História Os Marotos (FINALIZADA) - Sirius - Caminho de volta

                Depois de dispensar meu encontro um tanto desprezível, e aguentar alguns longos minutos de choros e acusações públicas sobre minha pessoa, eu finalmente estava sozinho. Sentado na praça, eu olho ao meu redor, ouvindo as pessoas conversando dentro dos estabelecimentos, os toques sutis que os namorados se davam nas mesas ao ar livre, o agradável cheiro da loja de Doces logo atrás de mim, e a fonte que sussurrava em meu ouvido. Eu não estava precisamente em paz, mas eu tinha alguma calmaria depois de um dia tempestuoso. Martha fora um alívio meio grosseiro, pisando em mim, mas me deixando o mais claro que eu conseguia ver seus sentimentos por mim. Ela não me desprezava, ou estava fazendo joguinhos comigo. Ela gostava de mim. Só não acreditava em minha reciprocidade.
                -Ei! Tudo bem, Sirius? – Remo acena do outro lado da praça, caminhando em minha direção, com um sorriso no rosto. – Vi você falando com o Martha, agora pouco, e vi que Thiago não está por perto. Fez alguma coisa de útil hoje?
                -Pare com isso. – Sorrio de volta, dando dois toquinhos no espaço do banco ao meu lado para que Remo sentasse. Ele se joga relaxadamente no vazio, passando a mão por meus cabelos já revoltos. - O que você quer, aluado?
                -Parece que todos acabamos nossa noite com um encontro diferente do que começamos, hein? – Ele dá uma risadinha, apanhando no bolso da calça um saco de Chocobolas, e me oferecendo. Recuso com um aceno de cabeça, mas apanho o saco com uma das mãos, e tiro dois doces de dentro. – Por que não está lá dentro com Martha? Ela parece bem irritada com algo. Foi Thiago?
                -Não, eu imagino que não. – Jogo o saco de volta, já mascando um dos deliciosos doces. Olho em direção ao Três Vassouras, pela janela, vendo o vulto de uma menina encostada na janela, com um copo de Cerveja Amanteigada na mesa.
                -Então, o que aconteceu? – Remo pergunta, comendo um doce.
                -Eu tentei falar com ela, mas não acho que ela esteja em uma boa hora. – Digo, mordendo o lábio inferior.
                -Sabe, não que Thiago e Pedro sejam burros, nem nada. Mas você vai conseguir esconder de mim isso. – Remo passa uma das mãos por meus ombros, e me dá um abraço lateral, sentado no banco.
                -O que? Do que está falando? – Eu empurro seus braços cheios de cicatrizes para o lado, dando uma risadinha. Eu sabia, desde sempre, que Remo serio o primeiro a descobrir minha paixãozinha por Martha. Assim como ele me dissera no final do ano passado sobre Thiago, o que se mostrou mais do que verdadeiro com o desenrolar do ano, e com o início do Quinto ano em Hogwarts. Ele, mais do que ninguém, sabia como era esconder seus verdadeiros sentimentos dos que viam por fora.
                - Martha é uma garota legal. Não faça besteira. – Remo sorri, me dando um toquinho no ombro, se levantando, indo em direção a um grupo de primeiranistas, para reuni-los.
                Olho para o Três Vassouras, e já não vejo Martha por lá. Provavelmente já teria saído, enquanto eu conversava com Remo. Me estico, ainda sentado, me erguendo com um bocejar contagioso. Começo a caminhar em direção à entrada de Hogwarts, pisando nos caminhos ainda sem neve, lembrando das pedras e entalhes, para quando estivessem cobertos pelo tapete branco, eu soubesse onde pisar. Depois de quase cinco minutos em uma caminhada silenciosa, uma mão me toca delicadamente no ombro, me fazendo virar.
                -Oi. – Martha me lança um sorriso tímido, cruzando os braços em frente ao corpo.
                -Oi, Martha. – Sorrio de volta, meu coração dando um pequeno salto em meu peito. – Achei que já estivesse mais a frente, quase no castelo.
                -Estava procurando por Lilian. Pedro disse que viu Thiago voltando com ela. – Ela fala olhando para baixo, chutando algumas pedrinhas soltas do caminho.
                -Encontrou Pedro? Ele não apareceu a noite toda. Deve ter dado sorte. – Digo, tentando descontrair com uma pequena risadinha.
                - Não sei, ele estava meio sozinho, em uma praça depois do Três Vassouras. Talvez ele tenha levado um fora, ou sei lá.
                -Acho que hoje, todos nós levamos um fora. – Eu digo, dando um pequeno toque com o ombro em Martha, fazendo-a dar um passo para o lado. Ela sorri, e me dá outro toque, me empurrando também.
                -Claro. Não que eu me importe, mas que Thiago não espere nenhum outro encontro comigo se não tiver uma boa explicação para o que aconteceu. – Ela sorri, descruzando os braços e passando as mãos pelo longo cabelo negro. – O que houve com a sua.... Coisa?
                -Coisa? – Solto uma risadinha. – Tenho quase certeza que ela era uma garota.
                -Quase certeza? – Martha revira os olhos, fazendo uma careta suspeita.
                -Ainda existe a possibilidade que ela seja um Gnomo que cresceu demais. – Rimos juntos, Martha com uma timidez ainda presente. Passamos pelos portões de Hogwarts, indo em direção à entrada do castelo, e nos lançamos um olhar cúmplice. – Só não deu muito certo, eu pedi para ir embora. Ela não aceitou muito bem, mas eu não me importo.
                -Que irreverencia, senhor Black. – Martha bate duas palmas com as mãos abertas, e dá um sorrisinho. Ao chegarmos na porta de entrada, me lança na sua frente e chego o mais perto que tenho coragem do rosto surpreso de Martha, meu coração martelando.
                -O que eu tenho que fazer na próxima vez para que eu possa levar você? – Digo, e pisco com um dos olhos, fazendo-a corar.
                -Eu não passo informação ao inimigo, Black. – Ela se aproxima mais um pouco, e me dá um selinho no nariz.
                -Agora sou seu inimigo? Nos imaginei muito mais felizes com uma parceria. – Sorrio, tentando não prestar atenção na velocidade alarmante do meu coração, nem na proximidade que eu estava com os lábios de Martha.
                -Parceiros ou não, eu não sou de graça. Tem que ter um pouco mais de esforço se quiser um pouco de mim, Sirius. – Ela morde o lábio inferior, me dando um calafrio que percorre meu corpo inteiro.
                -Assim não é justo. – Eu murmuro, tentando redescobrir como falar.
                -Posso te oferecer uma pequena porção, para te animar, se quiser. – Ela sorri, me puxando pelos centímetros finais pela gola de minha camiseta. Com o rubro que ela tinha, me deixou o triplo mais vermelho quando seguro meus lábios nos dela por alguns segundos, seu gosto doce e amargo, doces e Cerveja Amanteigada se misturando. Antes que eu estivesse pronto, ela corta o toque, me empurra com um dos braços, e caminha para dentro do castelo, me deixando sozinho em uma porta vazia.
                Fico parado por alguns minutos, antes de pensar em correr atrás dela. Subo as escadas como nunca havia feito, quase tropeçando quando uma delas teve a brilhante ideia de se mexer. Ao ponto que cheguei no Salão Comunal, consegui ouvir os passos de Martha na escada de caracol que iam aos dormitórios, já longe de mim.
                -Puxa, essas garotas ainda vão nos deixar doidos. – Thiago sorri de um dos sofás que estava, deitado e aconchegado com um travesseiro no peito.
                -Do que você está falando, Potter? – Reviro os olhos, disfarçando minha clara decepção por não ter conseguido alcançar Martha. Thiago solta uma risada, passando as mãos nos cabelos desajeitados.
                -Que não sou só eu que faço papel de idiota às vezes. – Ele sorri, enquanto me jogo em um poltrona ao seu lado, olhando para as escadas que Martha acabara de passar.