História Os Laços Que Nos Unem - O Novo Começo

Arco V
"When is a door not a door?"

"Você parece pronto para enfrentar um exército."

Stiles foi removido dos seus pensamentos. Estivera distraído atravessando o gramado da Academia de Beacon Hills, completamente ignorando o mundo à sua volta, e não notou quando Scott começou a acompanhá-lo com um sorriso implicante no rosto. Scott conseguindo surpreender Stiles era um feito e tanto por causa do laço psíquico que unia os dois. 

Stiles lhe mostrou o que esperou que fosse um sorriso convincente e tentou esconder sua ansiedade. "Eu meio que vou enfrentar um exército," ele lembrou o amigo. Era o início da noite, mas o horário de verão ainda permitia algumas horas de sol. 

Scott riu. "Suponho que sim. Não achei que você fosse ficar tão nervoso." 

Stiles entendia aonde ele queria chegar. Tinha enfrentado Vampiros de verdade e matado um grande número deles sozinho. Talvez não devesse estar com medo do teste que o esperava, mas todos estavam contando com ele e aquele tipo de expectativa fazia muita pressão. E se ele falhasse? E se não fosse tão bom quanto achava que era? 

Ah, por favor... Stiles quase pode sentir o Impostor revirando os olhos. Pare de fingir que não é um arrogante cheio de si. Estou dentro da tua mente. Eu sei. 

Bem, arrogância pode acabar me dando muitos problemas, Stiles discutiu, e se eu falhar vai ser na frente de todo mundo que eu conheço. 

Hmmmm, fez Bob. E eles dependem tanto de ti, não é mesmo? 

Stiles decidiu ignorar o sarcasmo de Bob e voltou a focar-se em Scott. "Estou preocupado em como essa nota vai afetar o meu futuro," admitiu. Aquele teste era o exame final para um noviço como ele. Garantiria que ele pudesse se formar na Academia de Beacon Hills como um guardião licenciado. O teste também decidia que tipo de meio-sangue ele poderia cuidar. 

Pelo laço, ele sentiu a compaixão e preocupação de Scott. "Chris Argent acha que há uma boa chance de acabarmos juntos. De que você ainda seja o meu guardião."

Stiles fez uma careta. "Acho que Chris só disse isso para me convencer a voltar para a Academia. Ele sabe que a única maneira de eu ser o teu guardião é se eu for o último guardião na Terra. E mesmo assim as minhas chances seriam mínimas." 

Lá na frente, o ruído da multidão cresceu. Um dos campos esportivos da escola havia sido transformado numa arena do tipo onde gladiadores lutavam na Roma antiga. As arquibancadas foram elevadas e bandeiras circundavam o campo. Havia barracas montadas perto do estádio onde os noviços esperavam, os nervos à flor-da-pele. O campo em si teria sido montado com obstáculos perigosos. E pelos gritos de comemoração, todo mundo já estava lá para assistir o evento. 

"Não vou desistir de nós," Scott disse. 

Stiles lhe deu um sorriso fraco, tocado pelo sentimento. "Difícil acreditar que depois disso seremos mandados lá pra fora, pro mundo real," ele pensou em voz alta, sem considerar suas palavras. Ao seu lado, Scott ficou tenso e Stiles imediatamente se arrependeu do que dissera. Ir lá fora significava que Scott teria que acompanhá-lo na promessa infeliz que fizera. Stiles tentou encher o silêncio desconfortável entre eles, explicando que estivera se referindo à uma celebração mais adulta do aniversário de Scott, na próxima semana. Mas suas palavras foram interrompidas por Harris, um dos instrutores. 

"Stilinski!" ele rugiu vindo da direção do estádio. "Legal da tua parte aparecer. Vá lá pra dentro agora mesmo!"

Scott lhe deu um soquinho no ombro. "Boa sorte," desejou. "Não que você precise." 

Stiles sorriu em agradecimento e então Scott desapareceu pelas arquibancadas tentando encontrar seus amigos. Stiles seguiu Harris para uma das barracas.

"Você tem sorte de ser um dos últimos," ele rosnou. "As pessoas já estavam fazendo apostas se você ia aparecer ou não."

"Sério?" Stiles perguntou alegremente. "Como é que está indo? Porque eu ainda posso mudar de ideia e fazer minha própria aposta. Estou precisando de um dinheirinho..."

Os olhos apertados de Harris fizeram Stiles se calar. Na barraca onde estavam dava para ver as arquibancadas do outro lado e um pequeno pedaço do campo, onde um dos colegas de Stiles esperava ansiosamente por ser chamado. Todos os tipos de obstáculos haviam sido montados, desafios para testar equilíbrio e coordenação, enquanto ainda lutavam contra guardiões adultos que se passavam por Vampiros famintos que pulavam de por detrás de objetos. 

Alguns dos outros noviços estavam amontoados naquela abertura tentando assistir os outros e decidir como eles fariam melhor. Stiles se recostou de contra a parede, cruzou os braços e fechou os olhos. O melhor remédio para sua ansiedade era não ver e não pensar sobre o que teria que fazer. 

"Você está meditando?" 

Ele abriu os olhos, chocado ao ouvir aquela voz. "Pai? O que você está fazendo aqui?"

O Guardião Stilinski estava parado na frente dele, um sorrisinho estampado no rosto. "Você achou mesmo que eu perderia isso?" 

"Sei lá," Stiles disse, sentindo-se culpado por ter duvidado do pai. "Achei que tivesse... sabe, coisas mais importantes pra fazer." 

"Stiles, eu não perderia isso por nada." Ele inclinou a cabeça na direção as arquibancadas. "E a tua mãe também não." 

"Quê?"

Stiles correu para abertura e empurrou alguns outros noviços para fora do caminho para poder enxergar melhor. Ali estava ela: Dia Genim. Ela era fácil de achar numa multidão, destacando-se com seus cabelos amarelos e o lenço vermelho que usava ao redor do pescoço. Stiles podia até ver um pouco do dourado dos seus olhos. Enquanto a encarava sem conseguir acreditar, seu pai se pôs ao seu lado. "Ela vai ficar feliz que tenha chegado há tempo," disse. "Está liderando algum tipo de aposta sobre se você apareceria ou não. Apostou que sim, se faz você se sentir melhor." 

Stiles gemeu. "É claro. É claro que é ela por trás da aposta. Eu devia ter adivinho assim que-" Seu queixo caiu. "Ela está falando com a Lydia? Ela é uma má influência!" 

Seu pai fez um baralho com o nariz. "Duvido que Lydia a influencia tanto assim." 

"Não a Lydia! A Dia. Lydia está tentando permanecer em bom comportamento. Dia vai confundir a menina, marque as minhas palavras. Do que você acha que elas estão falando?" 

"De ti."

"Sério?"

O Guardião Stilinski riu. "Não, Stiles. E essa deve ser a última de suas preocupações no momento. Preocupe-se com o teste." 

"É, você tem razão. Mas... Você acha mesmo que estão falando sobre mim?"

"Stiles! Foco. Isso é sério. Fique calmo e não se deixe distrair." 

"Stilinski!"

Fora Chris quem o chamou, sua voz alta e clara. Era como um trompete, a chamada para a batalha, e tudo mais desapareceu da mente de Stiles. Ele marchou até Chris e o campo. Adrenalina brotou em suas veias. Toda sua atenção estava agora no que viria: o teste que finalmente o tornaria um guardião. 

A arena não era lisa, o que complicava muito as coisas. Eles havia enchido de armadilhas e obstáculos, vigas e degraus que testavam seu equilíbrio, incluindo uma ponte que dolorosamente lembrou Stiles daquela noite em que ele e Malia escaparam de Matt Daehler. No entanto, a ponte da arena era diferente. Esta era raquítica, um caminho mal construído de tábuas de madeira com apenas trilhos de corda para apoio. Cada passo fazia a ponte toda balançar e tremer, e os buracos nas tábuas mostravam onde seus colegas haviam descoberto pontos fracos. O teste que lhe atribuíram na ponte foi provavelmente o pior de todos. O objetivo era manter um meio-sangue longe de um grupo de Vampiros que estavam os perseguindo.

O cara fingindo ser um meio-sangue deu a Stiles um pouco de resistência sobre pisar na ponte, e Stiles usou sua voz mais calma e persuasiva para finalmente o fazer andar para a frente. Aparentemente eles estavam testando suas habilidades em lidar com pessoas, bem como suas habilidades de combate. Não muito atrás deles, Stiles sabia que os guardiões agindo como Vampiros estavam se aproximando.

O sujeito foi, e Stiles o sombreou, ainda dando-lhe garantias enquanto todos os seus sentidos ficavam em alerta. A ponte balançou-se violentamente, dizendo-lhe com uma sacudida que seus perseguidores se juntavam a eles. Stiles olhou para trás e viu três guardiões-Vampiros. Eles estavam se movendo rápido. Eles chegariam neles se não se apressassem.

"Você está indo muito bem", disse Stiles ao meio-sangue falso. Era difícil manter o tom certo em sua voz. "E eu sei que você pode se mover mais rápido. Nós precisamos ficar à frente deles, eles estão se aproximando. Eu sei que você pode fazer isso. Vamos."

Stiles devia ter passado a parte persuasiva do teste porque o cara realmente aumentou a velocidade. A ponte balançou loucamente de novo. O meia-sangue gritou convincentemente e congelou, segurando os lados da corda com força. À frente dele, Stiles viu outro falso-Vampiro esperando no lado oposto da ponte.

"Continue," Stiles insistiu, sua mente agitada. "Você consegue."

"Mas tem um Vampiro lá! Estamos encurralados," o meio-sangue exclamou. 

"Não se preocupe. Está tudo sob controle. Apenas continue." Sua voz estava firme dessa vez e o meio-sangue fez o que ele mandava, guiado pelo comando. Os próximos momentos exigiam cronometragem perfeita da parte de Stiles. Ele tinha que cuidar os Vampiros em ambos os lados e manter o meio-sangue em movimento, todo o tempo monitoramento onde estavam na ponte. Quando eles estavam quase três quartos do caminho, ele sibilou: "Abaixe-se agora mesmo! Rápido!"

O meio-sangue obedeceu, parando. Stiles imediatamente se ajoelhou, ainda falando em voz baixa: "Eu vou gritar com você. Me ignore." Em uma voz mais alta, para o benefício daqueles que vinham atrás deles, ele exclamou: "O que você está fazendo? Não podemos parar!"

O meio-sangue não se moveu e Stiles baixou o tom de voz novamente. "Ótimo. Vê onde as cordas ligam a base aos trilhos? Agarre-as. Agarre-as tão fortemente quanto você pode, e não solte, não importa o que acontece. Enrole-as em torno de tuas mãos. Faça isso agora!"

Ele obedeceu. O tempo estava passando, e Stiles não perdeu mais um momento. Em um movimento, enquanto ainda agachado, ele se virou e cortou as cordas com uma faca que lhe tinha sido dada junto com sua estaca. Ele cortou as cordas tão rapidamente que os Vampiros de ambos os lados não tiveram tempo para reagir. As cordas estalaram exatamente quando Stiles voltou a lembrar o meio-sangue para segurar-se. As duas metades da ponte caíram para os lados dos andaimes de madeira, carregadas pelo peso das pessoas nelas. O meio-sangue e Stiles tinham se preparado. Os três perseguidores atrás deles não tinham. Dois caíram. Um mal conseguiu segurar-se na prancha, deslizando um pouco antes de conseguir se manter.

Uma vez que a corda e a madeira estavam encostadas contra os lados do andaime, Stiles começou a subir como uma escada. Não era fácil escalar por cima de um meio-sangue, mas ele conseguiu. Tinha um Vampiro tentando subir até a superfície sólida acima. Ele estava muito mais perto do que Stiles, mas Stiles  conseguiu agarrar sua perna e detê-lo. Ele o puxou para si. O Vampiro manteve seu controle sobre a ponte, e eles lutaram, mas a posição desajeitada do Vampiro deu a Stiles uma oportunidade de atingi-lo no coração, e ele o fez.

Isso deixou a Stiles a tarefa dolorosa de persuadir o meio-sangue a subir. Demorou muito tempo, mas, novamente, seu comportamento não estava fora de como um meio-sangue assustado de verdade poderia se comportar.

Depois desse desafio veio muitos mais, mas Stiles lutou, nunca retardando seus ataques ou deixando a exaustão o afetar. Ele passou para o modo de batalha, seus sentidos focados em instintos básicos: lutar, esquivar, matar. E enquanto permanecia atento a esses, ele ainda tinha que ser inovador e não cair em uma rotina. Ele conseguiu aquilo tudo, batalhando sem qualquer outro tipo de preocupação além de ter sucesso nas suas tarefas.

Quando tudo finalmente terminou, Stiles quase que não percebeu. Ele estava parado no meio do estádio e não havia mais ninguém, nenhum Vampiro para atacá-lo. Ele estava sozinho. Lentamente, ele tornou-se mais ciente dos detalhes do mundo. A multidão gritava. Alguns instrutores assentiam em sua direção enquanto se juntavam a ele. O seu coração dava pulos intercortados que resultavam em arrepios no seu corpo todo. 

Foi só quando Chris o cutucou no braço que ele se deu conta de que tinha acabado. O teste que antecipara por sua vida inteira tinha terminado no que pareceu uma piscada de olho. 

"Vamos," Chris disse o guiando para a saída. "Você precisa de água e uma almofada macia."

Em transe, Stiles deixou-se ser levado para fora do campo, só meio que registrando que a multidão gritava o seu nome. Chris gentilmente o empurrou para um banco. Ninguém mais se aproximou além da pessoa que lhe entregou um copo d'água. Stiles levou um tempo até perceber que era o seu pai. Ele tinha uma expressão no rosto que Stiles nunca tinha visto antes: puro e radiante orgulho. 

"Foi só isso?" ele perguntou enfim. 

O pai lhe surpreendeu novamente quando largou um risada genuína. "Foi só isso?" ele repetiu. "Stiles, você esteve lá fora por quase uma hora. Você arrasou naquele teste. Provavelmente a melhor performance que a escola já testemunhou."

"Sério? Pareceu..." Fácil não era a palavra certa. "Foi meio que um borrão, sei lá."

"Você foi incrível," o pai lhe disse. "E estou muito orgulhoso de você."

A realização daquilo realmente bateu em Stiles naquele momento e ele sentiu uma alegria que não poderia descrever. "O que acontece agora?"

"Agora," o pai falou, "você se torna um guardião."