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História Os Agentes Vira-Tempo - O dia em que tudo começou


Escrita por: Ferbss

Capítulo 1 - O dia em que tudo começou


          — Nós temos que sair daqui! Jess, vem!
         Mas pequena e loira Jess não se movia. Olhou em seu relógio, eram 23:30.
         — Jess!!
         — Ele vai vir, tudo bem?! Ele tem que vir.
         Jess encarou novamente o machado ensanguentado em suas mãos e depois o corpo estirado no chão. Ele tinha que vir. Davi nunca a tinha deixado na mão antes, e dada a importância do caso, essa não seria a primeira vez.
         — Jess, já se passaram dois minutos!
         — Chega, Alice! Ele virá! Sei que sim.
         Mas Jess já não tinha mais tanta certeza. Olhou no relógio novamente, a amiga estava certa, realmente haviam se passado dois minutos, eram 23:28. A pessoa estirada no chão, que antes jazia morta, agora começava a se debater lentamente. O sangue, que antes se esticava em uma poça de dois metros, agora não tinha mais de um metro e meio. O assassino estava voltando, o tempo estava voltando, mas Jess não queria sair do lugar.
         — Jess, me escuta. A gente não pode ser vista aqui, as consequências seriam... você sabe o que aconteceria conosco, mais do que ninguém. A gente tem que ir.
         — Mas e o Davi?
         — Tenho certeza que ele tem uma boa explicação para não estar aqui. Agora vamos. Por favor.
Jess encarou novamente o corpo estirado no chão e depois o machado em suas mãos. Largou-o.
         — Eu tenho que descobrir o que está acontecendo.
         Jess levou sua mão direita em seu relógio de pulso, puxou um pino lateral e o girou em sentido anti-horário três vezes.
         — Jess, não!
         Mas antes que Alice pudesse fazer alguma coisa, Jess colocou o pino no lugar.
Um forte clarão tomou conta do recinto, ou apenas dos olhos de Jess; apesar dela já ter feito isso incontáveis vezes, ela ainda não sabia dizer. Em alguns segundos toda aquela luz branca já havia se dissipado e Jess se encontrava no píer 67, apenas 100 metros do lugar de onde estava com Alice. Olhou no relógio, 23:22. Levou novamente a mão em seu acessório, mas dessa vez ajustou uma pequena alavanca, levando-a da esquerda para a direita. O tempo voltou a andar para frente.
         — Davi! Davi! – Jess gritava tão alto quanto um cochicho.
         Ela cruzou os braços na frente do tórax, estava mais frio do que estaria daqui a dez minutos, e começou a andar sem um rumo definido. Escondeu-se atrás de um caixote de madeira quando viu sinal de faróis. Um homem desceu de uma caminhonete preta, e consigo arrastava uma pessoa com um saco na cabeça. Segurando a pessoa pelo braço, o homem foi até a parte traseira da caminhonete e pegou o machado. Em um golpe de força súbita, o homem lançou o pobre coitado no chão e começou a desferir várias machadadas nele. Os gritos cessaram após o terceiro golpe, indicando que a pessoa ali já estava morta. O homem deu as costas e fugiu em sua caminhonete. 23:26. Jess sabia que em exatos cinco minutos ela e Alice apareceriam ao lado daquele corpo, colhendo evidências antes que a polícia chegasse.
“Onde está você?” Pensou ela.
         Foi então, que daquele ponto em que ela estava, a garota conseguiu ouvir um grito distinto no horizonte. Olhou para trás e então viu, estirado no chão, o amigo que tanto procurava. Correu em direção a ele, mas ao se aproximar, viu a expressão de terror estampada no rosto de Davi ao olhar para ela.
         — Davi! – Jess gritou ao se aproximar correndo.
         — Fique longe!
         Jess paralisou onde estava, o que ele queria dizer com isso?
         — Davi, sou eu, a Jess.
         Davi começara a chorar em desespero.
         — Por que, Jess? Por quê? Eu não entendo!
         — Não entende o que, Davi? Eu não estou te entendendo.
         — De todos os agentes do Vira-Tempo, eu confiava em você. Jess, eu te amava.
         — Davi, do que você está falando?
         — Sai de perto!!
         Davi então se levantou e saiu correndo na direção oposta a Jess. Entretanto, o garoto mancava e só então Jess notou todos os seus ferimentos.
         — Davi, espera!
         Antes que Jess pudesse dizer algo ou correr atrás dele, o garoto caiu. Mas não por causa de seus ferimentos. Um tiro havia atingido o rapaz na cabeça, fazendo seu corpo, já sem vida, cair estirado no chão. Sentindo a adrenalina e o desespero fluírem por suas veias, Jess correu em direção a Davi, mas antes de poder alcança-lo, ela viu uma figura se aproximar do corpo do amigo. Mas não era uma figura qualquer, Jess conhecia aquelas madeixas louras, conhecia aquele corpo pequeno para a idade, conhecia a arma que ela segurava nas mãos. Mas somente quando o ser direcionou sua atenção para ela, que Jess realmente confirmou suas suspeitas. Aqueles olhos azuis, aquela boca rosada e as leves sardas na bochecha eram a as mesmas que Jess via no espelho todo dia de manhã. Jess via a ela mesma. Ela mesma matara Davi. Ou um dia no futuro mataria. A Jess assassina se levantou, um sorriso maléfico no rosto que não pertencia a ela, nunca pertenceu. Ela levantou a arma.
         — O que será que acontece se eu matar a mim mesma no passado? Eu deixo de existir? É aberto um buraco no universo? Ou eu simplesmente continuo existindo como a aberração que sempre fui? Vamos descobrir.
         Em choque e sem tempo para reagir, Jess é atingida por três tiros na barriga e cai sentindo uma dor incomparável a qualquer dor que ela já havia sentido na vida. A Jess maléfica continuava a se aproximar, pronta para finalizar o serviço, quando ela escuta um grande estrondo e um enorme clarão. Poucos metros dali, Jess e Alice apareciam do lado do corpo arrastado da caminhonete, aguardando por Davi para colherem as evidências. Mas agora a garota sabia por que ele não aparecera. Ela mesma o assassinara, minutos antes de sua chegada. E agora seria morta por ninguém mesmo além dela mesma. Mas não hoje. Jess ouviu sua versão futura dizer algumas coisas e então correr para o lado oposto, provavelmente temendo ser pega.
         O sangue escorria pelas feridas de Jess criando uma poça que já se estendia por quase um metro. Tentou gritar por socorro, talvez Alice e sua versão do passado a ouvissem ali, mas não tinha forças o suficiente para isso. Foi então que ela teve a ideia. Jess era uma agente Vira-Tempo, pertencia a uma organização que usava um equipamento capaz de criar alterações no tempo construído pelo governo para solucionar um crime impossível, mas para isso, eles teriam que colher evidências espalhadas em vários outros crimes, sendo o assassinato no píer 67 um deles. Ela se lembrou de seu treinamento, das habilidades do pequeno relógio dourado que estava em seu pulso. Ele era capaz de enviar seu corpo para o passado, apenas para coletar evidências de um crime recém-cometido antes que a polícia chegasse no local, ou até fazer o tempo andar ao contrário. Nenhuma alteração no tempo era permitida, pois as consequências seriam catastróficas. Lembrou-se também de uma função proibida, descoberta por um de seus colegas agentes, que havia dado este desbloqueio a seu relógio, e seria essa função que salvaria sua vida agora.
         Com muito esforço, Jess alcançava o relógio em seu pulso, e dando três batidas ritmadas no vidro, ele se abriu, revelando um minúsculo pino, um pino que não era capaz de mandar o corpo de Jess para o passado, mas sim sua consciência. Jess girou o pinto em incontáveis voltas, ela precisava de muito tempo, e ao pressionar o mesmo, uma forte luz vermelha tomou conta de todo o píer e a garota por fim perdeu a consciência.
Quando voltou a si, Jess se encontrava em uma sala de reuniões com mais vinte pessoas assistindo a um homem mostrar um pequeno relógio dourado para a audiência. Ela sabia que dia era aquele, era o dia em que fora recrutada pelo governo para ser uma agente Vira-Tempo, o dia em que tudo começou, a mente de Jess havia voltado para seu corpo, seu corpo de quatro meses antes.
         — Com licença. – uma voz chamou Jess pela direita, ela olhou rapidamente. – Tem alguém sentado aqui?
         — Não, fique a vontade.
         Jess percebeu que sua bolsa ocupava o assento do seu lado e a retirou, colocando-a sobre seu colo. Um rapaz muito bonito sentou-se no lugar. Ele tinha olhos castanhos, uma pele clara e um sorriso encantador.
         — Me chamo Davi.
         — Prazer, Davi. Meu nome é Jess.
         Eles sorriram um para o outro. O sorriso de Davi por pura simpatia, mas o de Jess por pena. Um dia ela mataria o garoto sentado ao seu lado a sangue frio. Um dia ela mataria aquele que chamou de amigo. Ela mataria aquele que chamou de seu.
         Mas por quê? Por que Jess faria isso? Agora ela tinha quatro meses para descobrir. E se impedir.



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