História "Os opostos se atraem?" - Livro 2 - Grandfather

"Yeah, I guess I'm black, but don't be glad. Remember how it used to be bad. Don't wanna go back to that" - Rodrigo Pantoja

(Sim, acho que sou das trevas, mas não fique feliz. Me lembro de como costumava ser ruim, não quero voltar para aquilo)

  - O que fez com seu caderno preto? - meu pai perguntou.

  - Fiz o que pediu que eu fizesse. - respondi.

  - É um diário?

  - Não, é onde desenho e escrevo minhas músicas. Espera aí. - falei e subi até meu quarto.

O caderno estava aberto em cima da cama, desde quando soube da doença de Bella, voltei a escrever músicas. Algumas estavam na minha cabeça há muito tempo, mas só consegui colocá-las no papel dias atrás.

Desci com ele nas mãos e entreguei ao meu pai. Só então percebi como o tempo havia passado. As páginas estavam um pouco mais escuras, os cantos estavam meio estragados e ainda havia uns resquícios de corretivo causados por desenhos que fiz na capa. Preciso me lembrar de tirá-los de lá. Agora são só partes de figuras que não formam uma imagem definida.

Meu pai o abriu, deu uma olhada nas folhas antigas, mas se concentrou nas recentes. Acho que ele se importa mais com o que eu penso agora do que com o que eu pensava antes. Não importa mais, o passado é passado.

Ele abriu em uma música que escrevi um pouco antes de pedir Melissa em casamento. Eu pensei por horas, pois não sabia se conseguiria ser o suficiente para ela.

Por quanto tempo ainda vou acordar?
O monstro no espelho sempre a me atormentar.
Rindo de mim, alguém que não posso perdoar.
Querendo fugir, mas ele a me encontrar.
Um dia ou outro, ele irá me matar.
Eu já aceitei, não irei mais lamentar.
Venha, meu amor
Os deixei para trás, eu tirarei sua dor
E aqui eu ficarei, lhe causarei horror?
Noites em claro você chorou
Ao frio em teu peito um dia jurou.
O grito de socorro irás escutar,
pois antes  ninguém o escutou.
Pôr um fim às mágoas do coração dos perturbados.
Antes lágrimas, agora um sorriso falso.
Ria do meu reflexo, da nossa desgraça
Agora abandone-os até que seu sacrifício se desfaça.
Ri, mas ri chorando.
Intangível, eu mesmo estava me dominando
Ri, e gritando tentei salvá-los.
Mas, me perdi gritando.

As palavras acabaram tomando um rumo um pouco diferente do que eu realmente queria, mas fluíram fácil. Era o que eu sentia na hora, o que veio na cabeça. E achei que não ficou tão ruim assim.

Ele virou a página e caiu em um pequeno poema:
 

Yeah, my eyes are kinda dark
But it's ok.
Every good guy
Has a bad part.

(Sim, meus olhos são meio escuros, mas tudo bem. Todo bom garoto tem seu lado ruim)

Meu pai sorriu.

  - Você se tornou um completo artista - ele disse, folheando o caderno e parou na parte dos desenhos que fiz de Melissa, mas admirou um em especial.

(LINK 1)

 - Essa é Melissa? - ele perguntou.

  - Sim - cocei a nuca, com vergonha - Ela tinha quase 17 anos. E... mais para frente tem um desenho dela com a idade que tem hoje.

Ele passou algumas páginas e parou em outro.

(LINK 2)

- Foi uma vez em que fomos num restaurante - falei.

Ele não disse nada por um tempo.

  - Você ama essa garota.

  - Sim - confirmei sem pensar.

  - Pretende ficar com ela para o resto da vida? - ergueu uma sobrancelha.

  - Sim. Se ela me aguentar. - ri.

  - Ela me pareceu ser bem corajosa - ele entrou na brincadeira e riu.

  - Acho melhor eu ligar para ela... - peguei meu telefone e disquei o número de Melissa.

~Melissa.

  - Alô?

  - Melissa, sou eu... Você pode vir para casa? Traga Bella também.

  - Me diz que deu tudo certo... 

Fiquei o tempo todo torcendo para que não tenha acontecido nada demais entre os dois, sem brigas, nem discussões, nem...

  - Sim, está tudo bem. Sério. Venha para cá.

  - Tudo bem, já estou indo.

  - Ok, tchau, te amo.

  - Te amo.

Desliguei o telefone e guardei o aparelho no bolso.

  - O que foi, mãe? -  Bella perguntou. Àquela altura, seu sorvete já havia virado sopa.

  - Bella, está na hora de conhecer seu avô.

  - Aquele cara que estava aqui?

  - Sim - me levantei - Anda, vamos.

  - Tá, tá. - rolou os olhos e entrou no carro.

Ao chegarmos lá, Gabriel não demorou nem 30 segundos para abrir a porta para nós.

  - A casa ainda está inteira? - perguntei brincando.

  - Sim, eu te disse. Não brigamos. - ele respondeu e eu olhei em seus olhos.

  - Gabriel, você chorou?

  - Não. - olhou para o lado.

  - Chorou sim.

  - Podemos, por favor, não tocar nesse assunto?

  - Sim, sim. Tudo bem. - eu sabia que ele odiava chorar. 

Será que seu pai sabia disso? De repente, me peguei pensando em todas as coisas que eu sabia sobre Gabriel que talvez nem seu pai, Rodrigo, tinha conhecimento.

Como por exemplo quando ele tem pesadelos à noite se comer muito tarde, como seus pesadelos são relacionados à Melissa, como ele gosta de ficar jogando video game a xinga a TV quando perde, como tem a mania de pegar um copo diferente a cada vez que toma água. São pequenas coisas. Mas mesmo assim, ainda fazem parte de Gabriel.

Até onde Rodrigo sabia sobre o filho, tendo ficado 12 anos longe dele?

  - Olá - Rodrigo disse assim que me viu. - Acho que nosso último encontro não foi muito legal. Olá, princesinha.

  - Diga oi, Bella - falei.

  - Oi.

  - Meu nome é Rodrigo, sou o pai do Gabriel, tenho 54 anos, trabalho com contabilidade, prazer.

Agora estava explicado a facilidade que Gabriel tinha com exatas.

  - Prazer. Sou Melissa, noiva de Gabriel. Essa é nossa filha, Bella.

Quando eu disse "noiva" seus olhos se iluminaram.

  - Hoje é meu dia de sorte, reencontrei meu garoto e já conheci a família toda dele. - sorriu. Pelo tom de sua voz, percebi que ele estava mesmo emocionado.

Gabriel também notou.

  - Falta conhecer a tia Bruh! E Nathan, e Bia, e Isaac, e Giovanna e Gabi, e tio Lucas, tio Erick, tio Palmito e tia Alice! - falou Bella.

  - Quem são todos esses?

  - Nossos amigos - respondi - E as amigas da Bella.

  - Eles tem que conhecer meu avô! - ela disse feliz. Para quem estava de cara fechada no começo, até que se animou.

Rodrigo estava sorrindo.

  - Sim, Bella. Mas não acha que seu avô já conheceu gente demais por hoje? E já está de noite, hoje é domingo, todos nós trabalhamos amanhã - falou Gabriel ao se ajoelhar para ficar do tamanho dela.

  - Então, quando eles vão conhecer? - ela perguntou.

  - Sexta, pode ser? Só para todo mundo ter um tempinho para entender as coisas direito.

  - Ok, pai. - ela disse com uma vozinha triste - Promete?

  - Prometo. Sexta-feira ele vai conhecer todo mundo - eu respondi.

  - Tá bom. Posso fazer mais uma pergunta?

  - Claro, bella.

  - Onde está a vovó?