Jordan´s POV
Cheguei á instituição e não estava á espera que me fossem instalar num convento de rapazes. Todas as paredes têm cruzes e quadros assustadores. Os corredores são frios tal como eu sou, e os quartos são pequenos e com apenas duas camas estreitas e duas cómodas. Quando me levaram ao meu quarto apercebi me que tinha de o partilhar com um rapaz provavelmente da minha idade.
- Arruma as tuas coisas nesta aqui. Ás 8 em ponto servimos o jantar na cantina. Henry te conduzirá até lá. Certo Henry? – O frade pergunta secamente
- Hum hum.
- Como?
- Sim irmão Robert.
Aí percebi que tanto o meu companheiro de quarto como os frades da instituição não me iriam facilitar a vida. Mas também, já não tenho nada para dar ao mundo, e se realmente eles me foderem a vida mais do que já está, suicido me de vez. Maneiras de fazer isso não faltam: Posso me atirar do telhado, enforcar me num lençol, asfixiar me debaixo da almofada, ou simplesmente deixar de comer e morrer aos poucos. Já viram? A morte está em todo o lugar, á nossa volta pronta para nos receber.
Espero o frade sair do quarto e atiro me para cima da cama desconfortável. Acendo um cigarro e fumo ali ao lado de Henry sem dizer uma palavra ou me preocupar com as consequências.
- Tens mais? – O meu companheiro de quarto pergunta, com um aspeto tão deprimido como o meu.
Não digo nada, apenas lhe atiro desinteressadamente um cigarro e um isqueiro. Ficamos em silêncio por uns minutos, até que ele diz:
- É uma merda não é? Viver.
- Deixa me em paz! – grito arrogante
- Calma. Até que podíamos ser assim aqueles “amigos suicidas”. – Ele dá uma pequena gargalhada de gozo
Levanto me da cama estreita e desconfortável, e atiro me para cima do rapaz dando lhe dois murros na cara descarregando um pouco de toda a minha raiva e depressão.
- Entende uma coisa... Henry não é? Eu não preciso nem quero amigos, muito menos “amigos suicidas”! Queres morrer? Mata te! Mas mata te sozinho, que eu farei o mesmo!
Saio porta fora e vou para o jardim que aos meus olhos é só um deserto escuro e solitário. Faço o maior esforço que consigo para chorar, mas nem uma lágrima cai. Merda! Quem sou eu? O que é que eu estou aqui a fazer? Eu não sei de nada! Estou deprimido desde que nasci? Nunca conseguirei ser feliz? Estas e mais dezenas de perguntas fazem eco na minha cabeça a cada segundo que passa... †††††††††
[...seis meses depois...]
- Jordan? Consegue me ouvir?
Abro os olhos lentamente e uma luz branca e dolorosa me enche a vista. Finalmente vejo alguns rostos a aparecerem á minha volta, com um olhar preocupado. Frades e médicos, todos á minha volta como se eu estivesse prestes a morrer. Mas infelizmente não, não estou morto.
Tento me levantar mas reparo que tenho os braços presos á cama onde já durmo á seis meses. Tenho duas ligaduras grossas, uma em cada pulso, por conta da minha terceira tentativa de suicídio. Mas mesmo enfiando facas pelas veias a dentro, continuo vivo, despejado aqui neste manicómio para crianças e adolescentes.
- Como se sente? – um frade pergunta como se já estivesse habituado a que eu me tentasse matar
- Ahhhhhhhh!!! – começo a gritar e a espernear por todos os lados.
Continuo sem conseguir chorar, e isso ainda me deixa mais frustrado. Portanto em vez de chorar, os meus pulmões enchem se de aflição, e entro em pânico.
- Por favor. Deixem me morrer. Por favor! – imploro aos médicos, que apenas fazem sinal aos frades para terem uma palavra com eles.
- Coitadinho deste menino. Está perdido...
- Não há nada que possamos fazer. Quando fizer dezoito anos é obrigado a sair daqui e já não é problema nosso. – um frade diz impaciente
- Quanta arrogância! Deus me perdoe, mas quem diz que este menino já não tem esperança não merece a bênção de Deus. Ele precisa duma família estável que o ame e lhe dê conforto e proteção!
- Ninguém vai querer levar o rapaz para casa!
- Nunca saberemos, tenha fé. Eu rezo todos os dias para que alguma família adote Jordan.
Quando as palavras “Ele precisa duma família estável que o ame e lhe dê conforto e proteção” entraram nos meus ouvidos, pela primeira vez senti que isso nunca esteve presente na minha vida. Nunca fui amado, e ninguém ainda se deu ao trabalho de me fazer sentir confortável e protegido. Será que é isso que é ter uma família?
Continuo a gemer de dor no peito e tristeza. Não há nada que me tire esta tortura do corpo. Não consigo encontrar a cura para esta doença...
" WE DON´T NEED TO BE ALONE TO FEEL LONELY."
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.