História Origens - Amizades e problemas

O sinal para o horário de almoço soou por toda a escola, os alunos recolheram seus materiais e foram direto para o refeitório. Lawliet foi o último a sair da sala, temia encontrar aqueles que assistiram ao jogo de tênis, lembrava-se de ter visto o mesmo grupinho que o incomodou no começo do dia assistindo ao jogo, não queria encontrar com eles de jeito nenhum. Entrou na fila com sua bandeja, pegou aquela comida nojenta da cantina, procurou alguma mesa isolada e sentou-se. "Será que um dia poderei ter isso?" se perguntava enquanto olhava para todas as outras mesas, todas lotadas. Estava de cabeça baixa comendo seu bolo de arroz, quando ouviu passos que vinham na sua direção, levantou os olhos e viu dois garotos e uma garota, um deles perguntou:

_Podemos sentar com você? Pegaram nossa mesa.

_Claro.

Um dos garotos, de camisa xadrez por cima do uniforme e headphones, reparou no semblante parcialmente coberto de Lawliet, que lhe parecia familiar.

_Ãh.. Poderia tirar o capuz por um minuto?_ Ele o faz, o garoto o reconhece._ Ei! Você é o cara que venceu o Nitsuda no jogo de tênis!

_Aquilo? Ah foi apenas uma diversão._ Tenta parecer modesto frente ao comentário.

_Cara você venceu o melhor jogador da escola, tem ideia da bagunça que ficou aquele lugar depois que você saiu? Hehe nós três tivemos que sair de fininho depois de termos falado bem de você enquanto o resto reclamava._ Um deles diz, enquanto abaixava os óculos para dar um tom de intensificação.

_Foram loucos o suficiente pra isso?_ Lawliet dá um sorriso irônico._ Aliás, estamos conversando a quase três minutos e ainda não me disseram seus nomes.

_Ah! Desculpa, meu nome é Akira._ Disse o garoto com os headphones.

_Sou Nikudo, mas me chama de Niku._ Disse o garoto de óculos.

_Prazer, me chamo Lawliet.

Lawliet repara na garota que estava sentada entre Akira e Niku, como ela não tinha dito uma palavra desde que chegou ele resolve dar o primeiro passo._ E você? Como se chama?

_Ah... Me chamo Sayori._ Ela tenta esconder a timidez debaixo dos cabelos compridos e levemente bagunçados.

Ele fica a encarando por um tempo, esperando mais alguma interação. Ao perceber as intensões dele Niku diz:

_Esquece Lawl, ela é assim mesmo, demorou meses pra que ela conversasse normalmente com a gente, e olha que somos amigos há três anos. Então não espere que ela fale com você de primeira.

_Tudo bem, também não sou muito de falar.

_Na verdade..._ Os dois garotos se espantam ao ver ela falando, nunca trocava mais que quatro palavras com quem não conhecia._ Estou disposta a conversar, o que te fez querer mudar de escola, Lawl?

_Nada demais, apenas alguns problemas que são irrelevantes agora.

_Foi alguma coisa muito séria?

_Bem... Não exatamente. As pessoas se sentiam desconfortáveis quando eu estava por perto.

_Mas você é tão gente boa, por que?_ Akira contesta. 

_Sei lá, falavam que eu tinha cara de psicopata.

_Hahahaha! Não acredito, um psicopata não conseguiria fazer o sucesso que você fez por aqui._ Niku o deixa um tanto confuso.

_Que sucesso? A primeira coisa que eu ouvi quando cheguei foi que eu era esquisito.

_Depende, quem te falou isso?_ Sayori pergunta, apesar de já ter uma ideia da resposta.

_Um grupo de três garotos e três garotas.

_Já sei exatamente de quem você está falando, tivemos problemas com eles ano passado._ Disse Niku._ É só não dar atenção que com o tempo eles param.

_Entendo, não querendo me gabar, mas detestaria ter que me defender em uma situação extrema, seria pior para eles._ Ele diz em um tom sério.

_Você viu o tamanho daqueles caras, o que você iria fazer?_ Akira permanece cético.

_Há alguns anos eu tive aulas de Judô, nunca se sabe quando se vai precisar.

_Bom, isso explica os seu reflexos rápidos.

Passaram o dia conversando, e apesar de não demonstrar Lawliet não se cabia de felicidade, nunca ninguém preferiu conhece-lo a julgá-lo. "Nunca pensei que seria possível, então isso é ter amigos? É bem gratificante." este pensamento residiu em sua mente pelo resto do dia. O sinal do fim do período bateu, dezenas de alunos cruzaram os portões para a liberdade nos primeiros cinco minutos, porém Lawliet, Niku, Akira e Sayori optaram por serem os últimos a sair, queriam evitar as aglomerações o máximo possível. Akira suspira de alívio enquanto caminhavam até os grandes e altos portões de ferro.

_Finalmente! A melhor hora do dia!

_Ok Aki, já tá todo mundo cansado de saber que você odeia estudar._ Niku comenta com uma risada.

_Não tem nenhuma aula que você goste?_ Lawliet pergunta, incrédulo com o comentário.

_Passar o período todo escrevendo letras de músicas conta?

_Acho que não.

_Então não cara.

_Tenho que ir, até amanhã!_ Ele se despede dos outros e segue seu caminho.

"Cada um tem suas peculiaridades, mas é justamente isso que me agrada. Pelo jeito desta vez as coisas serão diferentes pra mim, e isso me deixa entusiasmado. Mas... de todos os três um chegou a me chamar a atenção: Sayori; tão introvertida, quase não falou nada, isso teria algum motivo específico? Bem acho que não...". Estava a beira da faixa de pedestre esperando o sinal fechar, quando ouve uma voz alta vinda de um bar por perto, ao olhar sente que já havia visto aquele homem antes. Até que finalmente lembra que é o homem que o esbarrou de manhã, dá uma olhada rápida para o sinal, e como ainda estava vermelho começa a prestar atenção no que ele esbravejava ao telefone.

_​Escuta aqui! Eu já te falei que... O QUE?! Não fala assim comigo! Como se já não bastasse eu não ter conseguido a promoção agora você vem me falar de divórcio?! O QUE É?! AAAHHH Você acha que eu não sou uma boa influência pras crianças?! Então boa sorte para sustenta-las SOZINHA!_ Fecha o celular e o bate na mesa.

Lawliet fica perplexo com o que acaba de ver, como um homem podia ser capaz de falar assim com a própria esposa? Realmente não sabia o que pensar daquilo, ao continuar seu caminho ele pensou consigo: "Estranho... Aquele homem parece ter muitos problemas tanto pessoalmente quanto profissionalmente, mas o mais bizarro é que de  manhã eu deduzi que... Não..! Não! Isso é impossível, deve ser só uma incrível coincidência.". Ao chegar em casa mal deu tempo de colocar a mochila no sofá, Watari já chegava fazendo perguntas:

_E então como foi seu primeiro dia?

_Foi melhor do que eu esperava na verdade, e pelo que tudo indica desta vez terei algumas amizades.

_Que ótimo, mas tenho que ir agora, ando muito ocupado ultimamente.

_Tudo bem.

De início ele estranhou um pouco a atitude de Watari, não que ele nunca tivesse nada para fazer mas desta vez estava mais sério, como se estivesse preocupado com algo, mas isto não iria ocupar sua mente por muito tempo já que estava louco para subir para seu quarto e finalmente terminar de ler o último livro de Sherlock Homes que havia comprado, como amava seus livros, um verdadeiro devoto a histórias de investigação e suspense. Rapidamente subiu as escadas e entrou no quarto, foi até a estante e puxou o livro, arrancou o marcador de página e pôs-se a ler, fora comer doces ler era o que mais o agradava, fosse para se acalmar ou quebrar o tédio. Leu algumas páginas, pelo menos foi o que pareceu para ele, olhou para o relógio e viu que já estava ali a duas horas e meia.

_Meu Deus!_ Exclamou com uma expressão de surpresa enquanto colocava a mão sobre os cabelos bagunçados._ Por que isso sempre acontece comigo? Já são quase seis horas e eu ainda estou com o uniforme da escola, Watari vai me matar se me ver assim.

Correu para o banheiro para tomar um banho rápido, em menos de cinco minutos já havia trocado de roupa e dado um jeito na bagunça do quarto, apenas alguns segundos depois de tudo isso a empregada bate na porta:

 _Lawliet, você vem jantar?

​_Sim! Já vou!_ Desceu as escadas e notou um cheiro delicioso que rondava o ar da cozinha_ Uhm... O cheiro está ótimo.

_Yakisoba, espero que goste._ Ela disse, o olhando com um sorriso no rosto._ Se quiser já pode se sentar a mesa, não vai demorar a ficar pronto.

Lawliet olha para um lado, olha para o outro e confuso ele pergunta:

_Onde está o Watari?

_O senhor Watari disse que estava muito ocupado, por isso ele não vem jantar hoje, mas você ainda precisa comer.

_Sei, aliás.. Hoje a tarde quando voltei da escola ele já tinha me dito que tinha muito o que fazer, será algo muito sério?

_Não faço ideia, mas as vezes prefiro nem questionar, afinal ser um membro da equipe da Interpol não deve ser nada fácil.

_Bom nisso você tem razão, Nakada._ Alguns momentos depois ela traz para ele um prato cheio, ele olha para todo aquele macarrão com legumes e não sente o menor apetite, mas como não queria fazer desfeita resolve comer um pouco. De repente em um estalo se lembra do que aconteceu na volta da escola._ Ãh.. Nakada, posso falar com você?

_Algum problema?

_Não exatamente, é que hoje eu..._ Ele a olha em pé ao lado da mesa e faz um gesto para ele se sentar na cadeira a frente._ Não quer se sentar?

_Ah não, eu não posso sentar a mesa junto a você, sou a empregada.

_Nakada por favor sente-se, não consigo conversar com alguém se a pessoa estiver longe.

_Bom... Acho que não tem problema se for só por alguns minutos.

_Certo, então hoje aconteceu uma coisa muito estranha._ Ele se ajeita na cadeira e a olha nos olhos, causando-a um certo desconforto._ Hoje de manhã quando eu estava indo pra escola um homem esbarrou em mim, quando isso aconteceu eu deduzi muitas coisas sobre a vida dele, mais especificamente umas possíveis decepções profissionais e pessoais. De tarde quando eu voltava da aula, vi o mesmo homem esbravejando no telefone algo sobre uma promoção que ele não conseguiu e algumas coisas sobre divórcio, Nakada... Eu tinha acertado, minha dedução estava correta!

Ela o olha com uma expressão de surpresa e medo, sua vontade era de simplesmente levantar e ir embora, mas controla o impulso e diz:

_Não tem com o que se preocupar, pode ter sido só uma coincidência.

_Na hora eu também preferi acreditar nisso, mas você sabe que eu nunca acreditei em coincidências. Ah quer saber, acho melhor eu esquecer essa história._ Lawliet finalmente resolve comer o Yakisoba, mas se surpreende ao ver que havia esfriado, dá uma leve risada_ Nossa, pelo visto vou ter que esquentá-lo de novo_ Vagarosamente anda até o micro-ondas com o prato em mãos, faltando apenas alguns passos ele ouve um estrondo vindo de cima, logo depois ouve Watari esbravejando alguma coisa quase incompreensível. O susto faz com que ele dê uma parada brusca, derramando um pouco do macarrão no chão._ Ah não, droga.

_Que barulho foi esse? Hein...?

_Desculpa, deixa que eu limpo._ Pega um pano úmido mas é interrompido por Nakada.

_Ei garoto esse é o meu trabalho, deixa que eu limpo, vai lá esquentar sua comida.

Esquentou a comida, mal conseguia pegar o prato de tão quente que estava, voltou para a mesa e finalmente conseguiu jantar depois de quinze minutos. Nakada se volta para ele dizendo em uma expressão de deboche.

_Que bonitinho comeu tudo, por isso agora eu te deixo comer a sobremesa hahaha!

_Depois de tanto tempo você ainda fala assim comigo?_ Ele diz com um sorriso no rosto, já estava acostumado e até gostava dos deboches de Nakada.

_Pra mim você sempre vai ser aquele mesmo garotinho de sete anos que entrou por aquela porta em um dia frio de outono e demorou meses para falar comigo, Lawl. As únicas diferenças desde essa época pra agora é que você cresceu e criou olheiras, apesar de saber porque você as têm.

_Uhm.. Eu já nem me incomodo mais com essa insônia, ela já até me foi produtiva algumas vezes.

_Eu ainda acho que é porque você come muitos doces, todo esse açúcar tira o sono de qualquer um_ Ela diz levando o prato até a pia.

_Eles ajudam a me manter ativo quando eu preciso.

_Sei, bom acho melhor eu ir logo lavar a louça._ Ela se retira da sala de jantar, ele se levanta e vai atrás dela.

_Não quer ajuda? Não tenho nada importante pra fazer.

_Ok, se quiser me ajudar eu aceito.

Enquanto Nakada lavava e colocava no escorredor ele secava e guardava, não era uma coisa que fazia sempre, mas as vezes gostava de se sentir útil pra alguém. Depois de ter ajudado subiu direto para seu quarto, não que estivesse com sono, mas estava cansado. Sentou em frente a escrivaninha e ligou o computador, quem sabe jogar um pouco de Tibia ajudasse a aliviar o tédio. Passou horas jogando, quando viu já era 1:13 da manhã.

_Se eu não for dormir não conseguirei ir pra aula amanhã.

Vestiu o primeiro pijama que viu no guarda-roupa, ajustou o despertador para as 6:30 e apagou as luzes. Ficou alguns minutos olhando para o teto, pensando sobre o que havia acontecido mais cedo: "Foi mesmo coincidência? Ou não?...". As pálpebras pesaram e ele finalmente adormeceu.