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História Os Super-heróis Que O Mundo Esqueceu - A Festa de Gabriel Agreste - parte ll


Escrita por: JJWriter

Notas do Autor


Oi pessoas!

Esse capítulo é um pouco menor, mas o nível de emoções subiu, digamos. Digamos também que vocês provavelmente vão amar esse capítulo em certos momentos, apesar de ele não começar muito feliz. (Huehuehue ó eu aprontando, devia ficar calada e deixar vocês lerem kk)

P.S.: caso achem que há alguma narração imparcial em relação a algum personagem de algum certo casal (quanta sutileza) tem um motivo para isso. Infelizmente, nem todas as pessoas se apaixonam ao mesmo tempo. Mas não se preocupem com isso, cada coisa vai ter seu momento. Mas apesar de essa mensagem fazer parecer que as coisas estão indo devagar, não se enganem, porque não estão tão devagar assim não... (ok, agora eu vou calar a boca)

P.S.S: para ajudar um pouquinho a memória a imaginar o lugar, o Grand Palais é aquele lugar enorme onde se passou a luta contra o Homem Pombo, lembram? Imagine aquele salão gigantesco de teto de vidro, que coisa mais linda. Pois é, é lá que essa festa está acontecendo.

Aproveitem, espero que gostem!

Capítulo 18 - A Festa de Gabriel Agreste - parte ll


Fanfic / Fanfiction Os Super-heróis Que O Mundo Esqueceu - A Festa de Gabriel Agreste - parte ll

 

Marinette paralisou instantaneamente. Uma avalanche de emoções se iniciou, prendendo o ar em seus pulmões. Por alguns segundos tudo que pôde fazer é ficar parada olhando para Charles.

Ele não mudou nada. Estava exatamente como Marinette se lembrava. Tanto na aparência quanto em sua forma displicente, que apareceu ainda enquanto eles namoravam. Fisicamente não havia muita diferença. Cabelos escuros, parecidos com os de Marinette, olhos castanhos, pele levemente morena, e um sorriso que ela não conseguia resistir.

E ela notou sua recaída.

Charles fez menção de se virar para onde ela estava, e Marinette acordou de seu transe e deu meia volta imediatamente, se afastando o mais rápido possível, antes que ele a visse.

Lembrou a si mesma para respirar e tentar ficar calma, mas à medida que dava seus passos apressados seus olhos iam se enchendo de lágrimas. Andou apressadamente entre as pessoas, piscando para afastar a umidade dos olhos, se distanciando de Charles o mais rápido possível. A última coisa que queria era que ele a visse.

Foi se esconder no banheiro, sem conseguir conter a avalanche de sentimentos que se recusava a frear.

Marinette apoiou as costas na porta ao fechá-la, respirando fundo várias vezes, ofegante de pura ansiedade. As lágrimas pesadas ameaçavam cair a qualquer momento, mas ela as censurou assim que se olhou no espelho. A festa ainda não acabou, ela não podia aparecer com o rosto todo manchado de maquiagem. Ela tinha que voltar apresentável. Não podia parecer que estava chorando.

Mas uma forte sensação revirava seu estômago: pânico. Por um instante ela não soube o que fazer. Precisava desesperadamente falar com alguém. Mas quem? Como? Não tinha ninguém que poderia ajudá-la, ninguém nessa festa a conhecia o suficiente para...

Alya. É claro!

Fungando, pegou seu celular na bolsa e ligou para a amiga.

- Marinette? – disse a voz de Alya no telefone, junto com um gritinho de criança ao fundo que provavelmente era Thomas. – Eu falei pra você não se preocupar, pode deixar que eu e o Tommy estamos nos dando muito bem aqui, pode ficar tranquila.

- Que bom, mas não foi por isso que eu liguei. – disse Marinette, apoiando uma das mãos na pia.

- E por que você ligou? Está tudo bem?

- Não... Ele está aqui.

- Ele quem?

- Charles. Ele é o assistente do Gabriel Agreste. – Alya ofegou de surpresa do outro lado da linha.

- Não acredito! Tem certeza?

- Tenho! Ele está aqui, acabei de ver. – confirmou, logo depois erguendo a cabeça e inclinando-a para trás, tentando não deixar as lágrimas pesadas escorrerem pelo rosto.

- E o que você fez?

- Saí de perto na hora. – ela fungou. – Estou no banheiro agora. Acho que ele não me viu. – Marinette olhou para a porta fechada atrás de si, desejando poder verificar se ele não a viu. As lágrimas estavam ficando difíceis de conter, e o pânico tirava seu fôlego. Sua voz rachou ao falar. – O que eu faço, Alya?

- Calma, não entre em pânico. Está tudo bem, não é nada de mais. Você não precisa falar com ele. Só finja que ele não está aí.

- Não dá... Não dá, Alya, eu sei que ele vai me ver... Além do mais, ele é... – mais lágrimas começaram a surgir com o nervosismo, e ela pegou papel do lado da pia para tentar secá-las sem fazer muito estrago na maquiagem. – Ele é assistente do Gabriel Agreste... E eu sou assistente da Vivienne, nós com certeza vamos ter que...

- Calma, respira. Fica calma. Olha, não tem porquê se desesperar. – disse Alya gentilmente. – Você não deve nada a ele. É ele que devia ficar nervoso assim por te ver, não o contrário. Ele que fez merda, não você.

- Eu acho que não consigo, Alya... Não consigo encarar ele agora...

Marinette, respire. Respira fundo. – disse Alya, amigável. Marinette fez o que ela disse, tentando se acalmar. – Está tudo bem. Tudo bem se ele te vir. O que ele vai ver é uma mulher maravilhosa, vestindo um confiante vestido vermelho, trabalhando em uma das melhores empresas de design do mundo. Ele vai ver que você está ótima, porque você está ótima. Você seguiu em frente. Você seguiu em frente e criou seu filho, com todas as dificuldades e toda a alegria que isso pode dar. Charles não fez isso. Você fez. Quando Thomas crescer, você vai ser o maior exemplo dele. Thomas vai ter orgulho de você, e é só isso que importa. Não a opinião o idiota do Charles. Ele que se dane. Ele é que está perdendo.

Marinette suspirou, de olhos fechados. Alya era uma amiga insubstituível, nem sabia como agradecer pelo apoio.

Alya fez uma pausa para ouvir uma resposta ou apenas para dar um pouco de tempo à amiga.

Você consegue. Fica aí no banheiro mais um tempo até se sentir melhor se quiser. Só não demore muito a sair daí.

Marinette respirou fundo, lembrando-se de cada momento: o dia em que eles desconfiaram da gravidez e começaram a discutir, o dia em que o exame de sangue saiu e eles brigaram novamente, o jeito como ele falou com ela, os dois gritaram tanto um com o outro... O dia seguinte quando ela procurou por Charles e ele não estava em casa, e pouco tempo depois quando ela descobriu que ele havia ido embora.

Alya tinha razão, ela não fez nada para querer se esconder de Charles. A culpa era dele.

- Você está bem? – perguntou Alya gentilmente, depois do longo silêncio de Marinette.

Marinette se encarou no espelho e enxugou o rosto.

- Estou. Eu vou voltar para a festa.

- Isso, vai lá, vai dar tudo certo. – encorajou Alya. – Aproveita pra humilhar um pouco esse idiota.

Um sorriso fraco se abriu em seu rosto.

- Seria tão mais fácil se você estivesse aqui.

- Ah, o Charles nunca mais iria querer sair na rua se eu estivesse aí, pode ter certeza. – ela deu uma risadinha antes de retomar o tom de incentivo. – Vai lá, você consegue. Arrasa nessa festa. Em todos os sentidos, hein? Aproveita quando tiver um tempo livre pra pegar alguém... Na frente do Charles seria melhor ainda.

Marinette riu baixo.

- Ah, Alya... Só você mesmo. – disse ela, sua voz rouca.

- Bem, faça o que você quiser, só não se esconda, ok?

- Ok. Obrigada, Alya. De verdade.

- De nada. – respondeu, e por sua voz Marinette pôde deduzir que estava sorrindo. – Vai em frente, Mari.

Respirou fundo após desligar o telefone, tomando coragem. Saiu do banheiro, ajeitou brevemente o cabelo e a maquiagem, ergueu a cabeça e caminhou em direção ao lugar que Vivienne mandou ficar para esperá-la.

Posicionou-se ao lado da mesma mesa de antes e conseguiu uma taça de vinho para tentar relaxar. Bebericou algumas vezes, procurando Charles com o olhar disfarçadamente. Estava difícil de identificar pessoas de longe, as luzes haviam diminuído quando as pessoas começaram a dançar, e seus olhos estavam cansados. Ela toda estava cansada. Não havia dormido praticamente nada nas últimas duas noites. Poderia ser ansiedade por causa da festa, mas provavelmente tinha muito mais a ver com o garoto enforcado com quem sonhou duas noites atrás, e que continua assombrando seus pensamentos toda vez que se lembra.

Foi só um pesadelo, tire isso da cabeça, você não pode ficar assim. Aquilo pode não ser real, pode muito bem ser só a minha inconsciência, pensou, sem prestar atenção ao que acontecia em sua frente. Então por que a minha consciência está pesando tanto? Olhou para baixo, e viu a taça em sua mão. Tomou mais um gole do vinho, decidindo descobrir depois se aquilo era real ou não. Não pense nisso agora.

Ergueu os olhos novamente, e aquele pequeno brilho vermelho reapareceu. Seus olhos despertaram e procuraram pelo brilho vermelho, mas ele se foi com a mesma rapidez. O que seria aquilo? Já vira uma vez na entrada há mais ou menos meia hora.

Deixou o assunto de lado e observou o salão, tentando evitar os inúmeros pensamentos perturbadores que acabara de ter.

Era a conhecida nave principal do Grand Palais. O espaço foi levemente encurtado, provavelmente porque o lugar é grande demais para o número de convidados, e é bom ter um espaço proporcional ao número de pessoas para não parecer vazio. Observou as pilastras, o mezanino, a abóbada de vidro no teto, coisas que caracterizavam o salão como o interior do belo Grand Palais.

Marinette olhou para a abóbada de vidro, admirando a visão do céu estrelado atrás da estrutura de vigas e vidro, por um instante se lembrando do que estudou sobre aquele lugar na faculdade de arquitetura. Detalhes técnicos, mas interessantes. De qualquer forma, a visão daquele céu escuro apinhado de estrelas, um pedaço do universo a olho nu através da bela estrutura de vidro, era linda.

Focou na arquitetura do lugar, observando a estrutura da abóbada de vidro, permitindo-se levar para esquecer das coisas ruins, apenas naquela noite.

Adrien foi chamado por seu pai para participar das conversas e socializar com as pessoas importantes junto com ele. Adrien resistiu ao impulso de revirar os olhos e bufar para não criar problemas e foi acompanhar seu pai por um tempo.

Depois de entediantes minutos de “socialização”, Adrien fingiu ter visto alguém que conhecia ao longe e saiu de perto de seu pai e suas companhias.

Caminhando sem pressa e sem destino exato, foi a uma mesa pegar uma bebida. As taças organizadas em losango reluziam de limpeza em cima da mesa branca, ao lado de algumas garrafas de champanhe. Pegou uma garrafa e separou uma taça do monte, mas interrompeu o movimento ao ser surpreendido por uma visão inesperada.

Em uma mesa à frente, recostada displicentemente à beirada branca, uma garota com o quadril apoiado na mesa de madeira, de pernas cruzadas; meia taça como companhia enquanto olhava para o céu estrelado que se mostrava por trás da abóbada de vidro do Grand Palais, perdida em pensamentos. Seu cabelo era tão negro que às vezes se via um brilho azulado, dependendo de como a luz refletia nela. Seu vestido era vermelho vivo, simples, mas completamente estonteante. Justo ao corpo em cima, abrindo-se abaixo em uma cintura bem demarcada. Aquele fantástico vermelho-vivo que nunca ficou tão bem em alguém. Era de tirar o fôlego. Era perfeita.

Era Marinette.

Adrien sorriu. Seus pés automaticamente deram a iniciativa, mas ele parou antes do segundo passo. Será que deveria falar com ela? Não, com certeza não era uma boa ideia, Marinette foi demitida por causa dele, devia odiá-lo, Adrien pensou. Além do mais, ela parecia tão bem ali, tão calma e inspirada... Seus cabelos negros estavam ainda mais escuros na baixa luminosidade do lugar, contrastando com o vermelho do vestido, que ficou perfeito nela. Na verdade, nem a simples palavra perfeito parecia fazer jus àquilo, sem melhores explicações e especificações. Era perfeito no maior sentido da palavra. Era perfeito como algo que Adrien nunca vira antes. Ou vira? Não sabia, e pouco importava. Era perfeito como a brisa despertante de aventurosas noites, perfeito como a doce lembrança de uma paixão adolescente, perfeito como uma sensação familiar que não se sabe ao certo de onde vem, mas que borbulha e implora para ser reconhecida, querendo mais; perfeito como maravilhosos dias de juventude esquecida, como ser subitamente contagiado por uma antiga e deliciosa felicidade que costumava conviver com você todos os dias, e que agora volta à tona como em explosão de vontade e vida.

Perfeito como aquela garota de vermelho admirando o céu estrelado do Grand Palais.

Uma sensação muito boa encheu seu peito. Adrien não soube explicar a grande onda de nostalgia que tomou conta dele. Não fazia muito tempo desde a primeira vez que viu Marinette, mas ele sentiu como se a conhecesse a vida toda, e ao mesmo tempo sentia que não conhecia nada. Seus pés quiseram ir em direção a ela novamente, ansioso para conhecer cada detalhe seu.

Antes que pudesse fazer qualquer coisa, porém, Marinette abaixou os olhos mais ou menos na direção dele. O coração de Adrien saltou. Seus reflexos foram mais rápidos, e ele agiu sem perceber: rapidamente se virou e pegou uma taça da bandeja de uma funcionária do lado dele, aproveitando o movimento para desviar o olhar. Ainda podia sentir seu próprio coração. Ele bebeu o que quer que houvesse dentro daquela taça, torcendo para que Marinette não tivesse visto que ele estava parado apenas olhando para ela nos últimos sabe-se lá quantos segundos.

Adrien fez uma careta assim que percebeu o gosto fortíssimo e estranho do que acabara de beber. Olhou para a taça e viu um líquido azul que nunca havia visto na vida. Mas que negócio é esse? pensou, mas não se importou em não obter resposta.

Seu olhar se atreveu à mesa de aperitivos, apenas para ver Marinette em sua visão periférica, mas não viu nenhum borrão vermelho recostado à mesa. Ela não estava lá mais.

Adrien bufou diante de sua própria vergonha repentina em se aproximar dela.

Idiota.

Agente 3 continuou seu disfarce com empenho enquanto caminhava pela festa seguindo os passos Ninja Negra pelo salão. Observou a Rapunzel-Ladra-de-Miraculous passar pelas pessoas como quem não quer nada, como se não fosse uma ninja com potencial assassino procurando por ela. Decidiu então subir para o mezanino, que estava praticamente vazio.

Agente 3 se agachou atrás das esculpidas grades de proteção, observando as pessoas metros abaixo.

- Ela está socializando. – observou Agente 3, escondida do campo de visão das pessoas no salão. – Ela tem um disfarce. Uma identidade. – parou e ponderou sobre o assunto um instante. – Talvez falsa. – observou a ninja de azul sair de perto da mulher com quem estava conversando. Nunca eram conversas muito longas. – Quem será que ela é?

- Não sei. Nunca a vi antes do ataque, só a conheço de rosto. – disse Wayzz, também observando, debruçado no corrimão ao lado dela.

- E onde está o miraculous que ela roubou? – perguntou Agente 3, procurando a joia em formato de pavão na cabeça morena da garota passeando pelo salão. – Era um enfeite de cabelo, não era?

- Sim. E parece que ela não está usando. – disse, observando a ninja, com suas pequenas sobrancelhas verdes e lisas franzidas. – Estranho.

- Estranho mesmo. Por que ela não usaria?

- Não sei. Também não estou sentindo a Duusu por perto. Acho que ela não está aqui.

- Eu ficaria com esse miraculous na cabeça o tempo todo.

Os dois continuaram com a mesma expressão, observando a garota metros abaixo.

- Você anda se comunicando com a Duusu, não tem como saber? – arriscou Agente 3, olhando de lado para o kwami.

- Não. As mensagens dela raramente são tão claras. – disse Wayzz, logo depois acrescentando, olhando de lado para a garota: – Comunicações inter-kwamis não funcionam como a internet.

Agente 3 suspirou, voltando à vigília. Mas sua respiração logo ficou presa na garganta quando viu Ninja Negra fazer contato visual com Adrien.

Adrien procurava por Marinette com o olhar, quando se deparou com a garota de macacão azul e longos cabelos castanhos olhando diretamente para ele a alguns metros de distância.

Não, “olhando” é eufemismo, ela o encarava de forma estranha e nada amigável, quase como uma predadora, e não desviou o olhar ao ser vista. Adrien encarou-a de volta, e ela mudou sua expressão para algo um pouco mais normal, sorrindo de leve – pouco convincentemente – e cumprimentando-o com um aceno de cabeça. Mas algo em seu rosto ainda tinha um tom ameaçador.

Ela se virou lentamente, com os olhos nele, e foi embora.

Agente 3 apenas soltou a respiração quando viu a ninja se afastar.

- Ela não sabe quem ele é, sabe? – perguntou a garota em tom de dúvida.

- Não sei.

Agente 3 olhou para Ninja Negra mais uma vez, com desconfiança, insatisfeita com a resposta.

- Acho que se ela soubesse – começou ela, – teria dado um jeito de atrair ele pra fora da festa. Ela não fez nada, não pareceu mais interessada nele do que nas outras pessoas. Não é? – ela olhou para o kwami, sem ter absoluta certeza de sua própria teoria.

- Ela olhou para ele de um jeito diferente.

Esperou mais explicações, que não vieram.

- O que isso quer dizer?

Wayzz respondeu, ainda sem olhar para ela:

- Que ela está desconfiada, só isso.

Agente 3 voltou a olhar para o salão, suspirando em nervosismo contido.

Lá embaixo, Adrien acompanhou Ninja Negra com os olhos por alguns segundos, estranhando, antes de voltar a caminhar em outra direção.

Marinette passou por um grande arco, uma passagem alta esculpida nas paredes do Grand Palais, que levava a um largo corredor atrás do palco. Lá estavam os bastidores do desfile que em breve aconteceria, onde Vivienne provavelmente estaria.

Vários modelos, homens e mulheres, preparavam-se com a ajuda de costureiros e estilistas que trabalham para Vivienne ou para Gabriel, não sabia dizer. Por um instante ela se perguntou se Adrien não estaria ali. Afinal, ele era o modelo principal de Gabriel Agreste. Mas, estranhamente, ele não estava.

Tentou encontrar Vivienne, mas não teve sucesso antes de um homem baixinho de cabelo azul expulsá-la de lá.

Marinette tentou argumentar, mas o homem não quis saber. Sem escolha, ela deu as costas a ele e se dirigiu de volta ao salão, suspirando, dando uma última olhada na multidão preparativa colorida, quase como se desejasse estar ali; mas não para continuar a procurar Vivienne.

Distraída pelo ofuror dos bastidores, pôs o pé no salão sem olhar para frente e trombou de frente com alguém que vinha pelo caminho contrário.

Marinette se afastou murmurando um pedido de desculpas, e se surpreendeu ao erguer a cabeça e se deparar com o rosto de Adrien olhando para ela.

- Ah, oi. – disse Marinette, sentindo seu rosto corar de leve. Não achou que fosse sequer falar com Adrien nessa festa, e agora de repente ele aparece na frente dela. Além do mais, não era à toa que era modelo, Marinette quase se perdeu olhando para ele tão inesperadamente de perto.

- Oi – respondeu Adrien, risonho. Pareceu que ia dizer alguma coisa, mas hesitou; e então perguntou, apontando para o arco atrás dela: – O que você estava fazendo ali?

- Ah, eu estava procurando Vivienne onde achei que ela estava. Sou assistente dela. – explicou Marinette, lembrando-se, embora não tenha nada a ver com o que acabara de dizer, da garota de vestido verde que vira no início da festa. Qual era o nome dela mesmo?

- Ela te contratou de volta? – perguntou Adrien, erguendo as sobrancelhas claras; parecia aliviado.

Marinette levou alguns segundos para se lembrar do que estavam falando.

- Ah, sim, ela me deu uma segunda chance. – respondeu, se lembrando do episódio do elevador, onde foi momentaneamente demitida.

Adrien disse alguma coisa, mas sua voz não chegou aos ouvidos de Marinette; pois Charles havia acabado de aparecer em seu campo de visão.

Ele estava conversando com Gabriel Agreste a poucos metros de distância, recostado em uma viga enquanto digitava algo em seu celular. Seus cabelos escuros caíam sobre os olhos e deixavam apenas parte de seu rosto visível. Ele era ainda mais lindo do que Marinette se lembrava. Mas a situação não era mais a mesma.

O movimento que Adrien fez para olhar para trás despertou-a, e Marinette quis desesperadamente sumir dali. Achou que conseguiria superar, mas agora tinha certeza que não. Pelo menos não naquele momento.

Adrien virou-se para Marinette de sobrancelhas franzidas, e pareceu surpreendido.

- O que foi? – disse Adrien, sua voz mansa ao ver Marinette visivelmente abalada. Mas a expressão dele mudou ligeiramente logo em seguida, como se tivesse suspeitas da resposta, e ele resistiu à vontade de olhar para trás novamente.

- Nada. – murmurou Marinette, olhando para baixo, sua mente trabalhando rápido para pensar no que fazer.

Charles estava bem ali. Bem ali na viga mais próxima. A poucos metros. Podia vê-la assim que olhasse perto de sua direção.

- O que foi? Quem você viu? – insistiu Adrien, se aproximando sem olhar para trás, o que fez Marinette agradecer mentalmente. Se ele ficasse olhando para trás iria atrair o olhar de Charles.

Adrien tocou o braço dela, e pelo seu tom de voz Marinette percebeu que deve ter parecido realmente abalada. E estava. Odiou estar, mas não dava para evitar.

- Ninguém, eu só...

Seu pé instintivamente deu um passo para trás. Marinette queria desesperadamente sair dali antes que Charles a visse.

- Não foi nada. Eu... Eu tenho que ir... – disse, sem conseguir bolar uma desculpa. Assim que falou, virou-se de costas para ir embora.

- É ele, não é? – a voz de Adrien falou mais alto do que ela, e Marinette parou. Como ele poderia adivinhar?

Apenas mirou seus olhos azuis para o nada por alguns segundos, ainda de costas, e se virou para encarar Adrien. No tom de voz que ele usou já estava implícito o quanto ela estava sendo boba. Pelo menos foi essa a interpretação que Marinette fez.

- É. – respondeu em um sussurro, olhando para Adrien com os olhos brilhando em tristeza e desamparo.

Sentiu-se ridícula. Ridícula e extremamente frágil, ultrapassando o limite em que se é possível ter alguma dignidade. Sentiu o peito subir e descer com sua respiração instável, e seu olhar foi para várias direções, tentando pensar no que fazer, sentindo-se bastante perdida. E então olhou para o loiro uma última vez, e saiu correndo.

Voltou pelo aro que passara há poucos minutos e foi na direção oposta à dos preparativos do desfile. Antes de chegar em um local totalmente isolado, porém, ouviu Adrien chamar. Só parou quando virou o corredor e não viu ninguém, deixando que ele a alcançasse.

Adrien encontrou Marinette com as costas apoiadas na parede e o rosto coberto pelas mãos.

- Ei. – disse a voz de Adrien bem próxima, suave como um consolador de almas frágeis, acariciando seu braço.

Marinette queria abrir um buraco no chão e desaparecer para algum lugar longe de pessoas, onde não tivesse que esconder seus sentimentos. Mas quando Adrien tocou seu braço, Marinette teve que se esforçar para resistir à vontade de abraçá-lo e cair no choro.

- Ei... Não fica assim... – disse ele, sem saber exatamente como consolá-la, mas sinceramente triste por ela.

Ah, como ela queria desabar. Sua garganta apertadíssima implorava para chorar todos os litros que seus olhos seguravam. Mas estava em público. Seria o fim do mundo começar a chorar no meio de um lugar cheio de pessoas como aquele, e ainda por cima era seu ambiente de trabalho. Não, ela não podia chorar. Pelo menos não até chegar em casa.

- Vem, vamos sair daqui. – pediu Adrien, como se tivesse lido seus pensamentos, sua voz ainda doce e consoladora. – Eu te levo pra algum lugar.

Marinette fez muita força para não chorar, e ergueu o rosto para Adrien a tempo de ver Charles vindo na direção deles.

Charles e o Sr. Agreste chegaram no mesmo corredor em que eles estavam.

Eles estavam vindo.

Na direção deles.

Não deu tempo de fazer nada. Charles a viu, e assim que a viu o espanto se espalhou em seu rosto e ele foi incapaz de continuar andando. Marinette sabia que devia estar devolvendo um olhar parecido, com a respiração congelada nos pulmões. Adrien queria poder tirá-la dali, mas seu pai estava vindo provavelmente para falar com ele.

Adrien se virou para Marinette e disse em voz baixa para ela ir embora, como uma última tentativa, mas ela nem se mexeu, apenas olhou para ele com olhos azuis petrificados.

Não dava para fugir. Agora já era. Os dois já haviam visto um ao outro.

Adrien se virou para os dois que chegavam, sem escolha.

Charles rapidamente enfiou a cara no celular, ele parecia ter muita vontade de sumir dali. Adrien não se censurou em lançar-lhe um olhar odioso. Sentia-se na obrigação de não deixar que Charles a magoasse novamente, não podia deixá-la para desabar na frente daquele desgraçado.

Postou-se mais à frente de Marinette com um instinto protetor, quase sem perceber.

- Adrien, posso saber o que está fazendo aqui? – disse seu pai ao se aproximar com seu assistente, naquela voz que por si só já reflete sua frieza natural.

Adrien olhou para ele, desviando o olhar para os lados logo em seguida, tentando inventar uma explicação, mas não encontrou nenhuma. Não tinha motivo para os dois estarem naquele corredor a não ser a verdade. Mas ele não iria expor Marinette, então...

- Não. – disse, sem querer ser grosso. Gabriel fechou a cara para ele, e seu desgosto aumentou mais ainda quando olhou para a garota atrás dele.

Charles evitava o olhar de todos mexendo no celular, fingindo-se ocupado.

Covarde...

Pela primeira vez depois de seu abandono, Marinette o via pessoalmente. Depois de sua fuga, lá estava ele, seus olhos temerosos expondo a mesma covardia que Marinette vira apenas expressada por sua ausência durante os últimos meses.

Adrien não podia ver Marinette em sua visão periférica. Ela estava perto, mas precisaria olhar por atrás do ombro para vê-la.

- Não faça isso de novo. – disse Gabriel, voltando-se para o filho, sem mudar sua expressão dura. – Se vai ficar se enfiando em cantos por aí com ela, prefiro você no salão junto comigo.

- Não estamos enfiando em cantos, estamos... Tentando encontrar Vivienne.

Gabriel estreitou os olhos para os dois.

- Eu sei onde Vivienne está. – disse ele. – Se querem encontrá-la, então vamos logo.

Adrien olhou demoradamente para Charles, com puro nojo e raiva. Tinha que se livrar deles, não atravessar o salão com os dois.

Gabriel obviamente notou o olhar esquisito do filho para seu assistente. Olhou desconfiado para Charles, e então voltou-se para Adrien, com o mesmo olhar desconfiado.

- Obrigada, mas não será necessário. – disse Marinette, dando um passo à frente, antes que Gabriel dissesse alguma coisa. – Acabei de receber uma mensagem de Vivienne, já sei onde encontrá-la.

Adrien olhou para Marinette ao ouvir sua voz, e foi um tanto surpreendido. Não nem um sequer indício de fragilidade que aparecia há poucos segundos. Pelo contrário, havia algo incrustado em seu olhar como uma pedra. Uma pedra de dor e raiva, mascarada ao olhar para o Sr. Agreste, que não era o motivo de tais sentimentos.

- Pois bem. – disse Gabriel. – Adrien, você vem comigo então.

Adrien, relutante em ir, notou que Marinette, depois de desviar o olhar de Gabriel, olhou para Charles com uma frieza que ele nunca havia visto nela. Havia em seu rosto um ódio profundo, enquanto Charles não a olhou na cara em momento algum. Mas Marinette o encarava sem fraquejar.

E Gabriel obviamente notou que algo estava muito estranho ali.

- Vocês dois se conhecem? – perguntou, olhando de Marinette para Charles. Este olhou para Gabriel como se desejasse por tudo no mundo que ele não tivesse feito essa pergunta.

Adrien encarou Charles, esperando que ele respondesse, já que Marinette não respondeu e que a pergunta aparentemente foi dirigida a ele.

A pergunta pairou no ar. Vocês dois se conhecem? Como será que Charles explicaria que conheceu Marinette sim, e muito bem, o bastante para deixá-la grávida e fugir totalmente de sua responsabilidade como pai? Adrien queria muito ver a reação de seu pai ao saber disso. Mas é claro que o covardinho de merda não chegaria nesses detalhes.

Charles olhou diretamente para Marinette pela primeira vez. Era impossível decifrar sua expressão. Ele olhou de volta para Gabriel.

Marinette o encarava avidamente. Não é possível que ele fosse covarde o bastante para dizer...

- Não. – disse Charles, com indiferença.

Marinette sentiu algo desmoronar de vez dentro de si. Charles acabara de pisar em cima dela, desprezando tudo que sentia por ele e se mostrando nem um pouco disposto a se redimir, nem com seu filho. Seu filho.

Adrien não sabia se Marinette queria matá-lo ou morrer, talvez as duas coisas. Só sabia que algo mudou profundamente em seus abalados olhos azuis. Mas a raiva permanecia, ainda mais forte. Marinette sentiu seus olhos se encherem de lágrimas, e sabia que dessa vez não aguentaria. Mas também não permitiria ser humilhada.

- Se me dão licença, a Vivienne me espera. – disse ela, com um sorriso cínico. Em seguida, virou-se para o ex e, com um significativo olhar duro, terminou: – Foi um prazer te conhecer, Charles. Ainda bem que o seu filho não terá o mesmo “prazer”. Deixe estar, talvez seja melhor ele não conhecer o pai mesmo.

E então, com um último friíssimo olhar, Marinette foi embora.

Quando passou por Charles, ele pareceu quase atordoado ao digerir o que Marinette acabou de dizer. Por um instante parecia que sua máscara havia caído. Mas logo ele endireitou a postura e fingiu indiferença – ou pelo menos tentou fingir. Mas não dava para disfarçar que o afetou. Como não afetar? Uma coisa era engravidar alguém e ir embora, fingir que não aconteceu, recusar a criança, dizer a si mesmo que você não tem nada a ver com isso. Mas quando se ouve dizer pela primeira vez, com todas as letras, “seu filho”, a força dessas palavras é tão grande que seu peso caiu de uma vez, somado à noção de que foi canalha o bastante para dar as costas ao que deveria ser sua maior preocupação na vida. É o curso natural das coisas, os pais devem cuidar dos filhos. Até os canalhas sabem disso, embora muitíssimas vezes continuem tão canalhas quanto.

Gabriel encarou seu assistente com a severidade no olhar de quem está prestes a demitir alguém.

Agente 3 e Wayzz observavam em silêncio Ninja Negra caminhar pelo salão escuro, pintado de luzes coloridas e cheio de música, socializando com as pessoas como qualquer outro convidado comum, os dois lado a lado no corrimão do famoso mezanino do Grand Palais.

Mas que penteadinho feio esse, hein? Pensou Agente 3, observando aquele emaranhado de tranças na cabeça da garota. Sabia que era algo bobo a se pensar naquele momento, mas não dava para evitar. Já não é muito esperto ter algo tão fácil de identificar, e ainda por cima ela parece nem saber o que fazer com tanto cabelo. Por que não corta de uma vez? Ela segurou uma pequena vontade de rir. Acho que cabelo é a única coisa que essa menina tem na cabeça.

- Ela também tem ótimas técnicas de luta, que podem te matar se ela quiser. – disse Wayzz, quase como se desse uma bronca na garota.

- Você sabe ler mentes? – perguntou Agente 3, encarando-o espantada.

O kwami apenas deu de ombros.

- Às vezes eu tenho essa habilidade.                                                           

- “Às vezes”? Vem cá, o que mais você faz que eu não sei?

- Não sei, mas, com toda a educação, será que podemos nos concentrar na Ninja Negra?

- Tá, tudo bem. – murmurou Agente 3, voltando a vigiá-la no salão. Agora a vilãzinha estava sentada sozinha com uma taça de líquido escuro na mão, apenas observando as pessoas. Mas Agente 3 agora pensava em outra coisa.

Olhou de canto para o kwami, observando-o como se estivesse prestes a fazer uma pergunta pessoal. Ou quase isso.

- Wayzz?

- Diga.

Ela hesitou por alguns segundos, pensando no que ele havia dito há poucos segundos.

- Deixa pra lá. – disse, voltando seu olhar para o salão abaixo novamente.

Wayzz suspirou, lendo os pensamentos dela.

- Tudo bem, pode perguntar.

Agente 3 continuou olhando para Ninja Negra lá embaixo no salão ao fazer a pergunta.

- Como eram as coisas antes da Batalha das Memórias Perdidas?

- Bem... – suspirou o sereno kwami tartaruga. Agente 3 olhou de lado para ele mais uma vez, reparando em suas expressões. Ele parecia um senhor de idade prestes a transmitir um pouco de seus conhecimentos. Suas antenas verdes davam a aparência bastante oriental dele, que inspiravam respeito e até certa admiração. – Bem, aconteceu muita coisa. O que quer saber?

- Como as coisas eram com a Ladybug e o Chat Noir, você sabe. Você é o único aqui que se lembra de tudo.

- Tudo bem. – ele continuou com os olhos no salão, o que fez Agente 3 se lembrar de fazer o mesmo. – No começo as coisas iam bem. Marinette e Adrien foram escolhidos a dedo assim como a maioria de seus antecessores, mas não tivemos taanto tempo assim dessa vez por causa de Hawk Moth. – Agente 3 buscou na memória a lembrança de quando Mestre Fu lhe explicou quem era Hawk Moth, o maior oponente de Ladybug e Chat Noir, que muitíssimo provavelmente foi quem apagou os heróis da memória de todos no dia daquela última batalha. – Não podíamos demorar muito a escolher os portadores ou Hawk Moth destruiria a cidade inteira. Mestre Fu seguiu seus instintos. E deu certo.

Agente 3 sorriu.

- Ladybug e Chat Noir faziam uma dupla bem harmoniosa. – continuou Wayzz. – Eles se davam muito bem. Só que depois de um tempo as coisas começaram a ficar bastante difíceis, e eles já não estavam mais dando conta sozinhos como antes.

Por um momento os dois se atentaram à ninja que se levantou e se dirigiu à terceira mesa mais perto dela. Terceira mesa. Atravessou por duas direto, e foi apenas à terceira, que tinha praticamente as mesmas coisas que as outras duas. Que tipo de estratégia ela está usando?

Ela se serviu de mais bebida, com a maior calma do mundo.

Os dois relaxaram um pouco quando Ninja Negra se sentou novamente, perto da mesma mesa. Será que ela estava se posicionando em lugares estratégicos ou seriam aleatórios, como se ainda estivesse apenas circulando pelo lugar à procura de sua presa?

Dava até um pouco de medo em pensar dessa forma, porque Agente 3 sabia que a presa era ela.

- Acho que são lugares aleatórios. – respondeu Wayzz aos pensamentos da garota. – Não acho que ela esteja executando um plano além do de espionar todo mundo. Não estaria fazendo isso se já tivesse te encontrado.

Ela observou a ninja por alguns segundos, sem ter certeza. Lá embaixo, no salão, já estava relativamente escuro; em cima, no mezanino, estava mais escuro ainda. Seria difícil alguém notar quem quer que estivesse ali em cima.

- É, acho que você tem razão.

Os dois ficaram quietos, até Agente 3 retornar à conversa que estavam tendo.

- E como foi quando... Quando a equipe de heróis aumentou?

- No começo, bem difícil. Eles estavam acostumados a trabalhar sozinhos, só a Ladybug e o Chat Noir. – explicou Wayzz. – A dinâmica deles era ótima, e quando novas super-heroínas chegaram, tiveram muitos conflitos. A Ladybug é... Meio ciumenta. – ele deu uma risadinha.

- Ela gostava do Chat Noir? – perguntou Agente 3 com certo espanto e empolgação, como quem descobre um novo casal para shippar. – Tipo, do Chat Noir como Chat Noir?

Wayzz riu.

- Bom, pergunte a ela, não a mim.

- Você disse...

- Bem, ciúme não é só quando se gosta de alguém desse jeito.

- Ah, larga de ser estraga-prazeres, vai.

Os dois riram baixo antes de se virar de volta para Ninja Negra, ainda sentada em seu canto no salão. A festa já estava praticamente na metade, e os dois nem conseguiram um real avanço com relação à Ninja, e, por uma coincidência do destino – ou não –, Marinette e Adrien estavam na mesma festa, mas também não havia acontecido nada entre eles até agora. Bom, pelo menos Agente 3 achava que não.

- Espera, cadê eles? – disse ela, erguendo-se do corrimão.

- Quem?

- A Marinette e o Adrien! – assim que disse isso, Marinette apareceu de um dos corredores que não estava sendo usado para os funcionários.

- Adrien deve estar com o pai dele – disse Wayzz. – Gabriel Agreste também não está no salão.

Embora ainda não estivesse cem por cento aliviada, permitiu-se tranquilizar um pouco. Mas continuou atenta.

- Quer saber o que aconteceu depois? – perguntou o kwami.

- Depois do quê?

- Depois de Queen Bee e Volpina.

Agente 3 olhou curiosa para ele.

- Quero.

Wayzz buscou na memória por onde começar.

- Depois de um período de adaptação ao novo formato de grupo, as coisas começaram a funcionar bem. Vocês começaram a agir como uma equipe de verdade.

Ela sorriu.

- Mas as coisas pioraram de uma hora para a outra. – disse o kwami. – Todos estavam na expectativa, mas tudo foi por água abaixo de um jeito bastante inesperado. Todos ficaram chocados.

- O que aconteceu? Para de fazer suspense! – disse ela, com certa irritação.

- Henri Courier foi morto.

- Henri Courier? – perguntou Agente 3, franzindo as sobrancelhas. – Ele tem alguma coisa a ver com a Vivienne Courier?

- Sim, era filho dela.

- O que aconteceu com ele?

- É difícil saber exatamente o que aconteceu, mas as pessoas fizeram suas deduções. A boa relação entre a população e os super-heróis quase foi destruída.

- Por quê? O que disseram que aconteceu?

- Que os heróis de Paris foram... Diretamente responsáveis pela morte dele.

Agente 3 parou um momento, chocada.

- Não é possível que pensaram uma coisa dessas!

- Eles pensaram. Todos diziam que a Ladybug o havia matado...

- O quê?

-... Com a corda de seu ioiô.

- Impossível. Isso não pode ser verdade. Essas pessoas ficaram loucas. A Ladybug matando alguém? Isso não soa como ela de jeito nenhum. Não soa como nenhum super-herói. Nenhum.

- Mas do jeito que aconteceu, pareceu mesmo que foi ela.

Agente 3 olhou de esguelha para Wayzz. Aquilo não podia ser verdade.

- Você não acha que ela fez isso, acha?

Wayzz deu de ombros, suspirando infeliz.

- Não sei.

Sua resposta não foi como ela queria.

- Você acha mesmo que tem alguma chance de a Ladybug ter feito isso de propósito? – pressionou, esperando uma resposta mais clara.

- Talvez.

Agente 3 continuou a encará-lo, incrédula. Apoiou a cabeça nas mãos, seus dedos afundando em seus cabelos, suspirando.

- Não acredito. – ela encarou o nada à frente, por alguns segundos em silêncio. – Não acredito nisso. E não sei como tem gente que acreditou. Num mundo como esse, nós precisávamos de alguém que servisse de exemplo, que tivesse todas as qualidades que queríamos ter, e desse... Esperança para as pessoas. Era o que a Ladybug devia ser. É o que ela é. Não deviam duvidar dela. Deve ter sido um acidente, ou sei lá. Qualquer outra coisa.

- Foi o que Chat Noir disse à imprensa. Que foi um acidente. Mas as pessoas não ficaram satisfeitas.

Agente 3 suspirou, impressionada com a burrice das pessoas de Paris. Sentou-se no chão, cansada, recostada na parede; e os dois ficaram em silêncio por um tempo. Wayzz continuou a vigília por ela.

- A Ninja Negra se levantou. – avisou ele depois de alguns minutos, fazendo Agente 3 voltar ao seu posto.

Ela caminhava calmamente entre as pessoas na festa, muitos deles já tendo bebido o suficiente para ficarem mais alegrinhos. A pista de dança ainda estava ocupada, e era possível ver que algumas pessoas já deixaram a festa. Provavelmente as que não estavam muito interessadas em ver a coleção de roupas desenhada por Gabriel Agreste e Vivienne Courier, pois Agente 3 ouviu de um dos funcionários que teria um desfile de amostra. Mas o salão ainda estava bem cheio.

Agente 3 notou que Ninja Negra parecia caminhar com um destino em mente, ela estava indo diretamente para algum lugar. Havia deixado sua taça em cima de uma mesa qualquer e prosseguido desviando da multidão na beirada oposta da pista de dança. Estava cada vez mais difícil vê-la no meio da multidão.

E então, sem mais nem menos, ela sumiu.

- Pra onde ela foi?

Agente 3 procurou avidamente nas proximidades de onde havia desaparecido, mas nem sinal da garota.

- Droga! – disse Agentee 3, frustrada, descontando a raiva batendo no corrimão da grade do mezanino.

O que eles não sabiam... Era que Ninja Negra tinha uma descrição da Agente 3.

E que a predadora acabou de avistar sua presa.

 

- Marinette! – Adrien chamou, quando a alcançou no meio do salão.

Marinette levantou o olhar, antes cabisbaixo, e virou-se para ele. Adrien se aproximou avaliando sua expressão, duvidoso, antes de perguntar:

- Você está bem?

- Estou. – murmurou, balançando a cabeça, parecendo distante. Adrien se aproximou e tocou seu braço gentilmente.

- Quer ir para algum lugar?

- Não, eu... Não precisa.

- Pode falar, qualquer lugar que você quiser ir eu te levo.

Marinette olhou para ele, perdida, tentando se manter no limbo emocionalmente antes que quisesse chorar novamente. Não sabia se ia, se ficava, onde iria, o que fazia agora... Não sabia de mais nada.

- Não sei... – disse, com a voz rachada, e a vontade de chorar voltou. Seus olhos eram duas safiras desamparadas, prestes a cair no choro. – Não sei, eu só... Só quero sair daqui...

Adrien, ao vê-la prestes a desabar, levou-a para o primeiro corredor vazio que encontrou.

E assim que se viram sozinhos, ela finalmente desatou a chorar. Tampou o rosto com as mãos e deixou todas as lágrimas virem. Adrien, sentindo-se completamente sem chão vendo-a assim, a abraçou para confortá-la. Marinette afundou o rosto no casaco branco dele, agradecida, sem se importar com mais nada.

Era bom chorar. Depois de se segurar tanto, ela precisava desabafar. O estranho é que agora Marinette estava agarrada a um garoto que ela conheceu praticamente ontem, chorando em seu ombro como se ele fosse seu melhor amigo. Mas que se dane. Era gostoso ficar ali.

Não levou muito tempo para ela se acalmar. Marinette se afastou fungando e limpando o rosto com as mãos, recompondo-se.

- Me desculpa – disse Marinette, enxugando as lágrimas, quando notou que seus dedos estavam pretos de maquiagem, assim como o casaco branco e caro de Adrien. – Ah meu deus, me desculpa... – ela se aproximou e tentou limpar o casaco dele. Estava até engraçado aquelas duas manchinhas pretas na altura do peito dele, perto do ombro. Marinette deixou escapar um riso. Adrien também riu.

- Tudo bem, deixa. – disse ele, risonho.

Marinette parou de tentar limpar o casaco e abaixou a cabeça, rindo de sua própria mancada boba.

Adrien, feliz em vê-la melhor, levou sua mão ao queixo dela e ergueu seu rosto para que olhasse para ele. Assim o fez, e Marinette se deparou com o olhar de Adrien: olhos verdes de pálpebras baixas, olhando-a de perto. Não tinha como descrever de outra maneira: ele era indescritivelmente lindo, seu rosto era uma obra completa, moldado por cabelos loiros de caimento perfeito sobre aquela perfeição de rosto e de olhos. E ele era de tirar o fôlego olhando-a desse jeito. Marinette se sentiu derreter sobre seu olhar.

Ele ia dizer alguma coisa, mas se esqueceu completamente assim que seus olhos se encontraram. Dava para ver detalhes dela que não se viam tão claramente de longe. As pequenas e adoráveis sardinhas em seu rosto, perto dos olhos; a delicadeza na curva de seu nariz; o modo em que, mesmo de pálpebras baixas, seus olhos azuis ainda eram cheios de energia e vida, e ele podia ver toda essa energia, que prendia ainda mais a atenção. Não tinha como não prender. Marinette tinha um jeito diferente de olhar. E agora ele se encontrava diante dela, segurando seu queixo gentilmente, onde a poucos milímetros de seu polegar se encontravam seus lábios rosados, levemente entreabertos, por onde escapava sua respiração ligeiramente ofegante. Só era preciso alguns centímetros de ousadia para tornar o ato e o desejo completos.

E então o desejo se tornou realidade. Eles se beijaram.

O mundo parou para deliciar esse momento. Os lábios dele vieram primeiro com calma, e depois, ao conhecer os dela no primeiro contato, foram com mais intensidade, e sua energia aflorou, e tomou conta dela toda. A mão dele já não estava apenas no queixo dela, estava no pescoço de Marinette, com o polegar em sua bochecha. Suas respirações ofegantes, seus corpos quentes, os dois foram aumentando de intensidade até quase devorarem um ao outro. Até que Adrien parou.

Ele se afastou, ofegante, se dando conta do que estava fazendo.

- Me desculpa... – disse, tirando as mãos dela. – Me desculpa, eu não devia...

Ela franziu as sobrancelhas, também ofegante.

- O que foi? – disse Marinette, sua mão escorregando de seu ombro quando ele se afastou.

- Você... Estou me aproveitando de você.

- Do que você está falando? – disse ela, com muita vontade de mandá-lo calar a boca e continuar a beijá-la.

- Você está... Hum... Sensível agora, e se eu aproveitasse disso pra ficar com você, eu estaria tirando vantagem. – explicou, tentando não deixá-la ofendida. Ela parecia um pouco irritada com seu gesto. 

- Olha, eu sou perfeitamente capaz de dizer quando eu quero ou não ficar com alguém. – é, ela definitivamente estava irritada. – E parece bastante conveniente que você diga isso só depois de me fazer de boba, não é?

- Hã? Fazer você de boba? – ela não tinha dito que era perfeitamente capaz de dizer quando quer ou não ficar com alguém? – Era exatamente isso que eu estava querendo evitar que você pensasse.

Marinette suspirou, frustrada, e pegou sua bolsa que havia caído no chão quando eles se beijaram.

- Com licença, Adrien. – disse, dando as costas e indo embora.

- Mas... Marinette!

E ela foi embora sem olhar para trás.

Adrien deixou os braços baterem aos lados do corpo.

Mulheres.

Não era para ela ter ficado assim, Adrien só queria fazer a coisa certa. Foi preciso um grande esforço para parar de beijá-la. Ela estava maravilhosa. Ela é maravilhosa. Adrien suspirou só de lembrar.

Mas Marinette está apaixonada por Charles, não por mim, o loiro forçou-se a se lembrar.

Ela só estava tentando esquecer o ex-namorado.

Adrien suspirou, muito mais decepcionado do que pensou que estaria. É claro que ela gosta dele, eu já sabia disso. Mas queria tanto que isso não fosse verdade... Bom, se Charles não fosse um canalha, pelo menos! Se ele fosse um cara legal, Adrien pensou, ele teria que deixá-la, já que o outro a faria mais feliz. Mas, para grande azar de Marinette, esse não é o caso. Infelizmente.

Deveria ir atrás dela e tentar convencê-la de que ninguém como Charles merece alguém como ela? Ou isso seria uma má ideia? Ela parece gostar muito de Charles. Mas isso apenas deixava Adrien com ódio dele, por ter Marinette na palma da mão e desrespeitá-la como já fez e como provavelmente faria novamente.

Ah, mas ela não está na palma da mão dele, pensou, ao se lembrar de como Marinette falou com Charles. Ela não está na palma da mão de ninguém.

Mas ela ficou bastante abalada com a traição dele. De fato, como não estaria? Mas será que ela ainda gostava dele? Será que ainda assim ficaria com Charles?

Adrien bufou de frustração e raiva. Não queria que fosse assim. Queria que ela nunca tivesse conhecido Charles, que nunca estivesse com ninguém que a tratasse mal, e que em vez disso estivesse com...

Comigo.

Ele parou. De repente se tocou de que fazia muito, muito tempo que não se sentia assim. Era como se tivesse algo em seu estômago que o agita toda vez que não está com Marinette, pressionando-o e insistindo para ver mais uma vez aquele rosto, aqueles olhos azuis...

Adrien boqueabriu-se quando se deu conta. A epifania foi tão grande que quase deixou-o tonto.

É ela.

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


Terceira e última parte saindo em breve!


(Em algum dia entre hoje e segunda que vem)


P.S.: com "última parte" quis dizer da festa, a fanfic em si tá longe de acabar ainda.


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