História Orações Suicidas - SELF HARM

Jordan´s POV

Estou já nas férias de Natal, e desde que vim para casa de Luke e de Maria, que continuo a receber mensagens esquisitas nos sítios mais impensáveis. No meu cacifo, debaixo da almofada, nos livros da escola... Mas a verdade é que não sei como, mas estas mensagens têm me ajudado de alguma maneira. Continuo a desconfiar que seja Isabella a pessoa que me tem mandado estas coisas, só que não percebo o porquê.

E uma coisa que me têm dado pesadelos, é que todos os dias, desde que vim para cá, vejo através da janela do meu quarto, Jake a abusar de Isabella, e depois no seguinte, ela chega á escola como se nada tivesse acontecido.

- Espera aí...

De repente lembro me da primeira mensagem que me apareceu dentro da revista dos Star Wars, assinada por “PLEH”.

- P...L...E...H... H...E...L...P. Help (ajuda)!?

Então era isso! Sou mesmo idiota, como é que eu não percebi!? Ela esteve a tentar pedir me ajuda este tempo todo... Agora não sei o que faça, se vá a casa dela e dê uns valentes socos a Jake, se chame a policia, ou se fale com os seus pais. Nenhuma das opções parece dar certo, por isso estou completamente de mãos atadas.

Passados uns minutos de dar voltas e voltas á cabeça, vejo o babaca do Jake a sair de casa de Isabella, e aproveito para ir lá, na tentativa de falar com ela.

- Onde vais Jordan? – Maria pergunta, confusa por me ver a descer as escadas a correr em direção á porta.

- Vou... vou levar o livro de história á Isabella, ela esqueceu se dele cá em casa. – digo isto sem sequer me preocupar com o facto de estar de mãos a abanar, sem livro de história nenhum.

- Mas onde está o livr... – Não dou tempo a Maria de acabar de falar, e saio porta fora.

Atravesso a rua a correr, e toco á campainha de casa de Isabella. A sua mãe abre a porta, e o seu sorriso chique e falso transforma se logo numa cara de pau preconceituosa por me ver.

- Ah...Jordan és tu... Precisas de alguma coisa?

- Sim, eu precisava de falar com a sua filha se não se importar.

- Ah claro. Ela está no quarto, é no topo das escadas á direita.

Entro descaradamente pela casa dentro, e dirijo me ao quarto de Isabella. Bato á porta duas, três vezes, e ela não me responde. Começo a sentir alguma angustia, o ar começa a faltar me. Finalmente abro a porta do seu quarto, e logo me deparo com pedaços de papel espalhados pelo chão. Apanho um deles, e tem escrito “livng through a window” (vivendo através de uma janela). Apanho outro, e tem escrito “they drug you to convince you that you´re gonna be okay” (eles drogam te para te convencer que vais ficar bem). Apanho mais uns quantos, e todos eles têm as mesmas frases que eu recebi. Agora sim, tenho a certeza de que foi Isabella quem me escreveu aquelas mensagens. Aproximo me da sua cama, onde ela está embrulhada no meio dos cobertores.

- Olá, sou eu o Jordan... Podemos falar?

Isabella não responde, por isso vou mais perto e levanto o cobertor. Os seus olhos estão entre abertos, um deles está negro, e há uma possa de sangue por baixo de Isabella. Levanto completamente o cobertor, e ela apenas veste uma roupa interior ensopada de sangue. Entro em pânico, até que reparo que ela não corta os pulsos, mas sim a barriga. Tento chamar pelo seu nome, mas ela está demasiado fraca e quase inconsciente. Grito pelos seus pais, e mal eles entram no quarto, acusam me logo de ter feito mal a Isabella.

- Seu marginal! Afasta te da minha filha!

Ignoro as acusações da Senhora Stuart, e ligo á ambulância, sem tirar os olhos daquela cena horrível: os cortes na barriga dela são tão profundos, que o sangue continua a correr aos poucos, como se estivesse a matar alguém lentamente e dolorosamente. Tal como a minha última mãe adotiva morreu.

Quando a ambulância chega, corro para minha casa, e quase que exijo a Luke que ele me leve ao hospital onde Isabella está. Não sei porque me sinto assim tão preocupado, afinal ela sempre foi aquela rapariga irritante e ridiculamente feliz que se sentava ao meu lado nas aulas de filosofia.

[...]

Depois de algumas horas esperando, um médico dirige se aos pais de Isabella, que estão sentados a uns metros de mim e de Luke.

- Então como é que ela está? – o pai de Isabella pergunta com preocupação.

- Bom, a vossa filha está em estado crítico, perdeu bastante sangue. Neste momento ela está tendo uma recarga de um dador, e está dormindo. Ela mostra sinais de abuso físico e eu diria até abuso sexual, mas só poderemos fazer os exames necessários para comprovar isso quando ela acordar. Também encontrei várias negras e marcas nas suas pernas e braços, e tem também o olho esquerdo ligeiramente magoado. Ela terá de ficar internada no hospital alguns dias, até termos a certeza que os seus cortes na região da barriga estão seguramente cozidos.

- Ah estava a ver que era pior. – a mãe de Isabella diz isto, o que deixou tanto a mim e ao médico de boca aberta.

- Senhora Stuart, sugiro que converse com a sua filha para perceber se ela tem estado sobre algum tipo de ameaça ou predador. Aqui tem o contacto de uma das melhores psicólogas do hospital, seria muito importante se a levasse a uma consulta. Esta psicóloga pode ajudar a Isabella a ultrapassar a automutilação, que aparenta já durar á meses.

- Nem pensar, ela não precisa de psicólogo nenhum! A Isabella já não é a primeira vez que se corta ou se aleija de propósito só para nos envergonhar! Mas desta vez ela vai aprender.  Ah, e só mais uma coisa, não vai a ver exames nenhuns, porque não é necessário, entendidos?

No momento em que a vadia da mãe de Isabella disse aquilo, raiva começa a consumir me o corpo, e começo a ir em direção a ela, pronto para lhe sufocar o pescoço. Se não fosse Luke a segurar me por trás, eu ia me a ela.

- Tu achas isto normal caralho!? – pergunto a Luke quase aos gritos

- O que eu acho é que esta mulher é louca Jordan. A segurança de menores só ainda não tirou a Isabella destes dois, porque eles são ricos que nem sei lá o quê, e podem pagar a um bom advogado.

Depois de falarem com o médico, os pais de Isabella saem do hospital de nariz empinado, como se não se interessassem pela sua filha. Antes que o médico vire costas, corro para ele, e pergunto lhe:

- Posso vê la?

- E você é...?

- Sou o Jordan. Sou amigo da Isabella, acho eu. Eu preciso muito de vê la.

- Bom, neste momento ela não pode receber visitas, talvez daqui a umas  três, quatro horas, ela já esteja acordada e preparada para ver lo.

- Tá bom eu espero o tempo que for preciso.

- Jordan, sabe se a Isabella tem um namorado?

- Tem sim, o babaca do Jake. Ele todos, ou pelo menos quase todos os dias,  vai a casa dela e...

- E...?

- Nada.  – trinco a língua, pois não quero dizer nada a ninguém sem antes falar com Isabella.

Quando o médico vira costas, aproveito que Luke está ao telefone com Maria, para procurar o quarto dela. Subo e desço escadas vezes sem conta, até finalmente ver o seu nome escrito na porta.

Entro em silencio e devagarinho, e vejo Isabella dormindo e ligada a duas máquinas como um vegetal, indefesa e inconsciente do que se está a passar.

Isto é tudo culpa minha, eu devia ter dado mais importância ás mensagens que ela me tem deixado este tempo todo!... Acho que pela primeira vez em muitos anos, começo a sentir algo novo, talvez um pouco mais que preocupação.

E no meio de esta merda toda que está a acontecer com Isabella, eu finalmente tenho uma ponta de felicidade a nascer dentro de mim. Pode parecer egoísta, tendo em conta as circunstâncias. Mas a verdade, é que pela primeira vez desde que me lembro, uma lágrima escorre pela minha bochecha ao ver Isabella naquele estado, numa cama de hospital. Pode ser só uma lágrima estúpida, mas esta será a lágrima que me vai dar forças para continuar a viver.

“THE SCARS START TO FADE, AND THE NEED TO BRING THEM BACK IS GETTING STRONGER.”