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História Os Marotos (FINALIZADA) - Sirius - No Trem


Escrita por: slowly_melting

Capítulo 3 - Sirius - No Trem


Fanfic / Fanfiction Os Marotos (FINALIZADA) - Sirius - No Trem

                Assim que consigo me desgarrar de minha mãe, bato a porta de casa e saio pisando duro até a rua. Entrando no primeiro táxi que consigo pegar, me jogo no banco largo do passageiro, arremessando minha mala solitária aos meus pés e suspiro. Digo ao taxista que siga à estação e me calo, esperando que ele não puxasse assunto.
                Os minutos se prolongam no tédio do trânsito, e começo a divagar sobre meu fracassado verão. Tive que fugir para Thiago algumas vezes, não que ele não estivesse me esperando, de qualquer forma. Só não podia mais aguentar os argumentos de uma mulher que antes ainda insistia em ser sua mãe. Pelo menos isso ela não fazia mais.
                Imagino se Régulo se sente assim. Acho que não, já que ele sim fazia tudo para agradar a mulher terrível que chamavam conjuntamente de mãe. Sonserino, orgulho de uma família inteira, pródigo em magias e feitiços obscuros. Tudo que eu não era, nem almejava ser. Não sentia nenhum prazer em imaginar o futuro sombrio que o irmão levaria se continuasse nesse caminho. Mesmo com todos os conselhos, ainda não conseguira convence-lo a mudar.
                Quando o táxi finalmente chegou ao destino, estava tão distraído que quase pago o pobre homem com Galeões, mas desfaço meu erro na última hora, sobre os olhares suspeitos do motorista. Apanhando a velha mala, faço o mesmo caminho que fiz nos últimos anos tantas vezes, a caminho do trem que me levaria para casa. Hogwarts.
                Passo sem pestanejar pela coluna mágica, assustando uma garotinha que estava ao lado da mãe, embarcando em um trem. Sorrio para ela antes de entrar para o mundo mágico. Lá dentro, ainda muito cedo, eu deixo minha mala no mesmo vagão de sempre, e saio em busca de meus amigos. Remo costuma aparecer cedo, e logo agora que é monitor, não vai se atrasar nem um segundo.
                Não erro, e em menos de cinco minutos estamos nos abraçando, sorridentes, levando as bagagens para dentro da cabine escolhida. Ele cresceu alguns centímetros, e está mais magro que o usual. No rosto as mesmas cicatrizes antigas de machucados e brigas com animais selvagens nas Noites de Lua.
                -Chegou cedo, Black. Achei que não fosse te ver até o trem acelerar na curva. – Remo ri, e eu reviro os olhos em uma careta.
                -Decidi muda de vida e fazer um ano sério. Sabe como é, estudar, passar sem provas finais apertadas, arranjar uma namorada e sossegar. – Digo. Ele gargalha um ruído rouco, quase como um ganido de lobo, o que me leva a rir junto. Se apoiando em mim, Remo respira e seca os olhos molhados de tantas risadas.
                -Estava com saudades de um pouco de Sirius, mesmo. – Nos sentamos em um banco em frente à porta do vagão, e apenas acompanhamos com os olhos os alunos que vem e vão com suas famílias. Novatos assustados e pais arredios, Sonserinos com narizes empinados, livros e mais livros sendo trocados e carregados. Quando Alice chega à estação acompanhada de Martha, ambas passam sem percebe-los, mas coro quando lembro dos momentos aflitos que passei nas férias esperando por respostas vazias de uma garota difícil que era Martha. Sempre a achei uma ótima pessoa, mas não sabia quando havia passado disso a algo mais complicado dentro de minha cabeça. Fiz de tudo para Lupin não ver o rubor que se espalhava, e comento sobre a demora dos amigos que faltavam.
                -Pedro estava no trem quando entrei. – Remo acena para o vagão. – Não o viu?
                -Não. – Nego com a cabeça- Onde o ratinho se meteu?
                -Disse que ia resolver uns assuntos, e que voltava logo. Não acha que ele se meteu em confusão, não é?
                -Não! – Rio. - Pedro? O máximo que pode ter acontecido foi ele estar devendo dinheiro para alguém e está levando uma surra. Mas ele merece, para aprender a não apostar. Perde todas as vezes! E você sabe. – Sorrio.
                -Isso pode ser sério, Sirus. – Remo se mexe desconfortável no banco.
                -Estou brincando, cara. Relaxe. Ele deve estar atrás de alguma garota, quem sabe? Quando ele terminar, deve voltar até nós, inteiro. Sem nenhum dedo faltando, vamos esperar. – Rio, e Lupin tenta dar uma risadinha amarela, ainda preocupado. – Não esquente, tudo bem?
                -Eu preciso ir atrás dos Monitores Chefes. Vem comigo? – Ele se põe em pé, desamassando a camiseta. Penso nas meninas que entraram no ônibus.
                -Não, vou acertar umas coisas antes do trem sair. Te encontro na cabine mais tarde? – Pergunto, já me virando em direção à uma máquina de refrigerante.
                -Tudo bem. Até logo, Sirius. – Ele caminha paralelamente à linha do trem, indo para os vagões destinados aos veteranos. Espero que entre em algum lugar para sair de perto da máquina de bebidas, e corro para o vagão que viemos.
                Tento me acalmar mentalmente, pensando o quão tolo estou sendo. É apenas uma garota. Não quero nem vou me precipitar, decidido?
                Assim que as encontro, esqueço o que havia combinado comigo mesmo, e passo a falar besteiras em cima de besteiras, falas bêbadas de uma mente sem razão. Fico sem saber o que fazer quando Lilian chega, ouvindo o apito do trem já pronto para sair. Nem ao menos sei quanto tempo eu havia passado ali. Assim que tenho a chance, me despeço e parto para o vagão de meus amigos, flutuando.
                Quando entro na cabine, tudo parece estranhamente quieto.
                -Oi, pessoal. E ai, Thiago?! Não te vi na estação. Chegou tarde? – Me jogo no banco estofado ao lado de Thiago, e olho o rosto pálido de Remo. Sorrio. - E aí cara, o que houve? Estão tão quietos. Aconteceu alguma coisa? – Olho com visível suspeita para meus dois amigos, e imagino se haviam sido enfeitiçados ou algo desse tipo.
                -Não. – Eles dizem em um coro perfeito que me convence que eles definitivamente foram enfeitiçados, e começo a pensar em quem eu pediria para me ajudar.
                -Vocês estão estranhos, sim. – Me encosto no banco. Não sei o que fazer se eles estiverem drogados ou algo assim. O inteligente ali era Remo. – Não me façam descobrir sozinho. O que foi, foi algo que eu fiz?
                -Não. – Remo se descola do banco, encostando os cotovelos no joelho, o rosto se torcendo em uma estranha feição de vergonha – Meio que fizemos um feitiço para ouvir o que você dizia para Martha e....
                Um calafrio percorre minha espinha. Eles claramente saberiam que estava com os sentimentos confusos se tivessem ouvido o que eu havia dito para Martha.
                - Vocês O QUE? – Me ergo em um só pulo, e começo a andar no espaço apertado entre os bancos.
                - Não ouvimos nada de muito importante, cara. Eu acho....
                -Então vocês ouviram até que parte? Ou a partir de que parte? – Interrompo Remo, ainda de olho em Thiago, que não esboçava nenhuma reação. – Então vocês sabem que Lilian virou Monitora?
                -Sabemos, mas....
                -Ouvimos que Lilian gosta de Remo também. – Meu melhor amigo se pronuncia com uma imensa dor na voz. Nunca o havia visto soando daquela forma. Paro de andar imediatamente, e me viro para encara-lo. Ele ainda olhava fixamente para frente.
                -Não é bem assim. – Lupin sussurra, e coloca o rosto por entre as mãos.
                -É sim, ouvimos Martha dizendo. Que vocês eram amigos próximos demais. Não era? – Thiago se exalta, os punhos fechados no peito. Me coloco em frente a Lupin, bloqueando a visão de ambos, tentando trazer razão aos sentimentos conturbados de Thiago.
                -Ei, cara. Se acalme. Não foi bem assim, eu estava lá. – Coloco as mãos em seus ombros. – Martha estava zoando Lilian. Coisa de amiga. Não tem nada a ver. Provavelmente ela sabia que eu contaria, e que você sentiria ciúmes. Não está vendo que isso foi bem claro?
                -Mas....
                -Não, esqueça isso. – Me jogo no mesmo lugar que estava antes, e sorrio. – Não tem nada a ver. Escutou?
                Aos poucos, em um silêncio incomodo e prolongado, Thiago retoma a cor de seu rosto, e os punhos voltam a se abrir. Uma coisa boa de seu amigo é que costuma não guardar rancor de muitas coisas. A conversa retorna aos poucos, e eles se pegam rindo novamente em quase nenhum tempo. Tomo cuidado para não citar nenhuma das garotas que possa lembrar Lilian, mesmo que o momento já houvesse passado.
                -Papai me disse de um lugar que ele costumava levar minha mãe, nojento, eu admito, mas não mapeamos ainda. Podíamos ir lá qualquer dia desses, quem sabe não tenha alguma passagem secreta? – Thiago ri. Ele se referia ao mapa que estávamos desenhando, com base nos segredos do castelo. Com os feitiços de Lupin e os truques que eu e Thiago bolávamos, conseguiríamos mapear o castelo todo até o final do próximo ano, se tirassem bastante esforço disso.
                -Precisamos bolar um sistema antifurto, sabe. – Remo sorri.
                -E eu imagino que você tenha pensado em tudo já. – Rio, esperando ao aceno jeitoso de cabeça que Remo faz, como se tivesse sido pego em uma brincadeira.
                -Não em tudo, mas achei um feitiço que talvez dê certo. Só precisamos bolar uma frase de abertura e outra para trancar. – Remo apanha um livro de feitiços que estava ao seu lado, toca delicadamente com a varinha, e as páginas voam até um capítulo sobre códigos.
                -O que diz ai? – Thiago se debruça sobre as páginas amarelas, esperando para ouvir os segredos que descobriríamos daquela vez.
                -Aqui diz que assim que escolhermos as frases mestras, não haverá outra pessoa que, sem sabe-las, poderá acessar nosso livro. No caso, nosso mapa. Não queremos que caia em mãos erradas mesmo, então não devemos escolher frases fáceis. – Lupin fecha o livro e sorri.
                -Mas não podemos escolher qualquer uma também! – Thiago se joga no banco. – Temos que escolher com muita calma.
                -Que tal “Sirius arrebenta” como abertura? – Sugiro, rindo.
                -Pode ser que funcione, já que ninguém pensa assim, logo ninguém vai descobrir a senha. – Thiago ri. Remo deita no banco largo sozinho, rindo. – E como frase final “Vamos embora antes que seja um mapa pelo Ego do Black”.
                -Longo demais! – Lupin suspira, sem fôlego – Que tal “Estávamos só zoando”...
                Rimos por longos minutos, imaginando frases de efeito que servissem como perfeitas ao papel de chaves, até que o carrinho de doces tilinta na entrada o vagão.
                Thiago se qualifica como comprador de doces, e sai com nosso dinheiro contado para fazer todas as compras possíveis de besteiras com ele. Mal a porta da cabine se fecha, ouvidos o barulho agudo de moedas caindo no chão, e algumas discussões roucas. Antes que consiga reagir ao acontecido, Remo se debruça sobre a porta e olha para fora. Me junto a ele, empurrando-o levemente.
                Espalhadas pelo chão, os Galeões e Sicles se misturavam. Lilian estava de pé, frente a Thiago, e apontava ao chão com um dos dedos estendidos.
                -Não vê por onde anda e quer eu tenha calma! – Ela grita.
                -Já pedi desculpas, Lilian. O que mais você quer? – Thiago responde, um tom mais baixo que ela, porém ainda se exaltando momentaneamente.
                -Que você pare de me atrapalhar com tanta frequência!
                -Vez sim vez não melhora para você?

                -Pare de ser tão idiota, Potter! – Ela cata os galeões do chão, ignorando os olhos aflitos que abandonavam a cabine para ver do que se tratava tudo aquilo, e se ergue logo em seguida.
                -Não sou idiota. Só quero que você pare de ser tão... tão...
               -Tão o que?! – Lilian se aproxima de Thiago a uma distância ameaçadora. Remo pula na frente, puxando-a de volta delicadamente.
                -Vamos, Lily. Ele pediu desculpas. Aceite e pare de fazer confusão.
                -Confusão? – Ela se vira devagar para Remo, e suspira pesadamente.  – Você tem razão. Vou voltar para minha cabine. – Olhando para os que colocavam as cabeças para fora, ela estala um dedo e sorri ameaçadoramente – O resto de vocês, não tem nada para ver aqui. – Todos se recolhem quase que de imediato. Restamos apenas nós no corredor. Ela nos olha, um por um, e para em Thiago. – Com sua licença, Potter.
                -Como quiser, Evans. – Ele responde, revirando os olhos.
                Já devidamente acomodados novamente na cabine, Thiago soca o banco com os punhos fechados algumas vezes.
                -Mulheres. – Ele sussurra.
                Às vezes acho que meus problemas de vida se resumem a esse.



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