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História Os Últimos Filhos - O Caminho dos Súditos - Parte I


Escrita por: Skjald

Notas do Autor


Hello!

Eu sei que demorei um pouco (muito, na verdade), mas tá aí um capítulo fresquinho pra vocês!
Eu não vou postar mais com tanta frequência, já que estou focado em outro projeto, mas sempre que eu tiver um tempinho livre eu posto aqui para vocês!

See Ya!

Capítulo 15 - O Caminho dos Súditos - Parte I


Fanfic / Fanfiction Os Últimos Filhos - O Caminho dos Súditos - Parte I


~Kölbjörn

Meu sonho se repetiu naquela noite.

Com algumas diferenças significativas, na verdade. O clima não estava tão agradável, e ao invés de um uniforme de médico, eu usava a armadura completa de um caçador. Não havia nenhum sinal de Lully; no pátio de treinamento, era eu quem montava Garm, agora muito mais feroz do que o habitual. Ele agarrou um campista entre seus dentes e o chacoalhou tão violentamente no ar que eu tinha certeza que ele ia acabar morrendo. Desci do dorso de Garm, que atravessou estrondosamente a Ponte dos Veículos em direção à mata, e fui para meu dormitório, onde desabei na cama.

Senti minha visão enturvecer novamente.

Dessa vez, era meu pai. Caído em uma poça de sangue, rodeado por seus companheiros: todos tinham espadas ensanguentadas em suas mãos, e também pistolas. Não havia outros cadáveres ali, apenas meu pai. Eu posso dizer que sentir muito mais ódio do que tristeza naquele momento. Estava claro para mim que meu pai havia sido assassinado. E então, ele ergueu sua cabeça, olhando em minha direção. Ele sussurrou uma única palavra, antes que a vida desvanecesse de seu corpo.

- Lute.                                
                                                       
Acordei, com uma tremenda dor de cabeça. Não havia ninguém no quarto; certamente eles haviam descido para o café da manhã. Ou então, estavam em algum lugar onde eu não pudesse estar presente, afinal, eu continuava foragido. Não me preocupei nem um pouco com isso: se quisessem me matar ou me entregar, já o teriam feito. Aliás, sinto-me um tolo por estar escrevendo isso. Eles são meus melhores amigos, afinal de contas. O notebook de 'Noite ainda estava ligado. Eram 10:37 da manhã, do dia 16 de agosto. Um dia para o aniversário de Helena. Eu já estava decidido a dar um jeito nisso. Eu tinha o endereço e telefone dela, e...

...MERDA!

O papelzinho que ela havia me dado estava dentro da minha mochila escolar, que devia estar com Camila agora, e...

...MERDA!

Eu simplesmente não dei nenhuma notícia ou satisfação a Camila antes de sair do hospital, ou ao chegar. Ela ficaria furiosa, e...

- Serviço de quarto! - disse uma voz estranha do outro lado da porta. Certamente, uma mulher tentando se passar por um homem. Típico dela.

- Como conseguiu me achar dessa vez, raposinha? - suspirei, enquanto abria a porta.

- Eu disse que te acharia até no fim do mundo, não é? - Camila respondeu, empurrando um carrinho de comida para dentro do quarto - E eu coloquei um chip rastredor na arma que eu te emprestei.

- Ainda bem que você não trabalha pro governo.

Camila estava vestida como aqueles funcionários de hotel. Parecia meio boba com aquela roupa, mas estava fofa.

- Talvez eu trabalhe. Come aí o que você quiser. Vamos sair daqui a pouco.

- Sair? Tipo, eu e você? - eu ri - Estou ferido, com uma puta ressaca e tem caçadores atrás de mim. Acho que podemos deixar o romance pra depois.

- Ah, eu adoraria, mas meu chefe, nem tanto - ela disse, enquanto tirava a roupa de funcionária - Arata-sama quer ver você. E disfarça isso aí por baixo da sua calça.

- Acordei agora, desculpe - dei de ombros e ela riu, enquanto pegava uma mochila embaixo do carrinho, tirando de dentro dela uma blusinha branca e um short jeans. Ela tinha um corpo lindo, mas eu me esforcei para não ficar olhando muito. Além do mais, por quê o chefe dela queria me ver? Lembro-me de ter ouvido falar em Arata Shiranui. Ele era filho do antigo comandante da Shindo Renmei, um renomado samurai chamado Nobunaga. Será que o velho havia morrido? Arata não tinha uma reputação tão impecável quanto a dos outros guerreiros da sua guilda. Tinha fama de cruel, e seus métodos eram bem pouco ortodoxos, para não dizer... traiçoeiros. Apesar de confiar em Camila, eu não confiava muito na ajuda da Shindo Renmei: se Werner pagasse bem, Arata me entregaria de bom grado. 

- Não vai comer? - Camila perguntou. Notei que ela estava enrolando pra se vestir. Estava me provocando?

Eu a puxei pela cintura e lhe beijei. Nada muito demorado, só um beijo rápido.

- Ah, então você quer me comer? - ela brincou - Temos dez minutos.

- Não, mas eu gosto de você - eu disse, enquanto passava requeijão em um pãozinho francês - Se eu for morrer, pelo menos eu morrerei sabendo que te beijei mais uma vez.

Ela me abraçou e me deu um selinho, e terminou de se vestir, enquanto sorria pra mim. Minha modesta refeição foi composta por três pães franceses com requeijão, uma fatia de bolo de cenoura com chocolate e duas xícaras de café. Eu ainda estava com fome, mas não queria engordar. Afinal, é verão o ano todo, cumpadi.

- Já se passaram dez minutos - Camila disse, impaciente.

- Ah, eu quero chegar atrasado, só pra não perder o costume - retruquei - Agora vê se para de reclamar e me ajuda com meus curativos, aqui.

Camila me trouxe ataduras limpas e trouxe meu uniforme de caçador, cujas peças estavam espalhadas pelo quarto. Vesti a mesma camisa branca ensanguentada, por mera preguiça de procurar por uma limpa, e arregacei as mangas da minha farda. Camila me ajudou com o colete, e decidi não vestir o capuz, pois o dia estava quente. Embainhei Solringen e peguei minha própria pistola, e atirei a pistola emprestada de volta pra Camila, que agarrou-a no ar.

- Por acaso cê não viu meus brothers por aí, Mila? - perguntei, enquanto tomávamos o elevador até as garagens.

- Já estão lá embaixo, se equipando e guardando algumas coisas no blindado. Aliás, porque é que tem tanto sangue nele?

- Ah, uns caras abordaram a gente ontem a noite - eu dei de ombros - Jaime chegou na hora certa. Ele não é muito discreto, se quer saber, mas é eficiente.

Camila soltou um assobio. As portas do elevador se abriram. Não foi muito difícil achá-los em meio ao labirinto de carros: nosso grande blindado era tudo, menos discreto, e o mesmo podia-se dizer de Jaime, que cantava funk enquanto checava sua moto, o que provavelmente estava deixando 'Noite irritadíssima. Confesso que me senti um tanto emocionado ao ver meus companheiros trajando seus respectivos uniformes de batalha: Jaime usava uma armadura completa da divisão de Pilotos, composta por um colete reforçado, braçadeiras, grevas* altas e um capacete nórdico no estilo Valsgarde**, com uma espada longa pendendo de seu cinto e um fuzil AK-47 pendurado nas costas; 'Noite vestia um moletom largo com o símbolo da divisão de Sensoriamento, um colete leve por baixo, as longas mangas a ocultar as lâminas montadas em seus braceletes. Leif, por sua vez, trajava suas vestes cerimoniais: por baixo do longo robe com capuz, uma cota de malha prateada com arremates dourados nas extremidades, a espada no cinto e o cajado de Alruna em mãos. Seu rosto estava oculto por trás de uma máscara de prata que imitava as feições de um demônio, e uma dúzia de colares de ouro, prata, bronze e pedras preciosas adornavam seu pescoço. Fiz-lhe uma mesura e beijei-lhe a mão enluvada de negro.

- A sua benção, pai.

- Que Týr conceda-lhe força ao braço - ele respondeu com uma voz abafada, tocando minha fronte - Como se sente?

- Estou bem, mas não o suficiente - eu resmunguei - Matarei cinco ou seis, se for necessário. Mas acho que não há necessidade, se você vai assim tão bem armado.

Eu podia vê-lo sorrindo por trás da máscara

- Não me parece que teremos luta hoje. Sua amiga me pareceu muito sincera em relação ao seu bem-estar. Mesmo assim, é sempre bom termos uma garantia.

Não pude segurar um sorriso. Jaime me saudou, com uma continência informal.

- Os irmão tá de AK, em cima da CB1000 - cantei.

- Recalcado cresce o olho, vai pra puta que pariu - ele continuou, terminando com uma estrondosa gargalhada.

- Ah, por favor - 'Noite reclamou - Logo cedo?

Nós dois rimos. Talvez eu ainda não tenha falado muito sobre Jaime. Ele é um cara esguio e alto, como uma lança. Ele usa um corte side-fringed undercut, assim como eu, e às vezes o amarra em um coque também. Ele não é um cara particularmente forte, não possui a mesma habilidade com liberações que eu e Leif possuímos, nem o apurado sentido sensor de 'Noite. Não é o melhor espadachim e nem o melhor atirador. Mas bem, ele tem o que eu realmente chamaria de "superpoder": é um dos poucos caras no mundo a possuir esse Limite Sanguíneo que chamamos de Liberação de Aceleração. É algo realmente absurdo, o controle que ele exerce sobre essa força, e foi um dos motivos de eu tê-lo aceito como meu aluno alguns meses antes de minha deserção. Eu estava fascinado, não apenas com o poder em si, mas também à forma com que ele consegue aplicá-lo a motores e coisas do tipo. Apesar de possuir um potencial gigantesco e ser uma das mais preciosas cartas a disposição da Falange, seu nome ainda constava nos registros de ranqueamento como um guerreiro de nível C, o que significava que ele não estava apto a uma posição de liderança e estava potencialmente a disposição de comandantes incompetentes. Sem dúvidas, aquilo me entristecia um pouco.

- Vou ter que dirigir hoje, pelo visto.

- Leif disse que não poderíamos correr com o blindado - Jaime deu de ombros - Por causa da escolta, sabe como é.

- E o senhor vai de moto - cruzei os braços.

- Ninguém levantou objeções. É o que eu faço, cara.

Notei que haviam alguns guerreiros da Shindo Renmei aguardando na entrada das garagens, impacientes, as mãos repousando em suas katanas. Ao invés de coletes ou vestimentas de couro, eles usavam armaduras lamelares muito simples, o que me fez chegar a duas conclusões: primeiro, eles eram guerreiros de classe baixa; segundo, a Shindo Renmei é uma guilda extremamente tradicional. Eles não pareciam ser o tipo de caras com quem você deva comparar o tamanho de sua genitália, embora eu me sentisse tentado a fazê-lo de qualquer maneira. Entrei no blindado e me acomodei no bando do motorista.

Eu não sou um mestre da direção, veja bem, mas sou um condutor decente. Bem, ninguém nunca reclamou. Camila se sentou no banco de carona, e 'Noite ao seu lado. Leif sentou sozinho na parte de trás do veículo. Jaime deu a partida na moto: o estrondoso ruído do motor assustou aos guerreiros nipônicos. Jaime gargalhou, uma risada quase tão alta quanto o barulho de sua moto.

Não vou me delongar narrando monotonias sobre o trânsito ou a paisagem dos lugares por onde passamos, ou as conversas fiadas ocasionais que tivemos enquanto nos dirigíamos até o Bairro da Liberdade, mas há um breve episódio que considero digno de nota: passamos em frente ao colégio no qual fiz uma breve e caótica passagem. Eu não pude segurar um sorriso, já que foi naquele lugar que conheci Helena. E não pude deixar de abrir um sorriso ainda maior ao avistar Clarisse, que parecia devastada, junto de suas amigas. Como eu poderia me conter?

- Hey, Clarisse! - gritei, acenando. Ela arregalou os olhos - Como vai seu namorado?

Clarisse soltou um grito agudo e correu para dentro da escola, seguida por uma multidão de alunos aterrorizados. Dei de ombros. Continuamos seguindo nosso trajeto normalmente: em alguns minutos, estávamos adentrando o Bairro - Distrito, melhor dizendo - da Liberdade. Me senti dentro de um pedacinho do próprio Japão. Era um lugar abarrotado com os mais diversos tipos de comércios - grifes, restaurantes, padarias e lojas de artigos geeks - e de pessoas. Cosplayers podiam ser visto andando pelas ruas, praticamente ignorados pelos transeuntes comuns, mas duramente encarados pelos guardas que patrulhavam à cavalo. Continuei dirigindo vagarosamente pelas ruas, seguindo os veículos japoneses, que por fim acabaram parando em uma espécie de estacionamento à céu aberto. Tive um pouco de dificuldade com a baliza, já que o blindado era grande demais para as vagas. Camila disse que eu não tinha nenhum problema em estacionar de qualquer jeito, e então, foi o que eu fiz. Pegamos nossas armas e seguimos a pé até chegarmos a uma grande praça no coração do distrito. Samurais e Ashigaru*** de alta classe guarneciam a praça, armados com katanas, naginatas****, arcos e rifles, além de alguns canhões. Uma grande construção no estilo feudal japonês tomava conta da paisagem.

Haviamos chegado ao quartel-general da Shindo Renmei, a Liga do Caminho dos Súditos. 
 


Notas Finais


* Armadura lamelar: é um tipo de armadura feita com pequenas placas retangulares atadas em filas horizontais. É massivamente usada por guerreiros da Shindo Renmei, mas algumas divisões da Falange Negra também a adotaram.
** Valsgarde: localidade na Suécia, a aproximadamente três quilometros de Gamla Uppsala, onde existe um sítio arqueológico da Era Vendel. Nesse local, foram achados alguns elmos vikings, hoje conhecidos como Elmos de Valsgarde.
*** Ashigaru: soldado de infantaria do japão feudal.
**** Naginata: arma japonesa composta de uma haste longa em madeira e uma lâmina metálica curva de um gume montada em sua extremidade


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