História "Os opostos se atraem?" - Livro 2 - The beginning

~Gabriel~

Tudo aconteceu rápido demais. Eu só me lembro de flashes daquela noite. Não me lembro de todos os padrinhos entrando, não me lembro de olhar no relógio, não me lembro que horas eram, mas, possivelmente já havia passado das 20:30, que era a hora que estava marcado.

O smoking que eu vestia era confortável, mas de repente se tornou um incômodo. Eu olhava para todas as pessoas daquele lugar. Todas elas, sem exceção. Uma olhavam esperançosas para outras, outras olhavam para trás repetidas vezes, outras arrumavam o cabelo, tiravam fotos e a única coisa que me tranquilizava era ver tantos rostos amigos ali.

Ela está atrasada, pensei. Já deviam ser quase 21:00, e onde ela estava?

Olhei para os avós de Melissa. Nunca os havia visto na vida, pois nenhum deles são dessa cidade, então, os conheci semana passada. Wilma, sua avó materna, sergurava Thiago no colo, ao lado de seu marido. E dona Ivonete segurava Bruno, ao lado de seu marido.

Olhei para trás. Vi Carol, Laura e Ju com seus respectivos namorados/maridos no altar. Juntamente com Nathan, de casamento marcado com Brunna, que estava grávida de 6 meses de uma menina que se chamaria Bárbara; Bia e Isaac.

Não chamamos tantos padrinhos assim, só os mais próximos.

De volta com o olhar na multidão, vi Ella sentada em um banco, vi Miguel e Victor, vi a amiga e também médica, Cristina, vi a doutora Ingrid, vi a mãe de Melissa preparadíssima para tirar quantas fotos fossem necessárias, apesar de ter um fotógrafo para isso.

Vi rostos amigos. Familiares.

Sabia que, de alguma forma, Mirella, minha mãe e meu pai estavam ali comigo, bem do meu lado. Eu sentia a presença deles. Esse é um dia especial, eles não poderiam faltar.

  - Estou com saudades... - falei baixo, me dirigindo à minha família.

Uma lágrima quis escorrer, mas eu não podia chorar agora. Ela estava prestes a chegar.

Ela.

A garota que brigou comigo desde o dia em que me conheceu, que era uma patricinha mimada e curiosa, com um ótimo gosto musical, uma inteligência abundante e uma beleza extraordinária que a deixava anos mais jovem. A garota que me tirava do sério, que me provocava, me batia, me xingava e falava as verdades na minha cara. A garota frágil por fora, mas forte demais por dentro. A garota que sabe o que faz, mesmo sendo improvisado, a garota que me fazia querer explodir de raiva e enforcá-la em um abraço no segundo seguinte. A garota que me fazia mudar de humor da água para o vinho. A garota que chegou na minha vida de repente, que me ensinou o lado bom dela, que me entendeu e me apoiou, que gostou de mim e me aceitou como sou.

A garota que amo.

Saí dos meus devaneios do mesmo jeito que entrei, de repente.

"Love someone", começou a tocar. Juntei as mãos na frente do corpo, respirei fundo e olhei para a porta.

A igreja toda fez o mesmo.

As portas se abriram e Bella entrou, então, elas se fecharam novamente.

Bella, a daminha de honra, entrou primeiro,  de vestido branco, cabelo preso em um coque, segurado uma almofada que continha as alianças.  Ela andava devagar e atraía olhares por onde passava.

Depois de uns 30 passos lentos, a música mudou. Agora era "Perfect", do Ed Sheeran, e novamente a igreja toda virou para trás.

As portas se abriram.

E então, ela entrou.

~Melissa~

Um passo de cada vez, um passo de cada vez. Sorria. Sorria. Cabeça para cima!

As portas se abriram e me vi diante daquele corredor com um tapete vermelho.

O que eu faria agora? Ah, sim. Eu entro.

Meu pai estava do meu lado. Eu segurava em seu braço com uma mão e levava o buquê de rosas vermelhas na outra.

Fomos andando devagar. Pude olhar cada rosto presente ali. Todos amigos ou familiares distantes. Mas estavam ali, isso era o que importava.

Sonhei tanto com isso, que agora, nesse momento, não consigo acreditar que está acontecendo. Amanhã, vou estar casada com Gabriel e com uma família formada.

Era surreal demais.

Ao mesmo tempo que eu pensava que havia acontecido de uma vez e muito rápido, também penso que demorou muito. Ficamos uma década separados, e ela não contava.

Vi minha mãe disputando com o fotógrafo quem batia mais fotos e de que ângulo ficava melhor, mas quando vi Gabriel e grudei meus olhos nele, eu abri um sorriso tão grande, que tinha certeza de que qualquer foto tirada de qualquer ângulo daquela igreja havia ficado linda se registrou aquele momento.

Minha vontade era de rir e de chorar. De gritar, sair correndo dali, e correr para os braços de Gabriel. Ficar e sair, sorrir e gritar, me segurar ou cair.

Meu estômago estava inquieto. Hoje é sábado e eu não como direito desde quinta. Talvez seja por isso que o vestido ficou um dedo mais largo.

Gabriel me olhou nos olhos. Havia algo errado com seu rosto. Mistura de emoções, deduzi, igual a mim. Ele estava inquieto, sorrindo, e depois me encarava de cima a baixo com uma expressão séria no rosto.

Por fim, o vi baixando a cabeça e colocando a mão esquerda nos olhos.

Ele estava chorando.

Gabriel, que odiava chorar na frente e uma pessoa que fosse, estava ali, chorando na frente de quase 400.

Soltei uma risada abafada ao ver isso. Era triste e engraçado ao mesmo tempo.

Dei uma olhada no pessoal do altar. Todos os nossos amigos estavam ali, e, puxa! como a barriga de Brunna estava grande! Ju, Carol e Laura estavam lindas. Bia entao, nem se fala. Ela e Isaac eram lindos juntos.

Vi Ella, Victor e Miguel juntos. Será que eles finalmente se acertaram?

Sorri ao imaginar que sim.

Em uma eternidade de um piscar de olhos, cheguei até Gabriel. Meu pai entregou minha mão para Gabriel, e saiu depois de beijar minha testa.

Gabriel beijou minha mão, e me acompanhou pelos poucos passos que precisávamos dar juntos para chegar até o padre. Bella já estava ali, pronta para entregar as alianças a nós.

A missa se seguiu, e a parte mais emocionante chegou.

  - Eu, Gabriel, te recebo, Melissa,  como minha esposa, e te prometo ser fiel, amar e respeitar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, por todos os dias da nossa vida, até que a morte nos separe.

Ele disse isso e colocou a aliança em meu dedo. Suas mãos tremiam, mas as minhas tremiam mais. Uma lágrima escorreu dos meus olhos, e eu tive medo de deixá-la sair. Não sabia se poderia controlar as outras.

E depois, foi minha vez.

  - Eu, Melissa, te recebo, Gabriel, como meu esposo, e te prometo ser fiel, amar e respeitar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, por todos os dias da nossa vida, até que a morte nos separe.



  - Eu vos declaro marido e mulher - disse o padre. - Pode beijar a noiva.

O primeiro beijo como casados.

Saímos de lá no meio dos aplausos de todos os que fizeram parte da nossa história.  De todos os que nos ajudaram, e estavam lá como apoio o tempo todo.

Fechei os olhos por um momento. Aquela vontade toda de chorar havia passado. O que eu mais queria era rir, rir sem parar e sem motivo. Eu estava com tanto medo de dar algo errado na igreja, e fico feliz que tudo tenha acabado bem.

Bem melhor do que eu imaginava, pensei. Nunca fui muito otimista, principalmente depois que conheci Gabriel, já que acontecimentos ruins nos rodeavam, mas agora, sempreque algo me chatear, vou me lembrar dessa noite. A noite em que me casei com o cara que amo. A noite em que tudo, de algum jeito, começou a fazer sentido.

A noite mais feliz da minha vida.

Abri os olhos e sorri. Sim, a cerimônia acabou. Mas minha vida ao lado de Gabriel ainda está só começando.

  - Eu te amo, porra - ele disse.

  - Eu te amo, porra.