"We're never coming back down/ We're looking down on the clouds "
Andamos mais ou menos umas meia-hora. Pelo visto, o lugar que ele queria me levar era fora da cidade, perto de onde ficam as chácaras e sítios do povo da escola.
Quando vi o lugar por trás das árvores, sorri. Era um rio. E eu o conhecia. Era o mais limpo da região. Águas cristalinas e quase potáveis. Gabriel parou a moto e nós descemos. Deixamos os capacetes no banco e a primeira coisa que ele fez foi tirar a camisa.
Ai. Meu. Deus.
Por que eu sempre fico sem ar quando ele faz isso? Por que não posso simplesmente me acostumar que seu corpo é escultural?
- Quer um balde? - ele perguntou enquanto me olhava e caía na risada.
- Oi?
- Está babando demais. Não se preocupe, isso aqui é todo seu.
O sol refletia seus olhos. E junto co o reflexo da água os tornava mais azuis. Seu sorriso era refletido nos mesmos.
- Muito engraçado. - falei.
Ele começou a desabotoar a calça, e meu olhar não era um dos mais discretos para ele.
- O que está fazendo? - perguntei.
- Tirando a roupa?
- Para oque exatamente?
- Nadar? - ele jogou a calça junto com a blusa encima do banco.
- Vai nadar pelado? - minha cara de espanto devia ser bem visível.
- É uma proposta tentadora. - ele sorriu mostrando as covinhas - Mas, não. Vou de sunga mesmo.
- Ah... - falei e me sentei na beirada do rio, molhando os pés.
- O que você está fazendo?
- Sentada? - o olhei.
- Tá doida? Vem nadar comigo!
- O quê? Eu nem trouxe nada!
- Não sabia que você era a única mulher no mundo que sai de casa sem calcinha e sutiã. - ele riu.
- E depois vai molhar minha roupa. Gênio.
- Tá, deixa eu pensar... - ele colocou a mão no queixo e eu comecei a rir. - O que foi?
- Não dá para te levar a sério em pé na minha frente de cueca com cara de filósofo.
- Pelo menos, sou um filósofo gato.
Rolei os olhos.
- Já pensou?
- Na verdade, já. Tá vendo aquela mochila ali? - apontou para o guidom da moto, onde pendia uma mochila preta com detalhes azuis. Eu assenti - Lá dentro tem mais uma camiseta minha, que eu trouxe por precaução. E se você usasse para nadar? Daí não precisa molhar sua preciosa lingerie - ele rolou os olhos ainda com o sorriso no rosto.
- Até que não é má ideia - falei.
- Desde quando tive ideias ruins?
- Acha sua modéstia porque está fazendo falta - falei me levantando.
- Perdi ela em algum lugar - ele brincou e eu rolei os olhos de novo, pegando sua camiseta do banco da moto. Estava com seu perfume.
Eu a desenrolei (já que a delicadeza de Gabriel era como a de um cavalo) e a estiquei na frente do corpo.
- Vai ficar uma camisola - ri.
- Você fica linda até vestida de saco de batata. Coloca logo.
Eu soltei uma risada e o encarei.
- O que foi? - ele quis saber.
- Vira para lá!
- Ah, como se eu nunca tivesse visto!
- Anda logo!
Ele bufou e virou de costas para mim.
- Vou te dar 10 segundos para colocar, e vou virar! - ele anunciou - 10, 9...
Eu ri e tive uma ideia. Coloquei a blusa por cima da lingerie e comecei a tirar o sutiã por baixo. Assim, eu poderia me trocar e ele não veria nada, mesmo que seu tempo tivesse acabado.
- 3, 2, 1! - e se virou.
Eu estava acabando de colocar a calcinha e o sutiã em cima da moto e me virei para ele a tempo de ver sua cara de decepção.
- Ah, como fez isso? - ele riu
Ignorei sua pergunta e passei por ele rindo.
- Ah, é assim? Okay.
Senti sua presença perigosamente perto e, quando vi, eu já estava em seu colo e ele estava pulando comigo na água.
- Filho da mãe! - eu falei assim que cheguei à superfície - Te odeio!
- Ódio e amor andam de mãos dadas - ele falou ao tirar o cabelo do rosto e o jogar para trás.
Seu corpo agora estava coberto por gotas, e a água vinha até nosso peito. Aliás, até meu peito e sua cintura. Fomos mais para o fundo e ele me pegou no colo, o que me fez ficar mais alta. Agora a água chegava perto do nosso queixo.
- Sobre aquela greve de beijo que você disse... - ele falou. Seu rosto estava próximo ao meu. Próximo demais.
- O que tem?
- Acha que aguenta? - ele arqueou uma sobrancelha. Ah... essa mania.
- O que você acha?
- Que não. - disse convicto
- Hummmm
- Consegue?
- Se você parar de me olhar assim, sim. - joguei água nele.
- Assim como? - chegou mais perto.
- Assim.
- Assim? - sussurrou. Nossos lábios estavam próximos e eu o ouvia mesmo com o barulho da água.
- Assim...
Fechei os olhos para sentir sua boca se chocando contra a minha. Minhas mãos foram para seus cabelos, e as suas me seguravam firme pela cintura, a fim de acabar com qualquer espaço que pudesse haver entre nós.
Eu e Gabriel estávamos nas nuvens. Era como se olhássemos para esse mundo, e ele não fizesse diferença, já que nós tínhamos nosso próprio mundo. Olhávamos para baixo estando nas nuvens. E nunca vamos descer.
Pelo menos, era isso que eu achava.
Por um momento, só por um momento, me esqueci dos problemas por um dia todo.
Mas, logo depois, eles começariam a me atormentar novamente. Eu só não tinha conhecimento disso.
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