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História Ordinários - Capítulo 6


Escrita por: Unare

Notas do Autor


Quem cometer injustiça receberá de volta injustiça, e não haverá exceção para ninguém.
Colossenses 3:25

Capítulo 7 - Capítulo 6


–Ah, olá de novo, Quésia. Algum problema? –ela não estava muito impressionada em me ver.

–A professora pensou que falei mal dela, mas não fui eu. Enfim, eu vou aproveitar pra dizer o que eu quero, apesar de eu não ter feito nada: Ela quer aplicar um teste em nosso primeiro dia! –sentei na cadeira frente à dela.

–Ela pode fazer isso.

–O quê?!

–Desculpe Quésia. Mas na sala de aula, o professor é a autoridade máxima. Você precisa fazer o teste. São as regras daqui.

–Como eu vou fazer uma coisa que eu não sei?

–Fica calma, é claro que ela não botaria algo que vocês já não tenham estudado. Se botasse, você teria o direito de vir reclamar.

–Mas...

–Faça o favor de voltar pra sala, se for apenas isso que você queira saber. –a diretora abriu a porta.

Voltei pra sala de aula com a pior cara possível. Os alunos já estavam fazendo o teste. A professora me olhou de cima a baixo e entregou a folha:

–Espero que isso não se repita!

Fui pro meu lugar e comecei a fazê-la. Alguns minutos depois eu já tinha terminado. Olhei pra direita e Hebrom estava batendo com a caneta na carteira e mordendo o lábio inferior. Agitado. Talvez ele não seja mesmo bom na matéria, já que não é desse país.

–Tá conseguindo fazer? –falei bem baixo com ele. Salamander sacudiu a cabeça em negação. –Se você quiser, eu posso... –deixei o teste à mostra pra ele.

–Não, desculpe... Isso não é certo... Mas obrigado mesmo assim, eh.

–O que vocês dois estão conversando aí?! –a professora chamou nossa atenção lá de longe.

–Nada! –eu fiquei com medo de lascar o garoto.

–Como a mocinha tem tempo de conversar, creio que já deve ter acabado. Traga seu teste aqui. –fui até lá e devolvi o papel para ela. –Hm... “Quésia Cortês”, é? Volte para o seu lugar. –ela começou a corrigir.

Algum tempo depois, as pessoas que terminavam o teste podiam ir entregá-lo. Já estava na hora do intervalo, todos haviam terminado, exceto o Salamander.

–O tempo acabou. –a professora tentou pegar o teste da mão do garoto.

–Mas ele ainda não! –bedelhei.

–O horário para o teste é limitado. Ele não pode ficar aqui enquanto todos estão lá fora. –a mulher sequer escondia que não estava nem aí pra qual nota ele tiraria.

–Está tudo bem, Quésia... –Hebrom entregou a folha sem relutar.

–Estão liberados. –a professora disse a todos na sala. A maioria saiu correndo.

Salamander e eu fomos ao refeitório juntos. Não pegamos nada para comer. Simplesmente sentamos numa das mesas.

–Primeiro teste do ano e eu já acho que estou de recuperação. –ele abaixou a cabeça.

–Você conseguiu terminar?

–Não saí da segunda questão.

–Porque não insistiu pra ela deixar você fazer mais tempo?

–Não é culpa dela eu não ser bom em Português.

–Sei... Mas você parece falar tudo certo. Tem dificuldade em quê?

–Eu não sei. Não consigo lembrar as funções ou sei lá como vocês chamam essas coisas das palavras... É complicado... Não consigo escrever bem.

–Se você quiser, eu... Eu posso te ajudar.

–Verdade?

–Claro. Pra mim, é bem fácil. –Hebrom ficou menos triste quando ouviu isso.

–Posso me sentar aqui? –a garota que senta à minha esquerda na sala de aula perguntou.

–Pode sim...

–Oi, Ágata... –Salamander levantou um pouco o rosto.

–Ah, e aí? Faz um bom tempo que não converso com você. –ela respondeu.

–Vocês se conhecem?... De onde?... –fiquei um pouco desconfiada, mas tentei não parecer.

–Nós somos só amigos. Não fica com ciúmes. Não vou roubá-lo de você. –a menina brincava com a comida.

–Não foi isso que eu perguntei! –minha voz saiu completamente esganiçada.

–Ah, relaxa. Só tô brincando. –ela fez uma careta. –Aquele teste estava muito fácil.

–Podemos mudar de assunto, Van Raitz?... –Hebrom estava deprimido.

–Certo. Aquela professora é um dragão! Pelo amor...

–Ela deveria estar num dia ruim... Não fale assim dela. –Salamander não curtia muito de falar mal dos outros, o que parecia ser o contrário de Ágata.

–Não sei o porquê de você fica defendendo ela! Aquele maracujá de gaveta nem te deixou terminar o teste! Além de você sempre ter sido horrível na aula dela...

–Eu já não te pedi pra mudar de assunto? –o menino se cansou.

–Para com a frescura! Como eu já disse, eu só tô brincando.

–A única que está se achando graça nessa brincadeira é você!

–Incomodado que se mude.

–Era tudo que eu precisava ouvir! –Hebrom levantou violentamente do banco e saiu batendo o pé.

–Não dava pra você só parar? –também me chateei.

–Que bobeira, cara! Ele geralmente não fica perturbado tão fácil... Aconteceu alguma coisa?

Eu tinha várias respostas na cabeça, mas não tinha certeza de nenhuma delas.

Quando voltamos do intervalo, o pessoal estava pegando suas mochilas e saindo da sala outra vez.

–O que tá acontecendo? Já podemos ir? –perguntei pra Ágata.

–Fiquei sabendo que os dois últimos tempos seriam de Educação Física. Mas eu não sei pra onde eles estão indo. –ela pegou sua mochila. –Melhor irmos atrás.

Nós chegamos num campo de futebol. O professor estava esperando com uma bola na mão.

–Todos já chegaram? Espero que sim. Quem trouxe, pode ir mudar de roupa. Depois escolham o que irão jogar. –ele disse.

–Ágata... Porque ele tá aqui? –falei apontando pro Folk, que estava conversando com algumas garotas.

–Quem? Ah! Aquele dali com cabelo no gel? Ele é da nossa sala, só que devia estar matando aula... De novo. Por quê? Gostou dele?

–Que nojo! Ele me dá ânsia.

–Haha, então você pensa como eu! Vamos logo pro vestiário. –ela foi até uma porta do lado da arquibancada e abriu.

–Olha quem tá aqui! –Ariadne já estava lá dentro. –Vou acabar com a sua raça hoje.

–Você não aguenta nem quebrar uma unha, Galvão. Não fica tentando botar medo nela com uma coisa que você não consegue fazer. –Raitz retrucou no meu lugar.

–Acha que eu não? Vamos ver! –a loira saiu tentando não parecer fraca.

–Não liga pra ela. É só uma desocupada. –eu não sabia desse negócio de mudar a roupa, aí continuei com a que eu estava.

–Tudo bem. Eu não me importo... –deu para notar que aquela garota de cabelo roxo estava me encarando de longe outra vez. E, infelizmente, Ágata também notou.

–Algum problema?! –ela falou bem alto e a garota virou o rosto, fingindo não ter escutado. –Vamos. –terminou de se arrumar.

Lá fora encontramos Salamander, que estava correndo na nossa direção.

–Oi... –eu cumprimentei primeiro.

–Quésia... Oi... Preciso muito falar com você. –depois ele olhou pra Ágata.

–Que foi? –ela perguntou, como se não estivesse fazendo nada errado.

–Hebrom! –o irmão dele estava chamando do outro lado do campo.

–E-Eu já volto. –ele saiu correndo.

–Caraca, que lerdo! –Galvão estava do meu lado, ouvindo toda a conversa também.

–Que falta de educação. Por que você tá aqui, se ninguém te chamou? Dá pra fazer o favor de voltar pra tua fazendinha, vaca? –Raitz revirava os olhos.

–Eu já estava de saída. Não me interesso por reality show. Além disso, as suas vidas devem ser tão sem graças quanto vocês mesmas. –como eu esperava um barraco, ela ter ido embora logo com o nariz empinado foi um ato admirável.

–Vem, Quésia. Vamos sair daqui.

Quando eu tentei dar um passo pra frente, acabei caindo de boca no gramado. Meus cadarços estavam soltos, já que nunca aprendi a amarrá-los. Só que, por causa disso, rolou uma confusão:

–Cretina! –Ágata pulou em cima da Ariadne, pensando que tinha sido ela.

–Me solta, garota! –uma começou a puxar o cabelo da outra.

Eu me levantei e o professor apareceu tentando separar a briga. Mas ele acabou levando um tapa. Depois de tentar muito, ele conseguiu separar as duas.

–Já chega! As meninas não vão mais jogar! –o professor anunciou.

–Viu o que você fez?! –Raitz já ia pra cima dela de novo.

–Se vocês brigarem outra vez, eu juro que não jogam nessa escola pelo resto da vida! –ele apontou para as duas. Ficou impaciente.

–Ah! Que saco! –Ágata foi pra arquibancada, e eu fui junto. Não falei nada. Preferi deixar o assunto morrer.

–Bora logo, cambada! –o professor chamou os garotos pro meio do campo com a mão tocando o lado do rosto que tinha sido golpeado.

O jogo começou e não aconteceu nada. Só quem ficava com a bola era um cara do time do Hebrom. Negro, com tranças enraizadas. Ele jogava muito bem, mas o goleiro do outro time, coincidentemente, era o Folk e ele não deixava passar nada.

Estava um tédio ficar sentada ali só olhando, mas a maioria das garotas parecia ter aprovado a ideia de não ter nada pra fazer além de mexer no celular e tirar fotos umas das outras (e dos garotos).

–Que ódio da Galvaca! Esses frangos não conseguem fazer nada que preste! Se eu estivesse ali, já teria pelo menos feito um gol. –Raitz estava quase explodindo de raiva.

–Pois é... O jogo tá meio dormido. –comecei a mexer na mochila, na esperança de encontrar alguma coisa interessante pra ler ou algo parecido.

Até eu encontrar aquele anuário que Wendel entregou pra mim e encontrei os nomes e cargos que ele havia mencionado.

–Que isso aí? –Ágata logo quis saber. –É seu diário? Posso ler?

–Não! Não é diário!

–Então que negócio é esse?

–O anuário escolar passado.

–Achei que você não estudasse aqui.

–Não é exatamente meu, foi um moleque quem me deu isso.

–Eita, bichão! Quésia Cortês mal chegou e já tá arrasando corações, hein?

–Pois é, Ágata. Nada mais romântico do que dar um anuário escolar velho e rabiscado pra pessoa que você gosta.

Consegui fazer Raitz ficar quieta. Eu descobri um monte de coisa. Tipo, aquele menino que joga bem, o nome dele é Bruno Moura. E até o ano passado o cabelo do Hebrom era... Não sei... Estranho. Mais longo que o normal e ele parecia um protótipo de gótico. Acho que nem usava aparelho. Particularmente eu prefiro cento e oitenta e nove vezes ele agora... Aprendi o nome de algumas pessoas que já vi por aí. Com sorte eu me torno colega de alguma delas, se eu me lembrar.

Eu terminei de olhar aquele livro enorme e quando tentei colocar do meu lado, acabei deixando ele cair no espaço que havia na arquibancada.

–Nani?! –tinha derrubado livro em alguém. Fui verificar quem estava ali atrás.

–Wendel? –ele jogava vídeo game.

–Qué-chan?

–Tá fazendo o quê aí?

–Fugindo da aula de Educação Física. Não tá óbvio?

–Faz sentido. –Ágata ouviu nossa conversa e quis entrar nela.

–O que está querendo insinuar com isso, Van Raitz? –ele não gostou do comentário. Ágata parecia ser do tipo que tem uma implicância enorme com otakus. Eu percebi isso logo na hora que ela reagiu quando ele começou a falar japonês. Aliás, desde o primeiro momento.

–Cara... Você é raquítico. Seria mutilado rapidinho.

–Tenho quase certeza de que ela tem razão... –olhei pros bíceps quase inexistentes dele, mas não foi pra ofender.

–Pra mim tanto faz. Agora calem as bocas, eu estou tentando zerar um jogo aqui.

–Tsc, criatura, vai arranjar uma namorada ou fazer algo produtivo! Que perda de tempo do caramba... –Ágata fez cara de desprezo.

–E por que você não para de cuidar da minha vida e vai dar em cima do Zac como costuma fazer?... Não, espera! Péssima ideia! Já que ele tem coisa melhor. –ele sequer olhava o rosto dela, o vídeo game era sempre mais interessante.

Raitz estava rangendo os dentes e cerrando os punhos, parecia que mais alguém seria quebrado hoje.

–Zac? Zac... Zacur? Irmão do Hebrom? Ágata, você gosta dele? –eu tentei adivinhar.

–Sim, ela tá sim. Todo o planeta sabe, mas ela não se conforma dele ter namorada e continua tentando conseguir algo, mesmo sabendo que o cara não dá a mínima pra ela. –Yamada não desistiu da ideia de provocá-la. –Chola mais.

Ela olhou pra baixo e seus punhos aos poucos se abriram, logo foi se afastando.

–Espera aí, Ágata. –tentei segurar sua mão, mas ela não deixou.

–Até amanhã. –a garota pegou a mochila e foi pro outro lado da arquibancada.

–Você não devia ter dito isso! Ela pode ser implicante, mas tem sentimentos também! –me queixei.

–Ela gosta de irritar os outros e não aguenta ser irritada. O azar é todo dela. Eu só fui sincero.

–Mesmo assim, não acho que deveria ter sido tão...

–Você não sabe de nada. Achei que fosse menos chorona. Dandere estúpida.

–É a sua mãe! –gritei pro Wendel, que saiu dali e continuou jogando. Eu não fazia ideia do que ele tinha me xingado.

Então eu fiquei ali sozinha... Esperando a aula acabar. Por sorte, depois disso o tempo passou mais rápido. Estava nos últimos minutos. Aquele garoto que eu mencionei, Bruno Moura, driblava todo mundo, mas não tinha graça, porque ele não dava a vez pra nenhum dos outros jogadores.

Folk estava praticamente dormindo encostado na trave por não ter precisado se esforçar meio que o jogo inteiro. Depois Moura pareceu ter finalmente parado de pensar só em si e começou a procurar pelo resto dos jogadores. Viu o relógio do placar e ficou assustado. Finalmente ele tentou chutar para o gol adversário de novo, só que foi fraco demais.

Hebrom estava próximo dali e foi correndo atrás da bola pra ver se conseguia ajudar. Ele chegou no tempo certo e a chutou pro canto. Folk pulou pra agarrar, mas a bola nem bateu na ponta dos dedos dele. Finalmente um gol! Todo mundo começou a berrar. Salamander virou pra mim e sorriu. Achei que ele estivesse com raiva de mim... Não entendi nada. Só sei que deu pane no meu cérebro. Será que ele já se esqueceu que estava bravo?

–O jogo ainda não acabou! –Folk pegou a bola da rede e arremessou com força de volta pro campo, acertando o tórax do Hebrom, que caiu.

Eu saí correndo com a mochila na mão e ajoelhei ao lado dele.  Ágata veio com pressa até o goleiro, que parecia estar inconformado por perder:

–Bundão! –Raitz deu um soco no meio da cara dele.

O treinador finalmente prestou atenção no que estava acontecendo e foi pro meio do campo apitando.

–Cartão amarelo pros dois! –ele chegou perto da Ágata e do Folk.

–Eu nem tô jogando! –a garota protestou.

–Mas fez o nariz do garoto sangrar! Castigo! –o técnico não parecia saber o que estava fazendo.

–Foi ele que pediu! Esse jumento atacou o irmão do meu amigo com uma bola só porque não aceita ser um fracassado!

–Então... Então castigo pros dois! –ele estava confuso, mas pelo menos a Raitz iria respeitá-lo dessa vez (eu acho), já que é o professor.

–Já sei o caminho. –Folk saiu andando com a mão tapando o nariz.

–Nem morta que eu vou ficar trancada numa sala junto com aquele animal! –ela apontava o goleiro que ia embora.

–Azar! Agora vamos! –o treinador segurou ela pelo braço e foi arrastando.

–Tudo bem com você? –perguntei a Hebrom caído no gramado.

–Tudo sim... –pôs a mão na barriga. Pela cara que ele fez, não tinha se machucado mas estava triste.

–Bonito gol.

–Obrigado, mas eu só ajudei. –ele aparentava ainda estar com raiva.

–O que foi?

–Estão liberados! –o professor voltou correndo e avisou.

–Acho melhor a gente ir logo. –Hebrom se levantou.

–Antes me diz o que aconteceu...

–Você gosta de Folk?

–Hã?! Quê?! Não. Claro que não!

–Não é o que parece.

–Não tô te entendendo...

–Você acha ele bonito?

–Eu não! –isso me deixou tão aborrecida quanto ele.

–Espera... Não? Como que não? Ele é lindo... Todo mundo acha.

–Não sou todo mundo e não tem motivo pra eu achar uma coisa dessas!

–Então... Você vai sair com ele hoje? –Salamander estava quase voltando ao normal.

– “Olha... Não vai fazer diferença você saber disso agora”. –fiquei de pé e fui procurar o carro do Edgar.

Infantil? Talvez. Vingada? Muito. Tchau.


Notas Finais


Será que ninguém a ensinou que a vingança a Deus pertence? Ou pelo menos que o seu Madruga estava certo?


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