História Os Laços Que Nos Unem - O Quartel General

No final das contas, conseguir a ajuda de Isaac foi uma das coisas mais fáceis que Stiles já fizera. Isaac já pareceu interessado quando Stiles e Scott revelaram que precisavam da ajuda dele para um projeto secreto. E depois de ouvir a história toda, Isaac estava 100% no jogo. Ele acreditava em tudo que Stiles lhe disse sobre Vampiros e não pareceu ligar para o fato de que o plano deles era completamente insano. Isaac ajudaria. Stiles quase chorou que alívio.

O único problema era que o pai de Isaac não o deixava por os pés na Corte. Depois que Isaac voltara da Corte, quando fora com Scott, o pai dele fez um escândalo e brigou tanto com ele quanto com a mãe dele. Ele jamais permitira que Isaac fosse de novo. Mas a mãe de Isaac era uma história diferente. Emily Lahey era uma mulher linda. Seus cabelos lustrosos eram lisos e loiros, seus olhos um tom intenso de azul, com cílios enormes. Ela movia-se com graça e beleza, bem diferente da maneira auto-consciente com a qual Isaac se mexia. Ainda assim, Stiles podia ver as semelhanças entre os dois, o formato do seus queixos, os ângulos dos seus lábios. 

Foi nela que eles trabalharam. Tanto Isaac quanto Scott e Stiles tentaram convencê-la de que Isaac deveria ir pra Corte Real. Lá, ele teria contato com muitos meio-sangues poderosos. Faria amigos. Conexões. E ainda se divertiria enquanto estivesse com eles. Essa parte pareceu ser a que mais apelava para Emily, que deveria saber que seu filho não tinha muitos amigos. Ela concordou, enfim, alegando que o pai de Isaac seria informado de que Isaac iria passar as férias na casa de um amigo. Seria uma mentira inofensiva, eles achavam. Emily se abraçou no filho, e só o soltou quando era hora de ir, ainda parecendo incerta de que estava fazendo a coisa certa. 

Stiles sentia-se incerto também. Mas sem Isaac, o plano dele não valia de nada. Isaac era essencial. E Isaac parecia tão certo, tão comprometido, que foi na força da decisão dele que Stiles se segurou. 

A Corte estava exatamente como todos eles lembravam. Era muito diferente, Stiles pode notar dessa vez, de tudo que ele tinha visto na Turquia. Fontes e estátuas elaboradas dos reis e rainhas de antigamente adornavam os jardins, coisas que ele não tinha notado antes por causa da neve. Agora, em pleno verão, tudo estava claro e brilhante. E por todos os lados havia flores, árvores, arbustos, grama — tudo verde e vivo. Fazia sentido para os novos graduandos irem visitar o Quartel-General dos guardiões, mas ocorreu a Stiles que havia outra razão para eles serem levados até lá no verão. Os meio-sangues queriam que eles vissem a Corte daquela maneira e que fossem oprimidos por toda aquela glória pela qual lutavam — e morriam. Olhando para os seus colegas, Stiles percebeu que a tática funcionava. 

Todos iriam receber um tour da Corte como parte de sua doutrinação, mas Stiles já conhecia o lugar e pediu para ser liberado. Ele, Scott e Isaac largaram seus pertences nos seus respectivos quartos e foram para o lado leste da Corte, onde quem não fazia parte de nenhuma família real vivia. 

"Você vai nos contar o que exatamente estamos fazendo aqui?" Scott perguntou. 

Desde que Dia havia lhe contado sobre Blockierte, Stiles estivera trabalhando em uma lista mental de problemas que teriam para entrar lá. Havia dois principais; o que era um há menos do que ele tivera antes de falar com Dia. Não que as coisas fossem ser fáceis. Primeiramente, eles teria que descobrir onde Blockierte ficava no Alaska. Segundo, eles não sabiam quais eram os sistemas de defesa da prisão. Eles não faziam ideia do que teriam que passar lá dentro. Ainda assim, algo lhe dizia que as respostas seriam encontradas em uma única fonte. O que significava que ele tinha um problema imediato: como pôr as mãos nessa fonte. Felizmente, Stiles conhecia alguém que poderia ajudá-los. 

"Nós vamos ver o Liam," ele respondeu. 

"Você acha que o Liam vai saber como invadir a prisão?" Isaac perguntou. Ainda chocava Stiles o quão confortável o garoto estava naquela situação.  

"O Liam é bom, mas não lhe dê tanto crédito," ele disse. "O que ele pode fazer é nos passar informações."

Scott gemeu. "Não acredito que estamos fazendo isso. Me sinto num filme bem ruim de espiões." Ele manteve o tom de voz leve, mas Stiles sabia que Scott não se sentia tão bem sobre o que eles estavam fazendo, não quanto Isaac. Ele estava preocupado. A leveza na voz mascarava seu medo de libertar Gerard, apesar de sua promessa. Dos três, Scott definitivamente estava na pior situação. Stiles sentiu-se agradecido por tê-lo como amigo, pois sabia que Scott, por mais que se sentisse péssimo, não voltaria atrás na sua decisão. Ele não tinha nem discutido quanto Stiles revelou que precisaria de Isaac, que Scott suspeitava ter um caso secreto com a Kira. 

Os meio-sangues que não era da realeza e fazia coisas normais na Corte viviam em apartamentos bem longe do prédio principal onde a rainha morava. Stiles tinha conseguido o endereço de Liam com antecedência, e eles o encontraram em casa, casualmente vestido em jeans e uma camiseta, com um picolé na mão. Seus olhos se arregalaram quando ele os viu. 

"Ora vejam só," ele disse. 

Stiles sorriu. "Bom te ver também. Podemos entrar?"

"Claro." Liam os permitiu. "Quer um picolé?"

"Ah, se quero." Stiles ganhou um de uva e sentou-se com Scott, Isaac e Liam na pequena sala-de-estar. 

"Estou surpreso que eles te deixaram voltar pra Academia depois de sair sem motivo nenhum," Liam disse. 

"Você acha que alguém poderia impedir o Stiles de fazer o que ele quer?" falou Scott com um sorriso torto. 

Liam riu. "Verdade." Seu sorriso sumiu, no entanto, enquanto ele estudava o rosto de Stiles. "E Stiles quer algo agora." 

"Sim." Stiles ficou sério. "Preciso entrar no gabinete principal dos guardiões." 

Do lado dele, Scott engasgou no picolé e o Isaac soltou uma risadinha nervosa. 

"Uau," fez Liam. "Você não perde tempo com coisas pequenas." 

"Será que você consegue... é, nos colocar pra dentro? Você é amigo de alguns dos guardiões daqui e... e o teu tio tem acesso a vários lugares..."

"O que você está procurando?" Liam perguntou. Ele ergueu a mão quando Stiles abriu a boca para protestar. "Não, esquece. Eu não preciso saber. Nem quero, na verdade. Só me dê uma ideia para que possa me situar. Sei que vocês não estão atrás de um tour do lugar."

"Preciso de registros," Stiles explicou, "sobre segurança externa de outros lugares — escolas, casas reais, prisões." Ele tentou manter a expressão casual na última palavra. "Eles devem manter esse tipo de coisa aqui."

"De fato," disse Liam. "Mas grande parte é eletrônica. E, sem ofensa, mas isso pode estar além das tuas habilidades. Mesmo que tivéssemos acesso a um dos computadores deles, tudo deve ser protegido por senhas. Aposto que não virou um hacker desde a última vez que nos vimos."

Certamente que não, disse Bob. Parece que o seu plano não é tão bom assim...

"No entanto," Liam continuou, "se a informação que tu precisa seja velha, eles podem ainda ter cópias em papeis."

Stiles ficou tenso. "Onde?"

"Eles tem grandes quantidades em salas de armazenamento, no porão. Fichas e fichas. Tudo trancado à chave, mas de mais fácil acesso. Depende do que você precisa."

Uma prisão deveria existir há muito tempo. Certamente seus registros seriam velhos o suficiente para estarem em arquivos como estes. 

"Você tem como nos colocar pra dentro?"

Liam ficou quieto por um tempo e Stiles podia ver sua mente trabalhando. "Possivelmente," ele decidiu, seus olhos indo para Isaac. "Você ainda pode mandar nas pessoas?"

Isaac pareceu empolgado. "Parece que eu sou a arma secreta de todos os planos," ele falou para Stiles. "Posso, sim."

Liam considerou aquilo por um momento e então assentiu. "Tá bem. Voltem aqui lá pelas duas e veremos o que pode ser feito."

Eles se levantaram para sair quando uma batida na porta interrompeu a todos. Liam fez uma cara esquisita e pareceu desconfortável. Ele foi até a porta e abriu-a, e uma voz conhecida chegou até eles. 

"Sei que vim cedo, mas eu—" Kira entrou na sala e parou abruptamente de falar quando viu Scott, Isaac e Stiles. Todo mundo pareceu congelar por alguns segundos. 

Stiles sentiu que apenas ele seria capaz de quebrar aquele gelo. "Oi, Kira," ele disse alegremente. "Como vai?"

Os olhos dela estavam em Scott e ela hesitou um momento antes de focar em Stiles. "Bem. Posso voltar mais tarde," ela adicionou para Liam. 

"Não," Scott falou rapidamente, sua voz fria e formal. "Já estávamos de saída."

"É," Stiles concordou, seguindo o amigo até a porta. "Nós temos... é, coisas pra fazer. E não queremos atrapalhar o... o..." ele não fazia ideia do que Liam e Kira iriam fazer. 

Liam pareceu encontrar sua voz. "Kira e eu vamos praticar um pouco com alguns dos guardiões."

"Legal!" disse Isaac com interesse. Ele era o único que parecia confortável. 

Stiles manteve um sorriso no rosto enquanto passava pela porta. Ele, Isaac e Scott saíram de lá e atravessaram o caminho de volta em silêncio.  

O dia foi passando e o ciúme de Scott foi sendo esquecido, seu lugar tomado por ansiedade. 

"Vai ficar tudo bem," Stiles lhe assegurou quando chegou a hora. Duas da tarde para o resto do mundo significava o meio da noite para os meio-sangues. Estar embaixo do sol não fazia eles se sentirem muito fora de vista, mas não tinha quase ninguém acordado. 

Scott olhou para ele como se Stiles fosse louco e não disse nada. Os guardiões eram a força mais segura daquele mundo e aquele era o Quartel General deles. Invadir definitivamente não terminaria em 'tudo bem'. 

Liam parecia determinado quando eles o encontraram e Stiles sentiu-se encorajado por aquela atitude. Liam explicou seu plano e Stiles achou que havia 65% de chances de dar certo. Isaac ainda estava empolgado, mas Stiles podia ver um tanto de preocupação no garoto por ter uma função tão importante. Stiles esperou que ele não se deixasse levar por nervosismo. Sua parte no outro plano seria ainda maior. Eles discutiram todos os detalhes várias vezes e então foram até o prédio da segurança. Como Liam havia previsto, havia poucas pessoas há essa hora do dia. 

Entraram num área de recepção como de qualquer prédio administrativo. Um guardião austero sentava em frente a um computador. Atrás dele havia uma porta — pela qual Stiles queria muito passar. 

Austero ou não, o cara acenou para Liam. "Um pouco tarde pra ti, não é? Estás treinando demais."

Liam sorriu. "Nah, só estou mostrando o lugar para alguns amigos."

O guardião ergueu uma sobrancelha quando olhou para Stiles, Scott e Isaac. Ele deu um curvada respeitosa. "Príncipe McCall. Guardião Stilinski." Era a primeira vez que Stiles era chamado pelo seu novo título e meio que o chocou. "E você é...?"

"Isaac Lahey," Isaac respondeu prontamente. "Ninguém importante." Stiles olhou pra ele e Isaac corou; afinal, era a pessoa mais importante do momento. 

"Esse é o Don," falou Liam. "Isaac, você é bem importante. Por que não fala mais pro Don?"

Isaac respirou profundamente e focou no rosto do guardião. "Don," ele disse, voz firme. "Preciso que você nos dê as chaves e códigos para os arquivos lá debaixo. E então desligue todas as câmeras." 

Don franziu o cenho. "Por que eu—" Mas enquanto olhava nos olhos de Isaac, Stiles pode ver o poder tomando conta dele. As linhas do seu rosto relaxaram em concordância. "É claro," ele disse, se pondo de pé. Ele abriu uma gaveta e entregou a Stiles um molho de chaves. "O código é 4312578."

Stiles gravou aquilo na memória e o guardião os passou pela porta. Além dela, corredores seguiam em todas as direções. Don apontou para a direita. "Pra lá. Virem à esquerda no final, desçam dois andares e é a porta na direita."

Isaac olhou para Stiles que assentiu. Ele voltou-se para Don. "Agora vamos desligar todas as câmeras," disse. "Nos leve até a sala de comando."

Don não pode resistir ao poder dele e Liam e Isaac o seguiram, deixando Scott e Stiles sozinhos. Eles correram pelo corredor. O prédio estava com pouca gente, mas eles ainda corriam o risco de serem pegos e não teriam Isaac com eles. As direções de Don estavam corretas, mas Stiles não estava preparado para o que encontrou. Filas e filas intermináveis de armários. De repente, o plano pareceu inútil. Ele foi até o primeiro armário e ficou feliz em constar que tinha nome. AA1 dizia. Seguido de AA2 e assim por diante. 

"Vai levar muito tempo pra sair dos As," disse Scott. 

"A não ser..." Stiles saiu andando até onde estavam os Bs e começou a procurar dali. Não foi até chegar em BA27 que encontrou uma pasta sobre Blockierte. "Ordem alfabética," ele suspirou aliviado. 

Scott arfou. A pasta era grossa, cheia de todos os tipos de documentos. Havia páginas sobre a história da prisão, assim como plantas dos andares. Eles mal puderam acreditar. "Do que precisamos?" Scott perguntou. "O que podemos usar?"

A resposta veio rapidamente. "Tudo." Stiles fechou o armário e colocou a pasta embaixo do braço. "Vamos sair daqui."

Agora que tinham o que precisavam, a urgência de sair dali pairou sobre eles. Stiles tinha a mão na maçaneta quando a porta se abriu. Tanto os dois rapazes quanto a guardiã congelaram ao se verem. 

"Príncipe McCall," ela disse. "E você é... Stilinski."

Stiles não sabia o que esperar. "Isso mesmo," falou, sem medo, como se tivesse permissão de estar ali. "Quem é você?"

"Braeden," ela disse, ainda confusa. "O que estão fazendo aqui?"

"Um favor," Stiles disse tranquilamente. Ele mostrou a pasta. "O guardião em serviço nos pediu isso."

"O Príncipe está fazendo um favor para um guardião?" ela repetiu. "Péssima mentira. Além do mais, eu sou o guardião em serviço."

Merda. 

Stiles a encarou, sem saber o que dizer. A aparência dela não lhe era familiar — pele escura, cabelos curtos e cacheados. Ela era bonita. Mas o nome dela que tinham a atenção dele. Algo sobre aquele nome... Stiles franziu o cenho, um pensamento estranho lhe ocorrendo.

"Peter Hale," ele disse. "Foi você quem... Você estava envolvida com Peter Hale."

Braeden ficou tenta. "Como você sabe disso?"

"Você amava ele. Você foi atrás dele para matá-lo quando ele... quando ele... Mas você não o encontrou, não é?"

Braeden levou um longo tempo para responder. Stiles perguntou-se sobre o que ela pensava. Peter? Sua própria dor? Ou estaria analisando Stiles? "Não," ela falou finalmente. "Tive que parar. Os guardiões precisavam de mim mais." Ela falava da maneira calma e controlada dos guardiões, mas seus olhos lhe traiam. 

"Você está mentindo," ele acusou. "Olha, eu sei... Eu sei que você tem todos os motivos para nos arrastar daqui e nos entregar. Deveria mesmo. É o teu dever. É o que eu faria. Mas... Isso aqui," ele mostrou a pasta novamente. "Estou tentando fazer o que você fez. Estou tentando salvar alguém que eu amo."

Tanto Braeden quanto Scott olhavam pra ele. "Você sabe?" ela perguntou baixinho. 

Stiles não fazia ideia do que ela queria dizer, mas concordou. "Eu sei."

Braeden suspirou e colocou uma mão no coração. "Ninguém jamais acreditará no estado de Moksha. Mas se é isso que você está tentando fazer, eu te garanto que funciona. Funcionou para o Peter. Confie em mim. Não é impossível trazê-los de volta. Você vai conseguir também."

As palavras dela fizeram Stiles se arrepiar. Ele se encolheu com medo do que ela fosse falar — ou não falar. 

"Você sabe sobre o estado de Moksha, não é?" ela perguntou. "Você acredita que pode salvá-la? É isso que você procura?"

Stiles assentiu segurando as quinhentas perguntas que o trairiam. "Eu posso mesmo salvá-la?" perguntou. "Restaurá-la ao seu estado original?"

"Não," disse Braeden. "Isso é impossível. O que você pode fazer é guiá-la ao estado de Moksha. Encontre o Peter, Stiles. Ele vai te ajudar. Isso..." ela engoliu em seco, "é importante. Nós precisamos de pessoas que acreditem. Precisamos continuar. Podemos salvar todo mundo. Mas ninguém acredita..."

Pareceu uma eternidade antes dele responder. "Eu acredito."

Braeden fechou os olhos como se aquilo fosse a coisa mais linda que já tinha ouvido. Então ela abriu a porta para eles passarem. "Vão."

Stiles quase desmaiou de alívio. "Obrigado. Muito obrigado."

"Posso acabar com um monte de problemas," ela disse, "mas vou te ajudar no que for possível." 

Scott passou pela porta, mas Stiles hesitou um momento. Ele olhou para Braeden. "De verdade? Por que se quiser ajudar... Tem algo que pode fazer por mim."