir o gesto. - “Tchau, Fany-ah”

 

Saí do carro rapidinho e assim que pisei um pé na calçada, meu irmão abriu a porta de casa e veio correndo até mim, provavelmente querendo interrogar quem me trouxe até aqui.

 

- “Kim Taeyeon, quem é-”

 

- “Xiu, cala a boca e entra em casa!” - Não deixei o idiota fazer nenhuma pergunta. - “Quieto, Jae, só entra, vamos logo” - Empurrei ele até entrarmos em casa e logo fechei a porta atrás de nós. Me apoiei contra a madeira e suspirei pesadamente.

 

- “De quem era aquele carro, Kim Taeyeon?” - Perguntou, com as duas mãos na cintura.

 

- “Do pai da Tiffany” - Respondi e eu tive a impressão que deu tela azul no cérebro do meu irmão.

 

- “Pai da Tiffany, mas ele, você, ela… Eu, você…. Ué… Buguei”

 

- “Nem me fala, eu tô bugada desde quando esse homem apareceu na sorveteria” - Confessei, assistindo Jaejoong arregalar os olhos.

 

- “ELE FLAGROU VOCÊS?!” - Perguntou chocado e eu maneei a cabeça.

 

- “Mais ou menos. Michelle sabotou nossos planos e trouxe o pai para nos espionar enquanto saímos.” - Contei.

 

- “Vem cá, conta tudo!” - Ele disse, me puxando para o sofá. Abri a boca para começar a falar, mas ele me interrompeu de repente. - “Espera! O final é triste? Quer que eu faça sopa?”

 

- “Se tu vier com essa de sopa de novo eu não conto é nada, Jaejoong!” - Ameacei, fazendo ele rolar os olhos.

 

- “Tá, tá! Sem sopa. Prometo. Agora conta, peste!”

 

Bufei antes de começar o relato. Meu irmão ficou super feliz por mim quando soube de tudo e até ameaçou ligar para a Sooyoung , a “Presidente” de acordo com ele, pra contar as novidades. Passamos boa parte da noite conversando sobre como tudo foi tão inesperado e em como as coisas serão mais fáceis agora também. Meus pais chegaram depois de algum tempo, e o fofoqueiro do meu irmão, já foi logo espalhando a novidade para eles. Os dois me encheram de abraços e me provocaram bastante sobre as declarações que eu havia feito, infelizmente, cai na burrada de contar essa parte em detalhes pro Jaejoong também, o que me rendeu boas zoeiras. No fim, o Jae resolveu fazer bolo de sorvete para comemorar o acontecido, e eu acabei me tocando que apesar dos pesares, hoje havia sido mesmo o melhor dia da minha vida.

 

 

-Tiffany-

 

A volta para casa se deu de modo silencioso. Papai parecia calmo, mas ainda bastante chateado com tudo. Confesso que isso me entristecia. Ouvi-lo dizer com todas as letras que meu namoro com Taeyeon não o agradava era doloroso, porque eu sentia no fundo da alma que o estava decepcionando de algum modo, por algo que nem é realmente uma escolha minha ou algo que eu posso controlar. É como se ele estivesse decepcionado com o fato de eu ter achado a felicidade com Taeyeon. Magoava um pouco, mas apesar disso eu nunca ousaria reclamar em voz alta, porque sabia bem que ter sua permissão já era um progresso enorme. A calma e educação de papai pegou todo mundo de surpresa, e eu sei, que para ele foi muito difícil agir desse jeito, o conheço bem. Então por enquanto, apenas agradeço por tudo o que se passou.

 

Quando papai estacionou o carro na garagem de casa, não pude deixá-lo entrar sem antes dizer: - “Pai… Obrigada” - Falei baixinho e ele me encarou. Sorriu fraco para mim.

 

- “Espero que seja feliz” - Ele disse, de modo terno. Sorri para ele com eyesmiles.

 

Foi então que Michelle passou por nós correndo, na tentativa de entrar em casa sem ser percebida. - “Michelle Hwang.” - Chamei, e ela estacou no lugar, antes de se virar devagar em minha direção com um sorriso amarelo. - “Meu quarto. Agora. Precisamos bater um papo reto, unnie.” - Falei sarcasticamente e vi minha irmã mais velha engolir em seco antes de assentir.

 

Papai apenas nos encarou com uma sobrancelha erguida enquanto eu arrastava Michelle para meu quarto. Fiz tudo na maior calma do mundo, mas quando fechei a porta atrás de nós, não aguentei mais segurar.

 

- “MAS QUE TRAIÇÃO FOI ESSA, MICHELLE!”

 

Minha irmã se encolheu. - “Tiffany, eu só estava querendo ajeitar as coisas. Você sabe que papai só aceitaria o namoro de vocês se visse com os próprios olhos que você estava feliz.” - Argumentou e eu rolei os olhos.

 

- “Poderia ter avisado antes, né! Porra Michelle, e se as coisas não saíssem bem? E se papai surtasse no meio da rua? Ou na sorveteria? Tu tem noção da humilhação que eu e Taeyeon passaríamos? Você viu como ele reagiu quando contamos a verdade, imagina ouvir todas aquelas palavras em público! Ah, e Taeyeon? Como você se desculparia com Taeyeon se acontecesse de novo? Fala alguma coisa!”

 

- “Era um risco a se correr” - Falou de cabeça baixa. - “Se nós tivéssemos te contato, vocês iam passar o tempo todo atuando para impressionar o papai, não poderia ser assim, ele iria perceber. Deveria ser espontâneo, Fany!”

 

Tenho que admitir que o argumento dela fazia sentido, mas isso não me deixava menos irritada. - “Espera só um momento… Você disse ‘nós’?”

 

Michelle engoliu em seco de novo. - “Mamãe ajudou” - Falou e eu bufei. Mas será possível! Tá todo mundo tá de armação comigo!

 

Ouvimos alguém limpar a garganta de repente e quando nos viramos em direção a porta, lá estavam papai e mamãe, nos encarando. Mamãe portava um sorriso amarelo e papai parecia contrariado em estar ali.

 

Antes que eu pudesse perguntar, minha mãe tomou a frente. - “Querido, devolve pra ela” - Ergui uma sobrancelha.

 

Papai hesitou. - “Mas…”

 

- “Devolve pra ela” - Mamãe repetiu e ele suspirou.

 

Meu pai caminhou até mim e estendeu a mão em minha direção. - “Toma. Você está livre do castigo” - Anunciou, ao abrir a mão e revelar meu celular.

 

Soltei um gritinho de felicidade ao pegar o aparelho nas mãos. - “Obrigada, obrigada!” - Falei, pulando no pescoço de meu pai e o abraçando apertado.

 

- “Tiffany, querida…” - Minha mãe chamou e eu a encarei. Ela se aproximou de mim e me abraçou. - “Desculpe pela traição, mas foi o único jeito, não fique tão brava com Michelle, ela teve a melhor das intenções” - Falou e eu só pude rir.

 

Abracei minha mãe apertado e no fim, não pude negar um abraço para minha irmã também. Leo chegou alguns minutos depois querendo saber como ocorreu a operação ‘Stalkeando a Tiffany’. Rolei os olhos com o nome que ele inventou, e apenas ri. Naquela noite, jantamos em paz pela primeira vez em meses. Antes de dormir, fiz questão de mandar uma mensagem de boa noite para minha namorada, assim ela ficaria sabendo que eu já estava de posse de meu celular. Nós duas finalmente sentimos que as coisas estavam se ajeitando.

 

~x~x~

 

A semana se passou num piscar de olhos. Sem precisar aturar um clima pesado em casa, o tempo parecia estar correndo. Eu havia entrado de férias alguns dias atrás e estava fazendo questão de aproveitar meu descanso da melhor forma possível. Fui uma vez ao shopping com Taeyeon, Jessica, Yuri, Sooyoung, Jaejoong, Yunho e Sunny. Diferentemente da última vez, fizemos esforço para não gastar muito, afinal, ninguém tinha tanto dinheiro no momento, era mais um modo de descontrair e comemorar a liberdade acadêmica recém conquistada. Juniel teria se juntado a nós, se a esperta não tivesse pegado recuperação. Bem, honestamente, eu acho é pouco! Vai trouxa, tenta roubar a namorada dos outros pra ver!

 

Claro que também saí com Taeyeon duas vezes, com a permissão de papai. Ele não permitia que a gente saísse todo o dia, falava que era era exagero, tudo que é exagerado faz mal. Não tive escolha a não ser rolar os olhos e concordar, mas mesmo que não nos encontrássemos, ainda falávamos ao telefone todos os dias. Foi uma semana incrível.

 

Ouvi batidas na porta do meu quarto e imediatamente pausei o player da Netflix, eu estava vendo Pretty Little Liars. - “Está aberta!” - Gritei.

 

Papai entrou no cômodo no instante seguinte, ele sorriu amarelo pra mim e eu franzi o cenho. Lá vem…

 

- “Tiffany, podemos conversar?” - Perguntou e um alerta vermelho disparou em minha cabeça. Assenti devagar, e observei meu pai se sentar em minha cama do meu lado.

 

- “Aconteceu alguma coisa?” - Perguntei e ele coçou a barba rala.

 

- “Ahn… Bem, talvez…” - Ele disse e eu ergui uma sobrancelha, fazendos gestos com as mãos para que ele falasse logo de uma vez. - “Você… Lembra da viagem para a Califórnia?” - Perguntou com um sorriso amarelo.

 

- “Ah Pai! Você não fez isso, por favor, me diga que você não fez isso!” - Explodi. Porra! Será que sempre que eu penso que está tudo bem, as bombas estouram na minha cabeça!

 

- “Eu fiz, mas espera, calma, me deixa terminar, Tiffany!” - Pediu, em meio às minhas reclamações e protestos. Bufei antes de cruzar os braços na altura do colo. Estava irritada e sabia que não haveria explicação alguma que me fizesse aceitar essa viagem numa boa. - “Olha, na verdade; quando eu comentei sobre aquela viagem, semanas atrás, eu já havia conversado com meus pais na Califórnia e avisado que iríamos viajar.” - Ele disse e eu continuei com os braços cruzados, irritada. - “Eu juro que liguei para lá de novo nesta semana e tentei dizer que não iríamos mais, só que… Suas avós querem ver você” - Ele disse.

 

- “Isso não é desculpa!”

 

- “Tiffany, seu aniversário é em menos de duas semanas, faz anos que você não os vê. Eles querem saber como está, comemorar seu aniversário com você.” - Rolei os olhos. - “Você me disse; que se for para fazermos essa viagem, deveria ser pelos motivos certos, lembra?” - Perguntou e eu o encarei de canto de olho antes de assentir. - “Eu juro que não tem nada a ver com a relação entre você e a Taeyeon, e posso te provar isso” - Falou e eu ergui uma sobrancelha. Papai suspirou antes de buscar alguns papéis no bolso interno de seu terno, ele havia acabado de voltar do serviço. - “Toma”.

 

Mesmo desconfiada, peguei toda a papelada na mão e tentei entender do que se tratava. - “O que… É isso?”

 

- “É a papelada da sua transferência”

 

- “Pra que eu iria querer a papelada da minha transferência pra Baekpeo High School? Eu odeio aquele lugar!” - Falei irritada e papai sorriu de leve.

 

- “Não, Tiffany. É a papelada da transferência para a East High Shcool.” - Ele disse e eu abri a boca em choque. - “Você vai voltar a estudar lá, com a Taeyeon”

 

- “Você tá brincando comigo?” - Perguntei e ele negou rapidamente. - “VOCÊ SÓ PODE ESTAR BRINCANDO COMIGO!” - Gritei de felicidade enquanto pulava em cima dele e o abraçava.

 

- “Eu juro que não tenho segundas intenções com essa viagem, mesmo porque, já entendi que não adianta te mudar nem de país. Apenas acho que você deveria ver seus avós e passar um tempo com eles. Estão com saudades.” - Disse.

 

Afastei-me dele devagar. - “Quando vamos? E quanto tempo ficaremos lá?” - Perguntei.

 

- “Depois de amanhã, de madrugada.” - Ele disse e eu fiz careta, muito perto. - “Ficaremos uma semana e voltaremos pra Seoul no dia do seu aniversário.” - Ele disse e eu maneei a cabeça, não era muito tempo, eu poderia aguentar isso. - “Desculpa ser tão de última hora. Eu queria ajeitar a sua transferência antes de te dar essa notícia, assim você não tiraria conclusões precipitadas” - Justificou-se.

 

- “Tudo bem, eu entendo agora” - Falei.

 

- “Aproveite bem o dia de amanhã com Taeyeon e as outras, mas não esqueça de arrumar suas malas, okay?” - Falou e eu assenti feliz.

 

Estava começando a pensar que uma viagem curta para os Estados Unidos pode acabar sendo divertida no fim das contas.