História Operation Swan - Steep three: Restart!

London,

February 8, 2017

Um grupo de oito pessoas estava reunido perante a uma grande mesa de carvalho enegrecido. Sentada a cabeceira da longa tábua de reunião, a juíza de direito lia os últimos termos da separação.

– Fica declarado então, que o Mr. Weasley se abstém do apartamento localizado em Westminster, deixando-o para Mrs. Granger.

Ron, como sempre, não estava prestando muita atenção naquilo que era discutido ao seu lado. Durante aqueles quarenta e cinco minutos de reunião, a única coisa que ele conseguiu observar com precisão foi às reações dúbias de Hermione. A mulher parecia nervosa, e desviava o olhar várias vezes do ex-marido a sua frente.

A juíza virou a página do processo de divórcio, chegando ao último tópico.

– Bom, a última questão legal a discutirmos agora é a guarda da filha de 15 anos do casal. – ela leu o nome na folha. – Rose Granger-Weasley.

O advogado de Hermione levantou a mão e a juíza lhe concedeu a palavra.

– Meritíssima... – ele começou. – Ambas as partes entraram em acordo por uma guarda compartilhada, tendo interesse em um regime de convivência alternada, expresso pela menor em questão.

– Essa decisão é realmente unanime? – a mulher indagou, se apoiando na mesa com os cotovelos. – Porque, caso seja, é importante que tanto o Mr. Weasley, quanto a Mrs. Granger saibam o que realmente implica essa divisão da guarda da adolescente.

– Os dois estão cientes, meritíssima – o advogado do Ronald confirmou.

A juíza acenou afirmativamente com a cabeça.

– Sendo assim, eu marcarei a audiência para finalização do processo do compartilhamento da guarda da menina Rose Granger-Weasley para a semana que vem. Os dois senhores estão de acordo?

– Sim, meritíssima. – Ron confirmou, com os braços cruzados.

Hermione apenas assentiu, muda. 

– Bom, dessa forma... – a juíza prosseguiu. – Como o divórcio foi acertado de forma amigável, creio que nós podemos encerrar a questão. – um dos seus assistentes ergueu algumas folhas de papel na direção dos advogados. – Só resta agora os senhores assinarem os termos da separação e então poderão sair livres desta sala.

O advogado de Ron pegou as folhas e examinou por um breve momento. Nesse meio tempo, Hermione se manifestou.

– Será que eu poderia ir ao banheiro por alguns instantes?

A juíza autorizou que ela se afastasse e Hermione se levantou da poltrona. Seu olhar estava carregado. Ron sabia que ela não estava bem.

Hermione empurrou a porta do banheiro feminino, trêmula. Ela andou até a pia, onde depositou a bolsa antes de jogar um pouco de água no rosto. O passo que ela estava a tomar em alguns minutos a deixava mais que nervosa. Era como se algo fervilhasse dentro do seu peito, inquieto. Algo que ela não sabia discernir se era bom ou se era ruim.

Enxugando ao redor dos olhos com uma toalha de papel, a mulher vasculhou a bolsa a procura da sua nécessaire. Dentro, encontrou um estojo de maquiagem, o qual usou para retocar um pouco daquilo que havia sido lavado pela água. Um pouco melhor, ela saiu do banheiro.

Na sala de reunião, Ronald pensava. Ou melhor, tentava pensar. No seu cérebro, um misto de informação dançava merengue, com os pés ágeis. O ruivo vinha tentando discernir cada passo, sem sucesso. Por uns minutos ele achou que enfim havia conseguido identificar a coreografia, aí Hermione passou pela porta de vidro, de volta a audiência, e ele perdeu o ritmo de todas as pisadas mais uma vez.

– Ron, está tudo ok. – seu advogado comunicou, prático. – Eu conferi todos os termos, só falta agora você assinar.

Ronald pegou o papel e admirou por um tempo. A caneta prateada, geralmente utilizada para assinar contratos com emuladoras ou bancos, girava na sua mão esquerda. Ele suspirou e pôs a folha em cima da mesa outra vez.

– Eu gostaria que essa sessão fosse adiada.

A frase saiu direta. Ron soltou o ar pelo nariz e se encostou à poltrona negra. A juíza o fitou, sem entender.

– Mr. Weasley, todos os trâmites do divorcio já foram acertados.

– Eu... – o ruivo coçou o topo da cabeça, nervoso. – Eu só não sei se estou preparado pra assinar isso aí.

A juíza se empertigou, entrelaçando os dedos das mãos.

– Mr. Weasley é importante que o senhor tenha noção de que esta decisão talvez não caiba mais somente ao senhor...

Ron já estava pensando em outro argumento para dar a mulher, quando ouviu algo que o surpreendeu.

– Eu aceito o adiamento. – Hermione disse, olhando fixamente para a juíza.

A mulher observou o casal e compreendeu algumas coisas antes não observadas por ela. Sua postura então se relaxou.

– Desta forma, declaro a sessão adiada. – comunicou. – Os promotores entrarão em contato com os seus advogados para a marcação de uma nova data.

Todos foram liberados em seguida. Do lado de fora da sala, de frente ao elevador, Hermione conversou com o seu advogado por alguns minutos. O assunto o mesmo, como era de se esperar. Do outro lado do cômodo, ela viu o ruivo, seu quase ex-marido definitivo, não ter paciência para esperar a cabine chegar até aquele andar.

Ron atravessou a porta vermelha e desceu as escadas de emergência. Não eram muitos andares e passar por ali o ajudaria a não pensar no que ele tinha acabado de fazer. Sim, por que raciocinar sobre o cancelamento da audiência era a ultima coisa que ele estava disposto a fazer naquela manhã.

O ruivo seguira para corporação, enquanto Hermione fora diretamente do fórum para a universidade. Ambos trabalharam o resto do dia, tentando inutilmente esquecer as consequências do episódio de mais cedo.

--- Ω ---

Era fim de tarde quando Hermione passou pela portaria, antes bastante frequentada por ela, sem precisar de identificação. Ela cumprimentou alguns rostos conhecidos, de longe, e entrou no elevador. Mione apertou o ultimo botão e subiu diretamente para o terraço da PowerSet.

Como a mulher imaginou, debruçado no muro de tijolinhos, Ronald Weasley admirava o horizonte.

– Eu sabia que eu ia te encontrar aqui.

Ao perceber que não estava mais sozinho, o Ron sorriu de canto, sem se virar.

– Algumas coisas nunca deixam de ser um costume. – ela completou.

Hermione se aproximou e, assim como o ruivo, apoiou as mãos protegidas pelas luvas na amurada. Os dois ficaram lado a lado.

– Por que você veio? – ele indagou, ainda imóvel.

– Eu não conseguiria voltar para casa sem saber o que aconteceu. – Hermione respondeu, também concentrada no horizonte.

– Eu adiei a audiência, apenas isso.

– Por quê?

Ron deu de ombros. Hermione o encarou.

– Foi você quem pediu o divórcio, Ron.

Os olhos azuis a fitaram de volta.

– Então porque você levou a diante, Mione?

Há tempos aquela cordialidade não era vista entre os dois. Na mente de cada um, flashes passavam a todo o momento.

– Você nunca teve nenhuma... dúvida?

Ela engoliu a seco. A resposta positiva veio até a ponta da sua língua, mas Hermione optou pelo silêncio.

– O que é que tá acontecendo com a gente? – o ruivo questionou, confuso.

– Eu... – o coração dela batia a mil. – Eu não sei.

– É difícil se desligar.

– Nós temos que seguir em frente, Ron.

–Eu realmente não sei se é seguir em frente o que eu quero.

Hermione arquejou, angustiada. O peso daqueles olhos azuis topázio estava sufocando-a. Para ela apenas existiam duas opções: se perder naquele olhar, submergindo lentamente sem perceber, ou voltar à superfície dura e áspera, porém segura. Mione optou pela segunda opção.

A realidade, todavia, não foi o suficiente para inibir que um sorriso sincero brotasse em seus lábios, inquieto. Havia algumas coisas que ela sentia saudades de escutar.

Hermione desviou o olhar para o horizonte outra vez. Isso, no entanto, não dificultou que o ruivo contemplasse o ato sincero em seu rosto. Muito menos o impediu de gostar do que tinha acabado de ver. Pela primeira vez em meses, talvez em anos, Ron vislumbrava a mulher ao seu lado verdadeiramente.

O ruivo guardou o seu próprio sorriso consigo, na garganta. Talvez houvesse muitas coisas a serem ditas. Talvez houvesse muitas coisas a serem feitas. Talvez houvessem, acima de tudo, coisas a esquecer. No fim, ele nunca saberia ao certo. Ronald tinha total noção que ser contido não fazia parte do seu habitual, nunca fora, mas aquele não era o momento para tais questionamentos.

Assim, o ruivo voltou a se apoiar na amurada. Sem comentar nada, Ron acompanhou Hermione nesse tributo à paisagem a sua frente. Transversalmente, o casal assistia a um espetáculo. Ao longe, o sol se punha avermelhado. Ali, nem parecia que ainda era inverno.