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História Crônicas de Althunrain - Rei Lich - Os Ventos da Mudança


Escrita por: Tulyan

Notas do Autor


I'm back!

Capítulo 53 - Os Ventos da Mudança


Fanfic / Fanfiction Crônicas de Althunrain - Rei Lich - Os Ventos da Mudança

Acordo cedo como não faço a algum tempo, talvez conviver com a gentileza tenha de desafinado, porém, era hora... Sinto os pesos que meu mestre Aryn fez, eram tão sutis, tão familiares que só me lembro portá-los quando me sento na cama, era horrível deitar em uma, parecia que iria me afogar ali, meus braços estão um pouco doloridos, mas nada que uma boa seção de exercícios não ajude, sorrio só de pensar em como foi bom espionar alguns guardas de meus antigos mestres, bom, quando digo espionar, digo que meu mestre permitia que eu descansasse e assim ia observar os soldados. Me mantive com as calças já que roupas são muito desconfortáveis por conta do pêlo, ainda mais com o calor que sentirei em alguns momentos. Olhar a cama de meu senhor Aryn, vazia, me causa solidão, amaria poder conversar com ele de novo, sentir seu cheiro e sorrir para ele sabendo que receberei o gesto de volta, mas, ele faz algo bom, Cixoam deve estar feliz por isso, acho.

Me deixo de pé e sinto minhas patas contra o tapete macio, caminho devagar, como se um monstro dormisse logo aqui, com cuidado tiro a cadeira onde meu senhor se sentou ontem e a coloco afastada, passo as mãos sobre minha cabeça, estavam frias, afinal, o quarto é um pouco frio, e isso o torna perfeito para mim. Fico de joelhos e... rezo, peço a Avony que abençoe Aryn, que abençoe Cixoam e a moça Sina, não peço para mim, pois ela já o fez. Toco minha coleira, a prova de sua benevolência. Pouso minha testa no chão e agradeço a tudo, assim, coloco os braços para cada lado meu e começo as flexões. – Um... – me ergo no ar. – Dois...

Contar enquanto faço isso é um exercício duplo, afinal, pagaram muito caro para que eu fosse letrado, e quero usar isso a favor do meu mestre. E faço a conta até o cem, não por que não sei além, ou que tenha me exaurido, mas sim por ouvir baterem na porta, me coloco de pé e repetem o chamado, assim, me movo rápido para a maçaneta e abro-a com a suavidade esperada de um serviçal, e ali vejo a mulher ruiva que um dia atendeu meu mestre. Seu olhar para mim é o mais familiar que recebi em minha vida, baixo as relhas e os olhos enquanto dou passagem a empregada, ela traz uma bandeja que deposita no criado mudo do lado da cama de meu senhor e sai, nem mesmo olha para mim, não que isso seja inédito, porém, quando ela passa por mim e fecho a porta, respiro pesado, essa moça me assusta um pouco...

E então, com um trio de movimentos meu focinho sente algo divino, olho para a bandeja e... Quando meu auto permito abri-la, vejo uma porção de algum tipo de pão pequeno, um molho verde e expesso, com um cheiro salgado e levemente apimentado e uma faca prateada levemente mergulhada, junto a uma jarra de vidro com suco de laranja e apenas um copo, salivo somente ao ver aquilo. Eu, um escravo simples, nesse lugar lindo, cumprindo uma ordem que desejo de todo coração seguir, tendo tamanho tratamento digno de um nobre, me sinto tão abençoado, pois sou, ao menos até onde sei, o único Nanci que já pode sorrir de verdade para seu mestre.

Assim como ele disse, posso comer tal banquete sem receios, isso me sustentará no caminho que vou trilhar...

Pego um deles, ainda estavam quentes, a surpresa é incrível, nunca toquei algo tão macio, quentinho e... Saboroso... Mordo aquilo na metade, era simplesmente divino, sorri e relataria para meu senhor Aryn, mas, não ver ninguém aqui dentro deixa o sabor um pouco mais amargo. Me sirvo e vou provar esse molho estranho, o cheiro que emanava era muito bom, e o gosto, ainda melhor, para descer tudo bebo um copo cheiro de suco e como sei ler, olho para o relógio colocado em reverso a cômoda entra as camas, as setas indicam perfeitamente, me abaixo afrente da cômoda e abro a última gaveta, lá havia meias, luvas e vestimentas pessoais, noto também uma caixa colocada no fundo, nem oculta nem a mostra. Pego esse primeiro item e sigo para a primeira gaveta onde encontro blusas e vestimentas do tipo.

Visto uma camisa cavada e mais leve, era necessário evitar calor demais, não que meu pêlo seja excelente para impedir isso, e agora encaro um problema, por mais que não goste, tenho de esconder essas patas, desfilar por ai com esse tipo de gelo pode me causar algum problema, mesmo que remoto, prefiro não correr riscos, sem contar que me apresentarei melhor assim, como não encontro faixas ou coisas do tipo escolhi essas meias, mesmo que pequenas demais, me pareciam servir, porém, a locomoção de meus dedos ficam prejudicados, assim como minha sensibilidade. Com a hora chegando e sem opções, tomo uma medida grave, pego a faca que me deram, ter isso em minha posse sem supervisão é até... Estranho, juro que a qualquer momento alguém vai bater na minha mão e brigar comigo, por isso olho meu arredor a todo momento, apreensivo...

Tiro as meias e as coloco sobre a cômoda a fim de ter um plano liso, uma tesoura seria o melhor no momento, mas como não tenho, ou não a encontrei... Ou talvez... Retorno a última gaveta e a abro gentilmente, volto a fitar aquela caixa pequena e esta que retiro por curiosidade e vejo mais bênçãos, uma pequenina tesoura, agulhas, um pequeno conjunto de linhas. Sorrio para o nada e me permito fazer customizações, são necessárias para meu melhor desempenho, e está minha sincera desculpa...

Corto-a bem no rumo dos dedos, e ao vesti-la, a sinto chegar até o início das almofadas que tenho, todo o tecido de algodão chega a uns quatro centímetros depois do meu tornozelo e foram bem úteis para esconder o gelo cristalino, tomei a liberdade, dado que o tecido subia e descia sozinho, apesar do elástico que nela havia, de fazer tiras de tecido para que mantenham a parte debaixo desse tubo de algodão no lugar, cortei duas duplas de tiras e com cuidado as costurei com cuidado, elas passaram a circular os dedos do meio de cada pata minha, e estavam muito bem feitas, até eu mesmo fiquei surpreso. Caminhava de um lado a outro testando-as por cima e por baixo da calça, estava muito boas e, ao ouvir batidas na porta, me apreço para atender e quando a abro, quem me recebe é um homem conhecido.

— Como vai Klyce. – curvo-me profundamente.

— Senhor Cixoam, é um prazer recebê-lo. – o grão-mestre toca em meu ombro.

— Erga-se, vim apenas para lhe dar isso. – ele me entrega um anel, e não é qualquer um, era o mesmo que meu senhor Aryn usava, a esmeralda, as pedras azuis, era mesmo o dele. – Aryn disse para que você usasse isso, Sina e eu entendemos que é algo inteligente, o manterá fora dos olhos de malfeitores, e falando nisso, os homens que o acompanharão até seu treinador estão o esperando...

O meio-dragão fica de lado e vejo dois homens parados junto a ele, um deles conheço, o outro não, baixo a cabeça e sigo em frente, era esquisito ter guardas junto a mim sem que eu estivesse acorrentado. – Com sua licença meu senhor. – peço a ele.

— Pode ir... – Cixoam fecha a porta e segue o caminho reverso a nós, não sei o que me espera realmente, mas enfrentarei com máximo orgulho.

 

Percorrer os corredores com tantas pessoas notáveis em suas auras, os trajes escuros e diversos que usam detêm seus nomes no rumo do peito, assim como um número... Eu havia notado isso, um símbolo de uma cor diferente das sete para o setor e um numero de um a sessenta para a sala, minha presença novata atrai a atenção deles.

Trazia comigo um livro sobre magia de gelo, coisa que me informaram se o mais normal para ensinar, mesmo que eu seja uma toupeira para isso, tenho Thereza junto a mim, e quando o assunto é magia, nunca vou me comparar a ela, sua sabedoria antiga é milenar, e mesmo que tenha me passado muita coisa, tenho que aprender com ela, assim como ela é ensinada por mim. Chegar na porta da minha sala é estranho, nunca tive essa sensação antes, é boa ao mesmo tempo que é receosa, mas a ignoro quando abro a porta lentamente.

 

Fico ansioso por ver em pessoa o novo mestre, as garotas falam muito dele, fofocam como velhas e riem como se ele fosse o mais belo homem do mundo, os outros esperam com alguma classe e formalidade, mas sei que anseiam quase tanto quanto as garotas que não desgrudam da porta. Felizmente, rostinho bonito e dinheiro não te faz entrar em Colégio Arcano algum, ao menos fico feliz em saber que elas estão aqui por ensinamento, se isso for apenas vinte por cento de sua motivação já é alguma coisa...E então, debandando como pássaros ao verem uma águia, elas saem da porta e correm rumo a suas carteiras, todas se dispõem em um semicírculo que se eleva nos quatro andares, apesar dessa sala ser grande, não é a das maiores, mesmo que haja lugar para quarenta pessoas, apenas um quarto disso está aqui, e dispersos nos diferentes lugares, o que deixa o lugar bem menos populoso.

E assim, vejo pelo vidro esfumaçado da porta uma silhueta, meu coração acelera, era hora de conhecê-lo... Mas, cortando qualquer tipo de surpresa, é apenas o golem de nulidade que segue até o pedestal próprio dele e fica de pé, seu corpo negro sempre fica cheio de linhas multicoloridas ao final das aulas, afinal, é seu dever manter qualquer magia excedente neutralizada, por isso o nome “Golem de Nulidade”, muito óbvio eu diria...

Quando as garotas iam retornar a porta, uma delas verifica um espelho mágico que dá a ela uma visão que infelizmente não sei o que é, bom, pela reação. – Minha santa Avony, ele é um deus! – elas se aglomeram para olhar, afinal, aquilo dá a visão magica de algo que elas desejam muito, e também é muito bom para evitar surpresas avaliativas desnecessárias...

E de repente, enquanto elas debruçam sobre a mesa para olhar a luz que emite do espelho, a porta abre, todas se assustam por não notarem de imediato, correm para o assento mais próximo possível, e, quanto a mim, retomo a ansiedade, o vejo, era um homem alto, de pele clara, cabelos negros tão longos que quase chegam aos cotovelos, um par de olhos verdes fumegantes esbanjando calma, mas, não é só sua aparência que deixa a todos estarrecidos, sua aura arcana passa de oito metros muito facilmente, ele é um prodígio! Fico simplesmente paralisado enquanto ele se move para sua mesa, esta é branca e como a de sempre, muito espaço para ele, gavetas para manter papéis e instrumentos, caso necessário, e uma cadeira que flutua por magnetismo, atrás de si, um quadro arcano de luz e varinhas próprias.

Fico olhando-o, e ele, por sua vez, fita-nos e a todo o lugar, como se estivesse maravilhado, deixa suas coisas sobre a mesa e fica alguns segundos olhando as varinhas, ninguém ousa falar nada, seja quem for, pela idade que aparenta, deve ser muito poderoso, e, de tal forma, severo.

— Eu simplesmente não sei como me apresentar direitinho. – apesar da voz alta e firme, o que ele diz não condiz com o semblante esperado por todos nós. – Meu nome, é Athazis Sion, sou um Carnahan e... Serei sincero com vocês, eu não sou um professor, sou o que vocês chamam de autodidata, ou melhor, Arcadata...

Não paro de me impressionar com ele, atingiu um tipo de magia secundária, o que é obrigatório para lecionar, sem ensino algum... Está confirmado, ele é um prodígio. – O... O senhor tem algum método para basear-se? – quem faz a pergunta é Mospher, um grande amigo meu.

Seu engajamento nessa prematura conversa é animador, é muito difícil deixar esse jovem realmente interessado em algo, sei, pois o conheço a mais de doze anos. – O antigo professor, Otex... Acho que era esse o nome, ele me deixou um plano de aula. – sentando-se na sua mesa, ele demonstra uma tranquilidade nesse ambiente formal. – Mas sinceramente, Bennely me disse que poderia ministrar as aulas como quisesse, e, pessoalmente, creio que a teoria, apesar de necessária, é somente a imitação da prática. Porém, como devem saber, é necessário que eu realize provas escritas e práticas, resolvi colocar duas para cada tipo...

— Qual a magia de mais elevado grau que o senhor dominou? – uma das moças pergunta colocando as mãos a cada lado do rosto, era a Leona, conheci-a logo nos primeiros dias aqui, chegamos a ficar juntos, mas, o clima tenso do Colégio nos deixava tão ocupados que mal tínhamos tempo.

— Não sei, eu não presto atenção em dar nomes. – meus olhos arregalam, assim como o de todos. – Eu simplesmente as desejo e.. Elas aparecem... – se algum dia meu queixo caiu ao máximo, foi agora, nunca vi um Sanzio de perto, isso explica muita coisa, seu nível é muito alto, mais do que eu esperava, entendo agora como se tornou um mestre mesmo sem ter pratica didática.

Minha ansiedade por aprender com ele aumenta a cada palavra que diz, será mais do que incrível tê-lo como tutor.

— Mas enfim. – o homem fala saindo de cima da mesa. – Ainda sou bem novo por aqui, então, algum de vocês se dispõe a me mostrar o lugar? – nisso, todas as moças, as seis, se levantam e erguem a mão direita, quase desesperadas. – Ótimo, mas antes, gostaria de conhecer vocês um pouco...

 

A arena em que meu mestre lutou contra All’ma ontem era bem maior agora que estou no meio dela, pilares grossos e altos sustentavam o teto fechado mais que ainda detêm janelas abertas que banham de luz todo o lugar, meu tutor foi firme em dizer, eu sou um aluno, não devo esperar tratamento especial por pertencer a Aryn, nem quero. – Se me dissessem que eu algum dia ensinaria um escravo eu socaria o rosto do infeliz. – ele fala com um de seus aprendizes.

— O que o duque pensou quando colocou um Nanci aqui? – quem falou agora era aquela moça que encontramos distraída na recepção.

Depois que os guardas me deixaram aqui dentro, fiquei em um canto apenas esperando, não quero atrapalhar ninguém... – Ahh... Não podemos fazer nada quanto a isso mais. – a expressão dele tinha um misto de arrependimento e cautela. – Vem aqui Nanci! – ele me chama mais para perto de si, caminho pela arena e sinto com as patas alguns cortes feitos pelo combate de ontem, estes que foram preenchidos pela areia, entretanto ainda eram evidentes.

— Hum! – a moça levanta as sobrancelhas e cruza os braços. – Ao menos não é um daqueles animais surrados que tem por ai.

— Verdade, pelo menos isso. – bufando, All’ma olha para a moça de canto. – Prepare as armas de treinamento.

— Sim mestre. – ela curva-se levemente e vai até uma mesa de onde vi estar descansando muitas armas, mas estas pareciam, não, eram de madeira maciça.

— Como você nunca usou uma arma antes, e como nosso tempo é indeterminado, e de qualquer forma, a estimativa que seu dono me deu é muito curta, terei tempo de torna-lo excelente em uma arma, ou, bom em várias. – ele ri para o nada. – Não acredito que vou fazer isso. – comenta só para si mesmo. – Qual vai preferir? – era difícil de falar, ser bom em muitas armas me traria vantagem em várias situações, porém, disse que seria o melhor que eu pudesse.

— Ficarei com apenas uma arma senhor.

— Mestre, me chame por mestre. – por ter baixado a cabeça, a mantenho assim.

— Peço perdão, mas apenas meu dono é nomeado meu mestre, me desculpe. – não vejo a reação do homem, mas o ouço rir brevemente.

— Hah! Está certo... – All’ma afasta-se, suas roupas leves e brancas traziam um ar de limpeza para ele, seus cabelos castanhos esvoaçam levemente ao virar-se e só ai vejo para onde ia. – Escolha uma dessas, qual acha que será melhor para você? – o homem sai da arena e fica próximo à mesa grande com as armas de madeira, agora que as vejo melhor, eram muitas, de diferentes formatos e tamanhos.

Decidir isso era inquietante, tantas diferenças, partes da imitação em madeira que nem sei nomear, mas, por sorte, meu senhor Aryn é quem nos uniu aqui. – Qual dessas o senhor recomenda? – com os olhos brandos All’ma olha para a moça que se afastava tranquilamente, sorri como se seus pensamentos não fossem verdade, pois nega algo levemente com a cabeça.

— O que você quer fazer com a arma? – seu tom tem um pouco de impaciência, por isso sou mais rápido.

— Quero proteger meu mestre caso seja necessário. – ele sorri, não por saber meu desejo, mas por ironia.

— Pff, quem precisa de proteção é você, não ele. – sua palavra é verdade, a verdade que quebra minha vontade tão arraigada, mas, ainda assim, isso tudo é somente para mim, preciso ser útil, tenho a obrigação de ser melhor.

— Eu-

— Para o seu porte. – me interrompe, e vendo isso ele para, me olha de canto e levanta uma das sobrancelhas, baixo a cabeça levemente, me desculpando. – Para seu porte, um sabre é a melhor escolha, é leve, produz cortes precisos, e tem o tamanho ideal.

Assim ele pega uma delas da mesa, era uma réplica de no máximo um metro e pouco de comprimento, a lâmina era levemente curvada e não tinha aquela proteção para a mão. Manuseando-a com facilidade, All’ma a segura pela ponta e me entrega. – Vamos começar...

 

Depois de me fazer alongar e aquecer o corpo, me colocou para fazer uma série de movimentos com aquela coisa de madeira, era muito pesada, ainda mais com os pesos que pedi ao meu mestre Aryn, por isso o que fazia era desordenado, desequilibrado ao extremo se comparado a firmeza que ele tinha ao me demonstrar. – Se conseguir usar essa bem, uma de metal será ainda melhor, pois é mais leve.

E assim ele vai a outro lugar, bom, ficar me olhando desastrosamente não conseguir repetir um golpe decrescente vertical, dezenas de vezes, é realmente perda de tempo, e mesmo que não fosse, não me importo, por mais que eu tente, não tenho força para fazê-lo parar abruptamente, e mesmo que meus braços comecem a doer, eu continuo tentando, tenho que dar o meu melhor, não importa o que aconteça, preciso ficar mais forte!

Minha boca fica seca, minha respiração fica pesada, mas não paro, meus cotovelos ardem, assim como meus ombros, não posso e nem quero, porém, vejo meu tutor retornar com uma armadura de couro pesado, mesmo que o olhasse de leve, não parei até sua ordem. – Chega... Klyce, um espadachim tem que ser ágil, suave e preciso, por isso. – o homem me mostra melhor sua armadura. – Isto o impedirá de ter tais movimentos, assim verá o quanto uma armadura pesada atrapalha e lhe dará uma noção maior de espaço.

Baixo a cabeça a ele, agradecido. – Me dê isso. – o devolvo o sabre de madeira e recebo a armadura, era bem pesada, tanto que um braço meu não a segura, e vejo que, no meio, em sentido cauda e focinho, há correias e cintas abertas. – Dantas! – estralando os dedos vejo um de seus aprendizes aparecendo, apesar de ter portas em quase todas as direções, fora a que a mesa ocupa, apenas passei pela que está em minhas costas, qualquer outro lugar ainda é desconhecido para mim.

O aprendiz se aproxima com um traje branco assim como o de seu mestre, cortes laterais davam leveza ao tecido que caia entre e atrás de suas pernas, Dantas se posiciona ao lado de All’ma que aponta para mim com o queixo fino. – Ajude-o a vestir-se. – apesar de ser em seus olhos, o jovem obedece calado.

Coloco ambos os braços nas mangas e sinto o peso sobre meu peito, ainda mais quando Dantas vai apertando cada cinta e fivela, e aperta firme, tanto que as vezes corta minha respiração. – Pronto... Agora, você terá seu primeiro combate.

— Me perdoe, mas, acho que não seria justo eu... – levo as mãos para cada lado, estava em muita desvantagem.

— Uma batalha real não espera que você esteja pronto. – ele me devolve o sabre de madeira o jogando para mim, desastrado, deixo-o bater contra meu focinho e quase o derrubo. – Pelos deuses... Se quer uma luta justa vá jogar xadrez! Dantas, ainda quero uma luta limpa, pegue leve com o Nanci dessa vez.

Quando percebo o aprendiz está a minha frente, sua espada de madeira está pronta, mas, tudo está tão pesado, tão difícil de mexer. – Levante essa espada escravo! – e assim o jovem olha para além de mim, seus olhos com fulgor ficam mais amenos.

Meus braços doem, minha respiração ainda está pesada, enxugo os olhos com o antebraço direito, mas o couro não deixa-me fazer direito. Só que, quando estou para fitar o aprendiz outra vez, ele já está encima de mim e sinto um golpe em meu ombro direito, quase perco a minha arma. – Ahhr! – a dor sobe forte.

Aperto os olhos e tento tirá-lo de perto de mim com um ataque vasto e horizontal, mas ele desvia com um salto rápido e retoma a ofensiva em uma estocada, por sorte já vi isso em um monte de treinos quando era mais jovem, desço a espada enquanto chega a hora e desvio o ataque, sei bem como minha guarda ficou aberta e todo forças para mover a espada de volta para minha frente, posiciono o pomo no rumo do meu umbigo e deixo a lâmina na altura de meus olhos, tento controlar a respiração enquanto o vejo se aprontar também. Ele corre em minha direção e realiza o golpe que treinei nas últimas horas, porém o defendo deixando a espada alta e na horizontal, assim que sinto o golpe sendo defendido baixo a ponta a fim de desviar ao máximo, posso não ter o corpo de um guerreiro, mas sou muito atento, como me foi ensinado, e tudo aquilo que vi com os guardas, eu me lembro detalhadamente.

Porém, tais memórias estavam inacessíveis por uma ordem antiga, esta que tomo a ousadia de quebrar, pois quem a proferiu não me possui mais, e aquele ao qual pertenço me pediu para fazer o melhor que puder. Giro o punho e desço a madeira na clavícula direita do aprendiz, mas ele antecede meu golpe e move os pés deixando seu corpo outra vez fora de alcance e com a espada mirando para o chão ele golpeia-me de frente em uma diagonal quase totalmente horizontal, não havia como bloquear, muito menos desviar, então aproveito o que me deram, coloco o braço e antebraço na direção, o impacto é forte, mais do que aparenta e arde meus ossos, mas aguento a dor mordendo os dentes. Com um dos sentimentos proibidos em meu coração, aperto o cabo do sabre de madeira e simulo um soco, este que era óbvio que seria desviado, entretanto o jovem o recebe, e cai.

Sua boca espirra sangue ao momento que seu corpo se choca contra a pedra, medo toma meu corpo, a espada cai de minha mão e me afasto. – Me... Me perdoe eu não. – All’ma intervém, seu rosto possui ira.

— Seu tolo! – não sei ao certo para quem foi isso, mas fico de joelho e baixo a cabeça.

— Me perdoe, não foi minha intenção eu... Desculpe-me. – e ouço passos, vários passos.

— Eu disse para ser uma luta limpa! Não consegue seguir uma ordem simples! – baixo as orelhas, é o máximo que farei para me redimir. – Ensinem ele! – não sei com quem falavam, mas os passos se afastam um pouco e retornam, ergo meus olhos e vejo mais de dez homens ao meu redor, todos com um tipo de arma de madeira em suas mãos.

Engulo seco, acho que sei o que vai acontecer. – Não toquem no rosto. – e então sinto uma batida em minhas costas, tentei buscar minha espada, mas dois golpes consecutivos no meu braço e no meu pulso me fazer gemer de dor e recolher o membro ferido.

Mais três bancadas nas costas, duas na cintura e uma estocada na coluna me faz cair no chão, e eles continuam por um tempo que para mim foi mais extenso do que o necessário para uma punição. – Nanci de merda. – ouço falarem enquanto param.

Fiquei escondendo o rosto a maior parte do tempo, por isso não vejo nada, apenas ouço eles devolvendo os instrumentos a mesa e saindo. – Posso não ser teu dono escravo, mas quando entra por aquelas portas, minha palavra é lei. Se mandar você fazer de um jeito, é assim que fará, sem questionar...

— Me perdoe... – tusso. – Não foi minha intenção senhor... Não quis machucar seu aluno.

Ele ri sem mover a boca e fica ao meu lado. – É assim que separamos os fracos, com uma bela surra... Você me pareceu bem resistente.

— Já levei muitas, senhor. – fico sentado de lado e passo a mão na boca, sim, saia sangue.

— Meus aprendizes não gostam de você, bom, de Nancis, não ligo para o que eles acham, pois tenho uma dívida com teu dono. Porém, será bem mais difícil para você, por ter que ficar bom em tão pouco tempo, claro, desistir pode ser uma opção, se seu mestre o permitiu.

— Jamais. – cuspo um pouco de sangue no chão. – Eu jamais vou desistir senhor All’ma, não é permitido. – ele eleva as sobrancelhas levemente, o fato é, eu não posso, pois o prometi.

— Então seja muito bem-vindo Klyce. – ele sorri e me estende a mão, fico um pouco receoso de me apoiar nele um instante, mas o faço. – Passou no teste inicial. – ele vai para trás de mim e tira a armadura de couro. – Disse para o duque que o faria o melhor que pudesse... – sua voz tem esforço por desafivelar uma cinta que circula meu quadril. – Se fosse um fracote de merda... – solta mais um. – Seria sua última vez aqui, gente inútil eu não treino nem se a própria Aze me ordenar. – ele segue para frente de mim. – Para alguém sem nenhum treino, me mostrou algo interessante, e para um Nanci. – aponta a todo meu corpo com os olhos. – Se saiu bem melhor do que imaginava.

Livre da armadura vejo o quão ruim era tê-la, o calor que sinto é intenso junto aos vários focos de dor, massageio meu ombro direito, foco mais forte de dor, nisso All’ma me entrega um frasco com algo vermelho dentro. – Beba, vai curar tuas feridas. – isso, isso era uma poção de cura?

— Por favor senhor, não gaste algo tão caro comigo, creio que vou ficar bem.

— Eu não estou pedindo... – entendendo a ordem oculta baixo a cabeça e retiro a rolha do frasco que possui um cano que leva a uma base circular, todo o vidro me mostra o líquido rubro esvaziando e o gosto é o mais delicioso, como uma mistura agridoce de frutas vermelhas.

Isso é quase anestésico, pois as dores somem sem deixar vestígios. – O que sabe sobre Magia de Combate, Nanci?

— Nada, senhor. – o devolvo o frasco.

— Uma Magia de Combate é quando alguém utiliza de forças arcanas para realizar golpes de poderio elevado e ou sobrenaturais.

— Me perdoe, mas, minha raça não...

— Eu sei, mas há uma maneira, objetos mágicos podem fornecer tais habilidades, como eu, sou um mago de batalha, sem minha espada, sou um humano comum... Mas com ela... – ele me faz recordar sua batalha conta meu mestre Aryn. – Se conseguir manusear perfeitamente esse sabre em uma semana, me comprometo a lhe ensinar “Ferrum Confirma”, “Agri Exsecrationem” e “Caedem”. – levanto minhas orelhas, muito animado.

— Estou extremamente lisonjeado meu senhor. – curvo-me profundamente. – Muito obrigado.

— Só conseguirá usar essas Magias de Combate, com uma arma arcana, e estas são muito, muito caras, ou raríssimas, se teu dono estiver disposto, mas, caso cumpra sua parte, lhe darei uma para seu treino...

— Muito obrigado. – termino a reverência e ele me entrega o sabre de madeira.

— Segundo passo...



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