- A lenda que contavam referia que Zeus não era o predestinado a ocupar o primeiro lugar no Monte Olimpo, mas essa criatura, que nunca mais foi vista e da qual nem o nome se conhece!
- Mas...
Um tremor violento fez-se sentir, um clarão que iluminou tudo e nenhum ruído provocou sobressaltou os corações de todos. Enquanto toda a superfície era inundada por uma luz incandescente, todo o firmamento ficou desordenado e com órbitas totalmente irregulares, levando à colisão de diversos planetas, para total desespero dos deuses.
- COMO?!?! ATENA?! - gritou Apolo, percebendo que o sol estava a afastar-se cada vez mais da Terra. - O que é isto??
A deusa apenas levantou o olhar em direção ao firmamento. Ela nunca havia visto aquilo antes. Lorene também olhava para o céu completamente desolada.
- Se isto continuar toda a humanidade irá congelar... - Lorene entristecida. - Mas... Mas... RAIJIN!!!!
Lorene gritou num completo desespero, vendo o que estava bem à sua frente. Raijin, Zeus, havia defendido o ataque milenar de Érebos, sem nem saber como tal havia acontecido, e estava agora ajoelhado sobre uma enorme quantidade de sangue.
- Sangue humano... ser humano é ser mortal. - balbuciou Raijin, sem tirar os olhos do chão.
Aika debruçou-se sobre ele e colocou-lhe a mão no ombro, sentindo-o estremecer por completo ao senti-la.
- Aika... Se você soubesse do seu valor... jamais enfrentaria Érebos sozinha.
- Porquê, Zeus? Porque é que me defendeu?
- Você precisará de saber copiar esta defesa, Milky Way... Se eu sucumbir.
- NÃO!! - gritou Lorene, começando a correr para os dois irmãos.
Zeus abriu muito os olhos e entrou em pânico ao ver a amiga avançar até ele.
- Não!! Não, Atena, não o faça!! - gritou, lançando Lorene para trás. - Me perdoe, mas você não pode morrer...
Todos ficaram em choque com a revelação de Raijin.
- A-Atena? - suspirou Hades, não entendendo como é que não tinha percebido a identidade da deusa do futuro antes daquele momento.
Érebos esse estava irritado por não entender como o seu ataque tinha conseguido ser defendido de forma tão fácil por Zeus. Não havia explicação para isso. A não ser...
Nas imediações do Santuário muitas pessoas gritavam pedindo auxílio a Atena para as deixar sobreviver ao deus da escuridão, sem nem imaginarem que o epicentro da batalha estava ali.
Os gritos tornavam o ambiente ainda mais desesperante e as lágrimas de Lorene não chegavam já para acalmar o seu medo em relação ao futuro. O sol estava cada vez mais distante, começando a fazer sentir um frio estranhamente diferente naquele momento.
- Meus pobres seres humanos... - murmurou em voz baixa.
Os seus pensamentos foram interrompidos com a chegada imprevista de um homem já de idade, na casa dos oitenta anos, em lamentos desesperantes, e com lágrimas pela face toda. Lorene olhou para ele e sobressaltou-se.
- SAIA DAQUI!! - gritou.
- Senhorita... meu pequeno cachorrinho desapareceu. Eu prefiro morrer do que ficar sem ele.
- Ridículo... Vir incomodar o Santuário por causa de um cachorro. - falou, irritado, Poseidon.
- Meu pequeno é minha única companhia, eu não tenho mais ninguém. Deuses do Santuário me ajudem...
- SAIA DAQUI!! - gritou Atena do tempo atual.
Érebos apressou-se a atacá-la, afastando-a do idoso recém-chegado, começando a aproximar-se dele.
Aika tentou também chegar junto dele, deixando o irmão no chão, mas também ela foi arremessada para trás sem piedade.
- Aika! - gritou Nerissa, correndo para a filha.
O deus da escuridão parecia estar a conter uma raiva estranha e devastadora. No entanto, parou em frente ao idoso e falou-lhe com uma calma pouco caraterística:
- Você perdeu seu animal de companhia, é isso?
- Sim, meu senhor... - explicou, joelhando-se perante Érebos. - Ele me fugiu no meio da confusão e do sangue dos mortos. Deve ter-se assustado, coitadinho, ele nunca esteve sem mim há quase quinze anos...
- Muito tempo...
- Por favor me ajude! Eu sem ele não sobrevivo, eu nunca tive mulher, vivi sozinho minha vida toda, ele é a única companhia que eu tenho e o único ser que eu tenho para me fazer sentir vivo.
- Você não devia ter vindo até aqui. Mas talvez eu consiga trazer seu cachorro até aqui agora mesmo.
Érebos levantou a mão e em instantes o animal apareceu a seus pés. Agachou-se e afagou-lhe a cabeça com um ódio incrível canalizado.
- Piloto!! - gritou o idoso agarrando o seu velho animal.
Os deuses olhavam para aquele gesto pouco habitual e apenas Lorene se tentou aproximar novamente. No entanto, Aika já se levantava e dirigia para o deus obscuro.
- O que você está tramando, Érebos?!
Érebos chutou Aika para longe, com tanta velocidade que a fez derrubar fortemente um pilar com as costas.
A jovem sentiu dores insuportáveis, o pilar acabava de esmagar as suas pernas. No entanto, tudo aquilo era piorado com o sentimento de vazio que estava a sentir naquele momento. Não se lembrava de quem era, não se lembrava das pessoas que morreram. Sentia um aperto no peito angustiante. Mas não sabia porquê.
Olhou para as pernas e percebeu que as tonturas que estava a sentir naquele momento se deviam à enorme perda de sangue que estava a sofrer.
- Vou morrer aqui? - balbuciou.
- Aika!!
Uma voz doce e compreensiva estava ali consigo agora. A jovem levantou os olhos. Aquele cavaleiro dourado acabava de tirar o pilar de cima das suas pernas e amarrar um cachecol vermelho rasgado ao meio no ferimento em ambas.
- Você é...
- Você sabe, Aika, Mu de Áries. Por alguma razão desconhecida ainda não sucumbi a esta batalha. Parece que tinha de reencontrar você, não é mesmo?
A jovem olhou para os belos olhos do ariano e acariciou-lhe a face. Estava tonta e cada vez mais fraca, a visão já estava começando a ficar embaciada.
Mu percebeu a palidez da filha de Dohko, e os batimentos totalmente anormais.
- Aika, você...
- Obrigada, cavaleiro.
Estavam ambos sozinhos agora. Nerissa tinha atacado Érebos, antevendo o que ele tinha tramado, jurando vingança.
- Você não vai morrer!! Aika, não!! Não!! Fique comigo!
A visão estava cada vez mais embaciada. A voz já não lhe saía e a dor nas pernas parecia já não a atormentar mais. Ouvia vozes. Os gritos das pessoas continuavam a ecoar-lhe na cabeça, parecia que nem perto da morte se livrava daquele tormento. Queria sair dali e levantar-se. Ficou-se pelo desejo, o seu corpo já não lhe respondia. A visão escurecia agora finalmente. Ficavam as vozes apenas. Essas pareciam não a querer abandonar.
A guerra continuaria sem ela. Pelo menos, era o que ela sentia.
- Não o faça, Aika! Volte!! Eu não a consigo trazer à vida agora!! AIKAAAA!!
Uma onda de energia arrasa os corações de todos ali próximos. O grito de Mu acompanha-a.
Nerissa grita, Altair cai de joelhos sofrendo com a dor de Mu e tanto Lorene como Atena entram em choque. Já Raijin levanta-se, correndo o mais rápido que o seu corpo já fraco o deixava.
- Meu cachorrinho... Trovão! Não morras, Trovão.. Fica comigo!
No meio de tanta confusão, o idoso nota que o seu velho animal estava cuspindo sangue, e ficando cada vez mais fraco.
Lorene fica ainda mais chocada ao perceber o que Érebos quis desde o início. Burra tinha sido ela por achar que poderia haver dentro de um coração regido pela escuridão mais negra que se poderia imaginar.
Raijin chega junto a Aika e coloca-lhe a mão sobre o peito.
- Viva, Aika, viva, por favor! Sem você esta guerra está perdida! Minha irmã... Não morra!!
A filha de Dohko não mostrava sinais de vida, estava a ficar cada vez mais fria e pálida.
- Droga!! - gritou Zeus, levantando-se e olhando para Érebos. - Você...
O deus da escuridão sorriu-lhe de forma traiçoeira e mexeu os lábios deixando sair:
- Ups... Foi sem querer, Zeus. Isso e... Isto.
Num piscar de olhos, Érebos lança uma foice na direção do idoso, cortando a cabeça ao animal que tinha nos seus braços.
- Não... - disse, em lágrimas, o homem, caindo no chão. - Era a minha única companhia... Meu pobre Trovão!
Zeus revolta-se naquele momento. Tudo lhe estava passando na cabeça, as imagens do cão morto, as imagens do rosto de dor e arrependimento de Dohko, Aika caída morta no chão, todos os mortos no Santuário, os mortos no vilarejo... Tudo estava a criar nele uma raiva sem limites.
- Érebos... - disse, elevando o seu cosmo. - Você tem de morrer!!
As lágrimas do idoso ecoavam também no coração de Aika. "A minha única companhia". Isto repetia-se a cada milésimo de segundo dentro da jovem.
Zeus partiu para cima de Érebos, atacando-o com as suas técnicas mais poderosas. Nerissa e Altair tentaram ajudá-lo, mas a energia de ambos era demasiado poderosa para os deixar aproximar-se.
Aika abria agora os olhos de repente, ofegante.
Mu ainda lhe agarrava as mãos com lágrimas nos olhos. A jovem mexeu-as, revelando que estava viva.
- A-Aika?! Como?!
- É injusto. É injusto. É injusto!! - gritava, a delirar, Aika.
- O que está a dizer?
Raijin era trespassado naquele exato momento pelo braço de Érebos.
- Parece que quem vai morrer é você, Zeus. E, bem... você sabe, não é? Não vai voltar a reencarnar. Seu espírito é destruído... AQUI!
Nerissa não conseguia aguentar mais a dor da perda. Sentia que os seus olhos não tinham mais lágrimas para deixar sair.
- Não é justo. Não é! - balbuciava Aika, levantando-se agora e deixando uma onda de energia poderosa sair de si, o que impediu Érebos de destruir o irmão.
- COMO?! - questionou-se o deus da escuridão.
Milky Way avançava lentamente até Érebos.
- Você entende a gravidade da injustiça dos seus atos? Atentou contra a vida, matando milhares de pessoas, cavaleiros, deuses, animais... Érebos, você atentou contra o futuro do planeta Terra e de toda a Via Láctea.
O deus da escuridão começava agora a sentir algo estranho dentro de si.
- NÃO!! - gritou, lançando até Aika algemas de cosmo poderosíssimo e correntes impossíveis de quebrar. - Você não vai soltar-se nunca mais!!!
Aika manteve a calma como se nada tivesse acontecido, um cosmo dourado brilhante já tinha nascido à sua volta há algum tempo.
- Érebos, você matou a única companhia de um senhor idoso, a única criatura que o fazia sentir-se vivo. Você destruiu uma pobre alma animal apenas por divertimento. Isso é injusto!
- Não quero realmente saber o que é justo ou injusto, garota! Este mundo vai apodrecer, eu vou matar toda a vida existente nele e voltarei para fazer dele o meu Santuário de Escravos, que obedecerão às leis da escuridão para sempre. Estes deuses e este universo não valem nada!
Aika fechou os olhos e viu-se uma lágrima cair do seu olho esquerdo.
- Era apenas um simples animal que significava muito para uma pessoa. E você destruiu-o para sempre...
- Que importa isso, garota?! Não seja por isso, eu tratarei do destino do dono tamb...
Érebos tinha levantado o braço esperando lançar uma corrente cortante contra o idoso, mas nada saiu da sua mão.
- O quê?
- Você atentou contra a vida e contra a justiça, Érebos. Eu vou castigar você por isso!! Não foi justo. Não é justo!! KAMIII!!! A MIM!!
Érebos já havia perdido o controlo do corpo de Kami há alguns instantes. Kami já não lhe obedecia. O espírito de Érebos abandona o corpo do guerreiro gelado, que adquire de imediato a sua cor natural, começando no cabelo e asas até chegar aos olhos.
- Aika!!
- KAMI!!
O guerreiro voou alto até ela, unindo-se a ela e criando uma onda explosiva que parou de imediato o afastamento do sol e eliminou todas as sombras malignas que estavam destruindo todas as almas do planeta. A chuva anteriormente parecia queimar a pele e agora era suave como chuva de Primavera.
Uma aura de luz intensa invadiu todo o ambiente.
- Finalmente, Milky Way... - balbuciou Altair, levantando os olhos.
Nem Apolo considerava o Sol tão brilhante como aquela aura. Aika afastou toda aquela luz com um simples abanar da capa vermelha que carregava nas costas. Todos conseguiram então ver o quão majestosa era a sua armadura.
Aika carregava duas espadas douradas nas costas, bem por cima da sua capa, que simbolizavam a Ira que havia herdado de Saga. Embainhada na sua cintura descansava a espada da Justiça, que continha a Essência de Diamante, dos longos anos em que esteve congelada junto de sua mãe. Esta espada carregava uma força milenar extremamente poderosa, que apenas almas nobres detentoras do dom da justiça a poderiam manejar. Na sua mão direita podia ver-se um ceptro dourado com uma esfera de uma cor branca pura que continha os segredos da Vida, capaz de trazer à vida mortos, transmitindo conhecimento ao seu legítimo detentor. Vida, Justiça, Ira. Milky Way.
Suas asas a fizeram elevar-se no céu. As lágrimas caíam do seu rosto, as lembranças tinham voltado todas por completo. Sentia agora a dor de ter perdido tantas almas que ela tanto amava. Dohko, Saga, Shaka... os cavaleiros de ouro do Santuário.
- Kami... Kami era a armadura de Milky Way? Sempre fora... Sempre protegeu a sua guerreira até ser possuído pelo mal. A rainha das armaduras... - disse Atena, emocionada.
- Que dons terá absorvido Aika para emanar dela um cosmo tão poderoso? - questionou-se Altair.
- Apresente-se Milky Way, apresente-se ao mundo! - falou Hades e Chronos em uníssono, como se não houvesse mais tempo a perder.
Aika elevou-se, afastou os braços e fez duas pombas brancas pousarem no seu ombro.
- A todos vós, que lutais contra a guerra e injustiça no mundo, a todos vós que esperam um raio de luz pacificadora no coração... Eu aqui me apresento, Aika de Milky Way, detentora do dom da Ira e da Justiça, protetora da Vida em todas as suas formas. A eterna seguidora da deusa Atena!
Lorene e Atena sorriram timidamente, percebendo que não estavam mais sozinhas. Já Raijin também sorriu, mas sabia exatamente o que tal significava. Estava sozinho. A sua última esperança havia desaparecido.
- Jamais deixá-lo-ei sozinho, Zeus. Você me protegeu, comprometo-me a protegê-lo também, contra todo e qualquer mal, arriscando minha vida. - completou Aika, fazendo uma vénia ao rei dos deuses.
Raijin ergueu-se lentamente e olhou a irmã nos olhos. Estava fraco e preocupado com Diana. Estranho como tinha desenvolvido sentimentos tão fortes por uma simples humana. Tinha lido nos olhos de Mu que a havia deixado a salvo para regressar à batalha. E havia fortes razões para acreditar que realmente a mulher da sua vida estivesse em segurança.
Nara estava já próxima da casa do grande mestre. Permanecendo sempre oculta de Érebos, espreitou para o local onde estava a acontecer a batalha. Os seus olhos paralisaram com o que viu. Milky Way revelava-se triunfante no ar, mas... mas à sua volta um rasto de morte parecia enfraquecer toda a esperança que a guerreira pudesse trazer. Corpos perdidos, carregados de sangue, o sofrimento de Atena, vendo aquilo. Apenas a chuva limpava os pobres e silenciosos mortos. Mortos cuja alma havia sido perdida para sempre.
Nara fechou os olhos com força e reclamou consigo própria:
- Sinto-me um rato fraco face a Érebos. Como é que ele está a conseguir sair vitorioso? Como é que nem Atena nem Zeus o pararam ainda? Droga! Estas almas só poderão ser salvas com um sacrifício... droga...
Érebos era naquele momento uma esfera de cosmo negro parada no ar em frente a Aika.
Nara observou Milo. Aquele homem realmente era extraordinário. Tinha algo que a prendia a ele, um charme diferente. Havia-a rebaixado e humilhado durante meses, mas também a tinha tratado quando estava mal. Não sabia o que sentia por ele, mas a alma dele tinha algo que a impedia de se afastar. Entre lágrimas, conseguiu esboçar um sorriso por momentos.
No entanto, aquela sensação reconfortante durou pouco tempo. A esfera negra com a alma de Érebos tenta entrar violentamente no corpo de Milo, o fazendo contorcer-se por completo.
- PAREEEE!! NÃO!!! - gritava o cavaleiro de escorpião, quase como se lhe estivessem a tirar o ar. - Eu... Não... Quero!!
Nara arrepiou-se por completo. Érebos tentava possuir Milo à força, causando-lhe uma dor insuportável. O cavaleiro estaria perdido se o deus da escuridão entrasse nele.
Ela queria avançar e protegê-lo, queria muito, mas se o fizesse quase tudo estaria perdido. Chorava agora num pranto impossível.
- AHHH!!! - gritou Milo, tentando evitar o inevitável.
- Milo! - gritou Atena, fraca. - Não o faça, Érebos!!
Milo apenas colocou a sua mão por cima do peito.
- Atena, me mate assim que Érebos me possuir! Jamais descansaria em paz se tudo aquilo em que eu acredito fosse destruído pelo meu corpo! Me prometa... por favor.
As lágrimas do escorpião estavam a corroer o coração de Nara.
- E agora? O que é que eu faço? - perguntava para si a prima de Takara. - Milo vai estar perdido para sempre e eu... Eu irei viver por toda a eternidade, mesmo sabendo que... o podia ter protegido? Pelo menos... tentado.
Milo retirou a mão do peito. Fechou os olhos e deixou de resistir à escuridão. Atena havia prometido cumprir o seu último desejo ainda lúcido.
- Milo... - balbuciou Nara, não conseguindo aceitar o que estava a ver. - Você foi o primeiro depois de muito tempo que me fez voltar a sentir... amor. Amor?
Os olhos da jovem arregalaram-se e as lágrimas que tentava controlar caíram ferozmente.
- Amor? Não pode ser... Não pode ser verdade. Altair é o guerreiro divino que controla o dom do amor, os cavaleiros de ouro estão a receber as suas armaduras quando preferem morrer a perder aqueles que amam. E Altair de Black Hole sofre imenso com isso, agora percebo porquê.
Os punhos de Nara cerraram-se perante aquilo que tinha percebido no momento.
- Milo... - balbuciava agora sem controlar as lágrimas. - Foi por isso que você apareceu precisamente agora na minha vida?
Atena estava muito ferida ainda do último ataque. Quase não se conseguia manter em pé. Érebos tinha um poder destrutivo superior a muitas coisas que ela já havia visto em todas as suas reencarnações. Mas não conseguiria aguentar ver mais um dos seus cavaleiros sucumbir ao deus da escuridão. Poucos haviam sobrado, apenas para a proteger.
Aika abriu rapidamente os olhos. As recordações tinham voltado a si, agora era novamente a Aika que todos haviam conhecido, com um poder surpreendente dentro de si. Avançou ferozmente contra Milo de forma a evitar que fosse possuído.
- Se afaste dele!! - gritou a guerreira, enquanto um rasto de magia poderosa ficava atrás de si. - A sua batalha é connosco! Não é com Milo!!
Dirigiu ferozmente o seu ceptro contra o peito do cavaleiro, perante o olhar arrepiado e assustado de Nara. Aika parou a escassos centímetros de perfurar Milo e acabar de vez com a possessão de Érebos. Porém, rodou o ceptro no ar e bateu com ele no chão, não prosseguindo.
- Que estou eu a tentar fazer? Seria apenas mais uma vida perdida, Érebos iria continuar a viver. ESTE NÃO É O CAMINHO!!
Aika virou costas ao guerreiro de ouro, que começava agora a ganhar uma cor escura nos seus cabelos.
- Elevem-se guerreiros, elevem-se deuses, elevem-se todos os elementos do universo! É hora de lutar!
Os guerreiros da energia divina elevaram os seus cosmos ao limite. Os poucos cavaleiros de Atena o mesmo.
Os deuses seguiram-lhes o exemplo. Zeus respirou fundo e juntou-se à Atena do seu tempo e a Aika. Não havia tempo para ficar lamentando não ter tido direito à proteção de um divino. A batalha estava para chegar ao fim.
- Não há mais tempo. - murmurou Milo, possuído, com um sorriso nos lábios, elevando os dois braços no ar. - VINDE ESCURIDÃO! Caia sobre a Terra e todo o Universo! Elimine toda a luz que ainda possa existir!
Os deuses viram uma neblina da mais profunda escuridão aproximar-se rapidamente. Apolo caiu por terra, perdendo toda a força que ainda tinha. O sol acabava de ser ofuscado por completo.
- NÃO! - gritou Nerissa vendo o seu deus perder seu cosmo. - Apolo, por favor...
- Salve-se, Nerissa... Não se preocupe comigo! Salve-se!
- Apolo, você é essencial à vida, não o vou deixar agora! - disse, autoritária. - Não o vou deixar!
Nara elevou ligeiramente o seu cosmo, concentrando-o na mão esquerda. Um cosmo negro e assustadoramente poderoso.
Aika percebeu uma presença fortíssima, os deuses também. Érebos também o sentiu.
- C-Como é que alguém se atreve?! Quem está a emanar esse cosmo?! QUEM?! - gritou o deus da escuridão, visivelmente irritado.
Nara levou a mão ao peito e fechou os olhos.
- Aika, por favor... perceba. Aika! Você tem de agir já! - murmurou para si própria assustada e a tremer de medo. - Perceba o que significa o meu cosmo, por favor!
Milo lançou um jato de poder contra Atena da geração do futuro, Lorene. A incrível escuridão que estava a invadir tudo o que era conhecido e desconhecido, estava a destruir todo o seu poder. Como era possível? Aquela falta de luz não era normal. Lorene estava agora a sangrar.
- Excelente... derramar sangue de alguém da raça muviana sempre foi o meu principal objetivo. Vou começar mesmo por destruir a sua raça começando por você!
Atena da época atual ficou estupefacta. Como poderia a sua futura reencarnação ter sangue de um muviano?
- Chega de conversa, Érebos! - intrometeu-se Zeus. - Lorene não será destruída, muito menos por você!
Dito isto, formou um raio nas suas mãos que se preparava para lançar até ao inimigo. E foi exatamente o que fez, arrependendo-se logo de seguida.
Érebos havia trazido até à sua frente Mu de Áries, por telecinese.
- MU! SAIA!!! - gritou Zeus, em vão.
Aika tentou alcançá-lo, em vão também.
Lorene elevou o olhar até ao ariano e fechou os olhos de seguida.
- Certo, sou muviana, sou uma deusa num corpo de muviana, vou conseguir salvar você, Mu! Não o posso perder agora!
A telecinese desta Atena traz Mu para junto de si em poucos milésimos de segundo, fazendo o raio de Zeus ser defendido por Érebos.
- Droga! - murmurou Érebos, que ainda continuava a sentir o cosmo estranho emanado por Nara.
Lorene, ainda a sangrar abundantemente, abraça o corpo do ariano à sua frente. Este fica atónico e abraça a jovem de seguida.
- Obrigado, deusa Atena, por me ter protegido. Novamente.
- Nada que nunca tenha feito por mim, cavaleiro.
A deusa abraçou-o mais ainda. Um abraço que o cavaleiro percebeu trazer razões do futuro.
Aika e os restantes guerreiros e deuses tinham voltado a tentar atacar o deus da escuridão. Porém a filha de Dohko não conseguia concentrar-se. A atenção que a deusa do futuro estava a dar a Mu era algo estranho demais.
- Cavaleiro da Atena deste tempo, Mu de Áries, você foi sem dúvida o homem mais importante de toda a minha vida, não poderei deixá-lo morrer! - disse a deusa.
Aika tinha ouvido aquilo e sentiu uma lágrima tímida cair dos seus olhos.
- Raijin! Raijin!
- Aika! O que se passa?!
- Você veio do futuro e trouxe Lorene consigo, me diga, qual era a relação dela com Mu?!
- O quê? Você está a perguntar-me isso no meio de uma batalha destas?! Não é altura para isso! - exclamou irritado.
Aika percebe que o momento não era o mais oportuno e não insiste. Volta a olhar para Mu e Lorene, cabisbaixa.
- Mu... - balbucia, triste.
Sentia que Kami estava furioso consigo, por estar a sentir aquelas coisas naquele momento. Mas era forte demais para ela.
- Não sei do que fala, Lorene, você no futuro deve ser bem mais nova que eu, não compreendo o que diz. E não compreendo como pode ser muviana se não tem as marcas caraterísticas por cima dos olhos.
- Você nunca viu muvianos sem essas marcas?
- Não existem, deusa Atena. Nunca nasceram crianças assim...
Lorene sorriu-lhe e observou atrás de Mu, a alguns metros, Aika olhando para ambos. Percebeu de imediato o que lhe ia na cabeça. Não podia ser!
Érebos aproveitou a distração da guerreira de Milky Way e perfurou a sua barriga com a lança que transportava.
Nara gritou naquele momento. Não podia deixar aquilo acontecer. Não podia!
Raijin correu para a irmã. Nerissa correu para a filha.
- AIKA!
Lorene deixou que as lágrimas a consumissem naquele instante.
- NÃO, não... não... não! A culpa foi minha!
Mu olhou na direção de Aika e sentiu o seu coração apertar fortemente.
- Aika? Aika! - gritou, correndo para ela também.
Lorene caiu por terra a chorar, havia perdido as últimas forças que ainda tinha.
- Aika... Milky Way... Não. Já chega. Eu nasci humana para sentir os sentimentos e as emoções destes seres maravilhosos. Não vou deixar que a mulher que mais me ensinou morra assim, sem nem mesmo me deixar dizer-lhe o que eu sou... Aika... Você...
Lorene levantou-se, agarrou o seu báculo e caminhou até à jovem guerreira.
- Aika...
A filha de Dohko ainda estava acordada e olhou para a deusa do futuro.
- Deusa Atena, me perdoe. Talvez tudo tenha acontecido por uma razão, me perdoe.
A deusa chorava sem parar à frente da jovem, sem Aika entender o motivo daquilo.
- Me perdoe não ter dito isto no início, quando a vi pela primeira vez. Ouça-me agora, Aika, você foi imensamente importante na minha vida. Você é a única pessoa por quem eu daria a vida aqui. A única por quem eu darei!
Ajoelhou-se ao seu lado.
- Aika. Você... Érebos enganou-se, eu não sou muviana. Eu nasci meia muviana. Aika, eu jamais amaria Mu como homem, eu amo-o sim como pessoa. Sempre me protegeu, tal como você. Eu jamais poderia perder um de vocês! Por favor, tente perceber-me.
- Meia muviana?! Isso é impossível! Você não sobreviveria um dia viva! - alertou Mu. - Quem você é, afinal?!
- Eu nasci no meio de contratempos, no meio de um amor impossível mas estrondoso, cresci com mais amor ainda e jamais trocaria tudo o que passei por uma eternidade sem vós. - disse, enquanto sarava a ferida de Aika. Obrigada por me terem dado tudo aquilo que eu sou hoje. Mãe, pai... Eu jamais esquecerei tudo isto. Mesmo que... Mesmo que a minha alma esteja condenada à morte eterna devido a Érebos.
Mu e Aika ficaram chocados e olharam um para o outro. Não podia ser. Mu sabia que jamais poderiam ter filhos. Shion já o tinha alertado anteriormente.
Lorene cai por terra agora, sem forças. Havia esgotado toda a energia vital que ainda possuía para salvar a mãe.
- Deusa Atena!! - gritou Mu, apoiando a cabeça dela sobre as suas pernas.
- Por favor, não me trate por Atena agora, deixe-me ouvir uma última vez você chamar o meu nome... Faça isso uma última vez, e partirei feliz e em paz.
Lágrimas escorriam da face de Mu.
- Lorene, você ficará bem, meu amor. Adormeça em paz agora... Lorene.
A jovem deusa beijou a mão de Mu e fechou os olhos.
- NÃO MORRA, LORENE!!! - gritou Aika, arrancando a deusa dos braços de Mu e elevando o seu cosmo ao limite. - NÃO VOU DEIXAR! NÃO VOU!
Lançou uma corrente de cosmo contra ela, uma corrente deve ter alançado quilómetros de extensão e vibração.
Não havia surtido qualquer efeito. Lorene estava morta. Aparentemente Lorene havia perdido a vida definitivamente.
Nara bateu com o seu punho no chão. Com tanta força que o fez sangrar.
Aika gritou a plenos pulmões e teve vontade de desistir de tudo.
Mu, em lágrimas, aproximou-se dela e deu-lhe a mão. Aika abraçou-o. Que sensação horrível era aquela? O que pretendia Érebos afinal? E porquê tudo aquilo?
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