História Os Irmãos Eaton - Capítulo 33

Nita

O pessoal comemorava por termos passado da fronteira sem que a polícia nos apanhasse. Eu estava quieta, apenas continuo prestando atenção na direção.

Via as árvores passando como se fossem grandes e longos borrões. Me lembro de quando era criança e viajava com meus pais. Ah... era tão bom. Meu pai colocava um CD qualquer e abria todas as janelas do carro.

O vento batia contra meu rosto, a música soava em meus ouvidos e o grande sorriso não abandonava meu rosto. Era incrível.

Eu amava quando parávamos para comer em algum restaurante á beira da estrada, aqueles restaurantes de comida caipira, comida caseira. Frangos empanados, arroz, feijão, saladas variadas. Me dá água na boca somente de lembrar.

Eram bons tempos, ótimos, para falar a verdade. Mas aquele canalha os tirou de mim. Ele os matou e agora quem vai se vingar sou eu.

Ouço mais um gemido de Tobias e meus pensamentos nostálgicos deixam minha mente. Aperto o volante com força. Tenho que fazer algo quanto a ele.

Olho para seu rosto pelo retrovisor  meu coração se parte. Seu rosto está inchado, machucado e em algumas partes tem hematomas roxos e um pouco esverdeados.

Suspiro e afrouxo meu aperto no volante. Vejo uma placa indicando a nossa próxima parada e respiro fundo.

Depois de poucos minutos paro o carro em um posto que ao lado tinha um restaurante de comida caseira.

Abaixo um pouco para ver o nome do restaurante e respiro fundo tentando controlar minhas lágrimas.

- Todos para fora.- digo em voz alta, sem olhar para trás.

- Nita...- tenta intervir Jorge.

- Eu disse para fora!- grito- Eu cuido dele.- digo fingindo indiferença.

Eles saem do carro e eu suspiro me sentindo mais aliviada.

Encosto minha cabeça no volante e deixo as lágrimas escorrerem. O que eu estou fazendo com minha vida?

Meus pais jamais se orgulhariam de mim. Mas eu preciso vingá-los.

Olho para trás e vejo Tobias olhando para mim. Seu estado está de assustar. Um de seus olhos está quase fechado de tão inchado e roxo e o outro não está muito diferente, mas está menos pior.

Uma pontada atinge meu peito e eu abaixo a cabeça, meneando-a devagar. Que merda estou fazendo?

- Ni...Nita.- chama-me Tobias.

- Sim?- digo fraco ainda sem encará-lo.

- Me prometa uma coisa?- ele pede com a voz baixa e eu levanto minha cabeça, encarando-o e o incentivando a falar- Me machuque, me maltrate, me mate... mas por favor... não machuque a Beatrice. Por favor.- ele pede e a lágrima que escorre de seus olhos inchados é a mesma faca que acaba de rasgar o meu coração com brutilidade.

Ele realmente parece gostar dela... e eu estou ajudando a acabar com tudo isso.

Me levanto do banco, pulando para o banco de trás, me sentando ao lado de Tobias.

- Gosta mesmo dela?- pergunto com a cabeça encostada no banco.

- Você não sabe o quanto.- ele responde com dificuldade.

Respiro fundo.

- Eu te amo, Tobias.- digo com um fio de voz, depois de muito tempo em silêncio e tomando coragem para  dizer isso.

- Eu te amei um dia, Nita. Eu juro que te amei, mas foi antes de você me mostrar o quão mesquinha era.- ele diz com desdém.

- Eu sinto muito. Eu... Eu não sou mesquinha, apenas queria ser alguém que eu não era, me passar por alguém que eu não era e nunca poderia ser. Mas a verdadeira Nita, ela sim te amava muito, e ainda te ama.- digo e viro minha cabeça para olhar para ele.

- E com qual Nita estou conversando agora?- ele me pergunta.

- Com a verdadeira Nita.- digo sorrindo e ele sorri também, com dificuldade, mas sorri.

- Por que está fazendo tudo isso, Nita? Se me ama, por que está fazendo isso comigo?

Respiro fundo e abaixo a cabeça.

- Nem eu sei, Tobias. Eu tinha meus motivos, não contra você, mas sim contra a pessoa que me mandou fazer isso. Mas no meio desse trajeto todo eu acabei me perdendo... Eu estava pensando " Por que estou fazendo isso com o cara que eu amo?"... não cheguei a conclusão nenhuma por isso estou conversando com você.

- Ué?!

- Na verdade, eu cheguei sim a uma conclusão.

- E qual é ela?- ele pergunta com a voz baixa.

- Quando eu era criança e... Eu comecei a gostar de você, antes dos meus pais morrerem- digo e ele assente. Ele sabe de toda a história, já namoravamos na época- Eu disse a minha mãe que estava apaixonada por você...

Flashback on

- Sim, meu amor. Eu entendo que esteja gostando dele. És muito nova, mas escuta o que a mamãe tem a dizer. - ela diz e me puxa para o seu colo.

Eu não era tão nova assim, tinha no mínimo uns 13 anos, mas sempre fui muito miúda, até os meus 16.

- Quando nós amamos, queremos a pessoa por quem guardamos o sentimento, bem. Então se você o ama tem que desejar que ele sempre esteja bem, mesmo que ele esteja longe de você.- ela diz com cuidado.

- Como assim?

- Por exemplo... ele se apaixona por outra garota...- ela diz e eu cruzo meus braços fazendo bico e minha mãe ri- E você continua o amando, exatamente por isso, você tem que querer o bem dele, e desejar de coração que ele seja feliz com a outra pessoa. Não só com o Tobias, mas com qualquer outra pessoa que você amar. Promete isso para mamãe?

Franzo o cenho e meneio a cabeça.

- Nita!- ela chama minha atenção e eu suspiro.

- Tudo bem, mamãe.

Flashback off

As palavras da minha mãe nunca fizeram tanto sentido como agora.

- E é por isso que eu vou te ajudar. Não desconfie de mim, estou fazendo isso de coração e juro que não é armadilha nenhuma. É o mínimo que posso fazer por você e... pela minha mãe.- digo e abaixo a minha cabeça.

Tobias se mexe com dificuldade e passa um de seus braços por meus ombros.

- Você é uma boa pessoa, Nita. Lá no fundo, bem no fundo mesmo, quase chegando no cocô. Você é uma boa pessoa.- ele diz.

- Ei! - dou um soco de leve no seu ombro e ele faz uma careta- Foi mal. E... ah! Sinto muito pelo seu filho.- digo.

Ele suspira e abaixa a cabeça.

- Tudo bem. O que mais me dói é que eu não estive ao lado de Beatrice nesse momento.

- Mas vai estar a partir de... algum tempo que vai chegar. Somente... tenha paciência, ok?! Eu vou ajudar vocês, mas você tem que colaborar.

- Ok. Nita, por que lá no Brasil você estava parecendo uma puta e aqui você está normal?- ele me pergunta.

Olho para ele analisando seu rosto e mordo minha língua de vagar, mesmo machucado ele continua lindo. Beatrice tem sorte.

- Drogas e bebidas?- respondo voltando a realidade.

- Ah! Claro! Você estava com um baseado na mão um dia.

- Pois...- respondo- Essa é mais uma coisa que me arrependo, mas enfim. Agora bola para frente, temos que bolar um jeito de ajudar vocês e acabar com ele.

- Ele quem?

-...

Enquanto isso, no Brasil...

Caleb

Eu não sei mais o que eu faço. Já estou perdendo a paciência com esse cara.

Me levanto com tudo da cadeira e o barulho ensurdecedor dela caindo no chão ecoa pelo apartamento.

Sigo a passos largos até Marcus e o seguro pelo colarinho.

- Eu quero a Beatrice de volta. Já faz dois meses, Marcus. Dois meses!!- grito- Quero ela de volta o mais rápido possível.- pego a faca que estava em cima da mesa e o pessoal começa a gritar.

- Caleb, calma.- ele pede.

- Calma? CALMA? Você vai ver a calma, Marcus. - tento cortar pelo menos alguma parte não letal do seu corpo, mas antes que eu execute o gesto, os meninos seguram meu braço. - Eu te dou um prazo, Marcus. Você tem um mês para trazer a minha irmã de volta, caso contrário eu acabo com você. E se você se importar, falo isso por Tobias também!