Eu corria pelas ruas. Quando o sinal estava mudando para o vermelho, eu acelerava, cortava a frente das pessoas sem me importar se eu poderia ou não pegar multas por isso.
Coma alcoólico não era brincadeira. O cara poderia morrer se eu não chegasse a tempo. Esse tipo de coma é uma intoxicação que acontece quando álcool em excesso é ingerido e o organismo não suporta a enorme quantidade de bebidas alcoólica introduzidas nele, então reage. Acontece quando o sistema nervoso central é desacelerado a um ponto crítico, que faz a pessoa perder os sentidos. A área do cérebro responsável por controlar a respiração e o coração pode parar de funcionar, ou seja, esses dois órgãos paralisam.
Resultado: Morte.
Quando alguém entra nesse tipo de coma, é necessário que receba glicose intravenosa, que vai restabelecer os níveis de glicose no cérebro.
Ao chegar ao hospital, peguei as informações necessárias, onde era a sala e quantas pessoas estavam lá, e fui rapidamente para lá. Lavei minhas mãos e o avental, máscara, assim como as duas luvas brancas foram colocadas em mim.
- Qual o nome dele? - perguntei enquanto entrava na sala.
- Gabriel Marques Dante. - uma enfermeira respondeu - A ficha dele está no quarto 508.
Eu parei.
- O quê?
- O nome dele é...
- Doutora, rápido! - chamaram da sala - Aproximadamente 4 minutos para o coma!
Respirei fundo.
Meus pés me guiaram rapidamente para dentro da sala.
- Pulsação! - perguntei.
- Fraca.
Merda, está começando a paralisar.
- Oxigênio - a máscara de oxigênio foi colocada em minhas mãos. - Vamos, vamos. - coloquei a máscara no rosto de Gabriel, mas não dava tempo de passar o elástico por trás da cabeça. - Segure aqui - falei para uma das enfermeiras. - Administração da glicose intravenosa agora!
Eu falei alto. Estava me alterando. Gabriel não podia morrer.
- Aqui. - a seringa foi colocada em minhas mãos, que tremiam. Peguei o braço de Gabriel, mas não consegui achar a veia.
Tentei de novo.
E de novo.
- Doutora, se acalme.
- Ele está morrendo! - falei. - Cheque o pulso!
- Continua fraco.
- Vamos... - tentei novamente achar a veia. Falhei - Torniquete. Eu preciso de um torniquete. Liguem o cronômetro!
- 3 minutos!
Não... não...
Amarraram a borracha amarela bem forte no braço dele e a veia saltou para fora. Graças a deus. Apliquei a glicose ainda com as mãos trêmulas, mas ele não reagiu de imediato.
- Deixem o desfibrilador preparado. - falei e comecei a fazer massagem em seu coração - Vamos... Vamos, Gabriel. - dei uma olhada na máscara de oxigênio. Embaçada. Ele estava respirando. - Vamos... Vamos...
De repente, o monitor que mostrava seus batimentos começou a diminuir a frequência. Não estava mais sete batimentos a cada cinco segundos, e sim um batimento a cada dois segundos.
- Não, não!
Continuei com as massagens, ele já tinha oxigênio, o que mais faltava? Nunca aconteceu de algo fugir da minha cabeça?
- Onde está o desfibrilador?!
- 5 segundos!
- Não temos cinco segundos!
Olhei no cronômetro. Um minuto.
59...
58...
57...
56...
- Aqui.
O desfibrilador foi entregue em minhas mãos bem na hora em que a linha do monitor ficou esticada e ele começou a apitar.
- 350V - falei.
Dei o choque. O corpo de Gabriel subiu e desceu violentamente. Olhei o monitor. Nada.
Mais um.
Nada.
- 360V!
Nada. As máquinas continuavam apitando.
23...
22...
21...
20...
- 360V! - gritei
Nada.
Larguei o desfibrilador e comecei com as massagens mais frenéticas.
- Vamos... - eu falava baixo. - Gabriel, fique comigo. Vamos. Por favor...
Lágrimas começaram a se formar em meus olhos e caíram na máscara que estava em meu rosto.
As máquinas continuavam apitando. Todos me olhavam, esperando ordens. A enfermeira ainda segurava a máscara de oxigênio no rosto de Gabriel e seu olhar não transmitia esperança.
- Vamos... Vamos... Vamos!
Eu não iria desistir. Não agora. Ainda havia uma chance.
10...
9...
8...
7...
6...
- Me ajudem!
- Não dá mais tempo! Faltam 5 segundos!
- Dá tempo sim! Andem - eu já chorava. Nenhum deles ali havia me visto chorar antes. - Fique comigo, por favor, fique comigo, Gabriel.
3...
2...
1...
Tudo parou. As máquinas, o apito constante, o cronômetro.
Menos eu. Eu não iria parar com as massagens, ele tinha que voltar. Ele não podia ir embora, não podia morrer.
Já estava morto.
- Hora da morte: 19:37 - um enfermeiro anotou na prancheta.
Estava tudo parado.
- Não...
Minhas pernas perderam as forças, e eu fui para o chão. Cobri meu rosto com as mãos.
Não, aquilo não havia acontecido. Ele não estava morto. Não podia estar. Volta, Gabriel, por favor... Eu sou capaz de qualquer coisa.
- Vamos, doutora Melissa. Vamos comunicar a família.
Era para eu ser a família dele. Era para eu estar com ele... se eu não tivesse apenas concordado aquele maldito dia. Devia ter batido o pé e ficado, devia ter brigado, discutido, devia ter dito que não iria abandoná-lo e...
"Pi" - ouvi.
No começo, pensei que fosse minha imaginação.
"pi"
Levantei o rosto molhado de lágrimas. Todos alternavam o olhar entre mim e Gabriel.
"pi"
Não, eu não estava louca. Me levantei quase tropeçando e corri os olhos para o monitor. O gráfico estava subindo. Três batimentos a cada cinco segundos. A máscara de oxigênio havia sido tirada dele, mas eu a peguei na velocidade da luz e me coloquei ao seu lado, colocando ela em seu rosto.
- Isso... - eu sorri - Isso, meu amor - apertei sua mão.
Olhei o monitor novamente. Quatro batimentos a cada cinco segundos.
- Isso - eu abri um sorriso enorme - Continue assim. Alguém, faça a massagem, ele está voltando!
Ao ouvirem que a suspeita estava confirmada, um dos enfermeiros riscou algo da prancheta. Não foi hoje que a hora da morte dele foi registrada. Outro começou com as massagens enquanto a que falou comigo no começo checava os batimentos.
Quando o gráfico ficou estável, eu suspirei aliviada. Ele estava apenas dormindo agora.
Meu sorriso aumentou de tamanho quando senti um aperto fraco em minha mão. A mão que estava segurando a dele.
- Gabriel? Gabriel, consegue me ouvir? - falei esperançosa.
Ele abriu um pouco os olhos, coisa de uns 3 milímetros e ficou o olhar em mim. Em seguida sussurrou tão baixo que tive que fazer força para ouvir, antes que ele pegasse no sono novamente.
- Melissa... Fique comigo...
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