1. Spirit Fanfics >
  2. Crônicas de Althunrain - Rei Lich >
  3. Os Primeiros Passos de um Lobo

História Crônicas de Althunrain - Rei Lich - Os Primeiros Passos de um Lobo


Escrita por: Tulyan

Notas do Autor


Eita, foi mal a demora pessoal, mas, como verão, demorei por um excelente motivo, trago 3 capítulos seguidos e uma fan fic dessa obra, isso mesmo, ela fará parte das Crônicas de Althunrain, uma série de contos que vou publicar a parte dessa obra principal, relaxem que não vai mudar a frequência desse, a prova está em:

Capítulo 54 - Os Primeiros Passos de um Lobo


Fanfic / Fanfiction Crônicas de Althunrain - Rei Lich - Os Primeiros Passos de um Lobo

Minhas mãos tremem muito, meus braços doem pela seção de movimentos que meu tutor me instruiu a realizar, por mais que eu esteja sozinho agora, meus ouvidos me informaram algo interessante, há muitas pessoas na porta a mina direita, todas fazendo gritos padronizados o que me lembra as grandes fileiras dos guardas que aprendiam juntos, mal consigo segurar o sabre de madeira e assim ele cai no chão.

Minha cabeça dói, a sede que sinto havia sido amenizada pela generosa poção de All’ma, mas agora ela retorna e seca minha boca, por sorte, minhas patas refrescam-me um pouco por serem de gelo cristalino. Sem falar no teto coberto que sombreia todo o lugar, respiro rápido e bufante, fazia tempo que não me esforçava tanto, sou muito grato pelo tento de descanso e fartura que meu mestre Aryn me deu, porém devo compensar isso... Me abaixo para pegar a arma de treino outra vez, entretanto minha ação é impedida.

— Você está a três horas ai... – era All’ma, ele vinha pela porta de onde originava as vozes de antes. – Cixoam me disse para te manter aqui até o sol quase sumir, por isso, descanse. – aponta a um dos bancos postos para quem quiser assistir o que aconteça aqui.

— Sim senhor. – baixo a cabeça e minha visão escurece por um momento. Fico parado um pouco, minha cabeça lateja, meu tutor percebe isso, mas não faz nada, nem preciso, aperto os olhos um pouco e caminho até o local indicado, um banco de pedra lisa e cinza é onde sento-me cansado.

Olho de lado o homem retornando de onde veio, seus passos calmos me fazem lembrar meu mestre, a confiança de alguém que sabe que é forte, adoraria sentir isso um dia...

Lentamente recuperava o fôlego e as forças, mas sentia sede de qualquer forma, me escorei a muito tempo e até puxei a blusa um pouco para esfriar meu corpo mais rápido, porém, para minha surpresa, a moça de antes entra com algo em suas mãos, apenas por vê-la arrumo minha postura engolindo seco. Ela me traz um prato e um copo de cerâmica, não olho diretamente para ela, pois sei seu desgosto por mim, nunca soube seu nome, por isso me limito apenas por. – Muito obrigado, moça.

— Não agradeça a mim escravo. – sua voz é ríspida e sua presença, vaga.

Indo embora como se tivesse raiva, a mulher abre a porta de madeira que me separa do que seja que acontece do outro lado, mas ela para e conversa baixo com alguém antes de entrar. No que ela me trouxe vejo arroz, um pedaço grande de carne, um molho com batatas e talheres, porém, o copo me interessa mais, bebo a água fresca com um sorriso, era muito bom me refrescar e umedecer meus lábios secos. O cheiro da comida a mim dada está um pouco familiar agora, com certeza estou ficando mal acostumado... Mas se me foi oferecido será falta de educação recusar.

 

O lugar mais parece uma cidade, corredores altos e largos muito bem cuidados, muitas salas mais parecem casas, pois são grandes o suficiente para abrigar vinte, trinta, quarenta pessoas, mas o ambiente calmo e formal abandona qualquer lembrança minha de cidade. A torre maior, de onde vim, tem uma cor mais dourada que reluz a lux do Sol, e chega a tocar as nuvens baixas que passam vindouras da montanha que é rumo de Ezthel, segundo uma das alunas que me acompanham. O rio largo que passa e contorna a torre centra, se divide em duas grandes cachoeiras, e na da direita, sobre ela, há a ponte para o local de onde vim, chamam aquela pequena torre de telhado cônico e azul de Ponte Arcana de Feixe Fractal, ou Paff como a grande maioria o apelida.

Assim, o colégio é dividido em dois setores, o setor norte, por onde está o Paff, e o setor sul onde há grande parte das salas de aula, laboratórios e residências dos alunos, desse lado em que estamos, o sul, há a maior das cinco bibliotecas, salões para reunião e convenções, além do único acesso ao Cofre do colégio, apesar de caminharmos a muitos minutos, nenhum aluno meu parou de me seguir, dos dez, vieram cinco, quatro mulheres e um rapaz que não tira os olhos de mim, mas não tanto quanto as moças, claro, e eram eles quem me informavam o nome dos lugares e sua função, tanto que eles me fizeram notar fios que partiam de vários pontos de Nostradam até a torre principal onde, ainda segundo meus alunos, há algo conhecido por Canhão Arcano, um tipo de arma que faz páreo a Bomba Arcana de Allantra, esta que foi responsável por destruir toda a cidade de Noh’Randy antes que aquele Rei miserável a tomasse como lar. Lembrar dele me faz apertar o punho esquerdo, justo o que me foi tomado, mas isso não importa agora, ele está nas mãos de Mingus agora.

Tudo por aqui é tão bem feito, claro e iluminado que mal creio estar em Althunrain ainda, e tal crença é fragilizada ao ver pássaros brancos sobrevoando algumas pontes que atravessam o rio até o setor sul, eram pequenas de mais para serem de rapina, e grandes demais para qualquer outro que já vi,

Caminhei pelos corredores entre salas e pátios abertos decorados com estátuas, bandeiras ornamentadas e plantas bonitas e coloridas, e por mais que seja grande, rica em plantas, fontes, estátuas e caminhos de pedra lisa, o mais exuberante, com toda certeza é as torres, por mais que não sejam altas, são muito bonitas e banham as passagens com suas sombras, e nos locais que deveriam ser mais sombrios, tochas de chamas azuis brilhantes, me faz curioso.

— O que é aquilo? – aponto a uma delas, e duas mulheres falam ao mesmo tempo, porém, ambas se olham.

— É a chama azul senhor, um tipo de magia secundária extraordinária que o Mestre Celito produz, é um tipo de fogo que queima somente a magia e seus derivados. – então é isso que o fogo espiritual é para eles? Quem me informa, a mulher ruiva, exibia vestes leves e escuras, um tom de cinza eu diria, e é realmente útil a placa de nome que há no peito deles.

— Muito obrigado Yuhora... – as bochechas brancas dela ficam um pouco vermelhas e sorri.

— Me chame de Yu senhor.

— Tudo bem... Yu. – me viro para frente, este é realmente um lugar imenso, precisaria de uma semana para ver tudo.

 

O mestre Athazis parece tão fora desse mundo que quase me estranho, mas, como ele mesmo disse, é um arcadata, alguém que conseguiu a excepcionalidade na magia sem um mestre, e isso o faz muito interessante, aprender com um arcadata é algo muito peculiar e raro, afinal, só conheci quatro até hoje, Athazis, meu irmão e alguns outros professores, até onde sei, a dificuldade para alcançar esse título é imensa. Aprender os segredos da magia do zero, por em pratica todas as variáveis e especulações que sua mente pode criar, me pergunto se ele também detém o lendário gelo cristalino, nos registros, apenas dois mestres nesse Colégio alcançaram tamanho poder, e como um deles está em uma missão longa, tenho pouquíssimas chances de aprender tal coisa, afinal, ser um Diarca com um elemento secundário extraordinário, será mais do que incrível.

Somente pelas vestes, nós alunos sentíamos o destaque que os mestres têm, e as minhas, com esse cinza claro, demonstram minha passagem em uma formação, afinal domino o elemento água muito bem, e só procuro alguém como Athazis para me dar o dom do gelo, assim estarei completo... Como meu irmão Aurix, conseguiu fogo e eletricidade, um elemento primário e um secundário, não me contentaria com dois primários, por mais que o título Diarca seja o mesmo não importando a classe elemental, ter dois diferentes nesse sentido é algo muito melhor, se for um extraordinário... Aposto que a minha família ficaria pasma por alguns anos, o pequeno Mythix, um mago Diarca Extraordinário, superar meu irmão é um desejo que acede uma chama em meu coração.

Fico pesando sozinho enquanto sigo as moças que acompanham o mestre Athazis, nos locomovíamos por entre os caminhos daqui, apesar da ordem das ruas, algumas passagens eram mais estreitas que levam a locais mais reservados ou canteiros abertos exibindo flores de várias cores. As várias pessoas, em sua gigantesca maioria, alunos, passavam por nós, curiosos, pois é muito difícil ver um mestre andando, a maioria tem acesso aos fios arcanos que os levam de um setor ao outro, de um prédio ao outro quase instantaneamente... E se ele não sabe disso... Bom... – Mestre Athazis... – com a minha voz o homem alto para e me fita. – Esses fios são usados pelos professores, como o senhor, para se locomover.

Os olhos azuis dele levantam para cima, fortuitamente passávamos pela Biblioteca das Runas, uma das várias construções situadas oportunamente para a rápida locomoção dos mestres, e para dar polos de alimentação para o Canhão Arcano. Tal arma que todos que já o viram em ação dizem ser assombroso, pois, em seu centro, um cristal feito do lendário gelo negro, coisa divina, tanto que uns duzentos mestres se reuniram para fazer, alguns morreram e no final poucos quilos foram feitos. Está além da sanidade sequer olhar para aquele cristal, porém, a estrutura do canhão o oculta junto com as nuvens baixas e brancas. – Isso seria incrível... – o professor fala extasiado, como se nunca tivesse ouvido falar nisso.

— Mas exigiria, exigiria um aprendizado especifico e... – o homem sorri e aponta para uma direção.

— Por onde entra? – sua pergunta é respondida por Leona que parece muito, muito animada e extasiada pela aparência dele, não a culpo...

— Por aqui senhor, eu te mostro! – as meninas e ela adentram a biblioteca com euforia, as portas grandes de cedro negro ficam sempre abertas dando boas-vindas a quem quiser entrar.

O interior é alto para acomodar as estantes com mais de três metros de altura, felizmente o segundo andar não tem piso, somente corredores abertos que, além de trazerem mais luz pelas janelas longas de vidro, transportam as pessoas para as outras estantes, mesas e assentos postos entre as janelas, não há região escura aqui, pois a luz do sol é focada e refletida por um objeto formado de centenas de vidros e espelhos em diferentes formatos e tamanhos, imitando a fonte da luz eu diria, não há guardas por aqui, nem em todo o Colégio já que nós somos mais do que civis comuns, todos sabemos as regras daqui, roubo é passível de expulsão com desonra, algo muito vergonhoso e raro de acontecer.

Segui-os por entre as estantes maiores até um lugar mais afastado, aqui, longe da luz do sol, lustres traziam uma cor alaranjada, a beleza e o cuidado de tudo entorpeciam meus olhos enquanto viramos a esquerda para subir algumas espadas largas, e virando o caminho reverso, me deparo com o segundo andar em um corredor a esquerda apresenta algumas estátuas e a direita leva as pontes por cima das mesas abaixo, o entanto, vamos direto a escadas em caracol que sobem até o segundo e o terceiro andar, Athazis tem a mesma reação que tive ao ver essa enorme quantidade de informação junta, aquela coisa de vidro que nunca me lembro o nome e a biblioteca em si, sua pedra branca e meticulosamente justa traz um ar calmo e pacifico junto a luz amarelada que passa pelos vitrais. Porém, é no terceiro andar que chegamos ao local desejado, após um breve corredor há uma área aberta, porém coberta, rodeada por um muro médio de mármore branco, no centro, sob um altar, uma pedra branca pulsa levemente em sua cor brilhante, e daqui dava para ver a enorme torre central, assim como o fio que une essa construção humilde a ela.

— Coloca a mão encima mestre que, talvez consiga se movimentar pelo fio de fibra arcana. – agora era um bom momento de ver, se ele for um arcadata realmente bom, poderia descobrir a essência da magia e talvez.

— Ahh, tudo bem... – ele pousa a mão direita na pedra, e é instantâneo, seu corpo desaparece.

— O quê? – todos ficamos extremamente espantados, o homem desvendou a magia e a usou em menos de segundos, que tipo de humano ele é?

— Por Avony... – Leona fala, mais surpresa do que eu. – Mythix, viu isso! – ela aponta ao cristal. – De primeira!

 

O clarão de luz que veio foi muito breve, quando noto estou em outro lugar, não tinha mais as cores claras de antes, muito pelo contrário, me viro para o mesmo altarzinho de antes, porém, a pedra era vermelha e parecia danificada, fiz algo de errado? – Isso é normal? – pergunto a Thereza.

— Não sei, nunca vi uma magia dessas antes, mas me parece quebrado, ou... Como metal em brasa, superaquecido... – concordo com ela, seria uma péssima ideia tentar usá-lo de novo, estragar algo tão incrível no meu primeiro dia é um péssimo começo.

Mesmo assim, preciso me localizar, olho para fora e vejo que estava no setor sul, não que eu tenha desejado especificamente vir pra cá, só imaginei um lugar agradável e quando dezenas de imagens vieram em minha mente, escolhi aleatoriamente, ou seja, estou “perdido”. E com um som vindo do único lugar de onde posso sair daqui, meu corpo fica tenso, automaticamente tomando postura para combate.

— Ow... Calma, mestre Athazis... Sou um amigo... – saindo das sombras vinha um jovem de roupas escuras, as mãos erguidas mesmo que eu não tivesse arma, mas, afinal, nesse lugar, armas são inúteis, as mãos sim...

— Mostre-se para mim. – infelizmente, com todas as restrições, mal consigo enxergar no escuro, diria que era como se voltasse a ser um humano “comum”.

E assim vejo quem era, não era velho o suficiente para ser um mestre, nem novo demais para um aluno, um par de colares prateados caem por seu pescoço e as vezes se misturam a cabeleira negra, por mais que tenha uma pele branca, estava difícil vê-lo sombreado, e só quando recebe a luz de Avony que decai quase a dois metros de mim, em sua direção, vejo nitidamente um par de olhos de um azul roxeado, quase violeta, algo assim.

— Sou Upas, um ajudante de Bennely, um ouvido dele na escuridão... – e então vejo, seu braço esquerdo se mesclava estranhamente a sombra. – Permita-me most-

— Como posso confiar em suas palavras? – meu tom é quase ameaçador, pois minhas mãos vão para trás de minhas costas, qualquer movimento de ataque dele, retiro um anel, é o suficiente para explodir seu rosto bonito.

— Oww... claro, mestre Athazis. – seus olhos baixam um pouco e ele sussurra. – Ou seria Aryn? – ver que minha expressão na amenizou, muito pelo contrário, eu realmente iria atacá-lo, o homem se apressa a levantar a mão direita e com a esquerda, lentamente me mostra um anel, não qualquer um, deixei um igual com Klyce. – Conde Ryte, é um prazer conhece-lo, mas, aqui não é um lugar seguro. – sua voz cochichante me faz acreditar em algo, eu posso entrar em uma armadilha caso seja, sair dela não será difícil, não se eu notar a tempo, porém, aqui temos quatro olhos atentos, os meus e os de Thereza que veem através deles. – Por favor, me acompanhe...

Aponto para frente, demonstrando que o seguiria e assim tenho suas costas à minha frente, o corredor era longo, não muito largo ou alto, estranho, pois não combina com a arquitetura do colégio em geral. – Estamos em um local seguro. – sua voz permanece baixa. – Uma câmara secreta para reuniões entre as pessoas de confiança de Ezthel. – nisso, o jovem pega algo do bolso e abre uma porta que ocupa todo o espaço do corredor, o metal do qual ela é feita range em um som pesado e breve.

Dentro havia mais um corredor pequeno, iluminado por luzes mágicas no encontro da parece com o teto, o som de nossos passos ecoam brevemente, mas um tapete longo e negro se estende até o final, e ali, outra porta, igual a anterior, se revela e é aberta, após essa, um salão grande estava ali, uma mesa circular de mármore branco detinha vários instrumentos estranhos e anotações, e ao redor, duas pessoas de pé observavam algo, um de costas a nós e outro escondido por ele do outro lado da mesa, um círculo branco trazia a luz para o lugar, e o mesmo vinha ao redor de cadeiras de pedra esculpidas em doze, uma afrente da outra envolta da mesa.

— E enfim chegou Aryn... – quem estava de costas para mim era Bennly, suas vestes agora eram longas, uma túnica branca com bordas douradas e ombreiras pontudas. Sua mão direita vem a mim em um cumprimento, e pela primeira vez, me acalmo e relaxo o corpo.

— Que lugar é esse? – olho para as paredes e vejo brasões em bandeiras com a base triangular.

— É uma sala secreta que construímos a alguns anos, somente vinte pessoas conhecem esse lugar, todos de mais alta confiança, sem contar que esses símbolos detêm proteções para nos ocultar e proteger... Este é Addad, mestre a mais de dez anos... Este é Aryn, o duque que minha irmã nomeou a pouco... Protagonista dos eventos em Cenkedoz e Noh’Randy, herói de Vrett.

— Muitos títulos não? – a pessoa ao qual sou apresentado, ele arruma os cabelos longos e castanhos como os olhos atrás da orelha direita e noto uma tatuagem feita nesse lado do rosto, a coloração de suas vestes é exatamente a de Bennely, porém, não tinha os desenhos no peito, mas não deixa de ser bonita.

Aperto sua mão com firmeza enquanto nos cumprimentamos. – Prazer em conhece-lo duque Aryn, como nosso diretor falou, sou Addad, mestre diarca excepcional, matador das serpentes de Ember’ô. – essa última parte deveria ser importante pelo ânimo que ele deposita.

— Ambos viajados é? – desfazemos o cumprimento rápido junto a fala de Bennely.

— Foi fortuito ter descoberto os fios Aryn, consegui trazê-lo a nosso encontro por meio deles e... creio que seus alunos entenderão, não?

Dou os ombros e sorrio. – Não sei se importam tanto, para o primeiro dia...

— Sei que é difícil para você, ter que ser quem não é... – Bennely olha para o jovem que me acompanhou. – Ryte mesmo, é um arcadata, como você, dominou a magia das sombras sozinho e hoje me serve como ajudante, ele ouve e vê coisas que ninguém consegue...

— Está sendo generoso senhor. – ele baixa a cabeça levemente, um pouco tímido. – Só faço meu trabalho o melhor que posso.

— Ele investiga alguns mestres se passando por aluno, a alguns minutos, tínhamos todos reunidos aqui, infelizmente eles estão retomando seus postos e...

— Não precisa se explicar... Só... me conte o que precisa de mim agora...

 

 Estava mais do que cansado, era tarde, podia ver pela luz avermelhada que passa pelas janelinhas altas nessa arena, All’ma havia passado mais tempo comigo, principalmente no final do dia, me mostrava as posições dos pés, de como usar o seu peso e o do inimigo, parecia até mesmo mais interessado do que antes, mas ainda assim, saia as vezes por um chamado da moça que me alimentou a algumas horas, e com uma reverência de minha parte, ele acabou o treino do dia e chamou os guardas para me levarem de volta. Dois deles me esperavam na recepção e ao me verem, levantam-se e interrompem sua conversa descontraída, o som de suas armaduras de metal dourado me trazem lembranças vagas, baixo os olhos e os dois vem a minha frente, sabem que a função deles é me proteger e não me escoltar como um prisioneiro, e por tal são mais relaxados, falam com os soldados postos do lado de fora e se despedem. Evito falar ou olhá-los diretamente, assim como qualquer outra pessoa que passe por nós três, não importa se é uma criança, não darei motivos para que surjam problemas, pois eles vão refletir em meu mestre.

Apesar de todo dolorido e cansado, subir os vários degraus não se mostrou tão exaustivo quanto pensei, o pior foi notar os olhares rápidos para mim e não ter meu senhor para me acalentar com sua presença, a falta que ele me traz é tão grande... Um pesar antigo abate sobre mim, já me disseram muito que me apego fácil as coisas e as pessoas, isso é verdade, uma maldição, talvez?

Ninguém fala comigo, o que é mais do que esperado, além de ser um simples Nanci, que assunto teriam? Por isso, só tento controlar a dor de cabeça que sinto e seguir junto a eles, mas a noite se torna cada vez mais fortuita, pois ela esfria meu pêlo e alivia minha dor, porém, quando chego no quarto de meu senhor, a coisa muda, ao fechar a porta sinto o peso do dia em meus ombros, no único lugar que posso realmente me sentir em casa, ficar relaxado e seguro, é aqui...

Havia dobrado e guardado as roupas de cama de meu senhor a fim de preservar seu cheiro precioso, o cheiro e os pesos são as únicas lembranças que restaram e... Falando neles, toco aquele gelo confortável, a falta de frio vindo deles é extasiante, além de me lembrar o quão poderoso é Aryn, meu senhor é um homem incrível, toda e qualquer vez que tento me lembrar dele, minhas memórias passam por Quartunta, e Noh’Randy, e claro, jamais vou esquecer a melhor noite de toda a minha vida, em Vrett, nunca fiquei tão feliz, desfrutei de uma boa companhia, bebi e comi ao lado dele como vi os parceiros de meus antigos mestres fazendo inúmeras vezes.

Toco meu peito sorrindo por relembrar tais momentos, deslizo os dedos e esbarro-os na coleira, minha alegria arrepia minha coluna, como sou abençoado... De longe, sou o servo mais abençoado do mundo... Tudo o que me deu é um presente inestimável, e nenhum pouco merecido.

Me sento no banco longo e macio ao pé de minha cama, levo as mãos a cada pata minha e tiro as meias e tudo mais que fiz, não estavam sujas, pois não entraram em contato comigo mesmo, digo, meu corpo vivo, assim, depois de cheirá-los, concluo que estão bem, por isso, as dobro e coloco ao meu lado direito, falando em cheiro, estou com um bem ruim, era hora de tomar banho, algo difícil de conseguir no meu passado, e muito bem-vindo a qualquer momento, pois, por mais que seja difícil me secar totalmente, não sentir-me sujo é maravilhoso.

Vou a cômoda entre as camas e abro suas gavetas a fim de pegar uma toalha e roupas novas, as que uso deixo em um cesto de madeira clara e linda posto no banheiro, era hora de me limpar e... Pelos deuses, com água quente...

 

Estava secando minha nuca e partia para minha orelha direita enquanto saia do banho, quando batem em minha porta, me assusto um pouco e trato de vestir-me, bom, pela urgência de atender quem for, me limito a uma calça e só, coloquei a toalha sobre meu ombro direito e me movi até a porta para abri-la com calma. – Sim? – olho quem era, a mesma empregada de antes, trazia outra bandeja consigo e o mesmo olhar de antes, baixo os olhos e abro a porta ao máximo a fim de dar passagem a ela, a mulher nem se dá ao trabalho de me observar outra vez, levanta o queixo e recoloca bandeja na cômoda, afinal, quando ela a retirou?

Fico esperando sua passagem e noto, de relance, seu olhar em mim, de cima a baixo e uma sobrancelha se levantando, havia algo de errado? Será que me esqueci de algo importante? Assim que ela sai, olho para mim mesmo, não havia nada além de pêlo e panos brancos, fecho a porta com suavidade a fim de não atrapalhar ninguém e volto-me ao que a empregada trouxe, o cheiro de carne permeava o ar agora, e atraia a atenção de meu estômago.

Porém, batem a minha porta outra vez, minhas orelhas se levantam, será que a moça esqueceu algo? Retorno a abrir a porta e um sorriso se abre em meu rosto. – Senhor Cixoam, ao que devo o prazer. – baixo a cabeça.

— Prometi a Aryn que o veria de vez enquando... – ele coloca as mãos nos bolsos de seu traje negro e muito bonito adornado com desenhos rubros assim como as bordas e o interior, botas e luvas negras completavam o destaque de sua pele e cabelos brancos. – Eh... – ele tenta achar as palavras enquanto passa por mim e eu fecho a porta gentilmente. – Como foi?

— Com o senhor All’ma? – pergunto tentando saber a o que se reveria.

— Sim... – Cixoam coloca as mãos nas costas e caminha até a janela a esquerda da cama onde meu mestre se deitara.

— Foi... – me lembrei da surra e dar palavras duras que recebi dos outros de lá, nada novo. – Foi bom, eu gostei muito, ele me ensinou coisas incríveis, básicas, mas ainda assim incríveis. – o Grão-Mestre aponta a cama de meu senhor enquanto se aproxima.

— Posso? – o q- este homem, desse nível, pedindo minha permissão.

— Mas é claro senhor, nada aqui é meu e... Fique totalmente à vontade. – falo um pouco bobo por ter de responder isso, parece tão óbvio.

— Você sabe quem é All’ma? – Cixoam senta-se na cama e coloca as mãos entre suas pernas. – Já ouviu falar dele? – nego e, curioso, me sento na minha para ficar afrente dele. – All’ma é um famoso espadachim, Campeão do Abismo de Sangue.

— O que é um abismo de sangue?

— O que não, o Abismo é um tipo de arena, lá entram os mais diversos guerreiros, monstros e até alguns prisioneiros condenados, a coisa é selvagem, carnificina pura... Não é à toa que tem sangue no nome sabe. – ele cruza as pernas. – All’ma conseguiu ficar vivo depois de um Festival do Sangue completo, coisa muito rara de acontecer.

— Ele era prisioneiro? – fico instigado em saber mais, coloco as mãos no queixo e apoio os cotovelos dessas mesmas mãos nas pernas.

— Ahh não, ele entrou por livre e espontânea vontade, sabe, espadachins tem um cérebro menor do que as pessoas comuns, qualquer um com uma arma na mão é motivo para combate, eles adoram lutar com alguém.

— Isso explica porque ele quis batalhar com meu mestre Aryn. – nisso, os olhos dele arregalam.

— O quê? Quando? – faz menção de se levantar, mas o acalmo.

— Ontem senhor, foi o preço para que All’ma me treinasse. – peço calma somente gestuando.

— Pelos deuses, o Aryn...

— Ele se controlou perfeitamente, mas, mesmo assim, foi incrível, mal consegui vê-los se movendo... – ambos sorrimos, eu por me lembrar, e ele por alivio. – Sabe... – ouso falar sem sua permissão. – Eu quero muito ser útil para o meu senhor ele...

— Você é... – Cixoam fala olhando para as suas próprias mãos. – Antes de conhecer você, ele era mais... Sombrio, não sei dizer ao certo. – quando seus olhos vêm a mim, fico paralisado um pouco, o que dizia... – Talvez Aryn achou um amigo de confiança.

— Mas, já tinha o senhor, creio eu, ele disse que era um velho amigo. – Cixoam solta um risinho, como se eu fosse um tolo.

— Aryn salvou a minha alma, Klyce, seja lá o que moveu aquele homem até a mim, e a você. – ele levanta-se e vai saindo. – Vamos agradecer muito...

— Com certeza senhor. – baixo a cabeça ao instante que ele sai pela porta e a fecha atrás de si.

Sei dos afazeres dele, por isso não insisto que fique, seria um pedido egoísta e, estou acostumado a ficar sozinho por semanas, mas, pela primeira vez sinto falta de alguém. Para me distrair, vou até a bandeja, seja lá o que trouxeram, tem um cheiro maravilhoso...

 

Horas mais tarde me coloco deitado, queria fazer mais algum exercício, porém, isso me faria ter de tomar outro banho e não quero ser abusivo, me deram coisas demais para sequer pensar nisso, portanto, me limito a deitar na cama macia e extremamente confortável, cubro-me até o peito e fico ali, olhando para o teto, algo em meu queixo faz minhas mandíbulas contraírem, não sei qual sentimento é esse, porém, quando olho para a minha direita e vejo uma cama vazia sendo iluminada pela lua, descubro a saudade e a solidão. Meus olhos escorrem, e fico ali mesmo, impossibilitado de me mover, pois, se o fizer, posso soltar algo e chamar alguma atenção, mas, não importa o quanto limpe meus olhos, eles não param... Chego a tapar minha boca, queria correr até lá e me lembrar dele, porém, sei que apesar de desejar muito, meu senhor está muito longe daqui, por mais que meu coração doa, engulo seco e... Em prantos, adormeço.


Notas Finais


E como sempre, se acharem qualquer erro, por mais minimo que seja, me avisem. CY@


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...