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História Orgulho e Preconceito - Newtmas Version - Último Capítulo - "Aroha"


Escrita por: LadyNewt e evilhoney

Notas do Autor


O&P LAST DAY NA ÁREA.

Agradecemos de coração todos os followers, comentários e domingos dedicados a leitura do nosso trabalho.
A fanfic surgiu do nada, da vontade insana de duas pessoas em escrever algo de época, com uma linguagem mais culta, trazendo dados reais de uma época que realmente nos encanta.
Fazer parceria com a Honey foi a coisa mais gostosa do mundo!
Obrigada parceira por aguentar as cobranças, e-mails, whatsapp e afins.

Esperamos que levem para sempre essa história linda de amor no coração.
Ao final há um pequeno dicionário para entenderem algumas palavrinhas que utilizamos na construção dessa última etapa de O&P.
Se fosse para escolher uma música para encerrar a fanfic, com certeza seria a mesma que usamos no trailer oficial: Lana Del Rey - Young and Beautiful. Link com legenda no final para dar aquela melancolia de despedida. Posição fetal acompanha a leitura. Aconselha-se lencinhos ao lado do corpo.

Uma última vez:

B o a L e i t u r a!
LadyNewt
&Honey

Capítulo 60 - Último Capítulo - "Aroha"


Fanfic / Fanfiction Orgulho e Preconceito - Newtmas Version - Último Capítulo - "Aroha"

Point of View of Thomas Darcy

 

Detesto despedidas.

Todas as formas dela.

Seja um aperto de mão, um abraço mais demorado, um simples até logo ou no caso mais extremo, enterrar alguém.

Todas elas, para mim, são sofridas. Talvez porque eu finalmente admita que sou um ser humano sensível e cheio de medos, ou porque nunca soube lidar com elas de fato.

A primeira pessoa que me despedi na vida foi meu avô Graham, ainda pequeno. Tenho vagas e boas lembranças dele, porém não entendi como de uma hora para outra eu devia visita-lo em um buraco no solo com uma lápide e seu nome estampado, e não na sua casa aos domingos, desfrutando de um belo almoço em família.

Depois dele foi a vez de Eve, uma de minhas babás. Eu era apaixonado por ela, coisa boba de garoto. Eve me mimava e me amava, dando todo carinho e atenção que minha mãe não conseguia dar, ainda mais depois que Teresa nasceu. Numa noite disse “até logo” para ela, ganhando um beijo na cabeça e depois disso ela nunca mais voltou. Passei semanas arrasado e trancado em meu quarto, negando-me a conhecer Bertha, a nova babá. Semanas mais tarde fui descobrir que minha mãe havia demitido Eve porque a chamei de mãe numa tarde e isso fora considerado uma ofensa para a conservadora Sra. Darcy. Mais fácil fazer o filho sofrer do que admitir que uma reles funcionaria tinha mais apreço por mim do que ela.

Eve foi só a base de tudo. Depois dela vieram os recheios e coberturas, como meus outros avós, amigos de faculdade, pessoas que conhecia de vista, sempre chagando e partindo. A perda da minha mãe, apesar de tudo, foi dolorosa, mas não tanto quanto a de meu pai, Victor Darcy. Esse sim cavou um buraco no meu peito, obrigando-me a amadurecer muito mais rápido do que gostaria, despejando nos meus ombros a responsabilidade de cuidar e terminar de educar Teresa.

Não foi fácil, tenho que concordar, mas nada se compara com a cereja do bolo arrancada de mim.

Newt.

Essa sim foi uma despedida cruel pelo fato de tudo que ele significou e ainda significa na minha vida, tanto quanto a que realizei horas atrás, com meu melhor amigo Minho Bingley.

 

 

“- Pare de chorar! – peço afagando suas costas – Eu ficarei bem. Você sabe! Você fez parte disso.

- Eu sei, mas achei que esse momento nunca chegaria... – murmura ele, com o rosto enterrado no meu peito.

- Você sabe que pode me visitar quando quiser, mas tem aquela condição. – imponho para ele, lembrando de um trato nosso que surgiu quando Newt ainda estava por estas bandas.

- Eu sei, Thomas. Eu sei... – responde com um suspiro penoso.

- Não sei por que está tão triste, Bingley. Deve ser porque me ama! – sorrio para a pequena Sonya posicionada atrás dele, rindo para mim – Você está casado, sua esposa grávida, conseguiu um emprego de prestígio em Nottingham, o que mais quer? – indago espiando seus olhos puxados repletos de lágrimas.

- Eu queria você para sempre comigo. – chia arrastado como um garotinho de cinco anos.

- Para sempre é muito tempo, Minho. E para sempre eu tenho reservado apenas para uma pessoa e você sabe disso.

Seu rosto toma uma coloração avermelhada e ele arregala os olhos, me repreendendo. Pisco para ele de volta, balançando negativamente minha cabeça, cochichando em seu ouvido.

- Mais cedo ou mais tarde ela saberá, não se preocupe com isso agora. Apenas venha aqui e me dê um abraço apertado antes que essa carruagem saia voando até Southampton.

- O que eu farei da minha vida sem você? – ainda está murmurando, envolto em um oceano de lamúrias.

- Fará o que sempre fez: viverás sua vida da maneira mais intensa possível, só que agora cuidando dos Bennet pra mim. – sorrio beijando sua testa.

- Tem certeza mesmo que tem que partir, Thomas? – Sonya pergunta, afastando Minho para um abraço.

- Tenho. Eu não posso mais ficar aqui. Todos os cantos que eu olho lembram seu irmão e isso está me enlouquecendo.

- Thomas nunca foi bom com despedidas. – Bingley ajuda na minha explicação.

- Tudo bem, Thomas. Sentiremos saudades. Volte sempre que puder, por favor. – pede me abraçando ainda mais forte.

- Pode deixar, Sonya. Mande lembranças aos seus pais.”

 

 

Decido levantar da pequena e apertada cama e seguir até o deck, nostálgico com tantas lembranças que me acometem no dia de hoje. Faz vinte dias que parti rumo a um lugar desconhecido, ao menos para mim, juntamente com mais vinte e sete tripulantes em um navio mercantil rumo a Nova Zelândia.

Poderia ter escolhido retornar para a América como menti ao senhor Bennet, reencontrar antigos colegas e professores de faculdade, retomar alguns contatos por lá e reestabelecer minha vida, mas lá não tem o que eu quero. E tudo o que eu quero está situado no ilha sul do país.

Dispenso o café da manhã simples, excitado com o mar de acontecimentos que tenho para o dia de hoje, onde termina minha cansativa viagem. Não tenho tempo nem de piscar quando o capitão Jorge Esposito anuncia que finalmente vamos desembarcar na Nova Zelândia, um país recentemente descoberto pelos Europeus. A empolgação de Jorge me faz correr destrambelhado de volta a cabine e organizar minhas coisas de qualquer jeito, desesperado para colocar os pés em terra firme após tantos dias navegando em águas misteriosas.

Despeço-me dos meus companheiros de viagem e encontro uma pequena charrete(sem luxos) me aguardando, conduzida por um senhor de traços fortes, pele alaranjada e um nariz inchado, lembrando muito um índio. Sei que ele é um maori, o povo nativo da ilha.

- Sr. Darcy? – pergunta ele descendo do comando.

- Sim, eu mesmo. – sorrio e aceno ao homem.

- Sou Marama, fui designado a lhe buscar.

Analiso o homem gentil pegando minhas bagagens, com vestes totalmente diferentes das minhas. Estou me sentindo um estranho no ninho. Enquanto me aperto em um terno desconfortável, Marama parece bem divertido e feliz com suas roupas largas e uma espécie de poncho com pinturas nativas bem coloridas e chamativas.

- Vai demorar muito para chegar até meu destino final? – questiono empolgado, ajudando o homem a guardar as malas na charrete.

- Bem que me avisaram que o senhor era impaciente!

Solto uma gargalhada alta, imaginando o que já não fofocaram e plantaram falsamente sobre mim naquela ilha.

- Andaram falando de mim para o senhor? – questiono jogando a última bagagem para dentro.

- O que mais fazemos por aqui é falar sobre o senhor. É divertido e todos dão risada.

O Thomas Darcy de antigamente, prepotente e sem coração, provavelmente arregalaria os olhos e sentiria-se ofendido com isso, porém o Thomas Darcy de agora, após ter conhecido, convivido e se apaixonado por Newton Bennet, encara as palavras de Marama como algo divertido e extremamente excitante.

- Por favor, faço questão que siga na parte mais confortável. – o homem indica um banco espaçoso e estofado com a pele de algum animal, mas nego com a cabeça.

- Se possível gostaria de seguir na frente, com você, assim vai me explicando os costumes do local e essa paisagem maravilhosa que meus olhos nunca vão cansar de ver. - sorrio e monto ao lado dele, finalmente seguindo viagem até meu destino final.

Sou agraciado por um pouco de história sobre o país, sua cultura, seus costumes, geografia e situação política. Marama parece-me um homem muito culto e acho graça quando ele revela que o significado do seu nome quer dizer “A luz do mundo”. Quando ele finalmente para de falar, volto a concentrar meus pensamentos na viagem de navio e em tudo que ela significa agora em minha vida.

Esse tempo sozinho (em termos, pois tive a companhia agradável de pessoas peculiares comigo na cabine), serviu para pensar e finalmente botar as ideias no lugar e analisar tudo que aconteceu em minha vida desde que cheguei a Netherfield, até agora. Repassei cena por cena em minha cabeça, desde a primeira vez que o vi, como se fossem flashes vívidos na minha frente.

O meu garoto nadando pelado no lago com o irmão, depois emburrado e sujo de lama ralhando comigo, seu jeito recatado e sempre me repelindo nas investidas, nossa viagem até Nottingham, ele sendo um cavalheiro no bordel, Satine, Eleanor, as garotas, seu sorriso, Baronesa, Tess apaixonada por Ben, o baile, nossos primeiro beijo no labirinto, a carruagem, ele bêbado, eu cuidando do seu porre, a viagem falha até Londres, minha fuga, nossos dias sozinhos em Netherfield, nossa primeira vez em seu quarto, Nova Iorque, a vontade insana de estrangular Lady Brenda por destruir minha carta de despedida, mais cenas de amor, juras, beijos, descobertas, o flagra, o desespero, planos, meu casamento e por último, a morte de Newton Bennet.

Newton Bennet foi sepultado no dia 02 de dezembro de 1898 aos vinte e três anos, vitima de um assassinato cometido pela Baronesa Brenda de Hurst, supostamente louca de ciúmes dele, onde dias mais tarde foi declarada culpada e se matou em seguida, evitando uma vida triste e solitária na cadeira.

Eu enterrei Newt para seus pais.

Seus irmãos.

Enterrei o loirinho para minha doce e amada irmã.

Amigos.

Parentes.

Pessoas do vilarejo.

Para o xerife Stilinski.

Brenda.

E qualquer outra pessoa que algum dia ouviu falar sobre ele e sua curta história na terra.

No entanto, Newton Bennet não morreu para mim e eu posso explicar.

Vamos recapitular algumas coisas que passaram despercebidas.

Eleanor tinha um plano, certo? Um plano que num primeiro momento me pareceu absurdo e sem estrutura alguma, mas o fato de Newt, a parte que mais perderia com ele, ter topado de primeira, me deixou mais tranquilo e fez com que eu criasse coragem para seguir em frente. Acho que a parte mais complicada foi convencer meu amigo Minho Bingley a aderir a nossa loucura, o que me custou um bom tempo de conversa e pedidos de joelhos na frente daquele homem correto até demais.

Conforme o planejado, Newt de fato confrontou a Baronesa na véspera do meu casamento, dizendo que me amava. Devo admitir que ele merece um prêmio pela sua atuação diante dela e a riqueza de detalhes com a qual deve ter constituído a cena do crime. O absinto, os gritos, o prato que se espatifou de propósito na sua cabeça, as marcas de sangue pelo caminho, tudo meticulosamente armado por ele e pela mente brilhante de Eleanor, tudo para fazer com que Brenda perdesse sua consciência e deixasse que a loucura dela aflorasse de maneira espontânea, ganhando a atenção necessária de alguns criados da sede de Netherfield.

Quando Newt correu até o estábulo atrás de sua égua, tentando escapar da fúria da Baronesa, Bingley estava lá, escondido, aguardando o loirinho. Assim que se cruzaram, Minho entregou a Newt um frasco contendo uma especiaria muito cara, preparada por um botânico aposentado de Londres, antigo conhecido de um professor de Bingley na faculdade de medicina em Harvard. Haviam boatos de que ele era uma espécie de mago e estas coisas sobrenaturais que nunca acreditei, até ver de perto o efeito arrebatador que aquela mistura causou em Newt.

 

 

“- Assim que beber isso, será como se estivesse morto. Ele invadirá suas veias, em seguida sentirá um forte tremor e frio, ficará desorientado com o efeito entorpecente e consequentemente seu pulso e seus batimentos cardíacos cairão drasticamente, semelhante a aparência de um morto, por um prazo máximo de quarente e duas horas. Não se preocupe, é seguro, beba rápido, vamos! A Baronesa já está vindo!”

 

 

Minho me contou essa parte inúmeras e inúmeras vezes. Eu adorei a riqueza de detalhes, especialmente quando soube que meu garoto até chegou a arrotar após se envenenar de livre e espontânea vontade. Claro que eu estava morrendo de medo que aquilo desse erado e Newt realmente perdesse sua vida por conta de um botânico desmiolado que adorava testar plantas raras e medicamentos perigosos, por isso testamos antes em um rato que pegamos passeando pelo estábulo. O bichano com apenas uma gota apagou por quase dois dias, Newt com o frasco todo poderia passar meses desacordado.

Assim que entornou a poção, Newt montou na égua, seguindo para a segunda parte do plano: fazer parecer que a Baronesa o havia matado. Como a morena estava sob o efeito de Absinto, uma jogada bem sagaz de Newt, foi fácil enganá-la. Ela não correu até ele com uma arma. Quem estava preparado para acertar meu garoto era ninguém menos que Bingley, que precisava disparar três tiros certeiros em pontos estratégicos pelo corpo do loirinho.

 

 

“- Isso é um absurdo! Eu não posso permitir essa loucura de vocês! – protesto de estômago revirado, empurrando a garrafa de vinho tinto para o lado.

- Darcy, você não está raciocinando direito! É a saída perfeita. – Eleanor acha lindo seu plano em tornar Newt em uma peneira humana, vazando sangue pelo caminho.

- Eu topo qualquer coisa! – meu garoto sorri afetado, já levemente entorpecido pelo álcool.

- Alguém tira essa taça das mãos dessa criança, pelo amor de Deus! – ralho com Eleanor e Bingley, outro lunático que comprou nosso plano.

- Thomas, pense. Raciocine. – Minho insiste - Precisamos de provas mais concretas para incriminar a Baronesa. As balas da arma dela no caso, seriam o item mais forte para incriminá-la.

- MAS NÃO CRAVANDO ELAS NA PELE DELE! – urro em desespero.

Newt parece se divertir com a minha cara e seu plano de fuga, tenho certeza que ele não tem ainda a mínima consciência do que tudo isso implica. Ao invés de focar em nós, ele se distraí com as lingeries de Eleanor espalhadas pelo quarto do bordel, analisando uma a uma e até colocando sobre seu corpo entorpecido pelo vinho.

- Thomas, você confia em mim? – Minho questiona e eu concordo com a cabeça. – Eu fiz medicina, certo? Eu sei exatamente onde devo acertar a bala. E prometo que será uma só. As outras duas eu dou um tiro a esmo e recolho o projétil depois.

- E ele vai ficar depurando sangue pelo caminho? – ainda não estou 100% convencido disso.

- Até ele chegar na fase 3, sim. – Bingley diz como se fosse a noticia mais natural do universo.

- NEGATIVO! – nego, nego e nego. Negarei até a minha morte.”

 

 

Como eu sabia, eu perdi qualquer chance de impedir isso. Newt aceitou tomar um tiro de raspão pela jugular e até ganhou outro no braço ao se assustar com a dor que o penetrou no momento do disparo. Um milímetro a mais ou um milímetro a menos e ele estaria morto agora. Por sorte Bingley treinou sua pontaria durante os dias até a data do plano, mas eu ainda não o perdoei por errar o segundo tiro. Depois disso a égua assustou e derrubou a Baronesa no chão do estábulo, que por lá ficou até o dia seguinte ao apagar de bêbada.

Enquanto Newt cavalgava, sentindo os efeitos da poção agir pelo seu corpo, Bingley foi sorrateiro recolhendo as três balas dos disparos, e posteriormente devolvendo a arma da Baronesa no cofre sem que ela percebesse. Eu estava rondando aquela mulher faz tempo para tentar descobrir a preciosa combinação e durante uma tarde, quanto fui obrigado a presenteá-la com um colar de diamantes, com a única desculpa de que se tratava do meu presente de casamento, consegui a os seis números para guardá-lo no cofre, alegando que deveríamos proteger aquela peça com todas as nossas forças, o que se resumia a apenas cofre!

Uma peça fundamental para a segurança do meu garoto foi incluir Eleanor na fuga, fase 3. A morena já esperava por Newt próximo ao portão de Netherfield, bastava saber se ele conseguiria chegar até lá consciente. Os dois partiram juntos, cada um em seu cavalo, até as proximidades do rio Trent, que foi onde ele finalmente desabou delirando e caiu no mais profundo sono moribundo.

Eleanor fez companhia para ele na noite fria e congelante, escondendo-se quando o proprietário da fazenda encontrou seu corpo imóvel pela manhã. A cortesã então seguiu para a fase 4 do plano: esperar pelo corpo no necrotério da cidade.

Essa parte agora tem meu dedo e eu me orgulho muito disso.

Precisávamos tirar de circulação o legista que examinaria o corpo de Bennet e sacaria logo que tudo não passou de uma armação. Meus contato de Londres descobriram algumas irregularidades na vida do homem, coisas bobas jurídicas, então como o bom advogado que sou, enviei uma carta falsa para ele, requisitando sua presença em tal data na capital para um acerto nas pendências, que nos daria tempo suficiente para agir.

Logo que Stilinski parou minha festa de casamento para anunciar a morte do meu loirinho, eu sabia que tínhamos que correr contra o tempo. Segui com Bingley até o necrotério, fiz um pequeno teatro, deixei que todos vissem e conhecessem a minha dor com sua partida. Minho então trancou-se na sala destinada a legistas com Bennet e abriu a porta dos fundos, colocando Eleanor para dentro. Durante algumas horas os dois cuidaram do loirinho, limpando e fechando o local do tiro, além da aplicação de soro para hidrata-lo. Vestiram seu corpo com roupas quentes e então Minho carregou o pequeno desacordado até a carruagem que eu consegui para aguardá-los na parte posterior do necrotério.

Eleanor conduziu a diligência pela noite até estarmos afastados o suficiente de Nottingham, enquanto eu segui lá dentro, aproveitando os últimos minutos ao lado do meu garoto.

 

 

“- Eu te amo, te amo, te amo. – repito beijando sua testa.

É aqui o ponto onde tenho que me despedir deles e continuar com o plano sozinho. É de fato a parte mais difícil, dolorosa e sofrida. Sei que ele estará em boas mãos e logo me juntarei a ele para vivermos nosso sonho juntos, porém não tenho o controle das lágrimas que caem sem permissão pelos meus olhos cansados e de certa forma assustados com a fisionomia mórbida dele.

- Senhor Darcy, precisamos ir. – Eleanor abre a porta da carruagem me alertando.

- Eu sei... – murmuro abraçando seu corpo gélido para mim, tragando o cheiro perfeito que quero carregar comigo por um bom tempo até tê-lo em meus braços novamente.

- Confie em mim, vai dar tudo certo. Vou cuidar do seu tesouro como se fosse meu. – ela diz sorrindo, secando minhas lágrimas com suas mãos delicadas, protegidas com uma luva de couro, propícia para aguentar a temperatura fria e a função incomum que ela teria agora: seguir até o litoral de Southempton com Bennet e embarcar em um navio mercantil até a Nova Zelândia, portanto identidades falsas providenciadas por mim.

- Nós vamos nos ver em breve, meu amor e ai... – suspiro alto, fungando como um tolo apaixonado - Ninguém irá impedir que eu o ame da maneira mais pura e avassaladora que alguém jamais amou alguém nessa vida!

Eleanor chora junto comigo, me dá mais alguns minutos com o corpo de Newt, então me despeço dele com um beijo frio e distante, fazendo-me chorar muito mais quando a cortesã desprende um dos quatro cavalos e me entrega as rédeas dele,  montando decidida no comando da carruagem e partindo, deixando-me sozinho para trás, o que considerei ser o de menos no momento.”

 

 

Depois disso, não obtive mais sinais ou notícias de Newt, nem ao menos sei se ele acordou ou não do estado mórbido induzido. Eu apenas vaguei até Nottingham, me desfiz do cavalo e deixei que Alby me encontrasse, fazendo todos acreditarem que eu estava desolado.

No enterro, tentei não pensar na dor dos Bennet e em tudo que eles estavam perdendo. Me senti um carrasco por causar tanto sofrimento assim em pessoas tão bondosas e simples, que seriam ótimos para se ter do lado caso meu romance com o filho deles fosse algo palatável perante a sociedade.

Mais tarde Bingley me contou o que colocou dentro do caixão que o fez ficar tão pesado. Ele teve a meticulosidade de conseguir um esqueleto com um professor da faculdade de Oxford, com a desculpa que queria ensinar alguns caipiras coisas sobre o corpo humano. Junto com o cadáver ele colocou a suposta roupa que Newton seria enterrado e de quebra socou algumas pedras junto, deixando a estrutura mais pesada.

Resumindo: todos estavam chorando sobre ossos, roupas e pedras e eu não me orgulho disso.

O restante foi fácil de manipular, como foi o caso do diário de Newton. Eleanor deu a ideia do loirinho construir um diário com informações falsas ou não sobre seu dia a dia, sempre dando a entender que a Baronesa estava perseguindo ele, o que de certa maneira não era total mentira. Ele ajudaria a direcionar Stilinski até o foco do nosso plano, que era tirar Brenda de circulação e incriminá-la pelo assassinato.

Eu só não contava que ela fosse louca ao ponto de acabar com a própria vida, dando um tiro na cabeça. Isso me deixou mal por alguns dias, eu realmente chorei pela morte dela, não porque fosse sentir saudades, mas porque estava com um sentimento agudo de culpa me punindo e ele era tão conflitante que estava me deixando insano.

Eu sei que ela nunca me deixaria em paz em vida, sempre tentaria estragar meu relacionamento com Newt e poderia até desgraçar a família dele ao contar sobre nosso romance proibido. Pensando bem, talvez essa tenha sido a melhor das opções que nos restou. Seu corpo agora jaz em Londres, no mesmo cemitério onde sua mãe foi enterrada anos atrás.

- Chegamos, senhor Darcy. – Marama desperta-me do transe, freando a charrete.

Ergo meu rosto e quando finalmente meus olhos voltam a prestar atenção na paisagem, estou em um dos lugares mais lindos que já vi em toda a minha vida. É uma fazenda rústica, com uma casa de porte médio toda de madeira, chaminé acesa e uma varanda linda na frente, com um balanço onde consigo imaginar facilmente o loirinho deitado em meus braços, um cobertor nos protegendo do frio e uma caneca de chocolate quente para adoçar nossos corpos.

Ao redor dela muito verde e altos pinheiros, além de uma cerca toda branca e um celeiro pintado de vermelho, com alguns cavalos correndo livres pelo campo florido.

- Em que época do ano estamos aqui? – questiono antes de descer da charrete. Sei que no hemisfério sul as coisas são um pouco diferentes.

- Verão, senhor Darcy.

- E como o céu está tão claro e ali... – aponto para uma montanha enorme no horizonte – Tem tanta neve acumulada no topo da montanha?

- Umas das maravilhas dessa ilha é que o senhor vai encontrar todas as estações do ano nas paisagens. Aqui temos praias, neve, montanhas, campos floridos como se fosse a primavera e muita natureza. A temperatura na nossa ilha, a sul, é bem mais amena que na ilha norte, mas creio que terá muito tempo para descobrir isso, não é mesmo? Mas não se engane, vem chuva por ai. Meus joelhos latejam quando está para chover.

Concordo com a cabeça, saltando da carruagem, rindo do fato do Sr. Marama sentir os joelhos doendo, como um presságio de chuva. Rodo meu corpo como uma barata tonta, sem saber se ajudo Marama a descer as malas ou corro desesperado para dentro a fim de reencontrar meu loirinho.

- Thomas! Thomas! – o homem me chama, percebendo minha indecisão. – Pode correr para dentro, eu cuido das coisas do senhor.

Entrego meu melhor sorriso para ele e fujo pelo campo, tropeçando pelo terreno irregular do local. Posso cair de cara, mas nada vai me impedir de varar aquela porta e pular no pescoço de quem amo. Chuto algumas pedras, mato algumas flores, pulo um arbusto e alcanço os quatro lances de escada da varanda, ignorando a existência de uma porta. Ela está trancada, então pulo a janela, gritando desesperado por ele.

- NEWT! NEWT! ONDE VOCÊ ESTÁ? – reviro os primeiro cômodos simples e aconchegantes que encontro. – ONDE VOCÊ SE METEU? – chio já ofegante com tanto suspense.

- OH ME DEUS! – Eleanor grita quando nossos corpos se trombam na cozinha, fazendo-a espatifar uma xícara de chá quente no chão.

- Eleanoooor! – abraço a morena com força, beijando suas bochechas pálidas. – Onde ele está? Onde foi parar meu garoto? – estou eufórico, como uma criança a espera de um presente de Natal.

- Eu sinto muito, Thomas... – ela parece séria e faz minha barriga arder ao abaixar a cabeça.

- ELE MORREU?! – urro quase desmaiando, mas ainda sim tenho forças para dar um chocalhão nela.

- Claro que não, seu dramático. Eu estava me desculpando pela xícara e o chá quente que caiu nos seus sapatos. – ela ri e eu tenho vontade de quebrar algo pelo sentimento ruim que pairou pelo meu corpo.

- Onde está meu loirinho?

- Newtie está lá fora, saiu para cavalgar e cuidar do gado que saiu mais cedo para pastar, se você continuar reto pelo campo de trigo você vai seguir para...

Infelizmente deixo a morena falando sozinha e corro até a parte externa, buscando por um cavalo.

- Ele não tem arreio e nem cela, Sr. Darcy! Vai se machucar! – Marama tenta frear minha fuga atrás de Newt – Deixe-me ao menos colocar os arreios, por favor. Isso não é um pedido, é uma ordem. - o homem alça rapidamente as tiras de couro no animal e me entrega o comando. – Nunca vi tamanho desespero por causa de uma pessoa. – ele chia enquanto dou um toque com os pés no cavalo para ele sair correndo.

- ELE NÃO É APENAS UMA PESSOA! ELE É MEU NEWT! – grito feliz cavalgando o mais rápido que consigo pela fazenda.

- Volte logo porque vai chover! – ainda o escuto ao longe.

Não me pergunte de quem surgiu a ideia de fugirmos para a Nova Zelândia, talvez tenha sido do próprio Newt. Foi escolhida por ser uma terra distante, com chance zero de sermos desmascarados, além de quase ninguém conhecer esse país relativamente escondido. Eu havia sugerido a Irlanda e talvez o norte da Escócia, por ter um aceso mais fácil para talvez algum dia reencontrar Minho ou dizer a verdade para minha irmã, no entanto correria risco de alguém nos reconhecer ali e uma vez morto, Newt continuaria morto até o fim.

Quando partiram, Newt e Eleanor carregaram consigo uma grande quantidade de dinheiro que havia guardado comigo, referentes a venda de algumas terras de meu pai. A função deles na ilha sul era fácil; encontrar uma propriedade afastada da agitação de uma cidade grande como Londres, mas firme o suficiente para ser sustentada por um vilarejo ou pequeno condado, como Longbourn e Netherfield.

E vejo que eles concluíram a tarefa com sucesso. Aroha, nome maori que vi esculpido em madeira na entrada das terras, é simplesmente divina e como conheço meu garoto, esse nome deve significar algo bem importante para ele ter batizado nossas terras assim. Seus campos são vastos e verdes, os animais correm livremente pela terra escura e um rio corta a propriedade, deixando a vegetação com um cheiro úmido que encanta minhas narinas. Ao longo dele algumas pedras beiram a margem, causando vez ou outra uma pequena correnteza no fluxo da água.

Avisto ao longe um grupo de gados bem peculiares se comparados aos que tínhamos na Inglaterra. Eles são marrons, de pelagem espessa e estão mochados, que é quando se tira o chifre do animal para que não haja algum acidente com ele. Como eu sei disso? Meu garoto me explicou na Inglaterra, é claro.

Me aproximo com cuidado do rebanho, procurando meu loirinho entre eles, mas nem sinal dele por perto, porém percebo marcas talvez recentes de casco de cavalo sobre  terra batida e pequenas patinhas ao lado delas. Decido segui-las e ver onde vai dar e agora começo a me preocupar de verdade com a ameaça de chuva, já que o céu azul sumiu e no lugar dele entrou um teto acinzentado, com um sombreado bem mais sinistro para onde estou seguindo.

Desço uma trilha íngreme, com a mata um pouco densa e fechada, os cascos do meu cavalo patinam e pela primeira vez sinto medo em me esborrachar no chão quando uma rajada forte de vento corta nosso caminho, mas ele desaparece por completo quando a folhagem se dissipa, revelando uma planície ampla e aberta lá embaixo, com a visão mais perfeita de todas: Newton Bennet vivo, montado em um cavalo marrom claro de crista loira, sorrindo ao tentar conduzir algumas vacas juntamente com um cachorro preto e branco, bem peludo.

Forço meus sapatos no couro do animal para que ele acelere as trotadas e desça o mais rápido possível até ele. A medida que me aproximo, consigo ouvir sua risada e alguns chiados dele, tentando chamar a atenção dos animais e fazer sua voz sobressair aos latidos insistentes do cachorro na minha direção, ao qual já consegui descobrir que se chama Ataahua.

Newtie ainda não me viu, está muito concentrado em ser sexy em demasia montado naquele cavalo, fazendo meu coração palpitar com suas vestes. Camisa branca, calça caqui e botas de montaria sobre ela, é isso que faz do meu garoto a pessoa mais linda do planeta terra no momento e eu seria maluco se perdesse mais algum segundo sem tê-lo entregue a mim.

- NEEEEEEEEWT! – grito erguendo meu corpo sobre o lombo do cavalo, balançando minhas mãos eufóricas. Neste instante é como se Deus e todos os anjos estivessem de olhos na cena.

- Tommy? – escuto sua voz baixinha e seus olhos esbugalhados quando ele tem a real noção de que sou eu quem está cavalgando até ele.

Newt desce afoito do seu cavalo e corre pelo campo, tendo o cachorro peludo atado a ele. Um trovão alto corta o ar, assustando meu animal, que empina o tronco para cima.

Por que ele não vem até aqui de cavalo? - indago e logo descubro o motivo!

Uma cerca de madeira faz meu animal frear com fúria e quase que saio voando de cara no chão. Salto do bicho sem me importar em amarrá-lo na cerca, em seguida pulo as toras de madeira que me separam de Newt, correndo o mais rápido que consigo na sua direção.

A cada passo nossa distância vai sendo encurtada, até que choco meu corpo com o seu, derrubando meu garoto no chão. Eu poderia beijá-lo desesperadamente, até roubar todo o ar dos seus pulmões. Poderia deixar sua boca roxa de tanto que a sugaria com minha boca faminta, igualmente seu pescoço alvo e perfumado que tanto me inebria. Poderia também rolar por essa grama, arrancando com os dentes todas as suas roupas e passar a fazer amor com ele como se fosse nossa primeira vez. Entretanto permaneço com meu corpo sobre o seu, sentindo a forma perfeita como nos encaixamos, notando seu coração tão acelerado quanto o meu e sua respiração entrecortada, fazendo seu peito subir e descer de forma majestosa.

Com olhos cheios de expectativas ele me encara, guardando o sorriso mais doce e significativo que já ganhei em toda a minha existência.

- Eu achei que não chegaria nunca. – ele chia manhoso, tocando meu rosto com carinho.

- Eu disse para você que viria. – fecho os olhos com o resvalar macio das suas mãos em meu rosto, o toque que mais ansiei receber contra minha pele.

Abro minhas esferas em seguida quando sinto as primeiras gotas de chuva caindo lentamente sobre nós, atingindo minhas costas e em seguida meus cabelos e o rosto perfeito dele. Newtie fecha os olhos, deixando que as pequenas gotinhas dancem com graça e leveza pelo seu rosto com a mais sublime das expressões.

- Agora podemos ficar juntos para sempre. – volvo aproximando meu rosto do seu para finalmente beijá-lo.

Antes de aceitar meu toque, Newt abre seus olhos e me fita, devorando minha alma com seus olhar de chocolate. Sua boca de lábios finos e rosados abre lentamente, expondo não só um pequeno sorriso, como também as palavras mais significativas que alguém disse para mim até hoje.

- Para sempre é muito tempo, Tommy. Mas eu não me importaria em gastá-lo ao seu lado.


Notas Finais


Dicionário Maori

Aroha - amor
Marama - luz do mundo
Ataahua - bonito/a

Young and Beautiful, Lana del Rey - https://youtu.be/6BggnLAtL2U

aroha!


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