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História Os Últimos Filhos - Vida de Estudante é Fogo


Escrita por: Skjald

Capítulo 1 - Vida de Estudante é Fogo


Fanfic / Fanfiction Os Últimos Filhos - Vida de Estudante é Fogo


Talvez você me considere um cara um tanto quanto problemático.

Pra começar, eu praticamente não frequentava as escolas regulares, e fui expulso de todas as quais frequentei. Isso porque eu tenho uma enorme facilidade em causar confusão: espancar valentões, atingir acidentalmente um professor com uma agulha senbon, manufaturar explosivos no laboratório de ciências ou causar pequenos incêndios; essas são algumas das coisinhas que fiz em minha breve vida estudantil. Se você é uma pessoa "normal" e acha isso uma loucura, quero que saiba de duas coisas: primeiro, pessoas como nós são mais comuns do que você imagina. Segundo, nós invejamos suas vidinhas pacatas. Deixe-me explicar melhor. Não somos meramente crianças desordeiras, mas... peculiares, digamos. Nós temos algumas habilidades bastante incomuns. Isso não inclui inteligência matemática avançada ou coisa do tipo, mas sim habilidades realmente sobrenaturais, que vão desde clarividência até o poder de viajar pelas sombras. Eu, por exemplo, posso detectar alvos e possíveis agressores por meio de sua assinatura energética ou calor corporal, entre algumas outras coisas. Bem, se você é um de nós, certamente vai se identificar com a maioria dos meus relatos. E certamente é, já foi ou pretende ser membro de uma Guilda.

E por quê nós invejamos vocês? Pelo simples fato de que a esmagadora maioria de nós não consegue chegar a idade adulta. Se os pais ou responsáveis não apresentarem sua criança especial a uma Guilda o mais rápido possível, há quase cem por cento de chance de que ela acabe morta antes dos dez anos de idade, seja por assassinato, sobrecarga de energia ou por atrair coisas que não fazem parte do nosso mundo. Eu posso dizer que sou um afortunado por ter chegado aos meus dezoito anos e ter passado por menos de cinco situações onde quase acabei morto. Completei dezenove recentemente, e tomei uma decisão inusitada para um cara como eu: decidi voltar a estudar em escolas regulares e tentar levar uma vida normal. Qual o por quê disso? Veja bem, eu sou um desertor. Não vou me alongar contando minha trágica história de vida: saiba apenas que meu pai foi traído e morto por um companheiro de grupo, e eu quebrei as regras de conduta ao desertar e vingá-lo sem a permissão dos meus superiores. Então, eu fui proscrito e fugi da minha (nem tão) pacata Belo Horizonte para a maior e mais devastada metrópole brasileira, a poeirenta e tóxica São Paulo. Tudo que precisei fazer então foi arrumar um nome, documentos falsos e alguns cartões de crédito clonados.

Não foi nada difícil, se quer saber. Eu não tenho nenhum nome civil ou algo do tipo. Kölbjörn Furia é o meu nome de registro nos arquivos de minha antiga guilda, a Falange Negra, mas a maioria me chama simplesmente de K. Bem, voltemos ao que me interessa. Eu me instalei em uma pequena pousada em um bairro mais afastado e providenciei alguns documentos falsos com para efetuar uma transferência escolar, já que estávamos no meio do ano e não tinha como eu simplesmente cair de paraquedas em uma escola aleatória. Feito isso, eu já podia praticamente ser como uma pessoa normal. Levei os documentos e me matriculei em uma escola um pouco mais afastada da minha localidade, para evitar algum possível incidente. Tive ao menos a decência de escolher uma escola de qualidade, claro. Eu estava disposto a ser bonzinho dessa vez, mas eu sabia que mais cedo ou mais tarde eu me envolveria em alguma confusão. Só não imaginava que ia ser logo no meu primeiro dia. 

Eu fui mais cedo para a escola, para conhecer o ambiente e tudo o mais, com calma. Eu já estava próximo ao portão de entrada quando ouvi algumas gargalhadas do outro lado do muro, que parecia dar em uma quadra externa ou uma piscina, ou algo do tipo. Parecia que algo realmente divertido estava acontecendo. Tomado pela curiosidade, acabei escalando o muro para ver o que é que estava pegando do outro lado. Eu sinceramente não esperava que alguém fosse se assustar com um aluno novo esquisito com um capuz cobrindo a cabeça dependurado no muro. Nada interessante, eram apenas algumas garotas patricinhas que pareciam estar fofocando sobre outras meninas ou os garotinhos emo que elas achavam lindos. Não dei a foda pr'aquilo e segui meu caminho. O tiozinho da portaria me saudou calorosamente e se ofereceu para me mostrar o lugar, mas eu declinei educadamente. A escola era um prédio único com um pátio aberto, com salas em dois andares superiores e um grande ginásio que se conectava ao pátio por meio de um corredor. Havia um edifício anexo que podia ser acessado na intersecção do pátio e do ginásio, onde eram realizadas as aulas da educação infantil, no período da tarde. A área de piscina era externa e anexa ao ginásio, localizada ao lado direito de uma pequena quadra externa. Eu passei por lá novamente, imaginando que as garotas já haviam saído dali, mas não tinham. E então eu entendi o que se passava: elas estavam "encorajando" uma outra garota a pular na piscina. Na verdade era mais algo do tipo "Ou você pula ou a gente joga você". A garota era completamente diferente das demais: era pequenininha, pele branca pálida e cabelos cortados curtos, na altura do ombro, aquele estereótipo de colegial tímida amorzinho que você vê em animes. Veja bem, eu odeio bullying ou qualquer outro tipo de opressão, então dar uma de "João Sem-Braço" e sair de fininho estava fora de cogitação. Mas eu não podia simplesmente chegar e tentar defender a garota, até porque eu era só um aluno novato ali, sem nenhuma moral. Felizmente, descobri que haviam ratos naquela escola.

Ratos normalmente assustam garotas patricinhas. Imagine então um rato pegando fogo. Como eu disse, eu não penso em soluções convencionais. Antes que o pobre ratinho pudesse entender o que estava acontecendo, eu já o tinha pego pelo rabo e ele ficou se debatendo em minha mão esquerda enquanto eu mordia meu polegar direito para sangrá-lo. Duas outras habilidades minhas: eu sou MUITO rápido e posso criar chamas usando meu sangue como combustível. Passei o dedo sangrando pelo rato enquanto murmurava alguns encantamentos e traçava um sinal de mão. Soltei o pequeno roedor flamejante e ele correu desgovernadamente enquanto eu cantava baixinho o mais refinado som de Queen. Mas bem, merda sempre acontece. Eu já estava chegando no pátio quando eu ouvi as patricinhas correndo e gritando feito loucas. Melhor que a encomenda. Foi então que eu senti um cheiro de fumaça bem mais forte que o habitual e um ponto de alta temperatura a mais ou menos seis metros de distância de onde eu estava. 

Eu tinha causado a porra de um incêndio.

Pelos deuses!

Cadê a branquinha?

Corri de volta para o ginásio e me deparei com a merda do fogo se alastrando mais rápido do que eu imaginei. Fogo selvagem. Como um rato flamejante fez isso eu não sei, mas não tinha tempo para descobrir. A garota não estava em lugar nenhum do ginásio, pelo menos não aonde eu pudesse ver. Foi então que eu escutei mais atentamente e ouvi um barulho estranho vindo da piscina. Não sei se ela caiu na água porque quis, porque foi jogada ou para se salvar, mas pelo jeito que ela se debatia ela não fazia a menor ideia de como nadar. 

Pulei na água, de moletom, uniforme e tênis. Mergulhei por baixo dela e segurei-lhe as pernas, para lhe dar estabilidade. Foi um milagre que ela ainda não tivesse se afogado. Arrastei-a para fora da piscina e deitei-a na borda. Ela tossia e respirava com dificuldade, mas parecia não estar muito consciente. Peguei-a no colo e andei o mais rápido que podia sem escorregar por causa dos tênis encharcados. Reparei melhor em suas feições, enquanto a carregava. Ela era linda, delicadíssima, como uma borboleta. Não usava brincos, nem maquiagem, nem tinha as unhas pintadas, sua beleza era perfeitamente natural. O alarme de incêndio soava e os brigadistas orientavam os alunos quando cheguei no pátio. Saí por um portão lateral e pedi ajuda para ela. Eu a deixei recostada no muro e pedi ajuda para ela. Eu poderia perfeitamente ter prestado os primeiros socorros, já que eu era parte da divisão médica da minha guilda, mas decidi não me expôr demais. Tudo que eu podia fazer era voltar para o meu pequeno covil em uma pequena pousada, completamente encharcado. Antes de ir, dei um último vislumbre às chamas.

- É, rapaz. Vida de estudante é fogo.



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