História Os 8 Porquês - Branco

 

A caixa está vazia agora.

As mentiras e respostas foram soltas do cativeiro branco que costumava ser sua gaiola depois de muito tempo, agora elas como voam para longe como oito andorinhas fugindo do inverno.

Inverno.

O inverno está chegando. Isto não soa ridículo?

Jessica está chegando.

Não consigo chorar. As lágrimas estão aqui guardadas em algum lugar dentro da minha alma, mas sinto como se devesse guardá-las para mais tarde pois sei que ainda vou me machucar muito.

Mas quando vai ser?

Onde vai ser?

Com quem vai ser?

Essas perguntas rondam minha cabeça como milhões de pequenas borboletas batendo as asas contra o que me resta de sanidade, tentando de algum com que eu enlouqueça e cometa uma loucura. Hoje não sanidade!Eu preciso ser forte por nós todas!Não vou deixar que nada aconteça conosco, mas se acontecer espero que consiga diminuir os danos da catástrofe.

Não vou cair sem lutar. Seja o que for acontecer, as meninas precisam de mim para segura-las porque ainda não acabou.

Sim, as gravações na caixa se acabaram.

Mas os porquês não.

Não há motivo para temer... Ainda. Eu vou esperar porque eu sei que Jessica quer que a gente espere.

Estou deitada na minha cama encarando o teto, estou assim desde que o áudio acabou o calor do celular laranja pulsa na minha mão como se fosse meu próprio coração fora do corpo. Não consigo me mexer, pois sinto como se todos os ossos tivessem sido removidos do lugar e recolocados novamente com novas alterações neles. Estou aqui me recuperando dessa cirurgia dos porquês, foi muito complicado e dolorido, pode ter salvado a minha vida ou talvez não, ainda estou esperando os resultados do pós operatório para saber se vou ficar bem.

Como deve ter sido para as minhas amigas?Ter ouvido a voz de Jessica destilando todo aquele ódio e tristeza está doendo tanto em mim então imagine para elas.

Sou mesmo tão boa assim?

Eu mereço não ser um por quê?

Adormeci com esse pensamento e acordei com ele. Nem se quer percebi quando caí no sono, foi como piscar os olhos e de repente acordar em outra dimensão com um mundo totalmente diferente.

Foi aí que entendi: É claro Sunny, o mundo é diferente agora.

As gravações mudaram você.

Não sou uma pessoa noturna, porém nunca estive tão acordada na minha vida como nesse momento, foi ele quem me fez despertar. O maldito celular laranja tinha escapulido de minhas mãos e agora estava piscando febrilmente com a tela acessa no brilho máximo.

Rolei para o chão pegando o aparelho com as duas mãos firmes como se ele fosse sumir a qualquer momento; uma estranheza de revirara no meu estomago apertando as entranhas. Sabia o que era. Era medo.Respirei fundo antes de ligar a tela de bloqueio, não devia ser pior, não devia ser pior... Por favor, não deixe que seja pior...

Engoli em seco. O tal GPS finalmente mostra a função que Jessica designou; um mapa com caminho traçado, com curvas e mais curvas em uma linha ironicamente laranja levam até um lugar que desconheço.

“Siga em frente. Seu caminho é de uma hora e oito segundos”.

Aonde mais eu seguiria se não fosse em frente?

(***)

 

Eu saí de casa assim, a menina do pijama listrado. Para ser sincera minha história não é muito diferente; naquele filme o menino está preso em um campo de concentração, já eu estou presas nestes porquês, então não há nada de  glamoroso sobre o meu encontro com o última prova, meu traje de gala é meu medo.

- Este não é um bairro perigoso, mas não é bom andar sozinha há essa hora– O motorista, um velho carrancudo balbucia enquanto para o taxímetro – Cinquenta wons.

- O que? – Desperto de repente com suas palavras, embora tivesse passado o caminho todo olhando pela janela meus pensamentos estavam longe – Ajusshi que lugar é esse?

Espremo o rosto contra o vidro, do lado de fora a calçada está escura e não tem uma alma viva para me socorrer. Jessica você é uma idiota mesmo!

- Oras o lugar que seu GPS mandou! – Ele responde apontando para as coordenadas – Olha menina, muita gente da sua idade mora aqui então chamamos de bairro dos trainess...

- Bairro dos trainess? – Interrompo pegando meu celular de volta. De fato, o mapa diz que já cheguei ao destino e não posso acreditar que é esse – Ah, bem então... Toma! – Pego algumas notas amassadas e jogo na mão do senhor – Gomawo!

Saio às pressas do carro levando a caixa junto comigo embaixo do casaco. Depois de todo esse sofrimento, se tivesse um incêndio e me perguntassem qual seria a primeira coisa que eu salvaria, diria que seria isto.

A rua está deserta, não costumava ser assim, mas talvez seja por causa do horário também. Muitos idols da segunda geração costumavam a morar aqui, Suju e Big Bang poderiam até mesmo ser vizinhos.

Olho para cima decorando os detalhes daquele lugar, o prédio mantém a mesma aparência de antes: Alto de tijolos cinza. Eu não tenho mais a chave, depois de tantos anos provavelmente esqueci em um dos meus chaveiros antigos ou simplesmente perdi e não dei por conta que tinha sumido.

- Tem uma reserva na caixa de correios – Uma voz surge atrás de mim – Alguém sempre esquecia a sua então deixamos aqui para que pegassem caso precisassem.

- Yuri! – Estou exclamando, no entanto não sei se é de felicidade ou de susto.

Ignorando meu fervor em vê-la, a morena passa por mim dirigindo-se a um dos quadriculados do lado de fora, o nosso número é 109 e de lá ela tira um pequeno objeto de metal em formado trabalhado.

- Você esqueceu a sua também? – Ela pergunta, porém seus olhos estão em alguém atrás de mim.

- Pra quê eu ia guardar uma coisa que não tem mais serventia? – Sooyoung parece irritada, porém seu pé esquerdo bate furiosamente. Ela está com medo.

Estando entre as duas posso fazer um parâmetro e Deus... A Sooyoung é a mais acabada!É claro que Yuri não está bem, seus olhos estão fundos e ela parece mais magra, contudo Sooyoung tem olheiras roxas que chuparam seu rosto até ficar parecida com uma caveira. Qual delas deve ter sido a pior?Será que posso pressupor por suas aparências?

Dando um suspiro audível – porque o silencio superou todas as expectativas ali – aponto com a cabeça na direção da porta.

- Bom, então... Vamos entrar?

- Isso é ridículo – Soo resmunga enquanto subimos as escadas – Quando eu pegar a Jessica ela vai ser comigo. Ela vai levar tanta porrada que...

- Você não vai fazer nada – Yuri rebate parecendo levemente irritada com a atitude de Sooyoung – E mesmo que batesse não ia adiantar em nada, quem já foi a nocaute foi você. Ele te derrubou com a fita.

Não gosto de implicar com minhas membros, mas estou feliz por Yuri ter calado a mais alta; pelo jeito algumas de nós ainda estão resistentes a suas fitas e não conseguem admitir seus erros. Quando chegamos a porta do segundo andar ela está entreaberta, ouço cochichos pelo corredor estreito e me lembro de como as paredes costumavam a ser finas, é quase impossível não ser notado aqui.Os barulhos cessam assim que Yuri põe a mão na maçaneta.

- Será que é ela? – Ouço alguém dizer.

- Vai lá conferir.

- Não vou conferir porra nenhuma! – Pelo palavrão já sei quem é: Hyoyeon – Vai você.

- Eu não!E se reconhecerem a gente?! – Seohyun medrosa como sempre responde numa voz trêmula.

- Estão realmente todas aqui? – Pergunto para ninguém em particular, porque lá no fundo tinha esperanças de que alguém tivesse se livrado.

- Ela realmente não estava brincando sobre ferrar com todo mundo – Sooyoung resmunga – Tsc. Quer saber? Foda-se!

Com um chute – de salto quinze diga-se de passagem – ela arromba a porta revelando suas atuais habitantes, ouço alguns gritinhos assustados e sei exatamente de quem são.

- Ótima entrada Sooyoung! - Yoona vocifera – Sério isso?Estamos tentando ser discretas aqui!

- Irônico uma vez que você está gritando também.

Estou neste cômodo e de repente é como se estivesse entrando em um túnel do tempo onde nada foi mudado. Não me lembro dessa sala ser tão pequena.Era mesmo desse tamanho?Como conseguimos viver neste cubículo por anos?Este é o nosso antigo dormitório, o primeiro; vivemos aqui por três ou quatro anos antes do Girls Generation começar a ganhar dinheiro e precisar de mais espaço para se acomodar, ainda existem as marcas de figurinhas que Tiffany e eu gostávamos de grudar nas paredes, no batente do corredor que dá para os quartos nossas alturas estão pintadas com giz de cera, a minha nunca deixou de ser a última, a de Seohyun costumava a ser a primeira antes de Yoona ultrapassá-la no verão de 2009.

- Então... Finalmente estamos todas aqui?Os oito porquês?

Isso chama minha atenção, um calafrio estranho que sobe sob a pele. É tão estranho pra elas ouvir isso em voz alta como é pra mim?

As soshis vão se aproximando até estarmos em um círculo perfeito, somente a lâmpada fraca no alto do teto ilumina nossos rostos; nos encaramos durante longos segundos e sei o que estamos fazendo: Procuramos rachaduras umas nas outras para ver quem é a pior.

Ninguém parece me notar, estão tão desconfiadas que nem percebem que não pertenço a isto.

- Quando chegaram aqui? - Yuri pergunta.

- Um pouco antes de vocês – Taeyeon responde monótona - Todos os celulares tocaram com as coordenadas para que viéssemos parar no mesmo lugar estou certa?

- Tá, mas na nossa antiga casa? – Seohyun pergunta olhando em volta – Alguém me diz, porque ainda não peguei o trocadilho nisso tudo.

- Ela quer fazer a gente viver uma nostalgia talvez – Hyoyeon palpita com um dar de ombros.

- O tempo que éramos felizes – Tiffany completa – Ela acha que reviver as velhas memórias vai me fazer ter pena dela?Porque posso garantir que o efeito que surtiu é ao contrário – Ela quase rosna – Vadia louca.

E ela tinha que provocar a ira do destino não é mesmo?Tsc, Tiffany não podia ficar calada pelo menos uma vez na vida?

Juro que meu sangue quase parou de circular com o acontecimento que veio a seguir. Sons altos de novas mensagens – sim, no plural – preencheram quase que instantaneamente depois que ela disse essas palavras, a reação foi em grupo, nos sobressaltamos arregalando os olhos uma pras outras enquanto os celulares vibravam em nossos bolsos.

- Todas estão com seus objetos de tortura aí? – Yoona deu um sorriso tão quebradiço que quase podia ouvi-la ruindo.

Em sincronia todas mostraram seus “xodós” e então finalmente pude ver a extensão daquele caos. Cada uma de nós tinha sua própria cor.

Rosa escuro para Tiffany.

Rosa claro para Seohyun.

Amarelo para Yoona

Verde para Yuri

Azul para Hyoyeon 

Roxo para Taeyeon

Vermelho para Sooyoung 

Laranja para Sunny.

Não sei o que dá em mim. Estou ansiosa e desesperada, e sem a autorização das outras sou a primeira a abrir a mensagem.

“Meu antigo quarto” É tudo o que diz.

Meu coração dispara.

- O que será tem lá? – Sooyoung pergunta deduzindo que todas receberam a mesma coisa.

- Não importa – Yoona diz. Seus olhos estão em fúria e do nada ela joga o celular dela no chão fazendo-nos recuar com medo.Nunca a vi tão exaltada em toda minha vida – Se estamos todas aqui a hora é agora.Vamos acabar com isso de uma vez por todas.

- Você não está sugerindo...

- Sim. Vamos destruir o quê Jessica tem para nós – Tiffany está encarando a visual e por incrível que seja elas parecem ter uma conexão repentina.Uma conexão maligna – E eu aposto que são provas que nos incriminam dos nossos porquês, não vamos deixar isso sair daqui, vamos dar sumiço nas pistas antes que seja tarde demais.

- De acordo – Sooyoung firma com os lábios apertados na direção do corredor escuro.

- Se ninguém tem subjeções contra... – Yoona vai tão convicta naquela direção que acho que ela é capaz de sair só com a força do pensamento, mas algo a impede.

Alguém.

E esse alguém sou eu.

Mais rápido do que qualquer um teria previsto estou na frente dela bloqueando a passagem, meuss braços estão abertos e repentinamente não respiro mais.

Ela olha pra baixo.

- Sunny?O que está fazendo?

Balanço a cabeça negativamente, de um lado pra outro com tanta força que meus ouvidos estão zunindo. Vai contra a minha natureza, no entanto isso não é sobre cada uma de nós.Somos um total, o que ela fizer vai prejudicar as outras.

- Não posso te deixar fazer isso.

- O que? – Ela ergue a sobrancelha e franze as pálpebras formando uma feição que nunca me dirigiu.

 Por cima dos ombros dela veja as outras petrificadas no lugar, as seis meninas parecem mais perdidas do que antes. Não vou receber nenhuma ajuda da parte delas.Estou sozinha nessa.

- Yoona você não pode destruir o que Jessica deixou pra nós. É importante.

- Claro que é por isso vou resolver por todas nós – Ela repuxa os lábios num sorriso estranho, mas eu continuo no lugar e ela fecha a cara – Sunny sai da minha frente.

- Não.

- Sunny! – Ela grita.

- Yoona! – Hyoyeon protesta ao meu favor.
- Sai da minha frente sua estúpida antes que eu faça algo do qual vou me arrepender!

Então eu encontro a minha voz e ela não é nada boa.

- Não! – Empurro Yoona para o mais longe possível da passagem e ela cambaleia desajeitada para trás sustentando um olhar chocado quando percebe que “agredi” ela. A primeira vez em nunca.

Ela quer voltar, porém Taeyeon segura seu pulso impedindo que parta pra cima de mim.

Parte meu coração. Yoona?Você nunca me machucaria. Quem é essa agora?O que ela fez com minha amiga.

No entanto eu entendendo, essa é a Yoona escondida por detrás do por que, Yoona que Jessica descobriu antes de todas nós.

- Por que você está tão brava?Não precisa ficar tão brava – Minha boca treme, quero chorar.

- Esse maldita destruiu nossas vidas!

- Não foi Jessica quem destruiu nossas vidas foram vocês mesmas! – Vocifero sentindo todas as cordas vocais da minha garganta ficarem tensas - Vocês... Como podem ser tão estúpidas depois do que aconteceu?Será que não aprenderam nada com os áudios?!

Yoona trava no lugar, mas outra toma seu lugar rapidamente. De uma hora para outra tudo muda, não vou ficar calada, estou cansada dessa atitude mesquinha então que venha a próxima.

- Você ta querendo defender a louca da Jessica depois de tudo que ela ta fazendo com a gente?! – Tiffany diz – Sunny eu não aceito essa sua atitude!

- Eu faço o que quiser! – E de sobra acrescendo – E vadia louca é você!

Ouço as outras puxarem o ar surpresas. Ninguém enfrenta Fanny assim.

- Cuidado com o que você fala Sunny...

- Você é quem deveria ser cuidadosa com o que fala, sendo que é a que mais tem a corda no pescoço Tiffany – Hyoyeon também cutuca adicionando mais fogo ao incêndio.

- Não sei do que você está falando.

 - Para de bancar a sonsa! - Hyoyeon também explode, ela tampa os ouvidos como se a voz da americana ferisse seus tímpanos -  Somente... Pare!De quem é a culpa da Jessica ficar mal meses antes de sair do grupo?!Todas os sintomas apontam pra você!Você e...

- Não podem culpar os outros pelos problemas da Jessica! – Tiffany rebate, mas as mãos dela estão tremendo. Há um segredo guardado aí e está prestes a ser relevado.

- Sim. Ela pode – Seohyun que estava encolhida atrás de Yuri sai das sombras.Ela e Tiffany se encaram profundamente, mas não sei o que é – Você e a Taeyeon Unnie fizeram isso.Juntas.

- Do que estão falando? – Soo exige saber.

- Seohyun... – Nossa líder murmura baixinho numa suplica.

- Seohyun não se atreva – A voz de Fany é um alerta – Estou te avisando. Não fale ou vai enfrentar conseqüências.

- Espera – Hyoyeon identifica algo na maknae que o resto de nós não consegue. Ela agarra o braço da ruiva trazendo-a para perto - Você sabia também sabia?

Seohyun sempre foi um bebê chorão. A altura não compatível a seu coração mole e vejo que ela sofre muito nesse momento.

- A Jessica disse que ia ser assim. Exatamente assim – Ela se lastima – Ela sabia o que vocês iriam fazer comigo se contasse pra alguém - Nossa maknae tenta limpar as bochechas molhadas -  Vocês nunca querem que as pessoas saibam do seu segredo, por causa disso me repreenderam nesses últimos anos.

- Sabia do que caramba?! – Yuri exclama.
- Tayeon e Tiffany estavam juntas! – Hyoyeon exclama – Esse tempo todo!Esses anos todos!Bem debaixo dos nossos narizes!

Os olhares estão chocados. Os meus mais ainda.

Então era isso.

Taeyeon Unnie... Eu tinha minhas suspeitas, mas nunca pensei que fossem reais, ela nunca se abriu conosco e nós também nunca quisemos pressiona- la com um assunto tão... Pessoal.Mas com Tiffany?Nem em um milhão de anos imaginaria tal coisa.

Estava ficando cada vez pior.

- Isso... Isso... Não é verdade – Taeyeon está abraçando a si mesma. O rosto dela está branco como uma nuvem e por um momento me preocupo se ela vai desmaiar – Gente, por favor...

- Taeyeon não é hora pra se esconder atrás da sua máscara, mas que merda! – Hyoyeon é como um tornado nesse momento – Será que você não percebeu que já não tem mais para onde correr?!Todo mundo aqui sabe que você é gay!Fim da linha!Chega!

- Foi por isso que a Jessica se afastou de você?Por que era homossexual?Mas... Não faz sentindo, ela não ligava pra essas coisas - Yuri murmurou apontando um dedo trêmulo na direção da líder e depois para Tiffany -  E você... Por que a Jessica ficou tão amarga com você?Costumavam a ser melhores amigas e ficavam por aí falando em inglês juntas e...

- Se você usar a cabeça um pouquinho vai juntar as peças Yuri- ah – Me pronunciei entendendo antes de todas – Qual é a única razão para a Sica ter se afastado delas simultaneamente?

Não foi preciso muito tempo para captar a mensagem. Todas escancararam as bocas amontoando nas mentes os capítulos que deram origem a tensão.

- Ah meu Deus!Temos a porra de uma sapatona no grupo!  - Sooyoung riu amargamente batendo com força nas paredes. Sinceramente ela estava enlouquecendo – Uma sapatona que pegou duas ao mesmo tempo!

- Não foi ao mesmo tempo – Tiffany tentou se defender.

- Claro que não. Você fez Taeyeon unnie trair a Sica pra ficar com você – Seohyun disse.

- Já chega!Agora você morre sua cadela fofoqueira!

Em um instante elas estavam de pé, no outro Tiffany puxou Seohyun e elas estavam rolando pelo chão numa briga agressiva. Taeyeon gritou tentando chegar as duas, mas foi parada por Sooyoung colocando a mão em seu peito.

- Você sabe que relacionamentos entre membros não dão certo de qualquer maneira. Por que diabos se envolveu com duas das nossas?!Ficou maluca?Onde está a sua índole? – Yuri falou.

A garota loira retorceu o rosto e duas lágrimas pontudas rolaram por seu rosto de porcelana. Nem me lembrava de como era vê-la, um raro momento onde ela mostrava fraqueza.

- A minha índole? – Repetiu - A minha índole sumiu quando comecei a dirigir esse grupo! – Pronto. A última de nós tinha perdido o controle - Tente lidar com oito garotas mimadas durante 10 anos e eu te falo onde minha índole vai parar!

- No meio das pernas delas? – Sooyoung acusou - Isso explica muita coisa. Por causa do seu erro vamos todas pagar!

- Ok. Eu aceito minha culpa, mas quem foi que chamou ela de piranha sendo que sabe muito bem o cafajeste que o próprio namorado é?!

Sooyoung arregalou os olhos. Por essa ela não esperava

- Eu...

- Você também é uma cega Sooyoung!Nunca percebeu que ele dava em cima de nós?! – Taeyeon atirou segundamente - Quase posso sentir que sua fita foi exatamente sobre isso.

- Cala a boca sua lésbica imbecil!

Um tapa forte que fez estralo, o rosto da soshi mais alta chegou a girar para o lado espalhado seus cabelos curtos numa onda confusa. Coloquei a mão na boca pasma com a atitude dela.Taeyeon...Batendo em alguém.

Foi algo horrível de se ver; o Girls Generation nunca havia estado em um nível tão baixo como aquele, era deplorável ver que elas travavam uma guerra consigo mesma, porém descontando uma nas outras. Em meio ao choque e tristeza me vi refletindo no porque de girls groups darem disband tão cedo:Inveja, competição, fofoca... Segredos.

Eu costumava a falar que meu grupo estava acima dessas coisas, na verdade enchia a boca para divulgar do meu orgulho, acreditava fielmente que o SNSD era à exceção da regra, que nós éramos unidas e fortes, que não haveria nada que pudesse nos separar, mas eu estava errada, havia algo que podia.

Nos mesmas.

Naquele momento eu percebi: Jessica não viria.

Ela não pertencia mais a isso, os sones queriam acreditar e nós também queríamos acreditar que ela sempre seria uma soshi, mas a realidade não é suave, ela joga na sua cara os mínimos detalhes. Só existiam oito integrantes.Para o resto da vida.

Enfim entendi a razão pela qual estava ali, eu não era um porquê, mas... Eu precisava estar ali.Eu Sunny seria a mediadora, em algum lugar era o equilíbrio que ainda mantinha o grupo unido e era eu quem iria resolver tudo.

Ao longe Hyoyeon também gritava com Yoona impedindo-a de ir a qualquer lugar, e então afastada de todas estava uma afugentada.

Yuri.

Ela encarava o nada fixamente; mesmo com todas as outras se estraçalhando na sua frente à morena agia como se não estivesse ali. De fato. Os olhos dela estavam vidrados...Longe.Minha cabeça estava latejando, optar entre me meter nas brigas ou andar até ela circulavam na mente.Devagar, muito devagar tive a coragem de respirar fundo e lhe tocar os ombros, ela se arrepiou como um gato pelo toque gelado.

- Yuri?

Ela sussurrou algo inaudível, as mãos se fechando em punho.

- Não estou entendendo.

- O bebê era meu.

- O que?

- O bebê era meu! – Ela gritou – Aquele neném!Aquelas provas, era tudo meu!

Acho que estávamos em uma prisão da qual não conseguíamos sair, nossos porquês eram nossas algemas e somente uma precisava se soltar para que todas nós fossemos libertas. Jessica sabia desde o começo... Ela precisava que somente uma se desse ao sacrifico de revelar o seu porquê.

Yuri nos salvou. A revelação dela fez com que as outras parassem.

Ela se escorou na parede, foi escorregando até cair sentada no chão com o rosto escondido entre as mãos como se não tivesse mais estruturas para suportar o próprio peso.

- O abordo... Não foi da Jessica. Foi meu. – Ela explicou por debaixo da voz embargada pelo choro – Naquele dia... No dia em que a Jessica foi expulsa havia um ultra som dentro da caixa, vocês viram não viram?

Me lembrava vagamente. Quando Taeyeon derramou o conteúdo na mesa entre o diário de Seohyun e as fotos da mãe de Tiffany surgiu uma pequena pasta contento algumas imagens borradas em forma cilíndrica, não era a barriga de Jessica.Era a da Yuri.

Quando o CEO jogou as notícias em Sica fiquei me perguntando por que ela não havia nos contado. Acreditei que foi um caso de uma noite que deu errado,que ela se arrependeu e resolveu abortar.

Tiffany se ajoelhou ao lado dela, os olhos aparentemente brilhando. Ela parecia acabada e sem orgulho algum.

- Mas... Como?

A morena chorou ainda mais.

- Aconteceu um pouco antes da turnê japonesa, em dezembro.Nós tínhamos nos esforçado tanto para expandir o grupo para fora da Coreia que de repente um filho estragaria tudo!

- Seung é o pai? – Perguntei e ela assentiu limpando o rosto nas mangas do casaco.

- Eu não sabia o que fazer, estava desesperada!E então... – Yuri se calou, o tempo que ficou em silencio foi o suficiente para que nos juntássemos a sua volta para escutá-la – Eu não podia ter essa criança.Na noite depois do Tokyo Dome eu e Jessica pegamos um táxi para a parte baixa da cidade, procurávamos um hospital clandestino.

Todos os vômitos, toda a aproximação entre ela e Jessica enquanto estávamos no Japão. Ela estava tentando ajudar Yuri.

- Eu desmaiei. Tive uma infecção que quase me matou – Por reflexo a vi colocar a mão sobre o ventre – Era ele ou eu.

Eu e as outras estávamos segurando o ar. O clima ficou tão estagnado que até poderíamos ouvir os batimentos umas das outras.

- Eu... Precisava de um responsável para assinar a papelada e Jessica foi a escolhida. Quando acordei não tinha mais nada dentro de mim, sabem, como se num passe de mágica algo que era tão problemático virasse...Nada? – Yuri engoliu em seco – Eu me senti traída porque achei que Jessica tinha arrancado a escolha diretamente dos meus braços e a culpei por tudo que me aconteceu.

- Yuri... – Hyoyeon também estava chorando. A decepção era evidente na voz dela – Como você pode?Você viu como o CEO tratou a Jessica!

- Eu sei! – Essa foi a pior parte. Yuri berrou enquanto batia a própria cabeça contra o concreto – Eu sei!Eu sei...!

- E mesmo assim deixou que ele a humilhasse daquele jeito? – Perguntei com um gosto amargo na boca. Estava ficando cada vez mais abalada com essas garotas – Porque você não disse alguma coisa?!Você deveria ter dito alguma coisa!

- Eu não podia arriscar tudo de novo Sunny!Me perdoe!

As últimas barreiras entre nós finalmente haviam ruído, restaram somente fragmentos de oito garotas melancólicas lamentando seus erros.

Havia novas pessoas no lugar de Hyoyeon, Taeyeon, Tiffany, Seohyun, Sooyoung, Yuri, Yoona e Sunny.

- O que nós fizemos? – Tiffany murmurou.

- Não foi só culpa sua – Hyo disse - Eu tirei dela a única pessoa que amou um dia.

- E eu? – Taeyeon resmungou - Eu dei falso amor. Eu brinquei com os sentimentos dela.
- Ela me apoiou quando ninguém mais apoiava – Yuri disse - Eu deveria ter feito o mesmo por ela.

- Eu não deveria ter feito aquilo com ela – Yoona refletiu – Ela não tinha culpa.

- Eu deveria ter dado ouvidos a ela – Sooyoung completou.

- Eu também – Seohyun concordou – Uma história sempre tem dois lados.

- Por que estamos brigando umas com as outras?Isso é tudo medo de admitir que somos pessoas horríveis? – Tiffany gesticulou.

- Não somos pessoas horríveis. Somos só... – Cacei a palavra certa para me expressar - Imperfeitas.

- Infelizmente nunca sabemos os efeitos que causamos na vida das pessoas – Taeyeon disse e as outras concordaram.
- Vamos poder saber agora – Me levantei nos calcanhares sacudindo a poeira das palmas das mãos – Ainda existe uma última coisa a fazer.

 

(***)

 

- Vocês lembram do primeiro dia? – Sooyoung olhava em volta com um grande sorriso – Quando o Leeteuk oppa e Shindong oppa fizeram aquela festa surpresa pra gente?

- Eles encheram o teto de balões – Hyoyeon riu.

- Uma festa de inauguração pela abertura do dormitório – Taeyeon concordou assentindo – Eles tinham tragam um bolo também e uma vela que era do tamanho de um foguete.

Todas nós caímos na gargalhada. Parecia que dez anos haviam se passado séculos desde que aquilo aconteceu.

Quando foi que o tempo começou a girar tão rápido?

- Foi aqui nessa pequena sala onde tudo começou e é aqui onde tudo vai terminar – Digo me sentando no novo circulo que formamos. Olho para todas.Olhos brilhando de expectativa - Me prometam que o que acontecer aqui não vai nos separar.

- Nunca – Yuri diz.

- Nós prometemos – Tiffany pega minha mão sorrindo.

As demais concordam.

Minhas mãos estão calmas quando abro a caixa – uma miniatura da anterior – e o que vejo lá de fato não me surpreende de algum modo até esboço um sorriso.

Branco.

Sem demora ligo o celular, a última vez que vou ver estas letras em negrito.

“Que dia é hoje?”

- A senha é uma data? – Yoona quer saber – Claro. É 28 de Setembro.

- Não é uma data qualquer – Suspiro tristemente encarando meu reflexo na película – Um dia antes de 29 de Setembro. É a véspera do dia que Jessica saiu do Girls Generation.

Eu disse que precisava guardar a minha dor para o último ato. As lágrimas que estava segurando finalmente vêm à tona e é tão doloroso que acho que vou morrer sufocada!Amanhã vai completar quatro anos desde que uma parte desse coração que chamo de grupo e irmãs foi embora.

Por que teve que ser assim?Por que não nos permitiram ficar juntas até o fim?

- Está tudo bem Sunny – Yuri me abraça falando baixinho – É só apertar o play, aperte o play e tudo vai ficar bem... Por uma última vez...