1. Spirit Fanfics >
  2. Os Últimos Filhos >
  3. Infortúnio

História Os Últimos Filhos - Infortúnio


Escrita por: Skjald

Notas do Autor


Entre garotas canadenses, missões solidárias e MUITAS provas, pouco tempo tenho para escrever. Sinto muito pela demora. Bem, espero que gostem.

See ya!

Capítulo 20 - Infortúnio


Fanfic / Fanfiction Os Últimos Filhos - Infortúnio


~Kölbjörn

As últimas noites foram particularmente difíceis.

Entre tratar dos ferimentos de antigos inimigos e cuidar dos sentimentos de uma amiga, pouco tempo me restara para que pudesse cuidar de mim mesmo. Era esperado que eu me mantivesse em repouso absoluto, para evitar quaisquer consequências desagradáveis relacionadas aos meus olhos: eles ainda estavam relativamente instáveis, variando entre o estado normal e o ativo em intervalos de tempo completamente aleatórios. Explicarei o processo em uma ocasião mais oportuna. Acordei com os raios de sol incidindo sobre o meu rosto. Camila dormitava serenamente ao meu lado, embora estivéssemos nos espremendo em uma cama de solteiro há duas noites. O relógio de cabeceira marcava 10:37 da manhã, do dia dezessete de agosto. O dia do aniversário de Helena. Levantei-me devagar, ainda meio sonolento, e fui até o banheiro. Escovei os dentes e tomei um banho rápido, antes de perder algum tempo tentando procurar algo decente para vestir: eu não podia ir ao aniversário de uma garota vestindo uma farda de Caçador. Acabei escolhendo um casaco preto com capuz, uma bermuda jeans e tênis all-star, o que me fez sentir como se eu tivesse novamente meus catorze anos. Peguei as chaves da moto de Jaime em cima da mesinha de ferro ao lado da cama: o piloto era um cara muito prestativo, mas devo dizer que um nó certamente se formou em sua garganta quando lhe pedi a moto emprestada. Caminhei vagarosamente até as escadas, para evitar acordar meus companheiros. Não me entenda mal, eu não estava tentando sair escondido, mas eu realmente não queria acordá-los; os últimos dias foram particularmente cansativos para eles, também. E de qualquer forma, ainda que eu quisesse dar uma escapada, eu não teria chance. Leif e Kári certamente estavam acordados, absortos em seus pensamentos, mas prontos para me repreenderem a qualquer momento. Era realmente difícil imaginar que os dois ainda não haviam passado da casa dos vinte. Destranquei as portas com cuidado, e então percebi que estava esquecendo algo importante. Olhei para trás, e vi Solringen do outro lado da sala, guardada em sua bainha. Sorrindo, atei o cinto à minha bermuda e encaixei a bainha. A espada não me parecia tão pesada quanto antes, mas... protetora, eu diria. E não, não é tão estranho andar por aí com uma espada, durante o dia. Provavelmente, me confundiriam com um espadachim mercenário, a julgar também pelos meus trajes. Porém, é desaconselhável que você ande por aí portando armas de fogo. Sabe como é, policiais não gostam quando você se equipara a eles. É por isso que prefiro um machado ou uma espada, que me tornam superiores. Pronto para deixar o quarto, vi Camila de pé nas escadas, com os cabelos ruivos bagunçados e esfregando um olho sonolento.

- Ei... - ela falou, entre um bocejo - Eu... tome cuidado. Não faça bobagens.

Eu acenei suavemente com a cabeça enquanto ela voltava para cama, e não pude reprimir um sorriso. Tomei um elevador até a segunda garagem, onde havíamos estacionado nossos veículos. Imagino que seja relevante afirmar a minha preferência por motos, talvez até por uma questão de costume, já que as patrulhas urbanas geralmente são feitas em motos. Ainda assim, eu ficaria muito mais feliz se pudesse cavalgar, como eu costumava fazer quando patrulhava ao redor de Campo Vestfold. Bem, não se pode ter tudo, imagino. Para minha total infelicidade, porém, o trânsito estava um saco. Aparentemente não havia muitos blindados nas ruas (acredite, se houvessem, o trânsito estaria muito melhor), então os civis estavam aproveitando para fazer a festa. Costurei por entre os carros, recebendo de volta buzinas e doces palavras de amor dos motoristas de São Paulo. Acredite, eu teria os matado se não estivesse com pressa. Sendo sincero e honesto com meus leitores, como sempre fui e serei, digo que cheguei às portas da casa de Helena cerca de duas horas depois, e culpo tanto o trânsito horroroso quanto minha leve distração, que me fez errar as ruas duas vezes. Bem, devo mencionar também que eu não trazia nenhum presente. Optei por passar um dia fora com ela e deixar ela comprar o que quisesse, afinal, graças a Camila, consegui preservar meus cartões de crédito falsos. E também, pretendia levá-la a um parque de diversões, mais à noite, até porque eu queria ter um momento mais, digamos, romântico com ela. E isso talvez pudesse convencê-la a deixar São Paulo e partir junto comigo, para Belo Horizonte. Eu estava de frente para um prédio verde, meio decrépito e desbotado. Não havia portaria: uma porta simples de vidro dava acesso as escadarias. Estava aberta; algum apressado deveria ter esquecido-se de fechá-la ao sair. Entrei, sem pudor, e subi as escadas até o apartamento 401. Toquei a campainha, e esperei por alguns momentos. Sem resposta. Toquei novamente, duas vezes, e novamente, não tive resposta. E foi então que meu olfato indicou que havia algo errado. 

Um odor de morte impregnou minhas narinas.

Um caçador geralmente deve ser discreto e silencioso, para melhor desempenho em nossas tarefas. Mas, caso a situação demande, nós podemos - e sabemos - ser bem barulhentos. E foi o que fiz, derrubando estrondosamente a porta do apartamento com um único chute. Meu coração batia cada vez mais rápido, com o medo de algo de ruim ter acontecido com Helena tomando conta de minh'alma. Meu olfato me levou até um dos quartos, onde uma mulher pendia morta de uma corda, balançando levemente. O cheiro era terrível, e com olhar de médico, deduzi que ela já estava morta há pouco mais de doze horas. Não era necessário ser um perito para cogitar um suicídio, mas mil hipóteses percorreram minha mente de sanguerreal, sendo a mais proeminente a ideia de sequestro seguido pelo assassinato de testemunhas ou relativos da vítima. Helena era uma sanguerreal, com uma habilidade rara, e não seria improvável que alguém quisesse tomar seu poder para si. Vasculhei a casa em busca de alguma pista; no quarto que percebi ser de Helena, notei algumas manchas de sangue, um cabo de vassoura quebrado e um bilhete em cima do criado mudo, escrito em caligrafia infantil. Lia-se:

"Lena, mamãe já saiu para trabalhar, então peguei escondido a chave do seu quarto e destranquei a porta para você. Pega as suas coisas e foge, para o mais longe que você puder. Quando você ler isso, provavelmente eu já terei ido para escola. Não se preocupe, eu comi direitinho e estou levando biscoitos. Sentirei saudades. Te adoro, irmã."

Caminhei atordoado até a saída, ainda com o bilhete em mãos; alguns vizinhos estavam na porta, tentando entender o que acontecia. Seus olhos explicitavam um sentimento misto de terror e ódio. Tirei-os de meu caminho, dizendo-lhes de forma indiferente sobre a mulher morta no apartamento. Nenhum deles tentou reagir e me atacar. Eu não me importei com o fato de que eles haviam visto meu rosto, que estava estampado em alguns cartazes de procurado nas mais diversas cidades do país. Aliás, eu não me importava com nada agora.

Tudo o que eu queria era encontrar Helena.

Viva.

Ou morta.
 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...