- Você perguntou se eu quero? - perguntei, me fingindo de séria.
- Você quer. - ele acelerou.
- Ah, é? Ok. - encondi um sorriso e virei para o outro lado.
- Tem certeza de que quer que eu desvie a atenção da rua para perguntar se você quer sair com seu noivo?
- Você não vai bater o carro.
- Bom... - ele olhou para mim, desviando completamente aos olhos da rua - Eu estava pensando, Melissa, se... você não quer...
Meus olhos se arregalaram.
-Gabriel, O CARRO!!!
Ele virou a direção rapidamente, depois começou a rir.
- Eu retiro o que disse sobre você não bater o carro. Você é louco, vai sim. E para de rir.
- Você se assustou.
- Ah, sério? Palhaço.
- Palhaça.
- Nem começa, hein.
- Vai sair comigo agora?
Rolei os olhos.
- Vou,vou. Só que à noite nós vamos fazer o que eu quiser. - falei.
- Só se o que você quiser for o mesmo que eu quero.
-Veremos - dei de ombros.
- Se tiver algo a ver com pôneis coloridos, eu to completamente fora.
- E se eu te chantagear?
- Nem assim.
- Certeza? - o olhei.
- Tá, tudo bem. Eu brinco de pôneis coloridos.
Soltei uma gargalhada e ele me olhou enquanto eu ainda ria.
Ele parou do lado de fora de casa e nós descemos.
Fui tomar banho no banheiro do meu quarto e Gabriel disse que iria no do corredor, mas quando eu estava me secando, ele apareceu do meu lado, entrou no box e me puxou consigo.
- Eu estava seca -falei quando ele se aproximou e colou nossas testas.
- Eu te seco depois - sorriu e me beijou.
Suas mãos não saíram da minha barriga por um só momento.
Observei seu braço sem que ele percebesse. Vi as marcas brancas dos cortes do passado, mas foquei na tatuagem. Como seu braço estava maior do que antes, agora parecia que ela ocupava um espaço menor. Mas ainda era grande. E linda.
Ele fez o que prometeu, me secou.
Foi meio engraçado, julgando pelo fato que ele não olhou nos meus olhos enquanto fazia.
- Onde vamos? - perguntei ainda enrolada na toalha.
- Surpresa. - ele colocou a cueca.
- Ah, me diz!!
- Não.
- Mas eu sou curiosa.
- Eu sei.
- Se eu morrer de curiosidade, a culpa é sua.
- Só... coloque o vestido mais bonito que tiver. - ele sussurrou.
- Tudo bem. - abri meu armário e fiquei parada na frente dele, tentando pensar em algo.
Gabriel se sentou na cama.
- Tá achando que vai ficar aqui enquanto eu me arrumo? - perguntei.
Ele assentiu.
-Mas não vai mesmo, xô!
- Por que?
- Castigo por não me contar. Vaza.
Ele riu.
- Eu vou pra casa.
-Oi?
- A roupa que vou usar está lá. Me esqueci disso. Volto às 21:00 pra te pegar. - me deu um beijo rápido - Tchau.
- Tchau.
Ele saiu e eu sorri.
Eatava um pouco nervosa, admito. Nem quando namorávamos, não saímos para jantar. Não deu tempo, lembrei a mim mesma.
Mais uma prova de que Gabriel mudou.
Suspirei, disposta a esquecer de tudo o que já havia acontecido no passado, e passei meu creme hidratante pelo corpo, me concentrando mais na barriga.
-Vocês dois tratem de serem bonzinhos com o papai. - falei - Nada de travessuras. Vai ser a primeira vez que ele acompanha um nascimento e eu acho que ele já está apavorado o suficiente por serem dois, ouviram?
Como imaginei, sem resposta.
Sorri.
Enrolei os cabelos na toalha, escolhi o vestido depois de fazer uma montanha de roupas na cama, coloquei roupão, fiz minha maquiagem (nada muito exagerado), passei um batom mate, sequei os cabelos e arrisquei fazer um pouco de babyliss nas pontas depois de passar um creme para pentear. Coloquei o vestido vermelho, o sapato, perfume, e me olhei no espelho.
Uau.
Minha barriguinha de quase 3 meses aparecia um pouco sob o vestido. Não era algo escandoloso, mas qualquer um que me visse, saberia que eu estava grávida. Em uma gravidez de apenas um bebê, não seria tão visível, mas eu não esperaria menos por serem dois.
Às 20:59, eu ouvi a buzina.
Abri a porta e o portão e o fechei atrás de mim enquanto Gabriel saía do carro, usando um terno preto com uma gravata cinza e sapatos sociais.
- Uau - ele disse ao me olhar.
Seu cabelo estava meio molhado, mas, como imaginei, não estava penteado. Estava um pouco bagunçado. Como sempre. Ele havia tirado a barba rala, percebi, e agora estava exatamente igual a como era com 17 anos.
Ele estava maravilhoso.
Ele pegou minha mão, e eu vi o anel de noivado que ele usava. Ele nunca o tirou do dedo desde que noivamos, mas, só percebi agora, depois que a poeira abaixou.
Eu também usava o meu e tenho certeza de que ele o viu quando se curvou para beijar minha mão enquanto olhava nos meus olhos. Depois beijou minha barriga.
- Quanto cavalheirismo. - falei.
- Não estraga o clima. - ele se levantou.
- Que clima?
- Cala a boca. - colocou a mão em minhas costas e colou nossos corpos com um sorriso no rosto - Você está linda.
- Obrigada.
Ele abriu a porta do carro para mim e eu entrei. O lugar estava enfestado com seu perfume Dolce&Gabana.
Ele entrou e deu partida.
E de novo dirigia da mesma forma que sempre fez comigo. Uma mão no volante e outra na minha perna.
Fomos até um restaurante bem conhecido na cidade. Era um lugar bem calmo e bonito, as paredes claras, uma música suave ao fundo. Havia aberto fazia pouco tempo e eu só havia vindo em um desses nas vezes que fui com meu pai para o Guarujá.
Era aquele tipo de restaurante que você colocava o guardanapo de pano no colo e havia uma entrada, o prato principal, a sobremesa e um café ou chá para quem quisesse.
Eu não sabia se eu conseguiria me comportar em um lugar como esse.
Pedimos um creme de cebola para a entrada. Estava meio frio, e pedir um prato frio estava fora de cogitação.
Conversamos sobre tudo. Sobre a escola, sobre Bella, até sobre Ella.
Sem eu dizer nada, ele me confessou que dormiu na casa de Ella semana passada, e eu não fiquei brava. Como eu já sabia, ele me assegurou que não aconteceu nada entre eles. Disse que Ella, assim como ele, havia mudado demais. Mas ela demorou bem menos tempo do que ele.
Ele disse que ela tomou juízo. Que percebeu que filho é para sempre e se sentia horrível em ter abandonado o menino ainda bebê. Ele disse que eles conversaram muito durante a noite, e ele acabou adormecendo.
Não o culpo. Ella passou pela mesma situação que ele passou: ter contato com o filho apenas 10 anos depois.
Um sentimento me invadiu, e então eu percebi que não sentia mais raiva dela. Ela conseguiu acalmar Gabriel com uma conversa. Algo aue talvez, eu não poderia fazer.
Agora, eu sabia que eles sempre estariam ligados, pois além de terem tido um namoro no passado, a mesma situação dos filhos assombra os dois. Foi bom Gabriel conversar com alguém que o entenda, que saiba exatamente o que ele está passando. Foi bom, mesmo que tenha sido com ela.
Depois do restaurante, fomos para casa. Ele disse que havia trazido uma malinha com roupas, já que passava mais tempo na minha casa do que na própria.
Acabamos na cama.
Ele quase rasgou meu vestido, tentando tirá-lo com sua delicadeza. Confesso que foi engraçado vê-lo meio desesperado por medo de ter estragado a peça.
"Eu nunca me perdoaria por estragar a roupa que te deixa a pessoa mais sexy que já vi" - ele havia dito segundos antes de me encher de beijos. "Não que você não seja"
Ele me tocou devagar. Mesmo não tendo problema sexo na gravidez, não poderíamos arriscar demais, por ser gêmeos.
Não deixou de ser bom, Deus, não tinha como deixar de ser. Não com ele.
Acabamos demorando mais do que o normal.
Às 3 da manhã, percebi que Gabriel havia dormido. Eu me levantei da cama, coloquei meu penhoar e fui para a cozinha. Fiz um chá e me sentei na mesa para pensar um pouco.
Com Bella acordando, Gabriel se abriu mais. Sorriu mais. Mesmo com saudade do pai, que morreu, parece que ele deixou um pouco essa história de lado e se revigorou.
Mas, me lembrei, vários fatores contribuíram para que ele saísse da concha.
Entre eles, a conversa com Ella.
Foi então que eu percebi que não sentia mais raiva dela. Na verdade, estava feliz por ela existir.
E eu acho que eu devia dizer isso a ela.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.