-Isso tudo tem sido estranho para mim também, ok? Então, por favor, pare de gritar e saia de cima dessa mesa, pode ser?
Eu nem mesmo acreditava no que estava acontecendo. Sério. Para mim, essa cena deveria ser a coisa mais engraçada que eu havia visto durante o ano todo. E a pegadinha do Natal seria algo impressionante se Sirius arranjasse aquelas Bombinhas de Bosta tamanho G.
-Eu só vou descer quando você tirar essa.... Coisa! Daqui!
-Remo! É só um gato!
-Eu consigo sentir o cheiro dele! Não é um gato! – Ele ergue os pés para cima da mesa de estudo da sala da Grifinória, revirando os olhos para mim. – Acha que eu estou mentindo?
-Não! Ok, parece muito com um gato. Mas se você diz que não é, tudo bem.
Isso tudo começara depois da última Lua Cheia. Um pouco mais de um mês atrás, na primeira Lua do quinto ano, fora uma aventura sensacional finalmente poder correr com Remo pelos campos de Hogsmeade, ouvir os uivos de Sirius, me enroscar nos galhos, como eu habitualmente fazia. Até mesmo cortar um pedaço do rabo de Pedro fora engraçado, depois que meu susto inicial de ter um cachorro entre minhas patas havia passado. Fora uma das Luas mais divertidas que já havíamos vivido juntos. Ser um animal era uma sensação incrível.
Pedro ficara meio afetado durante aquele final de semana, provavelmente por que se sentira ofendido pelo pedaço do rabo que cortamos. Mas o bolo surpresa que pedimos aos elfos foram desculpas o suficiente. Ele ainda estava meio esquisito, mas culpávamos as provas que estavam chegando. E assim os dias se passaram.
Os jogos de Quadribol se iniciaram ao entrarmos em outubro, e esse ano eu finalmente era o Capitão do time. Era animador rodar os testes, treinar com Sirius, voar novamente. Como eu sentia falta. E então, começou. Remo insistia que estava sendo seguido por alguma coisa. Ele sentia.
-Eu sei que tem alguma coisa me seguindo. – Ele disse um dia à mesa do jantar. Seus lábios estavam sujos de molho e porco, então fora um pouco difícil de leva-lo a sério.
-Ei, se alguma coisa aparecer, sua varinha existe para isso. E mais, quem ia querer seguir você? – Sirius sorri, comendo um pedaço enorme de frango com as mãos.
-Eca, Sirius. Você, por um acaso, virou cachorro? – Martha revira os olhos, sorrindo sutilmente para ele, que pisca com um dos olhos, se limpando em um guardanapo logo ao seu lado na mesa.
-Na verdade, sim. Eu virei cachorro. – Nós quatro soltamos uma pequena risada, e Sirius uiva como um lobo, fazendo Remo lhe dar uma cotovelada na costela, gentilmente.
-Depois, não vão dizer que não avisei. – Remo cochicha. Eu o olho por cima dos óculos, mastigando alguns brócolis.
- Se alguém estiver seguindo você, é só você se vingar na próxima Lua Cheia. – Sorrio. Ele toca no nariz com uma das mãos, e solta uma risada irônica.
Depois disso, na próxima Lua, uma semana antes do Halloween, Remo atingira um novo grau de paranoia. Ele sentia cheiros em todos os lugares, como se mergulhassem suas coisas na mala de um desconhecido fétido.
-Tem um cheiro estranho. Meu nariz de lobo não mente. – Ele disse duas noites antes da Lua, quando entravamos no dormitório. Frank ronca alto de sua cama, assustando Pedro.
-Pare de maluquice. – Sirius dá um tapinha em seu ombro, e se joga na cama.
E mais uma Lua se passa. Pela segunda vez, corremos como nunca nos campos, e chegamos ao cúmulo de assustar uma velhinha que acordara muito cedo e decidira regar suas flores. Quem nunca havia visto alguns vasos quebrados, um Lobisomem, um lobo, um cervo e um rato bebendo água na fonte da cidade logo em frente à sua casa?
No segundo dia pós Lua, quando Remo já estava estabilizado novamente, e nós recuperados da noite em claro, eu o escuto gritar, pouco antes do café. Quase todos os outros já haviam saído, apenas alguns alunos do segundo ano passaram. Rindo, a propósito.
-Remo?! – Desço as escadas sem camisa, o cinto da calça mal abotoado, só de meias. – Remo, onde você está?
E aqui chegamos.
-Eu sei o que é um gato. E isso não é.
-Olha, eu entendo que você não seja um fã de gatos. – Eu começo, me aproximando pela frente da mesa, logo atrás do gato. Que não era um gato. – Como eu não imaginei isso, não é mesmo?
-Faça alguma coisa! – O gato se ergue nas patas traseiras, apoiado nas gavetas da estante. Remo se encolhe mais na mesa, dando um tapa na madeira para afastar o animal. Ele não parecia assustado, apenas extremamente incomodado com a presença do felino. – Era ele que estava me seguindo desde da última lua. Gato idiota, vá embora.
-Ah, então é um gato. – Sorrio. Ele me olha com raiva, e aponta para o bicho. Ele era meio alaranjado, com um longo rabo peludo. Quando me olha de raspão para saber quem se aproximava, vejo seus olhos inteligente, e seu focinho amassado. Não devia ser mais que um filhote, de alguns meses. – Vá! Sai. – Começo a mexer as mãos em direção ao animal, que me ignorou veementemente. Quando me aproximo mais um passo, ele rosna para mim.
-Você acha que não tentei isso? – Remo se irrita, tirando um sapato e jogando em cima do gato, que meramente desvia e se senta em frente à mesa, ainda olhando para Remo.
-O que você quer que eu faça? – Me encosto no sofá, cruzando os braços em frente ao corpo, já que o gato nem ao menos se preocupava comigo.
-Ah! – Remo se exalta em cima da mesa, fazendo-a vibrar. – Como eu sou idiota! Sabia que já tinha sentindo esse cheiro antes!
-Essa mesa não vai aguentar muito se você fizer isso. – Tento me agachar, e dar pequenas batidas no chão. O animal me olha de soslaio, não muito amigável, mas também não rosna. – Descobriu o que o gato é?
-Ele não é um gato. É um Amasso. Ou uma mistura de Amasso e gato. – Ele fala animadamente, ainda não estendendo as pernas para baixo na mesa. Faça uma careta de incompreensão, e ele dá um tapinha na própria cabeça. – Um menino da Corvinal trouxe um Amasso que pertencia ao pai dele, no terceiro ano, naquele trabalho que tivemos em Defesa Contra as Artes das Trevas. Não é agressivo se gostar de você. Categoria 3.
-Colocar uma espécie nas coisas só deixa mais esquisito. – O gato se vira para mim com a cabeça, mas não se mexe mais que isso.
- Pegue ele!
-Não! Ele tentou ume atacar há dois minutos. Nem pense nisso. – Sorrio para Remo, sentando no chão ao lado do sofá, cinco longos passos do bicho.
-O que você é? Um rato ou um....
-Não me venha com essa, lobo. – Corto-o. – Sou um cervo e, no momento, sou um cervo com medos de gatos meio Amasso.
-Coloque um nome nessa coisa, quem sabe ele goste! – Remo se irrita, tentando sair devagar da mesa, sem sucesso. O gato o vê, e o segue pelo chão conforme ele se mexia. – Vá embora!
-Um nome? Do que eu deveria chamar esse bicho? – Dou de ombros, começando a soltar risadas cada vez mais altas. A cena estava ficando muito cômica, pelo menos do meu ponto de vista.
-Thiago, por favor. Quer que eu diga? Certo. Não sou muito um fã de gatos, certo? – Ele abaixa o tom de voz, para que alguns estudantes que passavam nessa hora não ouvissem – Alguns me perseguem na Lua Cheia, e eu não tenho um bom histórico.
-Como quer que eu o chame? Laranjinha? – Faça barulhos para atrair o animal, mas ele não me olha mais.
-Olhe para ele, seu bicho esquisito! – Remo aponta para mim repetidas vezes, ainda não sendo de muita utilidade.
- Peludinho? Bicho? Bichano? – Testo cada nome com alguns ruídos agradáveis a gatos, e pequenas batidinhas no chão. – Bichento?
O último atrai a atenção do desinteressado e assustador animal laranja. Ele caminha pacientemente até mim, e se esfrega em minha perna. Meio receoso, ele permite que eu o toque, não muito, e eu não arrisco. O acaricio por tempo suficiente para Remo descer da mesa e se portar novamente como Monitor.
-Obrigado, Thiago. – Ele se esgueira pela lateral do sofá, passando longe do gato e de mim. – Agora livre-se dele.
-O que? – Eu nego com a cabeça. – Quer que eu o jogue lá fora?
-Ele veio de algum lugar! Vai voltar para lá, não? – Remo faz uma careta, olhando de esgueira par ao bicho.
-Não sei. Se ele quiser ficar, vou tomar conta dele. – Faço menção de apanha-lo, e ele não recusa. Coloco-o no colo, me postando de pé. – Bichento. Nome legal, não?
-Claro.
-Um bicho esquisito para um dono esquisito. – Martha entra no Salão, rindo. – O que vocês estão fazendo aqui? Um monte de alunos do segundo ano estava rindo lá em baixo, na mesa do café, sobre dois veteranos gritando por causa de um gato. Devo confirmar essa história, meninos?
-Não. – Eu e Remo dissemos em uníssono, nos olhando. – Foi só um mal-entendido. – Completo, acariciando a cabeça de meu novo amigo, que ronrona suavemente.
-E quem é esse? – Martha avança pela sala saltitando, pronta para tocar em meu novo gato, quando ele percebe suas intenções. Meio de última hora, tento avisa-la, mas é tarde demais. O bicho dispara de meu colo, me arranhando todo, e soltando longos silvos contra Martha, que se contorce e grita, dando vários passos para trás. Bichento dispara escadas acima, miando assustado. – O que foi isso?!
-Bichento. Meu novo gato. – Respondo, revirando os olhos. Meu peito nu exibe um longo arranhão vermelho, com três unhas bem talhadas.
-Seu novo gato misturado com Amasso. – Remo corrige, fazendo outra careta.
-Amasso? – Martha revira os olhos, irritada. – Por que não avisou antes? Podia ter me matado, sabia?
-Não, não podia. É um gato inofensivo. Parem de ofender meu bicho. – Olho para Remo, que apenas dá de ombros.
-Enfim, não vim aqui para ver seus músculos desfilando sem camisa, Potter. Quero falar de negócios. – Ela bate duas palmas, chamando atenção. Franzo a testa para ela, sorrindo.
-Que tipos de negócios?
-Halloween. Ou não me digam que não tem planos ainda?
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