Beatrice
Quando chego á sala meu pai olha para mim com os olhos marejados e eu paro de andar. Olho nos seus olhos tentando passar o que sinto.
Ele solta um soluço, me surpreendendo, e abaixa a cabeça. Continuo olhando-o, ainda sem terminar de descer as escadas, quero que ele me olhe saindo. Quero que ele me veja caminhando em direção a minha infelicidade e saiba que o culpado disso é ele.
Ele levanta a cabeça e continua a me encarar com os olhos avermelhados. Passo direto por ele e saio da sala, em direção a garagem. Olho para trás, fingindo chamar Caleb e vejo meu pai ajoelhado no chão com as mãos no rosto e Zeke ao seu lado.
Meu coração se aperta e se quebra ainda mais, se é que seja possível, sinto meus olhos arderem e minha vontade é de ir até ele e abraçá-lo, mas minhas pernas não obedecem meu coração.
Respiro fundo antes de voltar a caminhar. Encontro minha mãe ao lado do carro e ela me olha com carinho. Minha mãe esteve bem ausente desde que voltei para o Brasil, quando estive mal por causa do meu pai ela nem veio falar comigo. Semicerro meus olhos e paro bruscamente. Uma coisa absurda, mas não totalmente impossível passa pela minha cabeça. E se for ela? E se foi ela que se fez de santa por todo esse tempo e tenha algo a ver com tudo isso. Afinal, quando o Tobias foi sequestrado ela não estava por perto, quando ele voltou também não, e segundo o tempo em que Tobias esteve sequestrado, minha mãe passa a maior parte do dia fora.
- Vamos?- sinto a mão de Caleb nas minhas costas e eu hesito antes de recomeçar a andar.
- Meu amor.- ela diz acariciando meu rosto e eu sorrio forçada- Tome cuidado, estarei com vocês lá.
- Virá também? - pergunto e ela sorri.
- Sim, querida. Vou sim.
Assinto e entro no carro. Caleb entra ao meu lado e depois de todos estarem prontos os carros são postos em movimento.
Anônimo
- Porra! Cadê o Tobias???- grito para um dos caras.
- Chefe, não o encontramos na cela.- um deles diz calmamente com os braços para trás, como se me respondesse com deboche.
Tiro minha arma do coldre e atiro nele em seguida, assustando os outros caras.
- É para aprenderem que eu sou a autoridade aqui e se eu me sentir desrrespeitado, é isso que irá acontecer com vocês!- digo irritado.
Caminho de um lado para o outro com meu lábio inferior preso entre o polegar e o indicador, tentando pensar no que fazer. Sem Tobias, sem Beatrice.
Droga!
Ou... Beatrice primeiro, Tobias "depois".
Não! Seria muito arriscado colocá-la no meio de um tiroteio.
Suspiro.
- Quero o Tobias aqui em pouco tempo. Logo eles chegarão e eu o quero aqui!- disse com a voz baixa.
- Mas chefe, como o pegaremos em tão pouco tempo se nem sabemos...- e mais um se foi.
Eles se assustaram novamente com o barulho do tiro.
- Eu estou pouco me fudendo em como irão trazê-lo. Eu o quero aqui! Se quando Beatrice chegar ele não estiver... vocês terão o mesmo fim que esses dois. Vão! - grito e eles correm para fora do galpão.
Ótimo! Era só o que me faltava.
Um dia antes ...
Tobias
- A gente vai ter que dar um jeito de você parecer machucado...- diz a Nita analisando meu rosto.
- Me bata.- digo. É a solução mais óbvia.
- Não vou te bater de verdade, ficou louco?
- Ou é isso, ou é maquiagem.- digo e ela me olha de canto de olho, já que estava de lado e logo olha para frente novamente negando.
- Não.
- Me bate então. - digo novamente.
- Não vou bater.- ela diz e percebo que ela começa a ficar irritada.
- Marica.- digo para provocar.
- O que disse?- ela disse se virando em minha direção lentamente, como um sádico olha para sua vítima.
- Marica. Ma-ri-ca.- digo e rio em seguida.
- Não repita isso.- ela diz e respira fundo.
- Maricote.- digo. Sim, parece bastante infantil, mas precisamos fazer isso parecer real, e se eu não cons...
Sinto uma dor no meu rosto e me desequilibro da cadeira. Ela me deu o primeiro soco.
Sorrio virando meu rosto em sua direção.
- Achei que não tivesse coragem para me bater.- digo e ela avança sobre mim novamente e eu desvio- Achei que fosse fraquinha.- rio e ela pula em cima de mim e logo sinto outro soco, dessa vez pega em cheio na maçã do meu rosto e eu solto um grunhido de dor, mas sorrio logo.
- Meu Deus, Tobias! Foi mau.- ela diz com as duas mãos sobre a boca. Sorrio ao me lembrar que a Tris fazia o mesmo.
- Tudo bem, sabia que te provocar com o seu velho apelido ajudaria.- digo rindo e olhando meu rosto no visor do celular, onde estava vermelho onde levei soco.
- Você me paga por isso.- ela diz e eu sorrio de lado.
- Os socos já não foram pagamentos?
- Não. E não sorri assim, caramba.- ela diz e se joga na cadeira, me fazendo rir de suas frustração.
- Espero que amanhã esteja bom.- digo.
- Vai estar. Pelo menos inchado vai estar.- ela diz analizando- Consegue morder o lábio com força?- ela pergunta e eu assinto colocando-o entre os dentes e mordendo.
- Au.- digo ao sentir uma pontada.
- Não é o suficiente. Não vai conseguir morder.
- Corta.- digo como uma idéia.
- Agora você enlouqueceu mesmo!- ela diz rindo e eu puxo seus ombros.
- Sério! Corta!
Me deito no chão, pegando o canivete no meu bolso e entregando a ela.
- Vai!- coloco minhas mãos sobre os olhos e tenciono meus lábios, esticando-os.
- Tobias...
- Anda logo!!- praticamente grito e ela passa a navalha- Porra.
Sinto o sangue escorrendo para dentro da minha boca e o cuspo.
- Só me dá um papel para estancar.- digo e ela me dá. Coloco sobre o corte que logo para de sangrar.
- Até acho que está bom para algo forjado.- ela ri e eu sorrio, mas logo fecho meu sorriso pela dor que sinto com o corte.
No dia ...
Anônimo
- Senhor, o encontramos!- eles dizem e jogam Tobias na minha frente.
Me viro sem preocupações por estar de capuz e ele não saber quem sou.
- Conseguiram, ham?! Muito bom. Deixem-no aí! Terei uma conversinha com ele.
Eles saem e eu me agacho em sua frente.
- Espero que tenha aproveitado Beatrice enquanto teve tempo, agora ela será minha ninfeta.
- Lava essa tua boca suja antes de falar da minha mulher!- ele rosna e eu sorrio.
- Ah, sua mulher? Tsc tsc tsc.- estalo minha língua reproduzindo som de negação- Ela será minha mulher!
- Nem por cima de mim!!- ele diz e eu sorrio.
- É o que veremos!
Beatrice
- Chegamos.- diz o motorista da minha avó.
-Ótimo! Obrigada.- ela agradece.
Olho para o lado de fora e vejo um grande e sombrio galpão. Um arrepio corre por meu corpo ao pensar em entrar lá.
- Vou ligar para pessoa.
Vó Edith disca o número e logo o telefonema é atendido pela mesma voz manipulada.
- Edith, querida!- diz.
- Estamos aqui! Beatrice está aqui, mas quero a garantia de que meu neto também esteja.- vó Edith diz firme.
- Tudo bem.- ouço uma voz ao fundo e a voz manipulada.
- Oi, Vó- meu coração vibra.
Depois de tempos, o que me pareciam anos, e décadas, e séculos, foram apenas algumas semanas longe dele, ouvi finalmente sua voz novamente.
- Meu filh...
- Tobias!- grito assustando vó Edith.
- Meu amor.- ele diz com o tom carinhoso e ouço um estalo.
- Cala a boca!- diz a voz manipulada.
- Amor, você está bem?- pergunto para saber, não apenas do tapa recente, mas te tudo o que lhe aconteceu.
- Estou, Pequena. Estou. Preste atenção no que eu vou te dizer, ele...
- Ela não vai prestar atenção em nada! Quero Beatrice aqui dentro, sozinha, caso contrário... sem Tobias.
- Tudo bem.- diz a Vó Edith.
- Dou 15 minutos para que se despeçam dela e depois adeus! - ele diz e desliga.
Suspiro amedrontada.
- Vó!- digo com meus olhos arregalados.
- Se acalme. Vai dar tudo certo.- ela diz e eu assinto com o corpo trêmulo- Venha cá.
Saímos do carro, seguidos por todos os outros que estavam nos outros carros e vó Edith sorri tirando algo do bolso.
- Coloque, isso vai nos ajudar- ela diz me entrega um colar com um pingente de coração.
- Tudo bem.- coloco o colar sem entender e puxo a manga as minhas blusas, agarrando as mesmas entre as mãos, para tentar diminuir meu nervosismo.
Depois de me despedir de todos e depois de um belo discurso com vó Edith, Caleb e minha mãe, respiro fundo, orando rapidamente enquanto caminho até as grandes portas.
- Amém. - sussurro após minha breve oração e empurro a porta. Entro e não consigo enxergar muito bem, já que o balcão está escuro.
Sinto como se ouvisse o barulho dos meu batimentos.
Vou caminhando devagar olhando para todos os lados a procura de alguém.
- Olá? - pergunto com medo da resposta que terei.
- Hum!! Huuuumm!!- ouço um gemjdo rouco e olho para trás.
Vou andando em direção ao som e encontro Tobias com o rosto machucado, sua boca amordaçada e seus braços amarrados. Ele estava jogado no chão com a cabeça encostada na parede, o olho direito inchado e os lábios cortados.
- Meu amor, o que houve com você?- pergunto me ajuelhando ao seu lado.
Levo minha mão até a mordaça, mas quando meus dedos encostam ouço barulho de saltos.
Me levanto rapidamente e forço meus olhos a se acostumarem com a luz.
- Quem está aí? - pergunto alto e continuo ouvindo o barulho dos saltos batendo contra o velho chão do balcão.
O barulho fica mais alto, indicando a aproximação da pessoa, mas ainda não consigo vê-la.
- Olá?
- Senti tanta a sua falta, querida.- reconheço essa voz!- Me senti tão sozinha sem você.
- Quem é você? - perguntei somente para confirmar minhas suspeitas.
- Você sabe quem sou, querida. - ela diz próxima a mim e então consigo ver seu rosto.
Mesmo desconfiado não gostaria de saber que é ela. Arfo em surpresa e cambaleio para trás.
- Que saudades, meu amor.- ela diz e sinto meus olhos marejarem.
- Jeanine!
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