História "Os opostos se atraem?" - Livro 2 - My little girl

Anos atrás, quando eu ainda estava brava com Gabriel, ele me viu beijando Renato na porta de casa. Hoje, os papéis se inverteram. A diferença é que Gabriel foi embora, irritado, e não acho que Renato vá fazer a mesma coisa.

Me separei de Gabriel, enquanto Renato me olhava incrédulo.

  - O que ele está fazendo aqui, Melissa? - Renato perguntou. Ele nunca havia levantado a voz comigo, mas pelo tom em que ele falou, imaginei que não demoraria muito para isso acontecer.

  - Ele veio conversar comigo - falei - E com Bella.

  - Com Bella?! - ele arregalou os olhos - Por que com a Bella?

Eu não havia contado ao Renato que Bella era filha de Gabriel. Nunca fiz isso. Quando ele me reencontrou, e começamos a sair, Bella já tinha 5 anos, e ele nunca insistiu no assunto, pois eu dizia que não queria falar sobre aquilo, remoer o passado.

E ele entendia.

  - Porque ela é minha menina, Renato. - Gabriel respondeu e eu não pude evitar deixar escapar um sorriso.

"Minha menina."

  - Bella é filha dele? - Renato não parecia acreditar. Sua testa estava franzida, e  ele apontava para Gabriel como se fosse um animal.

  - Sim. - falei. - Não sei como você nunca suspeitou.

  - Melissa, depois de tudo o que eu te falei... Você voltou com ele? Depois de tudo? - ele perguntou, se referindo ao passado.

  Eu ia responder, mas Gabriel entrou na minha frente.

  - Sim, nós voltamos. Não foi aquele seu planinho de merda que nos separou. E, adivinha só, temos uma filha, coisa que eu acho que você nem chegou perto de aprender como se faz. Pelo menos não com Melissa.

Ele disse convicto. Como ele sabia que Renato e eu ainda não havíamos ido para a cama? Me julguem, mas eu nunca, em momento algum, me senti pronta para ele. Não como me senti para Gabriel.

  - Está dando detalhes da nossa vida para ele, Melissa? Esse criminoso? - cruzou os braços.

  - Não, ela não precisou me contar para eu saber que você brocha. Minha irmã fazia piada com isso o tempo todo. Antes de você acabar com a vida dela. - agora havia ódio em sua voz.

  - Quer dizer que o irmãozinho perfeito não fica em casa, a irmã morre e a culpa é minha? - Renato fingiu uma risada - Presta atenção, garoto. Mirella morreu por sua culpa.

Mal tive tempo de processar as palavras, e vi o rosto de Renato sendo atingido em cheio.

Gabriel ainda sabia bater. E muito bem.

Por puro reflexo, soltei um grito e cobri a boca com as mãos, mas sabia que Renato havia merecido. O que ele disse havia sido cruel. E mentira.

"Eles não ligam para os sentimentos um do outro. Usam o que tiverem na mão para atacar" - Carol havia me dito uma vez em relação aos dois.

Renato cambaleou para trás, mas se recompôs e passou a mão no nariz, que sangrava.

  - Está a fim de ir para a cadeia de novo? - ele perguntou a Gabriel e meu coração gelou.

  - Posso até ir, se antes eu bater bastante em você.

Não aguentando mais ficar quieta, perguntei.

  - Você não vai denunciar ele, vai, Renato? - estreitei os olhos.

  - E por que não? O cara invade sua casa, querendo falar com minha filha sem a minha permissão, praticamente me acusa de assassinato, me bate, e você quer que eu fique quieto?

  Meu sangue ferveu.

  - Primeiro, ele não invadiu essa casa, e mesmo que tivesse, a casa é minha, não sua. Segundo, Bella não é sua filha, é filha dele, e não precisa da sua permissão para conversar com ele. Precisa da minha. Terceiro, ele não te acusou de assassinato porcaria nenhuma, e quarto, você mereceu apanhar depois do que disse.

Eu vomitei as palavras de uma vez, e pude sentir que a velha Melissa, aquela quase rebelde e que falava o que pensava, estava de volta.

  - Então é isso? É assim?

Eu não respondi, e Gabriel colocou a mão em minha cintura.

  - Acho que já deu por hoje, Renato. - ele disse. - Tchau.

  - Ainda vamos conversar, Bella. - ele disse, tirando o restante de sangue do rosto - Sem ele perto.

Não respondi e ele se foi.

Precisei de um momento para processar o que havia acontecido, mas Bella apareceu na porta, olhando estranho para Gabriel.

Só então eu percebi que ela havia visto o soco. E a discussão.

  - Bella... - comecei, mas não tinha o que falar, então deixei a frase em aberto.

Até que ela olhou para Gabriel, e disse:

  - Papai?