- Olá, Gabriel. - a voz de Renato estava normal. Não havia nenhum indício de que ele não havia gostado de receber a ligação.
Fiz um sinal para Gabriel que iria sair dali, para dar mais privacidade a ele, mas ele pegou minha mão, me impedindo de ir.
- Tudo certo?
- Tudo sim. E aí? - Renato perguntou.
- Tudo. É... - ele me olhou e respirou fundo - Bella saiu do hospital.
- Cara, que notícia boa! - Renato se animou - Como ela está?
- Já quer receber todo mundo em casa. - Gabriel soltou uma risada - Então, eu e Melissa estamos ligando para convidar o pessoal para vir aqui hoje. Então, se quiser vir, está convidado.
- Sério? Mesmo depois de...
- Não - Gabriel disse, para a minha surpresa - Você já veio se desculpar, já conversamos, lembra?
- Então, está tudo certo? Entre nós?
- Claro, cara. Aparece aqui na casa da Melissa lá pelas 20:00. Vai ser aqui.
- Pode deixar, eu vou sim. Obrigado por chamar. Mande um abraço para Melissa, ok?
- Está mandado - ele me olhou e eu sorri. - Até mais, cara.
- Até.
Ele desligou o telefone e me puxou para perto.
- Você foi bem. - falei. - Estou orgulhosa.
Ele riu.
- Parece que tenho 10 anos de novo. - ele disse.
- Sua mentalidade de lá pra cá não mudou muito, não.
- E a sua mudou?
- Mudou, sim. - cruzei os braços.
Ele não disse nada. Estávamos em silêncio. Mas, não um silêncio desconfortável. Um silêncio aconchegante.
Olhei para minha aliança de noivado, e minha ficha de que eu e Gabriel morávamos em casas diferentes caiu.
Nós vamos nos casar. Como vamos continuar com duas casas?
De repente, uma ideia me atingiu.
- Quer vir morar comigo? - perguntei, assim, de repente.
Ele me olhou, como se não tivesse entendido a pergunta. Eu não disse nada. Será que era muito cedo?
Não, Melissa. Claro que não era cedo, sua maluca. Já estamos praticamente casados.
- Tá falando sério?
- Não, eu to brincando. Idiota.
Ele riu, percebi que ele fazia isso com muito mais frequência agora.
- Ah, sim. Que pena. Se fosse verdade, eu aceitaria. - ele falou.
Eu rolei os olhos.
- É de verdade.
Ele me olhou bem nos olhos. Acho que, mesmo com a brincadeira, ele não esperava pelo convite tão cedo.
- Eu quero. - ele disse e me abraçou. - Mas, que tal irmos morar na minha casa?
- Por quê? - perguntei.
- Porque lá foi o lugar que marcou nossas vidas, não foi? Quando você ia dormir lá, quando te desenhei, e várias outras coisas que aconteceram conosco, foi lá. Não queria simplesmente deixá-la trancada de novo por mais um tempo. Queria que ela fosse utilizada. - ele deu de ombros - E tem pessoas melhores para usá-la do que nós?
Não, não tinha. E eu sabia disso. Nós não podíamos fechar aquela casa de novo, ou vendê-la.
Sorri ao me lembrar da primeira vez que dormi lá. Gabriel penteou meus cabelos, se deitou comigo na cama. Me protegeu. Eu já superei o que aconteceu naquela noite. Fiz isso por Bella. Eu não podia mais ficar com medo toda hora.
Coloquei meus braços ao redor de seu pescoço e ele colocou as mãos em minha cintura. Seus lábios se curvaram num sorriso torto, enquanto ele me olhava de um jeito malandro.
- O que foi? - perguntei.
- Nada.
- Quem nada é o Nemo. Fala.
Ele riu.
- É que você é linda. Demais.
Rolei os olhos.
Coitado, acho que ele não sabe que ele é um Deus grego na Terra.
Franzi a testa e observei seu rosto. Ele havia tirado a barba rala, deixando seu maxilar limpo, como era quando éramos mais novos.
Seu maxilar definido e seus olhos em mim finalmente me mostraram que eu estava no lugar certo da minha vida. Eu queria ficar com ele. O queria para sempre junto comigo e ninguém o tiraria de mim, nem que eu precisasse morrer para isso.
- Hello, I've waited here for you.... everlong. - ele começou cantarolar.
Everlong era nossa música. Foi ela que ele tocou quando me fez uma surpresa anos atrás.
- Tonight, I through myself into... Out of her head, out of her red, she sang... - continuei.
Ele levantou os olhos e me olhou.
- Eu amo você, sabe disso, né? - falei.
- Eu te amo, porra. - ele disse.
Gabriel foi se aproximando devagar. Colocou a mão em minha nuca, a outra em minha cintura. Ele colou nossas testas e disse baixinho:
- Obrigado por ser minha heroína.
Então, o beijei.
Ele intensificou o beijo que conheço tanto, e apertou minha cintura. Mãos bobas começariam, mas paramos rapidamente quando ouvimos a voz de Bella.
- Mãe, as meninas vêm. - ela falou, descendo as escadas devagar. - E o restante do pessoal também.
- Tudo bem. - passei a mão em seus cabelos úmidos. Ela havia acabado de sair do banho.
- Você e a mamãe vão se mudar. - Gabriel disse, sério.
Bella o olhou assustada.
- O que?
- Para a minha casa. - ele esclareceu, sorrindo.
Por dois segundos, Bella não mudou a expressão. Continuou assustada, mas logo depois, abriu um sorriso enorme.
- É sério, mãe?
- Sim, oras - ri.
- Ai, meu Deus! - ela gritou - Vamos morar naquela casa enorme!
- Bella, aquela casa é quase do tamanho dessa - Gabriel riu.
- Sim, mas... - ela riu sozinha - Meu Deus... É perfeita! - e abraçou Gabriel e eu.
- Já está pronta? -perguntei. - Logo o pessoal chega.
Ela assentiu.
Gabriel foi se arrumar, eu também e logo o pessoal chegou. Bella teve que contar a história toda umas 5 vezes, sempre que ela estava quase acabando, alguém chegava, e ela contava de novo.
Brunna estava muito desesperada e teve que se controlar para não rasgar Bella ao meio quando a abraçou forte.
Depois, Brunna veio me abraçar .
- Que bom que deu tudo certo, Mel. Eu estava morrendo de preocupação... você não atendia esse telefone, eu vim aqui milhões de vezes e você nunca estava! - ela estava realmente desesperada.
Estava quase chorando, o que não acontecia com frequência.
- Ela está bem agora, Bruh. - peguei sua mão
-Se não estivesse, eu mataria você... mas... e Gabriel? Rodrigo era uma pessoa tão...
- Gentil, educado, preocupado com Gabriel por esses tempos... eu te entendo. Sinto falta dele. Gabriel, com certeza sente. Mas... o que eu posso fazer? Ou era ele, ou Bella. E em seguida ele. Gabriel preferiu perder um só do que os dois.
- E ele fez certo.
Assentiu.
Meus pais chegaram, conversaram a sós com Gabriel por um momento. Não sei o que disseram, mas Gabriel afirmou com a cabeça dezenas de vezes.
Dei espaço a eles. Não achei necessário me intrometer.
Renato foi, conversou com todos, inclusive com Bella, que teve a raiva dele diminuída.
Todos conversaram com todos, até Bia veio junto com Isaac, a cópia fiel de Tyles Hoechelin.
Eu estava certa de que, agora, sem muitas preocupações, o tempo iria passar devagar, mas eu me enganei.
Com Bella em casa, começamos a mudança para a casa de Gabriel. Decidimos deixar a casa fechada enquanto ficávamos lá. Bella e eu amávamos aquela casa, não conseguiríamos vendê-la.
Eu havia marcado um ultrassom para setembro, quando eu estivesse com 5 meses. Finalmente iríamos descobrir os sexos dos bebês.
- Bella, você quer ir junto? - perguntei.
A cirurgia dela havia sido há dois meses.
- Não, eu quero saber quando vocês chegarem. Não quero saber pela médica. - disse sem tirar os olhos do tablet.
- Tudo bem. Gabriel? - chamei.
- Estou descendo! - ele desceu as escadas arrumando a camiseta branca, que usava com um jeans e um tênis igualmente branco.
- Estou pronto. Bella você vem? Melissa, pegou as coisas? Está tudo certo? - ele perguntou meio rápido demais.
- Tem alguém ansioso aqui - eu sorri.
- Eu não... -ele ficou vermelho, provavelmente de vergonha.
-Anda, vamos.
Eu acabei rindo o caminho todo. Gabriel não parava de falar um só segundo, sinal de que estava ansioso. E não era pouco.
- Está rindo de que?
- De você mesmo. - respondi e saí do carro quando ele estacionou.
Ingrid nos recebeu de braços abertos, como sempre.
Gabriel pegou minha mão, e eu quase me assustei. A sua estava como um cubo de gelo em minha pele, causando um rastro de arrepio por onde tocou.
Me deitei na maca estofada, levantei a blusa e, depois de passar aquela espécie de gel, Ingrid colocou a máquina no meio da minha barriga. Gabriel ficou ao meu lado.
Pensei que ele seguraria minha mão, mas ele não o fez.
- Ora, ora! Que beleza, eles estão indo muito bem! - ela disse - Vou ligar o som, e então, vocês poderão ouvir os corações.
Ela ligou, e entao um "Tum tum" bem fraco foi ouvido. Um não, dois.
- São meninos ou meninas? - perguntei.
- São gêmeos univitelinos... você teve uma genética bem forte, Melissa. Estão na mesma placenta. Serão idênticos -ela riu. - Mas quanto ao sexo...
Ela mexeu um pouco mais o aparelho em minha barriga.
- Ohhh, achei um. - apontou para a tela - Vamos ver o outro... aqui!
Meu coração batia forte, ela não vai dizer nunca o que são?
- Achei. - ela disse.
E então, Gabriel pegou minha mão.
- São dois meninos.
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