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História Os Guardiões - Um dia diferente


Escrita por: kastennu

Capítulo 2 - Um dia diferente


CAPÍTULO DOIS

                           Nove de Setembro de 2014.

 

Eu acordei ainda naquele chão frio do banheiro, estava todo dolorido, eu passei a noite nele. Levantei-me do chão tão cansado, as coisas no meu quarto estavam todas bagunçadas, e eu percebi que nada daquilo foi um sonho. Eu queria que fosse, mas não foi. Sentei-me a mesa mais uma vez, tomei meu café pela manhã, minha mãe sempre preocupada, ela tinha cerca de quarenta e dois anos. Aparentava ter uns trinta e cinco, cabelo escuro longo a altura da cintura. Minha mãe era uma bela mulher. Mas estava tão triste, e como não ficar? Meu pai havia morrido só há três dias.

Só acho engraçado que quando estamos vivos, ninguém sequer nos dá um bom dia, mas quando morremos, chegam ao funeral dizendo que ama. Por que entregam as flores após a pessoa morrer? O remorso é maior que a gratidão?

Levantei-me, peguei minha mochila, coloquei meus fones de ouvido no máximo, dei um beijo no rosto de minha mãe e fui correndo para escola, pela primeira vez, eu me senti animado para ir à escola, não só pelo Felipe, meus amigos estariam lá me esperando.

Eu morava num bairro pobre, digamos assim, não era uma das casas da Barra, ou qualquer área nobre de Salvador, era apenas um bairro comum, com casas comuns, e pessoas simples, talvez com uma condição financeira boa, mas nada de mais.

Continuei andando, e enquanto eu passava pelas ruas, eu via vultos passando atrás de mim, como se alguém estivesse a minha espreita. Eu sempre tive esses problemas com vultos, acontece que desde pequeno eu tenho uma conexão com o sobrenatural, espíritos, entidades...  Já tem um bom tempo que eu não vejo mais nada, mas até um tempo atrás, eu ficava desesperado. Não me recordo de tudo, mas minha mãe me conta sempre que tem vontade, eu sinto que ela não me diz tudo. Sempre falta algo, algo que para mim com certeza é importante.

Ao chegar à escola, me deparo com Alice, Lena, Michelangelo e Serguei.

Alice vem correndo com seus cabelos longos e tingidos de loiro voando.

— MEU AMOOOOOOOOOOOOOR!

Ela me deu um abraço apertado e eu retribuí. Fui falando um por um.

Quando me aproximei de Mick, ele correu e me abraçou mais forte ainda, eu podia sentir todo o seu corpo. Depois de quase dois minutos num abraço, ele me soltou, e eu falei com Serguei.

Mick era meu amigo fazia pelo menos um ano, eu gostava bastante dele, ele tinha a pele escura, meio caramelo, olhos verdes e o cabelo preto meio crespo todo embolado e raspado dos lados.

Ele sempre foi aquele amigo meigo, carinhoso. Amei-o, de verdade. Mas às vezes, eu sentia que ele era estranho comigo...

Abracei o Serguei, ele sempre estava com aquela juba cacheada esbanjando naturalidade, ele tinha a pele escura, num tom chocolate, e os olhos dele eram o mais diferente que eu já vi, a íris esquerda era castanho, e a direita azul. Eu jamais havia conhecido alguém com Heterocromia. Eu ficava tão besta com aqueles olhos...

Lena com seu cabelo curto no estilo Justin Bieber, se afasta do grupo com Alice, elas tinham algo importante para conversar, eu me perguntava como ia o relacionamento delas, a família de ambas eram tão duras...

O Felipe se aproximava de mim, ele usava uma camisa preta e uma calça jeans azul. Seu cabelo liso e castanho voava enquanto ele vinha até mim com um sorriso lindo.

Ele me abraçou. Conheceu-me fazia apenas um dia e me abraçou. Isso jamais aconteceu comigo.

Ninguém teve coragem de ser meu amigo por muito tempo, eu também não colaborava.

Mick e Serguei olhavam desconfiados. Eu ia andando com o Felipe enquanto conversávamos.

— Tudo bem? — ele perguntou.

— Tudo sim.

Eu não sabia, ele era tão gentil. Não era como a maioria dos garotos da escola, ele aparentava ser tão alegre, tão cheio de vida...

Nós dois conversamos tanto, falamos de séries, jogos, tudo.

Era um rapaz tão atencioso, como eu poderia não gostar de ter a sua amizade? Os meus únicos amigos eram aqueles quatro...

— Quer sair? — ele perguntou.

— Sair? Sair para onde? — eu respondi assustado.

— Ué, tomar um Milk-shake, sei lá... — ele disse — Eu sou novo aqui, e não conheço ninguém, sabe? Eu quero ter novos amigos...

— De onde você vem?

— São Paulo.

— Nossa. Nunca conheci ninguém de lá. Mas engraçado, você não fala estranho.

— Mas só porque eu sou de São Paulo não quer dizer que eu falei com muito sotaque, você também não tem sotaque nordestino. — ele zomba.

— Ah, eu não tenho, mas a família do meu pai quase toda tem.

Quando eu disse isso meu coração gelou, de repente me veio à memória de que meu pai estava morto. E logo eu fiquei triste novamente, abaixei minha cabeça e engoli em seco. Eu percebi o Felipe me observando. Ele notou que eu não estava muito bem.

— Ei, por que ficou assim do nada? — ele me perguntou.

— É só que... O meu pai faleceu há uns três dias. E é meio complicado de lidar.

— Meus pêsames, eu não... Sabia...

Ele me deu um abraço forte, muito forte. E eu fiquei sem entender, por que ele se preocupou comigo? Por quê? Por que ele me notou?

— Faz parte do ciclo da vida, as pessoas costumam morrer, não pense nisso como uma coisa horrível, eles descansam. Tem pessoas que dariam de tudo para poder ter esse descanso.

— Mas, é tão simples, é só se suicidar. Cortar a garganta, se afogar ou se jogar de um viaduto...  — eu respondi.

— Ah se você soubesse...

— Soubesse o quê? — eu perguntei.

— Nada, esqueça.

Não entendi absolutamente nada, ou ele era louco, ou não me conhecia mesmo. Ninguém daquela escola tinha coragem de falar comigo.

Ele correu para sala, e eu fiquei no campus, não queria mesmo assistir aula, fiquei andando na grama observando o sol, estava tão quente. Esse dia já foi mais diferente, não estava tão frio e calmo como o anterior, o vento soprava forte a folha verde das árvores.  Sentei-me no chão mesmo, peguei o meu bloco de desenhos e desenhei um rosto feminino. Mas nesse exato momento chega Enzo, Mário e João. Levantei-me rapidamente para fugir deles, pegaram o meu bloco e jogaram no chão com força, arregalei os olhos correndo para pegar as minhas coisas no chão, os desgraçados sujaram o meu desenho. Eu estava farto, não aguentava mais aqueles idiotas pegando no meu pé o tempo inteiro, me entupindo de ofensas, e de tapas. Eu só queria ter uma vida comum, sem esses trastes me importunando todo o santo dia!

Eles foram me dar um soco, mas na hora, alguém os empurrou, Enzo cambaleou para trás, Mário caiu na hora e João correu.

Era Felipe. Ele derrubou os dois, e fez um correr.

— Deixem-no em paz.  — disse.

— Você vai ver. Seu merda! — Enzo levantou-se gritando.

Ele investiu um soco em mim, mas antes que acertasse, eu desviei e investi um mais forte em seu rosto. Eu nem acreditei, eu finalmente dei um soco naquele desgraçado.

Ele levantou-se com o Mário e correram. Eu sabia que eles ainda não iriam parar, mas foi tão bom finalmente revidar.

— Você está bem? — perguntou Felipe.

— Estou sim... — respondi — Mas você não tinha ido para aula?

— É, mas eu tive que voltar para ir ao banheiro e vi isso.

— Obrigado.

— Não tem de quê, ninguém merece passar por essas coisas.

Eu não me contive e soltei um sorriso, ele sorriu de volta. E ele sentou-se ao meu lado me ajudando a guardar as minhas coisas.

— Não vai voltar para aula? — eu perguntei.

— Não, não quero... — ele respondeu — Eu gostei de conversar com você. E também, as aulas daqui são tão chatas.

— Isso é beeeeeeem verdade.

Ele voltou a falar sobre nós sairmos, eu precisava descansar a minha mente, então logico que concordei. Meu pai morreu e ponto, o que eu poderia fazer? Ficar chorando o tempo inteiro? Isso não o traria de volta.

Passamos quase a manhã toda conversando, isso mesmo, cabulamos aula.

Estava quase na hora de ir embora, eu não queria ir, não queria mesmo. Estava gostando mesmo de estar com ele ali, mas teríamos o resto do ano inteiro para nos conhecermos melhor.

Depois que me despedi dele, me encontrei com Mick e Serguei, voltamos para casa juntos.

Enquanto andávamos, conversávamos sobre a manhã.

— Nico, quem era aquele garoto? — perguntou Mick.

— Era só um conhecido, ele é novo aqui. — respondi.

— Você está ficando muito com ele, e esquecendo-se da gente. — disse Serguei.

— Ah, Serguei. Pelo amor de deus, eu o conheci ontem.

— Não importa, você é nosso. Não dividimos com qualquer pessoa.

— Ah, para né.

Nós três rimos bastante enquanto caminhávamos. Depois que me despedi dos dois numa esquina, fui para o ponto de ônibus.

Mas, o Felipe apareceu.

— O que acha de darmos uma volta hoje?

— Ah, mas eu tenho que ir para casa...

— Nicolas, você tem a tarde inteira para ficar, venha se divertir. — ele disse.

Eu aceitei. Realmente, eu tinha que concordar com ele, em casa era só chatice, eu estava tendo a chance de me divertir e distrair a mente um pouco, não podia recusar, não podia continuar sem um sentido para viver.

Nós caminhamos entramos num táxi e fomos até a Avenida Sete de Setembro, me perguntei o que iríamos fazer lá.

Ele foi andando comigo, era um lugar muito movimentado, muito comércio, muita gente, muita venda. Eu já estava ficando meio enjoado de andar em multidão, sempre detestei. Não sabia como iria aguentar ir num show da Lady Gaga.

Caminhamos até uma rua que dava início ao elevador Lacerda e o resto do famoso Pelourinho. Nela, havia a praça Castro Alves. De lá, dava para ver o mar, mais conhecido como Baía de todos os santos. Eu estava tão confortável, ver o sol e o mar, a água estava tão azul quanto o céu, eu podia ver os navios cargueiros e os gigantescos cruzeiros.

— Não é bonito? — ele pergunta.

— É sim, mas como você conhece este lugar? — perguntei.

— Que turista eu seria se não tivesse vindo visitar antes?

— Então já veio aqui em Salvador outras vezes? — perguntei.

— Umas duas ou três vezes, tinha coisas para resolver aqui, e ainda tenho, na verdade.

— Você mora com os seus pais? — perguntei mais uma vez.

— Ah, não. Só com o meu irmão.

— Ele é mais velho, né?

— É, é sim.

Ele reduzia as palavras quando se tratava de sua família, eu não entendia o porquê. Mas eu só o conhecia há no máximo dois dias, não saberia tudo sobre ele assim tão fácil, apesar de sentir que ele já sabia tudo sobre mim.

Eu o encarei por um tempo, ficava observando o vento batendo nos seus cabelos, fazendo-os voar, era engraçado, porque às vezes cobria o seu rosto oval. Então ele tira-os do rosto, e os seus olhos brilhavam com o sol. Era um castanho meio claro.

Eu nunca consegui me controlar, toda vez que eu olhava para uma pessoa, seja para conversar ou o que for. Eu tinha que observar tudo. O formato do rosto, os traços em si.

Eu estava observando seus lábios, eles eram meio carnudos, não muito. E eram bem avermelhados, diferente dos meus, que eram mais rosados.

Ele notou que eu o observava, eu percebi que ele notou, e me virei para o mar novamente. Eu o ouvi rir de forma meiga.

— Venha, quero que você venha comigo. — ele disse.

Eu então fui, subimos aquela pequena ladeira, passamos pelo elevador Lacerda, chegamos ao Pelourinho. E lá havia aquela enorme praça, algumas pessoas caminhavam por ali, algumas voltando do trabalho, outras indo almoçar...

Felipe observava o homem que era uma estátua viva. Eu ainda não tinha percebido, quando fui me aproximando, o rapaz se moveu, eu quase gritei de susto. Felipe riu de mim, pegou algumas moedas e jogou no chapéu do rapaz.

Continuamos andando e eu avisto a estátua de Zumbi dos palmares. Já tinha ouvido falar muito sobre ele, admirava sua coragem, mas não gostava nem um pouco do jeito que a história terminou. Ainda assim, ele foi um herói. Aproximei-me da estátua e fiquei observando de cima a baixo, parecia que era a alma dele ali.

— Ele foi um homem corajoso... — disse Felipe — Tinha uma bravura que eu jamais vi antes.

— Fala como se tivesse o conhecido. — eu disse.

— Claro, estudei a história.

— Parece até que você viveu a história.

— Pode ser.

Eu ri, e continuei observando os mínimos detalhes daquela estátua.

Um garoto ia se aproximando, ele tinha o cabelo curto, meio loiro, olhos verdes, e a pele tão branca que chegava a ser esquisito. Ele era musculoso e magro, e pelo o que vi, tinha uma tatuagem de uma cruz na perna.

Percebi que Felipe ficou estranho.

— Nicolas, vá para o campo grande, agora.

— Mas é muito longe, e por que você quer que eu vá para lá?

— Só vá, eu estou indo logo atrás.

Eu me virei, e fui andando. Fiquei chateado por ele ter me mandado sair assim do nada, mas é claro que eu não iria embora sem saber o que estava acontecendo, me escondi e fiquei observando eles.

— Você não vai tocar nele.

— Não, não vou, mas se você tentar usá-lo contra o Jaden, eu o faço sumir.

— Ele não pode morrer por você, nem por ninguém.

Eu ficava assustado ouvindo tudo aquilo, do que eles falavam tanto? Meu coração batia forte. Eles falaram de morte. E estava com medo.

Virei-me para ir até o Campo Grande, mas o Felipe já havia me alcançado.

— Por que você não foi quando eu falei para ir? — perguntou nervoso.

— Eu tive que falar com a minha mãe no celular, e ai parei. Só isso.

— Tá bom... — ele responde num tom desconfiado.

— Felipe, quem era aquele seu amigo?

— Ele não é meu amigo, é o Christopher. E é só um conhecido com pensamentos opostos ao meu.

Preferi não fazer mais nenhuma pergunta, achei que devia deixar isso fora de cogitação.

Enquanto andávamos, senti fome. Era para eu ter ido almoçar, mas eu estava ali, andando com o Felipe.

— Quer comer alguma coisa? — perguntou.

— Quero... — respondi.

Ele me levou até um restaurante asiático, eu não sabia dizer se era japonês. Ele trouxe Yakisoba, acho que era japonês mesmo. A comida era maravilhosa. Era como macarrão instantâneo, mas tão cheio de proteína, gostei bastante, e ele quis pagar tudo. Eu me meti e decidir pagar pelo menos uma parte. Mas ele insistiu até que pagou só. Eu não gostei nem um pouco, eu odeio que paguem as coisas para mim, não gosto de depender das outras pessoas, eu tenho meu próprio dinheiro. Enquanto eu comia o macarrão, ele olhava sorrindo, eu não conseguia usar aqueles palitinhos, fiquei frustrado.

— Calma, pegue com leveza. Mas com atenção. É assim que se segura os Hashis. — ele disse enquanto demonstrava como segurar.

Eu fiquei meio confuso, mas com algumas práticas consegui pelo menos comer. Depois de comer, fomos até o monumento da cruz caída, de lá, observamos o Mercado Modelo, as ruas do Comércio, com aqueles edifícios enormes.

Passamos tanto tempo ali, eu já nem me lembrava mais do garoto pálido, nem estava mais com medo, eu só estava aproveitando aquele tempo com o Felipe, eu o conhecia tão pouco, mas já estava gostando de conhecê-lo. Cada minuto que eu passava com o garoto, se tornava uma memória bonita, já estava na hora de me sentir bem, acho que eu realmente não devia ter tentando me suicidar naquela noite.

Meu celular tocou, quando o peguei, vi que eram 15h10min, nossa, eu nunca havia ficado até uma hora dessas fora de casa sem a minha mãe, ela devia estar muito preocupada. Atendi, e ouvi-a reclamar muito, eu sabia que ouviria mais ainda quando chegasse em casa, mas não estava nem aí. Meu dia estava sendo melhor que os outros, e só isso era o que importava. Eu podia me entender com ela depois.

Sentamo-nos nas escadas do lugar, ficávamos observando as crianças correndo por ali, alguns turistas se aproximando para observar tudo e os casais se abraçando.

Felipe olhou para mim num instante, e me perguntou:

— Gosta de Red Hot Chilli Peppers?

— Claro. Amo “Otherside” e “Suck My Kiss”

— Eu gosto mais da música “Califonication“. — ele disse — Mas e nacional?

— Eu amo a Maria Gadú!

— Olha só... Eu gosto mais de músicas um pouco mais antigas, Cazuza, Legião Urbana... — Felipe puxa um cigarro do bolso.

— Você fuma?! — dei um pulo.

— Calma, eu tenho quase dezoito anos. É a coisa mais normal perto da minha família...

— Por quê?

— Melhor deixar isso para lá, eu não quero ficar falando dos meus problemas. Eu saí com você para que pudéssemos nos divertir um pouco, não vamos voltar para a chatice.

Eu estava percebendo que o Felipe tinha algum problema com a família, mas quem não tem? Às vezes são tão duros com a gente, será que realmente nos amam?

Passamos quase a tarde toda ali, o sol já estava se pondo quando decidimos ir embora.

Enquanto andávamos pelas ruas, ia ficando mais escuro. A tarde com ele foi muito boa, já tinha tempo que eu não marcava de sair com os meus amigos, eles estavam sempre ocupados.

Foi andando pelas ruas que eu me deparei com uma realidade horrível, pessoas drogadas, mendigos...

Eu sempre fui sensitivo com isso, toda vez que passo na rua, eu tento evitar olhar para eles, porque toda vez que os olho, meu coração se despedaça. Vi uma criança sentada no chão, ela estava magra e com roupas sujas. Foi como me dar um tiro quando ela se levantou e encarecidamente me pediu:

— Moço, você pode me dar alguma coisa para comer?

Eu fiquei totalmente balançado, aquilo me deixou muito desorientado. As crianças são os seres mais dóceis, inocentes e frágeis que existem. Vê-las nesse estado me deixava com um buraco no peito, ver qualquer pessoa desse jeito me deixa assim.

Felipe puxou algumas notas de cinco reais para dar ao garoto, eu o interrompi.

— Dar dinheiro não vai adiantar, ele vai acabar sendo roubado.

— É verdade...

Pegamos o garoto e decidimos procurar algo que ele pudesse comer, fomos até o largo Terreiro de Jesus, lá costumava ter alguns bares, e havia uma baiana vendendo acarajé, comprei alguns para o garoto e um refrigerante. Ele comeu com tanto gosto, ele se deliciava com aquilo, eu podia perceber que ele realmente estava faminto, coitado. Depois de comer, ele sorriu. Mas foi um sorriso tão lindo, ver uma criança sorrir nessas condições é tão lindo, porque apesar da realidade dele ser tão triste e tão miserável, ele ainda tinha a capacidade de rir. Como isso é possível?

Depois, o garoto me agradeceu e foi embora, e eu e o Felipe continuamos indo para casa, fomos andando por algumas daquelas ruas ali perto, quando o garoto pálido aparece de novo, a rua que estávamos era deserta e escura. Eu estava com medo daquele rapaz.

— O que você quer? — indaga Felipe.

— Eu preciso dele. — responde o garoto.

— Christopher, você não vai ter o Nicolas, saia daqui agora!

— Por que falam de mim enquanto eu estou bem aqui? E de onde você me conhece?

Christopher, o rapaz pálido, tentou dar um soco em Felipe, ele desviou e investiu um com força na boca do estômago do rapaz. Eu pensei que ele cairia no chão de dor, mas por incrível que pareça o rapaz continuava em pé, fazendo algumas caretas pelo impacto, mas ainda de pé, isso estava estranho demais.

O garoto pálido quebrou o pescoço do Felipe, eu gritei. Gritei de desespero, eu não acreditei naquilo, foi tão rápido, ele simplesmente chegou ao garoto e quebrou o seu pescoço com a maior facilidade. Eu chorei, eu berrei, mas ninguém aparecia. O Christopher me olhava neutro, e eu estava com medo dele, medo do que ele poderia fazer comigo, e ao mesmo tempo triste pela morte do Felipe, eu acabei de conhecer e ele morreu. A morte sempre me acompanhou.

Ele pegou o meu braço com força, e me arrastou com ele, eu tentava me soltar, mas ele era forte demais, não era humano. Foi quando me aparece o Felipe. Eu não entendi mais nada, ele havia sido morto pelo Christopher um momento antes, não podia estar vivo. Ou eu estava muito drogado, ou algo sobrenatural estava acontecendo. E eu era o centro daquilo.

Felipe chegou já chutando o Christopher, eu caí junto com ele, o impacto foi forte demais. Felipe logo em seguida, pegou algumas coisas do bolso, eram alhos, ele jogou em cima do garoto, que gritou de dor, eu vi a pele pálida dele ficando vermelha e queimando. Felipe me pegou pelo braço.

 — O que está acontecendo? — eu tentei perguntar.

Ele não disse nada, ele simplesmente falou algumas coisas estranhas, parecia latim. E de repente, aparecemos na porta da minha casa.

Eu olhei tudo assustado, sentei-me na escada da minha porta, e tentei compreender tudo o que estava acontecendo comigo, meu coração estava pulsando muito forte, parecia que ele iria sair do meu peito. Minhas mãos e pernas tremiam como nunca.

Ele chegou até mim, me olhou nos olhos e disse:

Você irá esquecer tudo o que aconteceu hoje com aquele garoto, lembre-se somente que nos divertimos.

Não sei porque ele disse isso, acho que era alguma brincando comigo, me virei e fui para casa, ainda assim sem entender o porque ele me falou aquilo e como eu parei na porta da minha casa em segundos. Virei-me para tentar perguntar mais uma vez, mas ele já havia sumido.



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